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Praça de Touros para 3 mil pessoas – No século passado, atual Florianópolis teve touradas no ‘estilo espanhol’

Por Billy Culleton
No domingo 1º de maio de 1927 foi inaugurada a Praça de Touros Santa Catharina, no Bairro Estreito.
Com a presença do governador do Estado, Adolfo Konder, cerca de duas mil pessoas prestigiaram o evento, que contou com toureiros espanhóis que lidariam com animais ‘bravíssimos’.

Era o primeiro passo de uma iniciativa que esperava repetir em Santa Catarina o sucesso ibérico desse tipo de espetáculo.
Para isso, foi montada uma estrutura de arquibancadas e camarotes com capacidade para 3 mil pessoas, na Rua Nova, atual Avenida Eurico Gaspar Dutra (informação enviada pelo leitor Leonan Quadros).
Na época, o Estreito pertencia ao município de São José, e só passou a fazer parte de Florianópolis em 1944.

Imprensa festeja iniciativa
Os jornais da época incentivavam a população a comparecer às touradas, prometendo uma exibição aos moldes da Espanha.

A ‘única diferença’ era que os touros não seriam feridos gravemente e, muito menos, mortos. “Assim, pretende-se afastar a supposição de deshumanidade das corridas de touros que se realizarão aqui”, explicava o Jornal O Estado, de 11 de abril de 1927.

Anúncio no Jornal O Estado

As touradas serão um simulacro perfeito das touradas espanholas, com lances a cavalo, sem, contudo, serem mortos os touros. Para isso, os toureiros serão convenientemente instruídos, a fim de simularem a morte dos touros“, completava.

Decepção no primeiro espetáculo
O tradicional espetáculo cruel e sangrento que atraia fans no mundo inteiro, não se repetiu na inauguração do local.
Entre os motivos, toros mansos e toureiros que mais pareciam acrobatas e que só podiam cravar superficialmente as bandarilhas nas costas do animal.

Todos os lances de capas, farpeios e pegas foram bastante desinteressantes, pois que os touros eram mansos e não se prestavam ás lides“, publicou O Estado, de 3 de maio de 1927.
E acrescentava: “Lembramos á Empresa Moura contractar touros bravios, afim de que as próximas corridas sejam mais interessantes“.

Toureiros montavam nos animais
Nos domingos seguintes, o evento se repetiu: os toureiros faziam os tradicionais lances com a capa e colocavam bandarilhas nos touros.
Também havia toureio a cavalo e montagem dos animais, além de ‘palhaçadas’ de alguns toureiros que sentavam numa cadeira para enfrentar os touros.

Na decadência, apresentações musicais
O baixo interesse da população, no entanto, fez com que os organizadores incrementassem o evento com “números variadíssimos e nunca vistos na Capital”.

O concertista V. De Leon executará excellentes números de música, como tangos, maxixes e arias populares. A srita. De Leon (Mexicanita) dansará, executando bailados clássicos. A sra. De Leon apresentará bellos números de transformação. E abrilhantará o espectáculo um espléndido jazz-band”, indicava O Estado de 16 de julho.

Final melancólico
Mas, nada disso adiantou e os empreendedores decidiram encerrar as atividades em 31 de julho, três meses depois da inauguração da Praça de Touros.

Ao apresentar a derradeira tourada, o jornal lamentava:
Terminam as corridas de touros em Florianópolis. Que pena! Já nos iamos familiarizando com a bella festa espanhola. Mas os empresários dizem (e isto é certo!) que as despesas são enormes e as entradas não compensam.”
E concluía: “Em Florianópolis tudo são rosas de um dia! É lastimável.”

No Brasil
As primeiras touradas do Brasil aconteceram no século XVII e sempre seguiam datas importantes para a coroa, como feriados ou quando um monarca casava ou nascia”, publicou o jornal Diário do Rio, na reportagem História das touradas no Rio de Janeiro.

Segundo o jornal, por serem populares na Espanha e em Portugal, se popularizaram aqui conforme os europeus foram se instalando no país.

Todavia, esses eventos começaram a ganhar força em terras tupiniquins no século seguinte, quando a capital foi para o Rio de Janeiro.
Mas as touradas acabaram definitivamente no Rio de Janeiro em 1907, quando o prefeito da cidade Sousa Aguiar fez um decreto que proibia essa prática na Cidade Maravilhosa.

