Liga Operária Beneficente – Clube do Centro, fundado em 1891, tem a segunda biblioteca mais antiga de Florianópolis

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Por Billy Culleton

Com 128 anos, o clube Liga Operária Beneficente, no centro histórico de Florianópolis, já viveu tempos de glória no século passado, quando chegou a ter 3 mil sócios, entre alfaiates, portuários, sapateiros e cocheiros.

Atualmente, congrega 200 sócios, a maioria jogadores de dominó que se reúnem todas as tardes no 1º andar do prédio da esquina das ruas Tiradentes e Nunes Machado, a 100 metros da Praça XV.

Fundado em 11 de janeiro de 1891, a Liga tinha como objetivo a promoção da assistência social, cultural e recreativa.
Por isso, seis anos depois, em 1897, foi criada a biblioteca, a segunda mais antiga em atividade de Florianópolis (a primeira é a Biblioteca Pública do Estado, fundada em 1854).

O local chegou a contar com 1,5 mil volumes que ficavam à disposição dos associados.

De acordo com o bibliotecônomo Alzemi Machado, no artigo “Liga Operária Beneficente de Florianópolis: nascimento e morte de uma biblioteca popular”, o acervo era constituído pela aquisição de exemplares e também por doações.

Havia uma enorme variedade de gêneros, como “romances, poesias, didáticos, técnicos, teses, revistas, dicionários e enciclopédias em vários idiomas, encadernadas em capa dura e lombada em couro gravada”.

Registro de 1980, durante reunião da diretoria no salão principal, com a biblioteca ao fundo (Foto: acervo do clube)

A biblioteca sempre foi muito procurada pelos seus associados, principalmente a partir de 1935, quando foi inaugurada a sede social na Rua Tiradentes Nº 22, numa edificação de dois pavimentos, ficando localizada no 1° piso, juntamente com o salão principal.

“Era constante a presença de estudantes, professores, donas de casa, e até mesmo de figuras pertencentes à classe política, como os governadores Celso Ramos e Aderbal Ramos, e de pesquisadores como Hipólito do Vale Pereira, sendo que todos tinham cadeira cativa”.

Até 1993, a biblioteca chegou a ser procurada por alguns sócios, mas já entrava em decadência, até mesmo pela pouca renovação de seu acervo, explica Alzemi Machado.

Nessa época, o acervo descuidado e antigo, já acometido pelos “ataques de insetos como traças e cupins”, foi se perdendo até chegar a menos de uma centena nos dias de hoje.

Atualmente, o responsável pelos poucos livros é Dionísio Luiz Colombi, de 93 anos. Nas prateleiras, agora de tijolos, destacam-se mais os troféus dos campeonatos de dominó do que os livros remanescentes do século passado.

“Pouca gente procura o acervo, mas temos a esperança de que com doações possamos revitalizar o espaço”, afirma Colombi, que demonstra lucidez e vitalidade, também graças à prática de esporte: ele faz parte do time da terceira idade que é atual campeão catarinense de vôlei.

Assim, de uma maneira melancólica, minguaram as atividades da segunda mais antiga biblioteca de Florianópolis, “e que possibilitou, como espaço cultural, a tentativa de democratizar o acesso a conhecimentos e informações às camadas populares da sociedade”, escreveu, no ano 2000, Alzemi Machado, no seu artigo para o mestrado em Educação e Cultura da Udesc.

Além dos jogos de dominó, o clube promove bingos em datas comemorativas, como o Dia dos Pais, e também aluga o amplo salão para festas particulares (não sócios pagam R$ 1 mil pelo espaço).

Por isso, se você passar por essa esquina à tarde e ouvir o tilintar das pedras de dominô, pode subir no primeiro andar para apreciar o jogo e se sentir de volta ao passado, admirando também os antigos quadros nas paredes, que incluem fotos dos primeiros presidentes.

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