Protegido por 15 cadeados – O fim de um tradicional boteco raiz do Centro de Florianópolis

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Por Pablo Salvador (Especial para o Floripa Centro)
A higiene nunca foi o forte do Bar do Petit, mas isso não era empecilho para seus poucos frequentadores.
O local, numa edificação histórica na Avenida Mauro Ramos, na subida para o Hospital de Caridade, só oferecia bebidas baratas, cigarros e poucas opções de alimentação, como ovo cozido em conserva e salgadinhos embalados, alguns de marcas duvidosas.

Seu Antônio atrás do balcão só vendia a dinheiro, nada de cartão (Pablo Salvador)

O setuagenário dono do boteco, Seu Antônio, manezinho do Estreito, tinha o perfil dos antigos bodegueiros: roupas desalinhadas, de poucas palavras e cara fechada.
Assim, conseguia lidar com a escassa clientela, muitas vezes também sisuda, que foi espantada definitivamente com a pandemia.

Nos últimos meses, tentou atrair fregueses colocando uns banquinhos desgastados na calçada ‘para evitar o contagio’.
Mas foi em vão.

Uma cadeira de plástico e um banco na calçada como último esforço para atrair a clientela

O espaço também servia como depósito para os vendedores ambulantes da região central de Florianópolis.
Ali passavam a noite diversos carrinhos: de pipoca, milho cozido ou picolé e que eram retirados pela manhã pelos abnegados trabalhadores, muitos dos quais já aproveitavam para tomar a primeira antes da labuta.

Depósito dos badulaques de vendedores ambulantes (Pablo Salvador)

Na semana passada, sem aviso prévio, as portas permaneceram fechadas durante o dia. Os vizinhos estranharam, mas logo veio a confirmação de que o local passará por reformas e vai abrigar um antiquário, mais em conformidade com a região de construções centenárias.

Cadeados e mais cadeados
Os 15 cadeados que Seu Antônio colocava todas as noites, ao fechar, permanecem nas portas e unem as correntes em torno das grades.

Os 15 cadeados que ainda permanecem numa das entradas (Billy Culleton)

A aparente exagerada medida se justifica pelos inúmeros arrombamentos ao longo dos 15 anos em que o Bar esteve nessa região, que conta com pouca vigilância e fica perto de locais frequentados por usuários de drogas.

Início na Travessa Ratcliff
Até o início dos anos 2000, Seu Antônio comandou por duas décadas um boteco com o mesmo nome na Travessa Ratcliff, onde agora é o Bar do Noel.
Era um botequim raiz, com cachaça Velho Barreiro, servida por algumas moedas.

Esquina da Tiradentes com a Ratcliff, onde já funcionou o Bar do Petit (Billy Culleton)

Isso, antes da pequena via de 50 metros, próxima ao Terminal Urbano Cidade de Florianópolis, se tornar uma área ‘gourmet’, atualmente ocupada por estabelecimentos cuja bebida principal é o chopp.

E, assim, a implacável modernidade avança sobre os tradicionais locais da nossa Florianópolis, sem termos muito a fazer a não ser registrar nestas breves linhas (e imagens), para conhecimento das futuras gerações.

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