Há 190 anos – Imprensa de SC começou no Centro de Desterro com a fundação do jornal O Catharinense
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Por Billy Culleton
Neste 28 de julho comemora-se o Dia da Imprensa Catarinense.
Nessa data, em 1831, o lagunense Jerônimo Francisco Coelho lançava o periódico O Catharinense.
Era um jornal de formato pequeno (19cm x 25cm), com seis páginas, que circulou por apenas um ano.
Foram 22 edições, das quais três estão conservadas na Biblioteca Pública do Estado.
Pelo pioneirismo, Jerônimo Coelho se transformou no patrono da imprensa catarinense.
Ele produzia o jornal na sua própria residência, na então Rua do Livramento, atual Trajano.
Na época, Desterro contava apenas com 6 mil habitantes.
Prelo
A compra da tipografia e do material necessário para a criação de O Catharinense foi viabilizada graças ao apoio financeiro dos maçons do Rio de Janeiro.
Atualmente o prelo usado por Jerônimo Coelho esta exposto no Museu Anita Garibaldi, em Laguna.
Função social
O principal objetivo do jornal era proteger os humilhados, incluindo os escravos que viviam na cidade.
“Prometo velar solícito da guarda da inocência: ela não terá mais de gemer em silêncio. E aqueles que a oprimam, terão de ser dados ao prelo, para serem apontados como opressores da humanidade”, escreveu, no primeiro número de O Catharinense.
E completou: “Eles jamais poderão encarar a liberdade de imprensa sem horror porque, por meio dela, os seus crimes e suas tramas serão sempre expostos ao conhecimento dos povos.”
“O jornal propagava o ideal liberal e iluminista, em irrestrita oposição política à monarquia”, escreveu o bibliotecário Alzemi Machado, na obra “A imprensa catarinense no século XIX”.
“A defesa intransigente da liberdade de imprensa defendida por Jerônimo Coelho segue essencial nos dias de hoje”, afirma a presidente da Associação Catarinense de Imprensa (ACI), Déborah Almada.
Ela alerta para recente pesquisa da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) que mostra o crescimento dos ataques a jornalistas ou veículos de comunicação no país: um aumento de 38% no primeiro semestre de 2021 em comparação com o mesmo período do ano passado.
Curiosidade
O Catharinense trouxe a novidade dos ‘classificados’.
Embora tivesse ideias abolicionistas, a edição de 25 de janeiro de 1832 anuncia a venda de um escravo, numa chácara na Praia de Fora.
O segundo jornal de SC
Jerônimo Coelho, conhecido como “Espada Falante”, também fundou o segundo jornal do Estado, “O Expositor”, em 8 de dezembro de 1832.
No mesmo ano, o engenheiro militar foi o responsável pela fundação da primeira loja maçônica em Santa Catarina, chamada “Concórdia”.
Na vida política, Coelho foi deputado e presidente das províncias do Rio Grande do Sul e de Grão-Pará (atual Pará e parte do Amazonas).
O patrono da imprensa catarinense sempre preferiu a vida simples, sem luxos, para poder servir a sociedade com autonomia.
Como escreveu o almirante Henrique Boiteux, na biografia sobre o jornalista:
“Pobre nasceu; de mãos limpas viveu e com elas puras morreu. Viveu na honradez e probidade, uma vida sem fausto nem luxo. Acomodava-se às suas circunstâncias e a muitos que lhe estranhavam aquele modo de proceder, contentava-se em dizer: a minha pobreza é a minha riqueza”.
(Esta reportagem foi feita a partir da pesquisa nos livros ‘Jerônimo Coelho, esboço biográfico’, de Eleutério Nicolau da Conceição; ‘A imprensa catarinense no século XIX”, de Alzemi Machado, e ‘Jerônimo Coelho, um liberal na formação do II império’, de Carlos Humberto Corrêa. A imagem de abertura é a tela ‘Vista de Desterro’, de Victor Meirelles, feita em 1847 e que mostra a Rua do Livramento, no Centro da cidade)
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