Chega de lampiões! Em 1910, população de Florianópolis, finalmente, recebia luz elétrica
Por Billy Culleton
“Adeus, lampiões a óleo de peixe, gás ou querosene que apagam com o vento súli!”
“Finalmente, as luzes!”
Estas alvissareiras frases ecoavam em todas as esquinas do Centro, na noite de 27 de setembro de 1910, quando a eletricidade chegou a Florianópolis e foi inaugurada uma nova e moderna iluminação pública.
Até então, os moradores da cidade dependiam dos acendedores de lampiões para poder sair às ruas ‘com segurança’ durante a noite.
Usina em São José
A modernização da iluminação pública na Capital, há 112 anos, só foi possível graças à construção da usina elétrica de Maroim, em São José.
A edificação, que ainda existe na SC-281, foi feita entre 1907 e 1910, em estilo inglês pela empresa Simmonds & Saldanha, da Inglaterra, que também trouxe todo o equipamento daquele país.
A eletricidade chegou à Ilha por um cabo submarino que atravessava a Baía Norte, na altura da futura Ponte Hercílio Luz (construída 16 anos depois, em 1926).
Primeira lâmpada residencial
Quatro dias depois da inauguração da iluminação elétrica nas ruas, foi acesa a primeira lâmpada residencial da Capital, em 1º de outubro de 1910.
A ‘façanha’ aconteceu na casa do governador Gustavo Richard, no atual Palácio Cruz e Sousa, e representou o início da expansão da eletricidade nas moradias dos florianopolitanos.
Os primórdios da iluminação em Desterro
As vias da cidade de Nossa Senhora do Desterro viveram às escuras até 1837, quando foram inaugurados os primeiros 50 candeeiros.
Eles eram abastecidos com óleo de baleia e acesos manualmente, com pavios, por encarregados para esta função: os acendedores de lampiões.
O fato é contado em detalhes pelos pesquisadores da UFSC Sílvio Coelho dos Santos e Maria José Reis, na obra “Memória do setor elétrico na região Sul”.
Este primeiro sistema de iluminação pública foi disposto em locais estratégicos, como as esquinas das ruas centrais, para que a população (que não chegava a 5 mil habitantes) pudesse sair à noite pelas ruas com mais segurança – mesmo com o inconveniente do vento Sul, que apagava os lampiões.
Lampiões a gás e querosene
No final da década de 1860, os lampiões começaram a utilizar gás e, em 1874, querosene, por ser mais econômico, como indica o artigo “Introdução à história da iluminação pública em Florianópolis”, do pesquisador da UFSC Sérgio Schmitz.
O abastecimento de eletricidade a partir de 1910 pela usina de Maroim durou até o final da década de 1950, quando no governo Aderbal Ramos da Silva, a energia passa a ser captada da Usina de Capivari de Baixo, no Sul do Estado.
A estrutura, em São José, continuou funcionando até 1972, quando foi desativada.
De dia falta água, de noite falta luz!
Nos anos seguintes e com o aumento da população, o abastecimento de eletricidade na Capital foi ficando precário e ineficiente, gerando inúmeras reclamações.
O descontentamento era geral, segundo o pesquisador Sérgio Schmitz, e vinham de vários setores, inclusive através da música.
Parodiando conhecida canção carioca, era comum ouvir-se nas ruas da provinciana Florianópolis: “Cidade maravilhosa. Terra de Hercílio Luz. De dia falta água. De noite falta luz.”
As críticas continuaram até a década de 1960 quando a Celesc assumiu a distribuição, estabilizando o abastecimento de eletricidade na cidade.
Curiosidades
– No Brasil, a primeira demonstração de iluminação elétrica ocorreu no Rio de Janeiro, em 1879, na inauguração da estação central da Estrada de Ferro D. Pedro II.
– A seguir, em 1883, o imperador inaugurou em Campos (RJ) a primeira rede de iluminação pública, alimentada por uma máquina a vapor.
– Em Florianópolis, em 27 de setembro de 1910, no momento em que se acenderam as primeiras lâmpadas elétricas na Praça XV e no Palácio do Governo, a tradicional banda musical da cidade chamada “Corpo de Segurança” percorreu as ruas centrais tocando para uma multidão que acompanhava o momento histórico.
(A foto de abertura é do entorno da Praça XV na década de 1910, acervo da Casa da Memória de Florianópolis)
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