Praça de Touros para 3 mil pessoas – No século passado, atual Florianópolis teve touradas no ‘estilo espanhol’

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Por Billy Culleton
No domingo 1º de maio de 1927 foi inaugurada a Praça de Touros Santa Catharina, no Bairro Estreito.
Com a presença do governador do Estado, Adolfo Konder, cerca de duas mil pessoas prestigiaram o evento, que contou com toureiros espanhóis que lidariam com animais ‘bravíssimos’.

Era o primeiro passo de uma iniciativa que esperava repetir em Santa Catarina o sucesso ibérico desse tipo de espetáculo.
Para isso, foi montada uma estrutura de arquibancadas e camarotes com capacidade para 3 mil pessoas, na Rua Nova, atual Avenida Eurico Gaspar Dutra (informação enviada pelo leitor Leonan Quadros).
Na época, o Estreito pertencia ao município de São José, e só passou a fazer parte de Florianópolis em 1944.

Imprensa festeja iniciativa
Os jornais da época incentivavam a população a comparecer às touradas, prometendo uma exibição aos moldes da Espanha.

A ‘única diferença’ era que os touros não seriam feridos gravemente e, muito menos, mortos. “Assim, pretende-se afastar a supposição de deshumanidade das corridas de touros que se realizarão aqui”, explicava o Jornal O Estado, de 11 de abril de 1927.

Anúncio no Jornal O Estado

As touradas serão um simulacro perfeito das touradas espanholas, com lances a cavalo, sem, contudo, serem mortos os touros. Para isso, os toureiros serão convenientemente instruídos, a fim de simularem a morte dos touros“, completava.

Decepção no primeiro espetáculo
O tradicional espetáculo cruel e sangrento que atraia fans no mundo inteiro, não se repetiu na inauguração do local.
Entre os motivos, toros mansos e toureiros que mais pareciam acrobatas e que só podiam cravar superficialmente as bandarilhas nas costas do animal.

Todos os lances de capas, farpeios e pegas foram bastante desinteressantes, pois que os touros eram mansos e não se prestavam ás lides“, publicou O Estado, de 3 de maio de 1927.
E acrescentava: “Lembramos á Empresa Moura contractar touros bravios, afim de que as próximas corridas sejam mais interessantes“.

Toureiros montavam nos animais
Nos domingos seguintes, o evento se repetiu: os toureiros faziam os tradicionais lances com a capa e colocavam bandarilhas nos touros.
Também havia toureio a cavalo e montagem dos animais, além de ‘palhaçadas’ de alguns toureiros que sentavam numa cadeira para enfrentar os touros.

Na decadência, apresentações musicais
O baixo interesse da população, no entanto, fez com que os organizadores incrementassem o evento com “números variadíssimos e nunca vistos na Capital”.

O concertista V. De Leon executará excellentes números de música, como tangos, maxixes e arias populares. A srita. De Leon (Mexicanita) dansará, executando bailados clássicos. A sra. De Leon apresentará bellos números de transformação. E abrilhantará o espectáculo um espléndido jazz-band”, indicava O Estado de 16 de julho.

Final melancólico
Mas, nada disso adiantou e os empreendedores decidiram encerrar as atividades em 31 de julho, três meses depois da inauguração da Praça de Touros.

Ao apresentar a derradeira tourada, o jornal lamentava:
Terminam as corridas de touros em Florianópolis. Que pena! Já nos iamos familiarizando com a bella festa espanhola. Mas os empresários dizem (e isto é certo!) que as despesas são enormes e as entradas não compensam.”
E concluía: “Em Florianópolis tudo são rosas de um dia! É lastimável.”

No Brasil
As primeiras touradas do Brasil aconteceram no século XVII e sempre seguiam datas importantes para a coroa, como feriados ou quando um monarca casava ou nascia”, publicou o jornal Diário do Rio, na reportagem História das touradas no Rio de Janeiro.

Segundo o jornal, por serem populares na Espanha e em Portugal, se popularizaram aqui conforme os europeus foram se instalando no país.

Todavia, esses eventos começaram a ganhar força em terras tupiniquins no século seguinte, quando a capital foi para o Rio de Janeiro.
Mas as touradas acabaram definitivamente no Rio de Janeiro em 1907, quando o prefeito da cidade Sousa Aguiar fez um decreto que proibia essa prática na Cidade Maravilhosa.

(A foto de abertura é de Billy Culleton, feita em Bogotá, em 2008)

 

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