(A foto de abertura é de Billy Culleton, feita em Bogotá, em 2008)

 

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Papa Francisco beatifica bispo nascido em Santa Catarina e que foi batizado na Catedral de Florianópolis

O nosso Estado poderá ganhar o primeiro santo nascido em “águas catarinenses”.
É que o Vaticano beatificou, esta semana, o bispo Jacinto Vera.

Ele nasceu em 3 de julho de 1813 em um navio, em mares catarinenses, no Oceano Atlântico, durante a viagem de sua família para o Uruguai, proveniente das Ilhas Canárias (Espanha).

Menos de um mês depois, em 2 de agosto de 1813, Vera foi batizado na atual Catedral de Florianópolis, na época chamada de Paróquia de Nossa Senhora do Desterro.

Cátedra é utilizada somente pelo arcebispo, na Catedral de Florianópolis (Billy Culleton)

Dias depois a família seguiu viagem para o Uruguai, onde Dom Jacinto se transformou no primeiro Bispo de Montevidéu, em 1865.
O religioso sempre lembrou com carinho da Catedral de Florianópolis e, como prova da sua afeição, ao morrer, em 1881, deixou expresso o desejo de doar sua cadeira de bispo à igreja onde foi batizado.

Assim, a cátedra doada por Dom Jacinto há 141 anos é utilizada até hoje na Catedral Metropolitana, sendo usada exclusivamente pelo arcebispo local.

Dom Jacinto doou sua cátedra para Florianópolis (Foto: arquivo Arcebispado do Uruguai)

Nos registros da Catedral aparece que Dom Jacinto recebeu o sacramento do batismo na segunda-feira, 2 de agosto de 1813, acompanhado da data e local do seu nascimento: “nascido há 30 dias em águas catarinenses”.

Santa Paulina
Santa Catarina já conta com Santa Paulina que nasceu na Itália e veio ao Estado com 10 anos.
Em 1991, numa missa campal em Florianópolis, o Papa João Paulo II nomeou Madre Paulina uma beata, sendo canonizada em 2002.

Cátedra está há 141 anos no altar da principal igreja de SC (Billy Culleton)

Diferença entre beatificação e canonização
A beatificação é o último passo antes da canonização, ou seja, o momento em que a Igreja reconhece e declara que uma pessoa é santa.
Se para a beatificação é necessário que haja um milagre atribuído à intercessão do venerável, o que é necessário para a canonização é que um segundo milagre ocorra após o anúncio da beatificação.

(Com informações do Vaticano News e do site da Catedral Metropolitana)

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Há meio século o aterro da Baía Sul engolia o último vestígio da Ilha do Carvão, que ficava a 500 metros da costa

Por Billy Culleton

Em 1974 a população de Florianópolis se despedia para sempre de outro “pedacinho de terra, perdido no mar”.
Há pouco menos de 50 anos, um ano antes da inauguração da Ponte Colombo Salles (1975), foi demolido o único prédio que ocupava a Ilha do Carvão, uma área um pouco menor que um campo de futebol e que já tinha sido ‘incorporada’ à Ilha de Santa Catarina pela construção do aterro da Baía Sul, em 1972.

A Ilha do Carvão ficava a 500 metros da antiga costa da cidade. Na época, o mar chegava até onde atualmente se encontra a Boate Fields, no entorno do Rita Maria.
Até meados da década de 1940, o local funcionava como depósito de carvão e servia para abastecer os navios a vapor que usavam o Porto de Florianópolis, desativado na metade da década de 1960.

Com o aterro, o espaço antes ocupado pela ilha recebeu uma das colunas de sustentação da Ponte Colombo Salles.

Os registros fotográficos mostram duas construções diferentes: a mais antiga, de estilo residencial, com dois andares, aparece em fotos da década de 1920, durante a construção da Ponte Hercílio Luz.

Em imagens posteriores aparece o prédio em forma de castelinho. O Floripa Centro não encontrou qualquer referência bibliográfica sobre a substituição de uma edificação por outra.

Imagem – Foto postal Colombo

O único vestígio da existência da Ilha do Carvão é a base do antigo farol, que foi preservado e encontra-se no início do trapiche usado pelos clubes de remo.
Porém, sem nenhuma placa que faça referência ao fato.

