Palhaço, reviravolta e vingança – Como foi a primeira eleição direta para prefeito da Capital, em 1954

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Dormi prefeito e acordei palhaço”.
A frase do radialista Manoel de Menezes é a principal lembrança popular do pleito que elegeu pelo voto direto o primeiro prefeito de Florianópolis, Osmar Cunha, em 3 de outubro de 1954.
Apostando na fama como jornalista de rádio e nos seus textos ásperos do jornal A Verdade, o pai do colunista Cacau Menezes estava convencido de que venceria a eleição com relativa facilidade.

Concorrendo pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN), o mesmo de Jânio Quadros, sustentava a sua confiança no desgaste dos concorrentes, que pertenciam aos partidos tradicionais, UDN e PSD.
Também usava uma forma de comunicação muito similar a Jânio, que fazia grande sucesso entre os eleitores.

Charge do Jornal A Verdade faz campanha para Manoel e seu pai, Menezes Filho, candidato a deputado

Após a votação, eleitores e amigos se reuniram na sua casa, onde o cumprimentaram pela brilhante vitória.
Conhecidos ligaram durante toda a noite, felicitando-o.
Menezes ensaiou até a distribuição de cargos.

Mas na manhã seguinte, foi cedo ao local da apuração, o Tribunal de Justiça.
Ao perceber que estava perdendo, saiu imediatamente em direção à redação do jornal e estampou a seguinte manchete: “Dormi prefeito e acordei palhaço!”.

Menezes na frente da rádio, com grupo de apoiadores (Acervo pessoal Maria Cláudia Menezes)

Vencedor recebeu 9,4 mil votos
Ao final da apuração, Osmar Cunha (PSD) foi eleito com 9.413 votos; João José de Souza Cabral (UDN), ficou em segundo, com 6.782, e Menezes alcançou apenas o terceiro lugar, com 3.593, enquanto o coronel Lopes Vieira (PSP), recebeu 993 votos.
Na época, a Capital tinha cerca de 70 mil habitantes.
Osmar Cunha governou Florianópolis entre 15 de novembro de 1954 e 21 de janeiro de 1959, se transformando no primeiro a ser eleito por votação direta, já que desde o tempo do Império, os prefeitos das capitais eram indicados pelo governador do Estado.

Para vingar a morte de Getúlio
A eleição ocorreu cinco semanas após o traumático suicídio do presidente Getúlio Vargas, em 24 de agosto.
O primeiro lance do pleito catarinense foi a atribuição da responsabilidade pela morte de Getúlio. Na disputa pelo apoio do PTB, considerado fundamental naquela conjuntura, PSD e UDN trocavam constantes acusações.

Tanto que um dos motes de campanha seria: “vote no PSD, para vingar a morte de Getúlio Vargas”.
E, pelo resultado das urnas, o falecido presidente acabou ajudando na primeira eleição direta para prefeito de Florianópolis.

(As informações desta reportagem constam na tese de doutorado em História “Marmiteiros, agitadores e subversivos: política e participação popular em Florianópolis, 1945-1964”, de Camilo Araújo, da Universidade Estadual de Campinas, de 2013. A foto de abertura é do acervo do jornalista Carlos Damião e mostra Manoel de Menezes e Souza Miranda no programa Mesa Quadrada, na TV Cultura, na década de 1970)

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