Os seis rios, córregos e riachos ‘invisíveis’ que correm pelo Centro de Florianópolis

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Por Billy Culleton
Quem vê a paisagem de um Centro homogêneo, tomado pelo concreto das ruas e construções, não imagina que, originalmente, o bairro era cortado por inúmeros cursos de água.
Desde os primórdios da ocupação urbana de Nossa Senhora do Desterro, e até o final do século 19, esses riachos e córregos eram utilizados pela população como vias de escoamento dos dejetos domésticos: lixo e esgoto.
Os locais perto das nascentes, no entanto, serviam para lavar as roupas dos desterrenses.
Logicamente, todos desembocavam no mar, o que acontece até hoje com seis deles, agora, canalizados e cobertos.

Há 150 anos, insalubridade crônica
Até a década de 1870, a cidade apresentava péssimas condições de salubridade,
As ruas e os córregos serviam de depósito e escoadouro de esgoto.
A população era assolada por inúmeras doenças e o poder público não tomava nenhuma medida eficaz para solucionar o problema, conta o historiador Dalton Silva, na obra “Os esgotos sanitários em Florianópolis”.

Rio da Bulha em 1910 (Acervo Casa da Memória)

 

A impressão de uma cidade mais limpa e arejada se dava apenas em épocas de grandes enxurradas e fortes ventos, quando a situação aparentemente se amenizava.
Pelo menos, na visão do presidente da Província, João Tomé da Silva, em 1874, como conta Dalton Silva:
Continua satisfatório o estado sanitário da cidade, visto não ter havido epidemia, nem moléstias graves, como se tem dado em outros anos. Parece que as águas pluviais, abundantes em todo o ano passado, contribuíram favoravelmente sobre a saúde pública,
lavando as ruas, lugares públicos, córregos e valas, onde se depositam todo o gênero de imundícies, águas servidas e excrementos que infectam a atmosfera da cidade, em tempos quentes e secos da estiagem”.

Descarte no mar, um costume nas cidades litorâneas  (Arquivo municipal do RJ)

 

Escravos carregavam esgoto para o mar
Em 1877, foi realizada a primeira concessão de serviços para remoção de lixo e esgotos. Estes deveriam ser transportados à noite, em barris ou cubos, para serem lançados ao mar utilizando os trapiches construídos. Para isso, havia escravos especializados no serviço e que eram chamados de tigres.

Tigre: conjunto homem/barril que transportava resíduos em Desterro (Desenho de Átila Ramos)

Existiam ainda os carroceiros que cobravam pelo serviço: 100 réis por barril de esgotos ou por carrada de lixo.

Obras
As primeiras obras de saneamento iniciaram em 1887 quando foram canalizados os córregos Fagundes e Trajano.
Já a canalização do Rio da Bulha, atual Avenida Hercílio Luz, só ocorreria em 1920.
Em um dos seus trechos, nas imediações do Instituto Estadual de Educação, recebia a denominação de “Beco Sujo”, local onde existia um conjunto de casas e cortiços habitados por população pobre, como consta no documento “O saneamento básico na Ilha”, dos servidores da Prefeitura da Capital Elsom Bertoldo dos Passos e Flávia Vieira Guimarães Orofino.

Canalização do Rio da Bulha em 1920 (Acervo Casa da Memória)

Assim, a partir da década de 1920, começam as grandes obras de macro-drenagem no Centro da cidade, com a canalização dos córregos que serpenteavam a área urbana.

Confira os canais que passam pelo Centro (com informações do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico da PMF)
1 – Canal da Assembleia Legislativa
Inicia-se no cruzamento da Rua Anita Garibaldi com a Avenida Mauro Ramos e drena a região do Morro do Tico-Tico e Morro da Mariquinha, entre outros. Segue até encontrar a Praça Tancredo Neves (Praça das Três Bandeiras) e continua em direção a Baia Sul passando por dentro do terreno da Assembleia.

2 – Canal da Avenida Hercílio Luz
Inicia recebendo contribuições do Morro do Monte Serrat e do Morro da Caixa, atrás da Avenida Mauro Ramos, segue ao longo da Avenida Hercílio Luz, pelo traçado do antigo Rio da Bulha, passa pelo aterro da Baía Sul até o mar.

3 – Canal do Mercado Público
Começa na Rua Jerônimo Coelho e congrega também os antigos cursos de água do Largo do Fagundes e Trajano. Passa por baixo do Mercado Público e do Terminal de Integração do Centro (Ticen) até desaguar na Baía Sul, ao lado da Estação de Tratamento de Esgoto da Casan.
4 – Canal da Rua Arno Hoeschel
O Canal da Rua Arno Hoeschl não segue pelo centro da via e sim por debaixo das edificações na sua margem esquerda no sentido Avenida Rio Branco-Beira Mar Norte, até chegar na Beira Mar Norte.

5 – Canal da Avenida Rio Branco
Este canal começa próximo da Praça do Banco Redondo seguindo até a Avenida Rio Branco, onde recebe contribuições do canal proveniente da Chácara de Espanha, seguindo por entre os prédios em paralelo a Av. Othon Gama d’Eça atravessando a mesma em frente ao Edifício Casa do Barão até desaguar na Beira Mar Norte.

6 – Canal da Avenida Mauro Ramos
Começa no Morro do Céu, passando pelo Condomínio Residencial Arquipélago, seguindo em direção à foz na Baía Norte pela Avenida Mauro Ramos.

(A imagem de abertura é uma arte feita pelo projeto “Caminhada Jane Jacobs Floripa”, em cima de uma foto atual da Avenida Hercílio Luz)

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