Ao centro, a base do farol, e à direita, o espaço onde ficava a ilha

Após o complexo ser desativado, uma mulher conhecida como Dona Bela passou a morar no local.
Quem conta é o manezinho Luiz Carlos Dutra de Mello, de 72 anos: “Essa senhora morou sozinha na ilha durante muitos anos. Tinha uma batera e com ela ia todos os dias ao Mercado Público para fazer as suas compras”.

Luiz Carlos Dutra de Mello mostra o local exato onde estava a Ilha do Carvão

Diretor do Clube de Remo Aldo Luz, Mello nasceu numa residência embaixo da Ponte Hercílio Luz e acompanhou o processo de desaparecimento da Ilha do Carvão. “É uma pena que acabaram com essa parte da história da cidade”, lamenta.

(Atualizada em outubro de 2020 e publicada originalmente em 10/9/2019)

Veja outras fotos:

Em 2016, foi lançado o curta “Ilha do Carvão”, de Fábio Brüggemann e Dennis Radünz. Confira:

(As fotos da época que não têm identificação são do acervo da Casa da Memória e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina)

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Chega de lampiões! Em 1910, população de Florianópolis, finalmente, recebia luz elétrica

Por Billy Culleton

“Adeus, lampiões a óleo de peixe, gás ou querosene que apagam com o vento súli!”
“Finalmente, as luzes!”

Estas alvissareiras frases ecoavam em todas as esquinas do Centro, na noite de 27 de setembro de 1910, quando a eletricidade chegou a Florianópolis e foi inaugurada uma nova e moderna iluminação pública.

Acendedores de lampiões em duas épocas: escravo e servidor público (Acervo Milton Teixeira)

Até então, os moradores da cidade dependiam dos acendedores de lampiões para poder sair às ruas ‘com segurança’ durante a noite.

Usina em São José
A modernização da iluminação pública na Capital, há 112 anos, só foi possível graças à construção da usina elétrica de Maroim, em São José.
A edificação, que ainda existe na SC-281, foi feita entre 1907 e 1910, em estilo inglês pela empresa Simmonds & Saldanha, da Inglaterra, que também trouxe todo o equipamento daquele país.

Usina de Maroim no início do século passado (Divulgação Celesc)

A eletricidade chegou à Ilha por um cabo submarino que atravessava a Baía Norte, na altura da futura Ponte Hercílio Luz (construída 16 anos depois, em 1926).

Primeira lâmpada residencial
Quatro dias depois da inauguração da iluminação elétrica nas ruas, foi acesa a primeira lâmpada residencial da Capital, em 1º de outubro de 1910.

Exemplar da primeira lâmpada acessa na Capital encontra-se exposta no Museu de SC (Divulgação FCC)

A ‘façanha’ aconteceu na casa do governador Gustavo Richard, no atual Palácio Cruz e Sousa, e representou o início da expansão da eletricidade nas moradias dos florianopolitanos.

Os primórdios da iluminação em Desterro
As vias da cidade de Nossa Senhora do Desterro viveram às escuras até 1837, quando foram inaugurados os primeiros 50 candeeiros.
Eles eram abastecidos com óleo de baleia e acesos manualmente, com pavios, por encarregados para esta função: os acendedores de lampiões.
O fato é contado em detalhes pelos pesquisadores da UFSC Sílvio Coelho dos Santos e Maria José Reis, na obra “Memória do setor elétrico na região Sul”.

Região central da Capital em 1910, já com os postes de eletricidade (Acervo Casa da Memória)

Este primeiro sistema de iluminação pública foi disposto em locais estratégicos, como as esquinas das ruas centrais, para que a população (que não chegava a 5 mil habitantes) pudesse sair à noite pelas ruas com mais segurança – mesmo com o inconveniente do vento Sul, que apagava os lampiões.

Lampiões a gás e querosene
No final da década de 1860, os lampiões começaram a utilizar gás e, em 1874, querosene, por ser mais econômico, como indica o artigo “Introdução à história da iluminação pública em Florianópolis”, do pesquisador da UFSC Sérgio Schmitz.
O abastecimento de eletricidade a partir de 1910 pela usina de Maroim durou até o final da década de 1950, quando no governo Aderbal Ramos da Silva, a energia passa a ser captada da Usina de Capivari de Baixo, no Sul do Estado.

