No meio do mato, encontramos as ruínas do Forte São João, feito em 1793 e demolido para fazer a Ponte
Quem passa pela Beira Mar Continental, embaixo da Ponte Hercílio Luz, não imagina que ali pertinho existia uma fortaleza, erguida há 228 anos.
Muito menos que ainda há vários vestígios da sua existência, como um túnel abobadado e diversos trechos de muralhas que pertenceram ao antigo Forte de São João do Estreito.
No local (um barranco de 700 metros quadrados, na Rua 14 de julho, com grandes árvores e mata fechada) não há nenhuma placa ou indicação de que ali se erguia o único estabelecimento militar histórico, situado na parte continental de Florianópolis.
A fortaleza foi construída em 1793 a mando do governador da Capitania de Santa Catarina, João Alberto de Miranda Ribeiro.
Ele mandou edificar entrincheiramentos no local devido “à fermentação bélica na Europa”.
A informação, segundo o site fortalezas.org, consta nas obras de dois autores do século 19: “Memória Histórica da Província de Santa Catarina”, de Manoel D’Almeida Coelho (1856), e em “Notícia Geral da Província de Santa Catarina”, do Arcipreste Joaquim de Oliveira Paiva.
Defesa contra invasores estrangeiros
O objetivo era defender a Ilha de Santa Catarina.
Do outro lado do mar, na Ilha, encontra-se o Forte Santana, com o qual deveria cruzar fogo, em caso de ataques de invasores.
O forte no Estreito tinha como estrutura principal o Quartel da Tropa, a Casa da Pólvora, a Bateria e, no entorno, uma muralha de alvenaria.
Possuía um portão abobadado, ‘exposto’ completamente aos fogos que poderiam partir do canal, descreve o historiador Augusto de Sousa, na obra “Fortificações no Brasil” (1981).
Sua artilharia, seis peças de bronze, provinha da Fortaleza de Anhatomirim, tendo seu número elevado a 11, em 1837, no contexto da Revolução Farroupilha.
Reforma
Na década de 1850, já em desuso e com as edificações inteiramente arruinadas, foi feito um orçamento para a reedificação do forte e das muralhas, informa o site Fortalezas.
Na época, avaliou-se que a fortificação deveria ser restaurada devido a sua posição estratégica, e todos os edifícios teriam que ser reparados, sendo que a parte mais conservada era a Casa da Pólvora.
Mas o projeto não foi adiante.
Em 1863, o governo imperial voltou à carga e projetou uma nova fortificação nesse local, iniciativa que também fracassou.
Assim, o forte ficou abandonado até que as estruturas remanescentes terminaram por ser demolidas ou soterradas no início da década de 1920, por causa das obras da construção da Ponte Hercílio Luz, que lhe exigiram o local estratégico.
Tombamento
Somente um século depois, em agosto de 2019, o Conselho Estadual de Cultura aprovou o tombamento das ruínas do Forte São João, sob o argumento de ser uma importante ação para a valorização do patrimônio cultural catarinense.
Mas, por enquanto, o local, que fica sob a responsabilidade do Deinfra, ainda é ‘Patrimônio com tombamento provisório’.
Situação hoje
Atualmente, aos pés da cabeceira continental da Ponte, semi-soterrados, restam apenas os vestígios do túnel, em alvenaria de pedra e cobertura em abóbada de tijolos, e pequenos trechos remanescentes de muralhas.
Às vezes, o local é limpo pela Comcap e as ruínas ficam mais à vista.
Nesta semana, na visita da reportagem, o mato tomava conta do lugar, que é frequentado por usuários de drogas.
Anos atrás, alguns deles quebraram a parede de tijolos, na entrada do túnel, erguida pelo poder público para evitar a sua ocupação. Mas a estrutura foi reconstruída.
Confira a localização exata, neste link do Google Earth.
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