Bares da boemia no Centro – Qualé Mané e Tralharia não resistem à pandemia, mas Alvim busca se reinventar

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Dois points tradicionais do Centro da Capital foram obrigados a encerrar as suas atividades por causa da pandemia: os bares Qualé Mané, na Praça Olívio Amorim, e Tralharia, na Rua Nunes Machado.
Ambos tinham conseguido se tornar referência para os boêmios de Florianópolis, nos últimos anos.

O compositor florianopolitano Orlando Carlos da Silveira, conhecido como Neco, assumiu o Qualé Mané em 2014 e, o que antes era apenas um ‘boteco de bairro’, ganhou novos clientes pela identificação com o samba.

Imagem: reprodução Facebook

Todas as noites havia excelentes shows de música brasileira, mas também havia espaço para a poesia e a música autoral.
(Confira, no final da matéria, a carta de despedida de Neco).

O Tralharia, por sua vez, além de café e bar, era uma loja de antiguidades.
Abriu as portas em 2015 e conseguiu uma rápida empatia com uma clientela diversificada, formada por ‘intelectuais de todos os tipos’, músicos, professores e jornalistas.

Imagem: Sérgio Vignes, reprodução Facebook

“Sempre fomos uma soma de café, bar e loja de antiguidades. Mas virou um espaço cultural de inteiração entre pessoas com pensamentos similares”, afirmou o proprietário Guto Lima, ao site NSC Total, recentemente.
Ele disse que pensa em reabrir o espaço, mas vai esperar até que o momento seja seguro para que as pessoas possam voltar a interagir e ocupar o espaço do bar.
(Confira, no final da matéria, o anúncio do fechamento do Tralharia, no Facebook).

Com história de 65 anos, Bar do Alvim continua
Já os proprietários do Bar do Alvim não se entregam.
Há pouco mais de dois meses trocaram de local e se instalaram na Rua João Pinto, 185, quase esquina com a Travessa Ratcliff.

Imagem: Billy Culleton

O Bar do Alvim tem 65 anos de história, 59 deles, no Mercado Público Municipal.
Foi aberto em 1955 por Alvim Espinoza e no início era apenas açougue e fiambreria.
Nos anos 1990, atendendo aos pedidos dos clientes que gostavam de provar os produtos, começou a servir bebidas, para se transformar, definitivamente, num bar de excelência, na entrada/saída do Mercado, na frente do Camelódromo e do Ticen.

No Mercado Público, em 2012 (Imagem: Billy Culleton)

Mas em maio de 2014, teve que fechar as portas como consequência da reforma do Mercado Público e da realização de uma nova licitação para a ocupação dos boxes.
A alternativa foi abrir em Palhoça, na Grande Florianópolis, ao lado da praça principal da cidade.
Mas Alvim não resistiu e pouco tempo depois estava de volta ao Centro da Capital. Desta vez, no início da Rua João Pinto, pertinho da Praça XV.
O pequeno local servia para os boêmios matarem a saudades da época do Mercado Público.
O tradicional bar sofreu um baque com a morte repentina de Alvim, em fevereiro de 2019, vítima de um infarto.

O novo local (Imagem: Billy Culleton)

Foi a vez do genro Janir Francisco e do neto Nelson Fernandes, que já trabalhavam com Alvim, assumirem a responsabilidade de continuar as atividades.
Sem conseguir renovar o contrato no local, decidiram se mudar para o novo endereço, na mesma Rua João Pinto, porém, 150 metros para o lado leste.
As instalações ainda são precárias e não há sequer placa de identificação do lado de fora.
Estão tentando sobreviver vendendo refeições e bebidas, embora a clientela esteja sumida.
A esperança dos sócios é o rápido fim da pandemia e a abertura do novo Pró-Cidadão, que fica na frente do bar, e que trará maior movimentação de pessoas para a região.

Despedida do Neco (reprodução da página do Facebook)
Olá queridos amigos do Bar Qualé Mané!
No dia 8 de julho próximo completariamos 6 anos de trabalho pela nossa boa música brasileira. Mas infelizmente hoje venho lhes informar que estamos encerrando as atividades, devido a pandemia e suas tristes consequências.
Quando muitos não acreditavam ser possível um bar com música de excelência ao vivo na Avenida Hercílio Luz, levamos em frente a ideia de, com esta casa de música, resignificar a região do centro da cidade. Então, devagarinho fomos nos estabelecendo e ajustando nosso trabalho, buscando ouvir e considerar a todos, chegando a um bom termo com nossos vizinhos e a cidade.

Neco, de chapéu branco, e parte da ‘turma’ do samba (Reprodução Facebook)

Nesta caminhada fizemos muitos amigos, e fomos agraciados por uma clientela diferenciada e carinhosa.
Agora só temos a agradecer a cada um de vocês, meus queridos, a equipe de apoio: Guilherme (que finalmente foi chamado em concurso público) queridas Sussu, Adriana, Graça, Carol e Sara Brum).
Muito especialmente a cada um dos meus queridos amigos músicos e cantoras excepcionais (não vou nominá-los no momento,
são muitos e vocês conhecem todos) que nos brindaram com a nossa maravilhosa música brasileira e tudo o mais de bom que estes músicos executaram, com esmero e dedicação para o nosso deleite.
Encerramos com sentimento de dever cumprido, pedindo a compreensão de vocês e desculpas a quem possamos ter desagradado.
Será uma parada para descanso e recomposição física, emocional e financeira.
Mas, convém lembrar, que passada esta crise, poderemos retornar, não e mesmo?
Gratidão a todos pelo imenso carinho recebido.

Beijos e Abraços. Neco.

Despedida do Tralharia (reprodução da página do Facebook)
Hoje entramos no casulo.
Em breve nos veremos borboleta.
Hoje foi o dia da mudança mais pesada do Tralharia.
Hoje o imóvel na Nunes Machado, 104, deixou de ser a Tralharia como tantas pessoas conheceram.
O toldo ainda está lá com o nome.
Os dizeres “antique/café/bar” ainda estão colados no vidro da entrada.
As madeiras que aqueciam nossos corpos e corações ainda estão nas paredes.

Imagem: Sérgio Vignes, reprodução Facebook

Mas não é mais a casa do Tralharia.
Por hora voltamos para o Casulo, que nesse momento também fica no Centro de Florianópolis.
Um lindo imóvel antigo é o lugar que nosso acervo ficará guardado.
Nosso Casulo ser um casarão centenário, que resistiu a tanta especulação imobiliária, não é por acaso.
É parte da nossa história: Resistência.
Não poderia ser diferente e nem ter sinal maior de que voltaremos ainda mais fortes e melhores.
Continuaremos com nosso Bazar, Sebo, voucher, rifa e outras ações para conseguimos pagar as dívidas.
Com a ajuda de todas e todos passaremos por essa triste fase.
Obrigado a todas e todos que nos apoiaram de alguma forma até agora.
Em frente sempre!

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