Usina ao lado da estrada que liga São José a São Pedro de Alcântara (Divulgação Celesc)

A estrutura, em São José, continuou funcionando até 1972, quando foi desativada.

De dia falta água, de noite falta luz!
Nos anos seguintes e com o aumento da população, o abastecimento de eletricidade na Capital foi ficando precário e ineficiente, gerando inúmeras reclamações.

Praça XV (à esq.) e Palácio do Governo já com a nova iluminação pública (Acervo Casa da Memória)

O descontentamento era geral, segundo o pesquisador Sérgio Schmitz, e vinham de vários setores, inclusive através da música.
Parodiando conhecida canção carioca, era comum ouvir-se nas ruas da provinciana Florianópolis: “Cidade maravilhosa. Terra de Hercílio Luz. De dia falta água. De noite falta luz.

As críticas continuaram até a década de 1960 quando a Celesc assumiu a distribuição, estabilizando o abastecimento de eletricidade na cidade.

Curiosidades
– No Brasil, a primeira demonstração de iluminação elétrica ocorreu no Rio de Janeiro, em 1879, na inauguração da estação central da Estrada de Ferro D. Pedro II.
– A seguir, em 1883, o imperador inaugurou em Campos (RJ) a primeira rede de iluminação pública, alimentada por uma máquina a vapor.
– Em Florianópolis, em 27 de setembro de 1910, no momento em que se acenderam as primeiras lâmpadas elétricas na Praça XV e no Palácio do Governo, a tradicional banda musical da cidade chamada “Corpo de Segurança” percorreu as ruas centrais tocando para uma multidão que acompanhava o momento histórico.

(A foto de abertura é do entorno da Praça XV na década de 1910, acervo da Casa da Memória de Florianópolis)

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Conheça a história da centenária chaminé para incineração do lixo urbano, desativada há seis décadas

Por Billy Culleton

Há pouco mais de um século, Florianópolis se modernizava com relação à destinação dos resíduos urbanos.
Para isso, em 1914, foi inaugurado o forno incinerador de lixo, localizado perto da futura Ponte Hercílio Luz, aberta em 1926.

Registro de como era coleta de lixo nas áreas urbanas no início do século XX (Foto: arquivo municipal do RJ)

Até então, o lixo era despejado nas praias da Baía Norte, num serviço de remoção que teve início em 1877 e que era executado diariamente com carroças puxadas a burro.

Descarte no mar, um costume nas cidades litorâneas (Foto: arquivo municipal do RJ)

Atualmente, a chaminé de tijolos aparentes, com 25 metros de altura, é o último resquício daquele conjunto arquitetônico, onde atualmente funciona um setor da Floram.

O forno foi construído entre 1910 e 1914 pela firma Brando e Cia, dos irmãos Miguel e Batista Brando, e contava, ainda, com um galpão de dois pavimentos, de acordo com registros da arquiteta e urbanista Elaine Veras da Veiga, no livro “Florianópolis, memória urbana”.

Como funcionava
No interior do galpão havia um forno de tijolos refratários com duas câmaras de combustão onde os dejetos eram lançados ao fogo por um alçapão.

Local onde ficavam os galpões de incineração e que foram demolidos

A fumaça provocada pela combustão percorria um duto subterrâneo até alcançar a chaminé, por onde era eliminada.

Por dentro da chaminé existe uma escada de ferro que leva ao topo da edificação

Perfil da cidade na época
No início do século XX, Florianópolis contava com uma população de 14 mil habitantes.
Possuía mais de 600 casas comerciais e a indústria, modesta e diversificada, oferecia móveis, chapéus, café processado, telhas de cimento, vinagre, bebidas, sabão e fogos de artifício, além de cigarros, massas alimentícias, açúcar refinado, caramelos, roupas, bordados, rendas e pregos.

Década de 1920, a chaminé (à esq,) e o cemitério municipal (à dir.) no atual Parque da Luz (Casa da Memória)

Intervenções urbanas em prol da saúde pública
Na época, as intervenções urbanísticas na Capital eram variadas e estavam respaldadas pelo cientificismo do momento, através dos médicos e higienistas, que modificavam a cidade em nome da saúde pública.

