O adeus ao violinista Eric Klein, o grande animador das ruas do Centro

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Morreu Eric. Ou Egon. Na década de 1990 ele, após curso intensivo de Numerologia, decidiu mudar o nome, para afastar os males e trazer mais vida.
E deu certo!

Apesar de levar uma rotina absolutamente desregrada, cometendo todos os abusos possíveis durante décadas, apenas agora, em tempos de Coronavírus, ele partiu, com 56 anos.

Sua magreza esquelética assustava a todos há mais de 25 anos.
Não se alimentava.
Aliás, sim, mas com ‘cevada líquida’.

Marcou gerações em Santa Maria e Florianópolis
O ‘alemão’ nasceu em Santa Maria, em 1963, e se formou em Odontologia pela UFSM.
Em toda sua juventude, participou do movimento estudantil resistente à Ditadura e era sempre o centro da atenção em qualquer encontro de rua ou de bar, com seu inseparável violino.

Após a formatura, abriu um consultório odontológico em Porto Alegre.
Aguentou a vida disciplinada durante ‘longos’ dois anos.
Mas voltou a seu habitat natural: a rua.
Tocar o violino era sua essência, independente de quanto ganhasse de gorjeta nos bares.
Chegou a Florianópolis nos anos de 1990.

Era figurinha carimbada e foi muito bem recebido durante a primeira década, frequentando bares e festas, sempre sendo prestigiado como o artista que era.
A idade e o álcool o fizeram deslizar mais rapidamente para a decadência.

Começou a morar na rua, na Rodoviária, no pátio das casas de ‘amigos’ ou onde fosse possível.
Um dinheirinho aqui, outro lá…

Em 2015 conseguiu uma pensão por ‘doença grave’. Tinha um enfisema pulmonar.

‘Descobri que o câncer se alimenta do que a gente come.
Por isso, como o mínimo possível e o câncer não avança”

Sem perder tempo, porque ‘tudo é efêmero’, começou a gastar tudo o que tinha direito como ‘aposentado’.
Era crédito consignado de tudo o que era lado.
Se hospedava em hostels da Lagoa da Conceição e gastava o resto nos bares locais, da Trindade ou do Centro, seus bairros preferidos.

E se divertia quando o Serasa, SPC ou escritórios de cobrança ligavam para ele.
“Não vou pagar, parem de me ligar. Não tenho como pagar..”.
E ficava por isso mesmo.

Nos últimos tempos, tinha consciência absoluta de que a morte estava sempre à espreita.
Tinha medo dela, mas tentava superar esse temor com muita conversa e outras ‘cositas más…’

Sabia ‘demais’ sobre a vida e gostava de ostentar a sua sabedoria, o que às vezes o afastava das pessoas.

Família em Santa Maria
A relação com a família sempre foi conturbada.
A mãe Lorena, ainda viva e que acaba de completar 85 anos, sempre quis endireitar o filho.
O irmão mais velho, o recriminava pelo seu estilo de vida.

Por isso, ele passava anos sem contatar estes dois familiares mais próximos que moravam na Rua Silva Jardim, no Centro de Santa Maria.
Foram quase 30 anos de afastamento.

Quando foi informado, em 2017, que teria pouco tempo de vida, por causa do enfisema, ele procurou a casa materna.
Lá, agora, era recebido sem questionamentos.

Ficava um mês ‘mamando na Mamma’ e retornava ‘forte e gordo’ às festas de Florianópolis: Bar do Gaúcho, no Terminal Urbano de Florianópolis, Amarelinha, Lagoa…
Para pernoitar, apelava para os últimos amigos que tinha e que generosamente ofereciam ‘mais uma vez’ um lugar para o descanso do violinista.
Mesmo que isso significasse atritos com os próprios familiares.
O amigo que o acolhia regularmente durante os últimos anos, o colocava numa edícula nos fundos da sua casa em Forquilhinhas e falava para a esposa e filhos: “Quando eu precisei, tive acolhida. Vamos fazer isto com Eric, também”.

Eric aproveitou a vida do jeito que achava possível: viajou pelo mundo e curtiu, amou (tem duas filhas em São José), sofreu, ensinou, aprendeu e agradeceu.
A sua consigna era viver plenamente.

Depoimento pessoal
Fez parte da minha vida durante 35 anos.

Ficava irritado com os ‘conselhos’ que recebia. ‘Se fosse bom, ninguém dava de graça”… Kk

Esteve presente na maioria das festas dos meus aniversários.
Os convidados gostavam mais, ou menos, dele.
Mas Eric foi marcante para todos os meus amigos e familiares.
E muitos, há décadas perguntam para mim: “E como está o teu amigo violinista?”
Essa é uma das ‘vidas eternas’ que a gente pode desejar e que o Eric merece.

Ele faleceu de parada cardiorrespiratória, em casa, no sábado, 21/3/2020, ao lado de sua mãe e seu irmão, em Santa Maria, para onde retornou pouco antes do Natal 2019.

Chau, hermano! Nos encontramos no Paraíso!

(Texto e fotos de Billy Culleton)

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