Migrante deve ser tratado como nosso hóspede – Conheça a nova vida do venezuelano Miguel no Centro
Por Frutuoso Oliveira
Durante a pandemia, por causa do uso da máscara, é impossível ver o sorriso que o venezuelano Miguel Farias traz sempre estampado em seu rosto.
Ele é um dos tantos estrangeiros que encontraram, na bela Florianópolis, o lugar ideal para tocar a vida.
Miguel, de 27 anos, nasceu e cresceu em Bolívar, cidade que faz fronteira com o Brasil.
Do lado de cá é Pacaraima, em Roraima, por onde entra a maioria dos venezuelanos que vem ao Brasil.
Hoje, ele trabalha no café Bayer, recém-aberto na cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz.
“O migrante, especialmente aquele em situação de refúgio, é o ser humano mais importante numa nação civilizada. Ele é o nosso hóspede.”
Alfredo Culleton, professor da Unisinos/RS, vinculado ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
Antes, Miguel trabalhava no quiosque de chope, da cervejaria Bayer, do mesmo dono do café, que já funciona desde a reinauguração da ponte, em dezembro.
Assim como ele, há muitos venezuelanos que vieram tentar a vida no Brasil.
Passou a fronteira e ficou três meses em Manaus.
“Lá era muito calor. Florianópolis é bem melhor”, fala, em seu “portunhol” que aos poucos vai se adaptando ao português.
A vida na Venezuela não estava fácil. “Eu tinha uma cafeteria em Bolívar. Ganhava um bom dinheiro. Com 23 anos já tinha comprado a minha casa, mas quando veio a crise não tinha nem mais para comer”, conta.
Lá, na sua cafeteria, conheceu Gabriela, sua esposa, hoje com 22 anos.
Vieram juntos para o Brasil tentar a vida.
No início da pandemia, enquanto todos se preocupavam com o que estava por acontecer, eles receberam um grande presente: nasceu Luciano, o primeiro filho do casal.
“Temos um filho manezinho. Já está com dois meses, cada vez mais gordito”, diz Miguel, explicando que o nome é uma homenagem a sua vó, que se chamava Lúcia.
Fazendo, e servindo, café para os clientes que já começaram a aparecer no local, apesar da pandemia, Miguel está feliz e realizado no Brasil.
“Só encontrei gente boa. Sou bem tratado por todos”, comemora.
Confira contribuição sobre os migrantes de Alfredo Culleton, professor da Unisinos/RS, vinculado ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados:
“O migrante, especialmente aquele em situação de refúgio, é o ser humano mais importante numa nação civilizada.
Ele é o nosso hóspede.
É a visita que deve ser tratada com preferência e que traz junto a diversidade: nova cultura, música, culinária, alegria e uma esperança enorme de dar certo.
Ele não faz cara feia para nenhum trabalho.
É aquele que não tem alternativas e, por isso, não reclama da escola, nem da saúde.
Ele só tem a oferecer o seu sonho e seu trabalho.
Deveria ser recebido com festa e não com desconfiança.
Deveríamos querer aprender as suas línguas, os seus sonhos, os seus livros e os seus amores.
Mas, ao contrário, muitas vezes ficamos com medo, mesquinhamente assustados.”
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