Imagem do arquivo da Casa da Memória

Entre essas medidas, segundo pesquisadores da ONG Patrimônio Cultural Brasileiro, estavam o alargamento de ruas, a canalização de córregos utilizados pela população para a lavagem de roupa e a transferência do cemitério municipal existente no atual Parque da Luz para o ‘distante’ Bairro do Itacorubi.

Foi esse mesmo bairro que abrigou, entre 1958 e 1990, o lixão da cidade, com a consequente desativação do forno incinerador, que funcionou por 44 anos no Centro.

Imagem do Google Maps

Confira aqui outra reportagens do Floripa Centro

 

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Entre 1880 e 1920 – Bondes puxados por burros eram o principal transporte público de Florianópolis

Há exatos 142 anos, a capital catarinense ganhou um moderno sistema de transporte de passageiros.
Foi no ano 1880, quando começaram a circular os bondes da Companhia de Carris Urbanos e Suburbanos.
Os vagões eram de madeira, totalmente abertos, com estribos laterais e bancos transversais, como descreve a urbanista Eliane Veras da Veiga, no livro “A casa de chácara da Rua Bocaiuva – Histórias da Praia de Fora“.
Puxados por três burros, eram pintados de verde com as iniciais CCU.

A autora salienta que, em 1909, os bondes eram considerados espaços de “demonstração de civilidade e de lugar-social”, onde se proibia o acesso de “pessoas maltrapilhas ou incorretamente trajadas” e se exigia que o passageiro estivesse devidamente “calçado e asseado”.

Trajeto até Agronômica
O trajeto ia da Praça XV de Novembro até o ponto final no Bairro da Agronômica, onde posteriormente foi construído o Abrigo de Menores e que atualmente sedia a Associação Catarinense de Imprensa.
Eram quatro quilômetros de linha de trilhos, com vagões para passageiros e também para cargas.

Bonde na Rua Bocaiúva (Acervo Casa da Memória, reproduzida no livro “A casa de chácara da Rua Bocaiuva”

“Nas subidas, como na Avenida Trompowsky, as pessoas mais ágeis saltavam do bonde em movimento, pois ele era lento a ponto de se conseguir acompanhá-lo a pé. Caso contrário, o bonde não subiria a ladeira”, conta Eliane Veras da Veiga.
Segundo ela, em 1920, após a inauguração do serviço de ônibus, os bondes obsoletos e sucateados entraram em declínio.
Uma década depois, os vagões chegaram a ser puxados por tratores e caminhões, recebendo o apelido dos ilhéus de “treme-terra”.

Revolta popular contra os bondes
Mas o fim definitivo dos serviços de bondes se deu em 25 de setembro de 1934, quando houve um protesto liderado pelos alunos do Ginásio Catarinense e Faculdade de Direito, que eram contra o transporte antiquado, de acordo com a obra “A casa de Chácara…”.
A multidão desatrelou os animais, que correram em disparada pela Praça XV, e jogou o bonde nas águas da Baía Sul, ao lado do Miramar.

No dia seguinte, o Jornal O Estado publicou:
Ontem, entre 20:20 e 20:30 horas, um grupo de pessoas, sem distinção de classe, formado um número superior a mil, vindo de diversos pontos e convergindo para a Praça XV de Novembro, parecendo que no local se projetava um comício político, porém com a descida aquela hora, do único bonde da CCU ora trafegando, o povo se lançou contra o mesmo, desatrelando os respectivos animais e levando o veículo para o Cais Liberdade, jogando-o ao mar e ateando-lhe fogo“.

Matéria do jornal de 26 de setembro de 1934 (Acervo Biblioteca Pública do Estado)

Foi o final melancólico de mais de 50 anos de um transporte que ajudou no desenvolvimento de Florianópolis.

(A foto de abertura é da Casa da Memória de Florianópolis)

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Ponte Hercílio Luz – Na primeira década era cobrado pedágio: R$ 1 por pessoa e R$ 20 por carro

Por Billy Culleton
O povo está cansado de ser espoliado; todos, sem distinção de classes, anseiam pelo dia em que desapareçam das cabeceiras da ponte as odiosas guaritas”.

O trecho da crônica publicada no Jornal O Estado, em 17 de fevereiro de 1931, mostra a insatisfação da população com a cobrança do tributo para atravessar a Ponte Hercílio Luz, desde a sua inauguração em 13 de maio de 1926.

Cada pessoa pagava 100 réis (em torno de R$ 1), independente se estava passando a pé ou a bordo de um veículo.

