Chia: barbeiro mais antigo do Centro já fez 200 mil cortes
Profissional ficou famoso a partir da década de 1970 por ser o preferido do ex-governador Aderbal Ramos da Silva
Após 55 anos de profissão, Chia, um dos mais tradicionais barbeiros da Capital, atingiu em 2019 a marca próxima aos 200 mil cortes de cabelo, equivalente à quase a metade da população da cidade.
O cálculo leva em consideração a média, que ele faz, de 300 cortes por mês, o que corresponde a 10 cortes por dia, 3,6 mil por ano e 198 mil nas cinco décadas e meia de profissão.
Ademir ‘Chia’ Rodrigues (o apelido originou-se porque tinha asma e seu peito chiava enquanto cortava o cabelo dos clientes), nasceu em 1949, em Capivari de Baixo, Sul do Estado. Filho de barbeiro, começou a sua trajetória aos 15 anos, com o pai e mudou-se para Florianópolis em 1971.
Na Capital, foi trabalhar como empregado na tradicional Barbearia do Osório, na esquina da Fernando Machado com a rua dos Ilhéus, próximo à Praça 15.
Ele ganhou notoriedade após começar a atender o ex-governador Aderbal Ramos da Silva, que frequentava a Barbearia do Osório, na década de 1970. ‘Ele tinha um barbeiro predileto, mas um dia este faltou e ele me escolheu. Nunca mais quis cortar com outro”, diz, acrescentando que aparou o cabelo e fez a barba de Aderbal até a morte do político, em 1985. “Me buscavam de carro e levavam até a casa dele”, lembra, orgulhoso, acrescentando que durante muitos anos continuou atendendo os netos e bisnetos do político.
Chia conta que nos anos 70 o movimento das barbearias era baixo porque os jovens seguiam a moda da Jovem Guarda, Beatles e Rolling Stones e deixavam o cabelo comprido. Por isso, entre 1971 e início dos anos 80 também fazia ‘bico’ como garçom no Lindacap aos domingos e feriados, dias de maior movimento no então restaurante de madeira, nos altos da rua Felipe Schmidt.
Uma das mudanças que Chia sente é que antigamente a metade dos seus atendimentos era para fazer a barba dos clientes. “Era tão barato que os clientes chegavam a formar fila na barbearia. Hoje, quase não faço esse serviço”.
Outra transformação contribuiu para aumentar a sua autoestima. No passado, a profissão de barbeiro era considerada de segunda categoria, apenas para quem não tinha estudo. O barbeiro não era convidado a nenhum tipo de festa e, se aparecia em alguma, os conhecidos evitavam apresentá-lo identificando a profissão. “Hoje, ser barbeiro é chique”.
Em 1984, abriu seu próprio comércio na recém-inaugurada Rodoviária Rita Maria, onde ficou até 2009, quando se mudou para a rua Francisco Tolentino, ao lado do Mercado Público, frente ao camelódromo municipal.
A barbearia fica no porão de um prédio histórico, um pouco escondido do grande público que passa pela calçada. Porém, a clientela continua fiel ao decano dos barbeiros na Capital.
Chia nunca tirou férias. ‘Não preciso. Faço o que gosto e não canso. Apenas saio nos feriadões, em pequenas viagens para Chapecó e Tubarão para visitar a família’, disse, lembrando que desde que se aposentou, há quatro anos, não trabalha mais aos sábados.
“Adoro cortar cabelo. Sempre gostei. Vou morrer fazendo isso, se Deus permitir”.
Barbeiro tem fama de fofoqueiro. Confere? “Não, é bem informado, sabe da vida de todo o mundo, mas deve guardar segredo para não espantar os clientes”.
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