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Histórias do Centro

Pombeiros versus comerciantes – Tensão por causa dos ambulantes no Centro da Capital remete à década de 1850

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Por Billy Culleton
Em 1851 foi inaugurado o prédio do primeiro Mercado Público de Desterro, que ocupava o espaço da atual Praça Fernando Machado, ao lado da Praça XV de Novembro.
Objetivo era normatizar a venda de produtos alimentícios, distribuindo boxes para pequenos comerciantes.

Muitas pessoas de baixa renda, no entanto, não conseguiram espaço fixo e foram obrigadas a continuar vendendo seus produtos, improvisadamente, pelas ruas e calçadas do entorno da praça.

Antigo Mercado (E), frente à Praça XV (Acervo IHGSC)

Eram os chamados pombeiros, que comercializavam todo tipo de alimentos, especialmente peixes, galinhas e verduras (e, mais antigamente, pombos).

Eles vendiam seus produtos acondicionados em um ou mais cestos.

Muitos, também comercializavam os alimentos de porta em porta, carregando os balaios numa vara transversal sobre as costas.

Vendedores de leite, no Centro de Florianópolis (Acervo Casa da Memória)

Mas eles eram proibidos de se aproximar do antigo Mercado Público.
Era a ‘eterna’ disputa entre comerciantes estabelecidos e ambulantes.

Há dois séculos, a grande maioria destes ambulantes já era composta por homens e mulheres de baixa renda, principalmente ex-escravos.

Pressão sobre os vereadores
Anos depois, em 1890, inconformados com a discriminação, os pombeiros elaboram um abaixo-assinado solicitando à Câmara de Vereadores autorização para vender seus produtos em volta do Mercado, como informa Ricardo Moreira de Mesquita, na sua obra “Mercado, do mané ao turista” (2002).

Vendedor de peixe nas escadarias da Praia do Vai-quem-quer, na Rua Francisco Tolentino (Acervo Casa da Memória)

Os comerciantes estabelecidos no imóvel entram na briga e também apresentam à Câmara um abaixo-assinado pedindo providências contra os ambulantes na Praça.

Galpão em 1891, Camelódromo 100 anos depois
Pressionados, os vereadores, em 21 de janeiro de 1890, aprovam a construção de um galpão que poderia ser utilizado por pombeiros e quitandeiros.

Edificado ao lado da Praça Fernando Machado, entre as ruas João Pinto e Antônio Luz, com área de 640m2, o Galpão do Peixe abre suas portas em 30 de janeiro de 1891, segundo Mesquita.

Pintura de Joseph Bruggemann mostra as imediações do antigo Mercado Público (Acervo IHGSC)

Era uma construção de madeira, coberta com telhas de barro, parcialmente aberta.
Em seu interior, dez bancas e vários tabuleiros para exposição e venda dos produtos.

Algo similar ocorreu na década de 1990, quando foi construído o Camelódromo, ao lado do atual Mercado Público, que abrigou os ambulantes que vendiam os produtos do Paraguai.

Impostos
Como não conseguiam acabar com a ‘ilegalidade’, as autoridades decidiram, então, cobrar impostos destes ‘atravessadores’ que compravam os produtos para revender.

É qualificado pombeiro, e sujeito ao imposto de 6.400 reis, todo indivíduo que comprar ou atravessar, dentro dos limites do município, gêneros alimentícios para tornar a vender pelas ruas, praças, marinhas ou outros lugares públicos”, dizia a resolução de 3 de maio de 1851, da administração municipal, publicada no jornal O Despertador, de 12 de julho de 1864.
O contraventor pagará uma multa equivalente ao dobro do imposto”, completava.

Vendedor ambulante sem identificação da cidade (Via Floripa Antiga)

Jornais tomam partido
Mesmo assim, novos pombeiros continuaram a tomar as ruas do Centro.

Ecoando o pensamento da elite branca da cidade, décadas depois, os jornais denunciavam a atuação desses ambulantes na região central da cidade.
É preciso acabar com isso… chamamos a atenção do senhor delegado de polícia a fim de pôr termo a esse inqualificável abuso”, dizia um dos trechos do artigo publicado pelo jornal O Estado, em 9 de junho de 1915, segundo descreve Fabiane Popinigis, no artigo “Mulheres africanas e o pequeno comércio em Desterro”.

Vendedores ambulantes sem identificação da cidade (Via Floripa Antiga)

“Mofas com a pomba na balaia”
Em uma negociação de venda de mercadorias teria surgido a folclórica frase de Florianópolis: “mofas com a pomba na balaia”.
Segundo o Wikipedia, seria a resposta de uma mulher a um pombeiro que vendia pombas expostas num balaio, ao discordar do preço da mercadoria.

O viúva boa! (?)
O site Florianópolis Antiga conta uma anedota sobre os pombeiros:
Pombeiros, eram os vendedores ambulantes de antigamente, com sua (normalmente) voz possante, bradavam aos quatro ventos as qualidades de sua mercadoria.

Vendedor ambulante sem identificação da cidade (Via Floripa Antiga)

Exemplo: “OVIUVABOAAAA!”
Não pense que ele estava elogiando os dotes corporais de uma bonita viúva, ele “cantava” que tinha para vender respectivamente, ovo e uva de boa qualidade!

(Esta reportagem foi feita com base em pesquisas nas seguintes obras e sites: “Mercado, do mané ao turista”, de Ricardo Moreira de Mesquita, 2002; “Mulheres africanas e o pequeno comércio em Desterro, século XIX”, de Fabiane Popinigis, da UFRJ; http://florianopolisantiga.blogspot.com e Wikipedia. A imagem de abertura é de um vendedor ambulante sem identificação da cidade – Via Floripa Antiga).

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