Guarita na cabeceira insular, em 1929 (Acervo Jornal do Mercado Público)

As carroças pagavam 1,5 mil réis (R$ 15) e automóveis, 2 mil réis (R$ 20).

Animais e volumes
Se o pedestre estivesse carregando um volume grande também deveria pagar por isso: 200 réis.

Já quem passava de bicicleta ou com um carrinho de mão desembolsava 500 réis nas guaritas existentes nas duas entradas da estrutura.

Lista com os valores publicada na dissertação de mestrado da historiadora Sabrina Fernandes Melo (link no final da reportagem)

A taxação também era implacável com quem transportava animais: 1 mil réis por cada cabeça de gado que cruzava a Ponte.

Concessão para empresa particular
Com a abertura da Ponte, há exatos 96 anos, o governo do Estado concedeu os serviços de manutenção da obra para uma empresa particular que, em troca, tinha o direito de cobrar o pedágio.

Empresas de ônibus pagavam por cada passageiro transportado (Acervo Casa da Memória)

O contrato foi assinado por dez anos e terminou em 1935.

Desde então, a travessia entre a Ilha e o Continente passou a ser gratuita, atendendo aos protestos da população local há mais de oito décadas.

A crônica que mostrava a insatisfação com a cobrança da taxa (no alto, em destaque o preço do jornal: 200 réis)

(Os dados desta reportagem foram pesquisados em “Arquitetura e ressonâncias urbanas em Florianópolis na primeira metade do século XX”, dissertação de mestrado de Sabrina Fernandes Melo, Pós-Graduação em História da UFSC, 2013 e “A colcha de retalhos do espaço urbano – Sociabilidades, transformações e revitalização na criação da beira-mar Continental – Florianópolis (1926-2008)”, dissertação de mestrado de Gisele Bochi Palma, na Pós-Graduação em História da Udesc, 2010. A foto de abertura é do acervo da Casa da Memória)

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Entenda a confusão sobre as duas datas de aniversário de Florianópolis: 23 de março e 17 de fevereiro

Há apenas sete anos chegou-se a um consenso sobre o dia da comemoração do aniversário da Capital dos catarinenses.
Foi em 2015 que a Câmara de Vereadores reconheceu oficialmente, por meio de lei, que a fundação de Florianópolis foi em 17 de fevereiro de 1673. Ou seja, há 349 anos.

Segundo o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina (IHGSC), naquele ano o bandeirante paulista Francisco Dias Velho mandou 100 homens para povoar a Ilha de Santa Catarina, quando o território ainda fazia parte de Laguna.

Ilustração de Eleutério da Conceição, no livro “Nossa Senhora do Desterro – Os primeiros anos” (em vermelho, localização da atual Catedral)

Já no dia 23 de março de 1726, 294 anos atrás, a então póvoa de Nossa Senhora do Desterro foi emancipada de Laguna e elevada à categoria de vila.

Mapa feito por Rigobert Bonne, em 1780 (Divulgação Geographicus Rare Antique Maps)

Mesmo assim, por tradição, optou-se por manter a comemoração em 23 de março, data que foi oficializada como o “Dia do Município”, porque naquele dia de 1726 foi criada a antiga Câmara de Vereadores (chamada à época de “Casa de Câmara”).

Foi o prefeito Acácio Garibaldi S. Thiago, em 1967, que assinou a lei determinando a comemoração da cidade no dia da sua emancipação política.

(Imagem de abertura: ilustração de Eleutério da Conceição, no livro “Nossa Senhora do Desterro – Os primeiros anos”)

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Ilustre moradora do Centro – Trajetória de Dona Uda, educadora e presidente de escola de samba, vira livro

A trajetória da educadora, mulher do samba e de projetos sociais Maria de Lourdes da Costa Gonzaga, a dona Uda, se transformou no livro “Uda Gonzaga – A primeira-dama do Morro da Caixa”.
Com 83 anos de idade, Uda nasceu e vive até hoje no Morro da Caixa, também conhecido como Morro do Monte Serrat, na região central de Florianópolis.
A obra, de autoria do jornalista Ricardo Medeiros e da acadêmica de Jornalismo Suyane de Lima, será lançada no dia 10 de fevereiro, às 17h, nos jardins do Palácio Cruz e Sousa, no Centro.

