Nove décadas do Teatro da Ubro – Da exclusividade para a classe operária ao atual palco alternativo do Centro
Por Billy Culleton
O Teatro da União Beneficente Recreativa Operária (Ubro) foi idealizado por trabalhadores de baixa renda de Florianópolis na década de 1920.
Mas o local só abriu as portas em 1º de maio de 1931, Dia do Trabalhador, e até 1951 recebeu diversos espetáculos teatrais, cujo foco prioritário era o público ligado à classe operária.
Situado na escadaria da Rua Pedro Soares, que unia o antigo Centro de Florianópolis às chácaras das imediações, o sobrado possui arquitetura singela e características ecléticas do início do século 20.
Em 1922, trabalhadores de Florianópolis, já tinham fundado a União Beneficente e Recreativa Operária.
“A entidade desenvolvia práticas políticas, alinhando-se ao operariado brasileiro na luta por direitos trabalhistas e na reivindicação da intervenção do Estado em questões como custo de vida e moradia operária”, afirma a pesquisadora da Udesc Vera Collaço, em artigo intitulado “Dos bastidores ao palco: a prática teatral da União Operária”.
Segundo ela, o teatro servia como veículo de confraternização e de estimulo ao encontro da família operária em torno de um lazer “sadio”.
E, ao mesmo tempo, proporcionava aos trabalhadores de Florianópolis momentos de reflexão sobre valores, hábitos e comportamentos.
Assim, por duas décadas, o prédio abrigou um grupo de teatro dirigido por Deodósio Ortiga, que apresentava as mais variadas peças para os operários da cidade.
Vera Collaço traça um perfil sobre as atividades desenvolvidas até a década de 1950.
“O público era constituído por famílias, inclusive com a presença de crianças muito pequenas. Fato justificado pela moralidade dos espetáculos ali apresentados, espetáculos que a imprensa local denominava como “familiares” e morais. Os homens aparecem engravatados, e as mulheres bem vestidas, ou seja, apesar das dificuldades enfrentadas pelos baixos salários, os trabalhadores, certamente com grande esforço, procuravam apresentar-se com dignidade nos seus eventos públicos.”
Inclusive, em datas especiais, o grupo teatral também realizava ‘matinée’, nos domingos à tarde, especificamente, para as crianças.
Porém, em 1951, com a morte do diretor, o grupo teatral mantenedor da casa de espetáculos foi desmantelado e se dissolveu.
Na época, a Ubro tinha cerca de 600 associados, que utilizavam o espaço para o entretenimento de salão e também mantinham uma biblioteca com mais de 800 livros.
Recuperação
A partir de 1955, o imóvel foi gradativamente desativado vindo a ruir na década de 1990, restando apenas sua fachada original.
Após ficar fechado por quatro décadas, o espaço foi recuperado e cedido à Fundação Cultural Franklin Cascaes.
Totalmente revitalizado, o teatro foi reinaugurado em 3 de outubro de 2001, contando com um auditório de 94 lugares, camarins, banheiros, salas de administração e de oficinas.
Em 2006, o espaço ganhou equipamentos de iluminação, sonorização e climatização, além de um piano armário Essenfelder, fabricado em 1994.
Atualmente, uma variada programação mensal é realizada no local, e a pauta de eventos é definida mediante agendamento prévio.
Com a reabertura, a população de Florianópolis passou a contar com mais um local para apresentações de espetáculos, ensaios e laboratório de pequenas companhias de teatro, dança e música.
Curiosidades *
– Na inauguração do teatro, em 1º de maio de 1931, foi levada à cena a comédia “Manda quem Pode”, de Ary Barroso.
– Todos os membros do grupo teatral da União Operária eram provenientes da classe trabalhadora de Florianópolis.
– O teatro operário era realizado por amadores, que a ele se dedicavam por prazer, sem ter neste empreendimento uma forma de recompensa financeira. Todos possuíam outra profissão ou atividade que lhes garantia a sobrevivência econômica.
* Informações extraídas do artigo “Dos bastidores ao palco: a prática teatral da União Operária”, de Vera Collaço.
– As fotos desta reportagem são do acervo da Fundação Franklin Cascaes
Confira esta reportagem relacionada: Liga Operária Beneficente – Clube do Centro, fundado em 1891, tem a segunda biblioteca mais antiga de Florianópolis
Deixe uma resposta
Want to join the discussion?Feel free to contribute!