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Lembrança de um ato de vandalismo – Placa de repúdio, provisória, permanece na Praça XV desde 2013

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Por Billy Culleton

O que fazer com uma placa que ocupa um lugar nobre no meio da Praça XV de Novembro e que repudia a destruição da memória local ocorrida em 2013?
O objeto do manifesto foi resolvido um ano depois, mas a chapa de metal continua no local até hoje (atualização março 2021).

Tudo começou em agosto de 2013 quando os bustos de quatro personalidades históricas catarinenses desapareceram da praça: o poeta Cruz e Sousa, o pintor Victor Meirelles e os jornalistas Jerônimo Coelho e José Boiteux.

Em sentido horário, os bustos de Jerônimo Coelho, José Boiteux, Cruz e Sousa e Victor Meirelles. Ao centro, a placa de repúdio.

– “Por que você está fazendo essa reportagem? Está querendo tirar a placa daí? Aquilo é um marco histórico da cidade!”, responde irritado ao Floripa Centro, o idealizador da homenagem, Edy Leopoldo Tremel, de 91 anos.
– “A placa acaba confundindo as pessoas. É necessário transferi-la para algum museu ou local onde fique arquivado, pois faz parte da memória da Capital”, diz a gerente de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural da Superintendência de Serviços Públicos (Susp), Marilaine Schmitt.

Vídeo mostra ação de uma única pessoa
Na época, a população e o poder público demoraram 10 dias para perceber o sumiço dos bustos que ficavam em cima de colunas de granito, em volta do monumento aos Voluntários da Guerra do Paraguai.

Quando as câmaras de segurança foram consultadas, verificou-se um homem levando uma das esculturas (não havia visão completa de toda a área).
O vândalo, que provavelmente tenha vendido os cerca de 100 quilos de bronze (somado o peso dos quatro bustos), nunca foi identificado.

Revolta e novos bustos
Em todas as esferas da sociedade houve uma imediata repulsa ao furto.
A administração municipal prometeu refazer os bustos, o que aconteceu cerca de um ano depois, em setembro de 2014.
A Associação Catarinense de Imprensa (ACI) foi mais ágil e recolocou uma nova escultura do seu patrono, Jerônimo Coelho, em maio daquele ano.

Confraria instala placa de repúdio
Porém, a confraria Senadinho e a Associação Amigos da Cidade saíram na frente e, em outubro de 2013, colocaram uma placa de 30cm por 42cm.
Nela, repudiavam o ato de vandalismo, ressaltavam a memória do ilustres catarinenses e terminavam com uma sugestão.
“Recuperados ou não os bustos furtados, estamos propondo que, neste local, seja erguido um majestoso arco, com arquitetura robusta, em relevos artísticos, com as efígies em memória dos insignes catarinenses”.

A mensagem é assinada pelo presidente do Senadinho, Edy Tremel, e pelo secretário da ‘entidade’ Luiz Gonzaga Galvão.

Placa deve ser retirada, diz Prefeitura
A instalação da placa, em cima de uma pedra doada pela Pedrita, foi aprovada pela prefeitura em caráter temporário. “Eles deveriam retirá-la, depois. Como não o fizeram, o município terá que fazê-lo”, afirmou em 2020, a então gerente da Susp, Marilaine Schmitt.

Resumo da ópera‘: os bustos estão nos seus lugares originais, a um custo médio de R$ 15 mil cada um, a proposta de erguer um ‘majestoso arco’ não foi levada adiante e a placa permanece firme ao lado dos ilustres catarinenses.

Agora, caberá ao poder público municipal decidir pela permanência ou não da placa de repúdio.

O que está escrito na placa:
O senatus populusque florianópolitanus – Senadinho – e a Associação dos Amigos da Cidade, aliados ao clamor público, vêm manifestar seu mais veemente repúdio ao ato de vandalismo que, nesta Praça, culminou com o desaparecimento dos bustos de Jerônimo Coelho, José Boiteux, Cruz e Souza e Victor Meirelles.

Apesar do duro golpe sofrido pelo patrimônio histórico e cultural da sociedade catarinense, jamais se conseguirá apagar da memória do povo, o vulto dos seus mais ilustres representantes nas diversas áreas do saber e da arte humanas, pelo contrário, eles permanecem intocáveis, incólumes na lembrança de um povo que ama e respeita as suas tradições.

NOTA: Recuperados ou não os bustos furtados, estamos propondo que, neste local, seja erguido um majestoso arco, com arquitetura robusta, em relevos artísticos, com as efígies e em memória dos insignes catarinenses.

Florianópolis, SC, 11 de outubro de 2013

Luiz Gonzaga Galvão – Secretário Geral

Edy Leopoldo Tremel – Presidente Vitalício

Recado claro
Na tarde do último sábado, 8, um casal foi flagrado por esta reportagem lendo a placa.
Questionado se compreendia o recado, Cassiano Roggia releu a placa e, após alguns segundos refletindo, respondeu: “roubaram os bustos, é isso? Mesmo que os tenham recolocados, acho que vale ter a placa para saber da história”, disse o gaúcho de Santa Maria, que mora em Florianópolis há seis meses na companhia da mulher, Maria Clara Paranhos.

O que é o Senadinho?
A confraria “Senatus Populusque Florianopolitanus” (“Senado Popular Florianopolitano”) foi criada em 1979, em referência a uma célebre figura da cidade, Alcides Hermógenes Ferreira.
Assíduo frequentador do Café Ponto Chic (também chamado Senadinho), no Calçadão da Felipe Schmidt, ele estava sempre elegantemente vestido e era chamado de senador.

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