Uda foi a primeira pessoa negra da comunidade, nos anos 1960, a se formar professora-normalista.
Aos 40 anos, concluiu o curso superior de Pedagogia. Entrou para história, quando foi o primeiro negro a ser membro titular do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina.

Formatura da educadora (arquivo pessoal Uda)

Pelo mesmo conselho ganhou o Prêmio Elpídio Barbosa, que reconhece as boas práticas em favor da qualidade da educação.
Foi uma das fundadoras do Conselho Comunitário do Monte Serrat e da Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros.
Pelo seu trabalho nessa última entidade, recebeu a Medalha Zumbi dos Palmares, concedida pela Câmara de Vereadores de Florianópolis.

Mundo da Educação
Nos anos 1940, Uda estudou no Grupo Escolar Arquidiocesano São José.
Os pais de Uda a incentivavam a estudar. “O que eles mais queriam era que a gente se concentrasse nos cadernos e nos livros. Os estudos eram a herança que eles gostariam de nos deixar”.
Nas décadas seguintes, foi aluna no Instituto Estadual de Educação (IEE), instituição pela qual conquistou o diploma de normalista em 1963.

No IEE, não havia professores negros, com exceção de Antonieta de Barros, que exercia o cargo de diretora do Instituto (1944-1951).
Uda, no ano de 1964, iniciou a carreira no magistério como professora substituta na Escola Isolada do Morro da Caixa. Ficou no estabelecimento por três meses.
Naquele mesmo ano, rumou para Blumenau, pois havia passado em concurso público para ministrar aulas no Estado. As condições de trabalho não eram favoráveis e ela desistiu da vaga.

Ainda em 1964, de volta a Florianópolis, efetivou-se na Escola Isolada do Morro da Caixa. Logo assumiu o cargo de diretora. Mais tarde, o estabelecimento passou a se chamar Grupo Escolar do Morro da Caixa.
Na sequência, recebeu as denominações de Grupo Escolar Lúcia do Livramento Mayvorne e Escola Básica Lúcia do Livramento Mayvorne.
Como única negra da turma, iniciou, em 1974, o Curso de Pedagogia na Universidade do Estado de Santa Catarina, Udesc.

No dia 29 de julho de 1978 foi diplomada com habilitação em administração escolar.

Em 2 de maio de 1986, Uda foi o primeiro negro a ser membro titular do Conselho Estadual de Educação (CEE), ficando no cargo até 2 de março de 1998.

No ano de 2008, voltou a ser protagonista. Era também o primeiro negro a receber o Prêmio Elpídio Barbosa, pelo CEE.
Dona Uda, aos 72 anos de idade, aposentou-se compulsoriamente do magistério no dia 9 de julho de 2010.

Mundo do samba
Tornou-se a única presidente mulher da Escola de Samba Embaixada Copa Lord, agremiação pela qual virou também tema de enredo.
Em 5 de junho de 1965 casou-se com Armandino Gonzaga, que na época já estava na presidência da Escola de Samba Embaixada Copa Lord. O marido faleceu em 1978, aos 40 anos, vítima de edema agudo de pulmão, causando comoção na comunidade.

Durante os anos de 1984 e 1985, Uda Gonzaga comandou a Embaixada Copa Lord. Foi convidada para a presidência por um grupo da diretoria. Como resposta, ela falou que não tinha a experiência do marido.
“Propus que fizessem uma eleição na comunidade. Meu nome foi aceito por todos”. Foi a única mulher da entidade a assumir tal cargo.
Pela agremiação, em 2014, foi reverenciada com o enredo: “Quem você pensa que é sem a força da mulher?”.

Mundo social
Maria de Lourdes da Costa Gonzaga , em 1978, foi uma das responsáveis pelo surgimento do Conselho Comunitário do Monte Serrat.
Em 1985 auxiliou na fundação do Grupo de Mulheres Negras, que anos depois se transformou na Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros (AMAB). Por essa entidade, recebeu a Medalha Zumbi dos Palmares, pela Câmara de Vereadores de Florianópolis.
Colocou em prática, em 2006, o projeto Livros e Batucadas, com os cursos de Administração de Empresas e de Música, ambos da Universidade do Estado de Santa Catarina, Udesc. O projeto criou a bateria mirim da Copa Lord.

