A história do único navio a afundar embaixo da Ponte Hercílio Luz e que, desde 1953, está no fundo do mar

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Por Billy Culleton
O que seria um fato dramático para alguns, se transformou num evento animado e lucrativo para dezenas de famílias do entorno.
Na manhã do domingo 25 de outubro de 1953, começou a circular, na cidade, a notícia  de que um navio estava afundando no cais do porto, no Estreito, exatamente ao lado de um dos pilares da Ponte Hercílio Luz.

As pessoas foram até o local para testemunhar o adernamento inicial da embarcação ‘Unidos’, que vinha de Laguna com destino ao Rio de Janeiro.

Muitos observavam desde o vão central da Ponte (de onde foi feita a imagem de abertura desta reportagem).

O navio estava carregado com 5,6 mil sacos farinha de mandioca, 100 fardos de crina de cavalo e, o mais importante, 900 metros cúbicos de madeira (equivalente a 30 caminhões cheios de tábuas).

Pequenas embarcações recolhem a carga do ‘Unidos’ antes de afundar por completo (Imagem de autoria desconhecida, via Desterro Antesdonte)

Tripulantes omissos, moradores atentos
Os barcos dos pescadores artesanais da região começaram a chegar próximo ao barco, que afundava lentamente, deixando as tábuas flutuando na água.
“Os tripulantes estavam insatisfeitos e afundaram de propósito. O navio já vinha com problemas desde Laguna, água entrando, e quando chegaram aqui começaram a carregar com mais madeira, o que provocou o afundamento”, afirma o pescador Hermes Lisboa, que trabalha num rancho próximo, embaixo da Ponte Hercílio Luz, e que ouviu a história da própria mãe.
“Por isso, muita gente pegou as madeiras e levou para casa, onde fizeram reformas ou ampliação nas suas residências”.

Jornal da cidade aponta saques
O Jornal A Gazeta, de 26 de outubro de 1953, confirma a história:
Dezenas de pequenos barcos apanharam as mercadorias que boiavam (…) Pudemos observar nas águas da baía sul, canoas transportando madeira e farinha, sendo que nos chamou a atenção um fato bastante pitoresco: uma canoa, repleta de saco de farinha, rebocava alguns taboados e pranchas de madeira, à guisa da jangada, sendo que em cima da madeira um homem remando”.

Cais do porto, no Estreito, onde se comercializava principalmente madeira (imagem de autoria desconhecida)

O jornal ainda informa que o navio Unidos tinha como comandante o senhor Hermínio A. Barreto e era “da praça de São João da Barra, do Estado do Rio, e pertencente à firma Sociedade Comércio Industrial Navegação Ltda, daquela cidade, que, proveniente do porto de Laguna se destinava ao Rio”.

Navio foi deslocado 100 metros
Nos dias posteriores ao afundamento e para não atrapalhar as atividades no cais, o navio foi ‘arrastado’, com cordas, por outros barcos, para o fundo do canal, a 30 metros de profundidade, praticamente no meio da Ponte Hercílio Luz, onde se encontra atualmente.

Arte em cima de imagem do Google Maps

Desde seu rancho de pesca, Hermes Lisboa indica o local exato.
“Sabemos disso, porque se a gente erra alguns metros, as nossas redes de arrasto engancham na embarcação afundada”, garante.

Tradição oral
Enquanto esta reportagem buscava informações sobre o fato ocorrido há quase sete décadas, outros pescadores que trabalham nos ranchos quase embaixo da Ponte chegam com mais informações e fotos.

“Ah, muita gente tirou proveito da situação e fez até casa nova com as madeiras do Unidos”, diz um.
“Olha esta foto aqui (pendurada na parede do rancho): há alguns anos um mergulhador fez a imagem do navio no fundo do mar”, mostra outro.

“A minha mãe contava que nadou até o barco, mergulhou e pegou farinha e tábuas com outros jovens”, emenda o seguinte, explicando que, mesmo afundado, o ‘Unidos’ estava a poucos metros da superfície.

Atualmente, no local do incidente funciona o Estaleiro Schaefer

(A foto de abertura é de autoria desconhecida e chegou ao Floripa Centro pelo grupo Desterro Antesdonte, no Facebook. As imagens atuais são de Billy Culleton)

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