Um século depois de desativação do cemitério, ainda têm túmulos no Parque da Luz? Desvendamos o mistério
O Cemitério Municipal de Florianópolis, no Centro, foi desativado no início da década de 1920 e transferido para o Bairro Itacorubi.
O motivo: a construção da Ponte Hercílio Luz, inaugurada em 1926.
A maioria dos restos mortais foi exumada e levada para a nova necrópole.
Porém, nem todos.
Como descreve a historiadora Elisiana Castro.
“Os termos de exumações apresentam aproximadamente 800 exumações e algumas retiradas de ossadas, não permitindo afirmar a transferência de todos os que ali estavam enterrados”, relata ela na pesquisa “Aqui jaz um cemitério: a transferência do cemitério público de Florianópolis (1923-26)”, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Na época da transferência, o número de sepultados aproximava-se dos 30 mil.
Depois de desativado, durante décadas estudantes de Medicina da Capital coletavam, ali, ossadas para pesquisas.
É por isso, que tanto chamam a atenção duas estruturas rentes ao chão, numa das entradas do Parque da Luz, próximo à Ponte Hercílio Luz.
Estão lado a lado, com dois metros de comprimento e 80 centímetros de largura, cada uma.
E ninguém sabe o que são: nem a Secretaria Municipal de Patrimônio Histórico, nem os funcionários da Floram que ali trabalham e nem a Associação do Parque da Luz.
Registro fotográfico desvenda o mistério
Em 1964 foi instalada no local uma fábrica de artefatos de cimento, fruto da criação do Plano de Desenvolvimento Municipal (Pladem), que originou a Comcap.
Ali se produziam, principalmente, lajotas que eram utilizadas para o calçamento das vias da Capital.
A Rua Adolpho Konder, na saída da Ponte Hercílio Luz, foi a primeira da Capital a receber calçamento de lajotas.
E as tais ‘sepulturas’ são as bases da estrutura dessa fábrica que funcionou até a metade da década de 1960.
A poucos metros também podem ser vistas sapatas que sustentavam os guinchos utilizados para produzir os artefatos de cimento.
Incêndio criminoso
Na foto do início da década de 1970 pode-se identificar, à esquerda, um galpão abandonado, que permaneceu no local, mesmo após a transferência da fábrica para o Itacorubi.
A imagem é do acervo de Lúcio Dias Filho, um dos idealizadores do Parque da Luz.
Segundo ele, no início da década de 1990, por iniciativa particular, a estrutura de madeira foi restaurada e transformada em local de acolhimento para pessoas em situação de rua.
Porém, devido ao interesse imobiliário da área, o galpão sofreu incêndio criminoso e foi completamente destruído.
Sede do órgão estadual
Já à direita, podemos observar uma edificação de madeira de dois andares, onde funcionou por muito tempo o Departamento de Estradas e Rodagem do Estado de Santa Catarina (atual Deinfra) e o escritório da Ponte Hercílio Luz.
A estrutura foi demolida na década de 1980, sendo ocupada posteriormente por uma lanchonete. Em 2010, o estabelecimento foi obrigado a sair do local por ordem judicial. Atualmente, existe um parquinho infantil.
Conheça a história do Parque da Luz:
—– A redescoberta do Parque da Luz – De cemitério municipal a uma área verde privilegiada no Centro da Capital
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