A obra já está em pré-venda com o selo da Dois por Quatro Editora: https://www.doisporquatro.com/uda-gonzaga-a-primeira-dama-do-morro-da-caixa

Preço: R$ 35 até 9 de fevereiro e R$ 39,90, após essa data.

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Farmácias tomam conta do Centro – Preço Popular no lugar da Livraria Catarinense, no Calçadão

Existem 10 farmácias num raio de duas quadras, entre a Praça XV e o Mercado Público Municipal.

Recentemente, a área, delimitada pelas ruas Tenente Silveira e Conselheiro Mafra, ganhou mais um comércio de medicamentos, justamente onde estava um ícone da vida cultural do Centro de Florianópolis.

Os três andares da Livraria Catarinense, que fechou em agosto e permitia o crescimento intelectual e espiritual, já recebe fregueses à procura da cura física.

A reforma para instalação da farmácia

A Farmácia Preço Popular ocupa a tradicional esquina, no prédio que já abrigou a famosa Confeitaria do Chiquinho, na frente do Senadinho, que também está completamente descaracterizado, sendo ocupada por uma loja de celular.

Coincidentemente, a nova loja da Livraria Catarinense, na Deodoro, também tem uma farmácia ao lado

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Na antiga Confeitaria Chiquinho – O fechamento da Livraria Catarinense, na principal esquina do Centro de Florianópolis

A lendária Confeitaria Chiquinho – Com três andares, em 1926, era o edifício mais alto de SC

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Imagens exclusivas – Confira a peça rachada que interditou a Ponte Hercílio Luz em 1982

Quando a Ponte Hercílio Luz tinha pouco mais de 50 anos, no início da década de 1980, engenheiros descobriram uma rachadura numa das barras de olhal que sustentavam a estrutura.
A deterioração da peça poderia causar o colapso da Velha Senhora.
Por isso, a única alternativa foi proibir totalmente a passagem de veículos e pedestres, o que aconteceu em 22 de janeiro de 1982.

Essa peça histórica, agora, poderá ser vista pela população na cabeceira insular da Ponte, num espaço que está sendo revitalizado pelo governo do Estado e será aberto ao público nos próximos dias.
O Floripa Centro visitou a área que está recebendo paver no piso e que abrigará um centro de atendimento ao turista e uma base da Polícia Militar.Na barra de olhal de 1,2 metro de largura e 80 centímetros de altura, que foi cortada para sua remoção, pode se observar claramente a rachadura de 60 centímetros que causou a interdição.
Ela ficava em cima de uma das torres de sustentação da Ponte.
Em 1975 foi inaugurada a Ponte Colombo Salles, o que minimizou os efeitos do fechamento da Hercílio Luz, que só foi reaberta completamente em dezembro de 2019.

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Fecha, no Centro da Capital, o primeiro estacionamento robotizado do país

Inaugurado em novembro de 2015, na frente da Catedral Metropolitana, o mais moderno edifício-garagem do Brasil não resistiu ao baixo movimento.

O prédio de oito andares, na Rua Arcipreste Paiva, no Centro de Florianópolis, foi construído especialmente para abrigar o estacionamento, com capacidade para 256 vagas.
O sistema era operado por 19 robôs, com quatro elevadores que recebiam, acomodavam e entregavam os veículos automaticamente.

O terreno pertence ao governo do Estado que, agora, disponibilizou policias militares aposentados para cuidar do local.

Com entrada pelo calçadão da Trajano, a edificação incluía uma galeria comercial, que também foi fechada.

Consultada sobre os motivos do fechamento, a Estapar se limitou a informar, por meio da assessoria de Comunicação, que “o serviço do edifício-garagem robotizado, localizado no Centro de Florianópolis, foi descontinuado e o contrato com a empresa I-Park foi encerrado”.

Como funcionava
Na entrada do estacionamento, o motorista encostava o carro numa das três cabines disponíveis, desligava o motor, fechava e levava as chaves.

Ao sair do automóvel, o motorista dirigia-se a uma máquina que emitia seu bilhete de estacionamento.

No retorno, o usuário pagava a tarifa, inseria o bilhete na máquina e tinha seu carro entregue em quatro minutos.

(A imagem de abertura é do Google Street, as fotos atuais são de Billy Culleton e os registros do funcionamento do estacionamento são divulgação da Estapar)

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