Inaugurada no Natal de 1861 – Conheça a pequena igreja ‘invisível’ do Centro de Florianópolis

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Por Billy Culleton
Encravada no meio de enormes prédios, num recuo da Rua Conselheiro Mafra, encontra-se a Igreja Nossa Senhora do Parto.
Localizada no centro histórico da Capital, é desconhecida pela maioria da população. Muitos já passaram na frente. Porém, poucos entraram.
É um dos templos com menos história registrada da cidade: há pouquíssimas imagens antigas e nenhum livro ou trabalho acadêmico que  resgate a sua memória.

O seu início remonta a 1837 quando foi autorizada a construção da pequena igreja que abrigaria a imagem de Nossa Senhora do Parto, trazida por imigrantes portugueses.
A obra começou em 1841, na antiga Rua do Príncipe, no então Bairro da Figueira, próximo à região portuária da cidade.
Após duas décadas, a edificação foi inaugurada, em 25 de dezembro de 1861.

Arquitetura
A igreja tem uma nave única, com sacristia lateral.
A sua ornamentação é simples, destacando-se no fundo do altar, a imagem da padroeira.

Imagem da Virgem, em registro de Norma Bruno

O piso é de ladrilho hidráulico, do século 19.
Segundo pesquisa de Luiza de Souza, sob a orientação da professora da Unisul Eliane Veras da Veiga, ao longo dos anos, o templo sofreu várias modificações, que comprometeram a sua arquitetura original.

Reforma no século passado
Em 1915, foi feita a sacristia e em 1959, uma reforma, ampliou a igreja para o lado esquerdo, sendo construída a torre dos sinos, de acordo com o levantamento “Igreja Nossa Senhora do Parto: memória e atualidade”, da Unisul.

Registro da década de 1960 (Acervo Velho Bruxo)

A partir de então, influenciadas pela corrente migratória alemã em Santa Catarina, adotou elementos decorativos de igrejas ecléticas.
Externamente, é visível a alteração do estilo clássico tradicional, pois já não apresenta as características típicas das igrejas oitocentistas.

Uma década fechada
A igreja foi tombada como patrimônio histórico municipal em 1986.
Mesmo assim, ficou fechada por uma década, a partir de 1990, sendo reaberta no ano 2000, após uma grande reforma, que revitalizou a edificação.

Registro do início do século 20 (autoria desconhecida)

Naquele ano, foi criada a Comunidade de Vida Divino Oleiro, que administra as atividades na igreja até hoje.

A tradição
O Dia da Nossa Senhora do Parto, padroeira das mulheres que acabaram de se tornar mães, é comemorado em 18 de dezembro (nesta sexta-feira!).
O culto a esta Virgem é uma das mais tradicionais devoções da França, Espanha e Portugal e se espalhou por muitas outras nações.

Imagem do início da década de 1970 (Acervo Velho Bruxo)

Foram os missionários espiritanos, da França, que divulgaram o culto à Nossa Senhora do Bom Parto no mundo.
No Brasil eles aportaram em dezembro de 1885, e encontram essa devoção já estabelecida no país, segundo levantamento da Arquidiocese de São Paulo.

Os registros indicam que os cristãos brasileiros começaram a invocar Nossa Senhora do Bom Parto, no Rio de Janeiro, em 1650.

Mapa de Desterro de 1868 mostra a localização da igreja N. S do Parto (do livro Florianópolis, Memória Urbana, de Eliane da Veiga)

Serviço:
Missas: de segunda-feira a sábado, às 12h15min. Terça-feira também às 15h.
Visitação: de segunda-feira a sexta-feira, das 9h às 17h. Sábado, das 9h às 13h.
Endereço: Rua Conselheiro Mafra, 674 (entre Padre Roma e Bento Gonçalves), Centro, Florianópolis.

Crônica sobre a Igreja da Nossa Senhora do Parto, por Norma Bruno*

Descobrindo tesouros escondidos
Apesar de muito andarilhar pela cidade, confesso que só conheci a Igreja de Nossa Senhora do Parto no final do ano passado.
Não por desinteresse, muito pelo contrário. Sempre tive curiosidade de conhecê-la e me ressentia, pois imaginava que tivesse sido demolida.

Fiquei surpresa ao saber que, ao contrário de tantas outras igrejinhas espalhadas pela cidade – quem lembra de uma que havia em frente à Praça dos Bombeiros “tombada” na década de 1970? – a igreja de Nossa Senhora do Parto ainda está em pé e não só continua aberta a visitação como mantém uma intensa rotina de atividades litúrgicas.

A imagem da Senhora é uma lindeza!
Fiquei admirada com a boa conservação interna, certamente fruto da dedicação de um bando de senhorinhas que, muito faceiras com a minha visita, interromperam a reunião que faziam e se puseram a responder perguntas que eu, aliás, não havia feito (mais ilhéu impossível rsrs).
Fui convidada para as missas, os terços e as novenas. Qualquer dia eu pinto lá pra rezar um terço e relembrar meus tempos de colégio “das frera”.

Na saída, a realidade aguardava: estacionamento no pátio, o sufocamento da igrejinha pelos prédios vizinhos e a já conhecida decadência do entorno.
Deprimente.
A verdade é que precisamos conhecer nossa cidade, ocupar os espaços, falar sobre o que acontece.
E assim como devemos denunciar as barbaridades, precisamos também divulgar as boas iniciativas, a história, contar os causos e valorizar as pessoas como aquelas senhorinhas que lutam para manter vivo o pouco que sobrou de um patrimônio tão rico como o nosso.

Apesar disso e ainda que a Rua Conselheiro Mafra continue ostentando barbaridades arquitetônicas, felizmente também encontramos casinhas revitalizadas, bem pintadas, ocupadas como moradia ou por tradicionais casas de comércio, pois nem só de equipamentos culturais se faz uma revitalização.

Independentemente do aspecto religioso, a Igreja de Nossa Senhora do Parto merece uma visita.
Seja pela sua arquitetura despojada, pela beleza de suas imagens ou simplesmente pela sua permanência na paisagem.
Coisa rara em Florianópolis.
* Publicada em 23 de fevereiro de 2014

(O desenho da imagem de abertura está numa placa na entrada da igreja, assinado como Haa)

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