Bem antes que os gaúchos – Na antiga Florianópolis, ilhéus tinham o costume de tomar chimarrão

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Por Billy Culleton

Quando vemos alguém tomando chimarrão nas praias de Florianópolis imediatamente a identificamos como rio-grandense, argentino ou uruguaio.
Mas o que poucos sabem é que o mate era muito usado na Ilha de Santa Catarina antes mesmo que fosse conhecido pelos gaúchos (ou ‘por los gauchos‘).

“Festa de negros na Ilha de Santa Catarina”, desenho de Wilhelm Tilesius mostra como era o Centro da cidade em 1803

O seu consumo teria sido introduzido por navegadores espanhóis que estiveram aqui antes de Francisco Dias Velho, que fundou a cidade em 1675.
Os colonizadores ibéricos tinham ‘descoberto’ a erva-mate com os índios guaranis e caingangues que habitavam a América.

As informações constam do relatório do médico alemão Georg Heinrich Von Langsdorsff, que permaneceu na Vila Nossa Senhora do Desterro por três meses, entre dezembro de 1802 e fevereiro de 1803.

Médico Georg Von Langsdorsff (Imagem do livro História de Florianópolis)

Ele fazia parte de uma expedição russa, patrocinada pelo Czar Alexandre I, que realizava uma pesquisa sobre o continente americano.

De acordo com Carlos Humberto Corrêa, na sua obra “História de Florianópolis”, Langsdorff narrou o costume de beber chimarrão tanto nas casas populares quanto nas famílias mais abastadas, substituindo o café ou o chá usados na Europa.

Cuia de coco e bomba, similares às que eram usados pelos desterrenses

“Usavam um pequeno canudo da espessura de um cabo de cachimbo e de meio pé de comprimento (15 cm), que se abre na parte inferior com um regador, com várias aberturas pequenas e que é tecido com fibras de madeira e possibilita que se sugue o líquido do chá”.

As cuias eram feitas de casca de coco ou de uma espécie de abóbora mais dura, para os mais pobres, ou mesmo de barro cozido, usado pelos mais ricos.
“Em casa de cidadãos mais abastados veem-se cascas de coco entalhadas, pintadas ou cuidadosamente laqueadas e também encontrei lugares onde usavam a bomba e a chávena (recipiente, taça) delicadamente trabalhadas em prata”, registrou Langsdorff, acrescentando que, na época, o uso do chimarrão na Vila ‘já era muito antigo’.
Segundo o historiador Carlos Corrêa, a descrição do médico alemão é das mais completas sobre a sociedade da Ilha, seus usos e costumes.
No livro, no entanto, não há nenhuma menção às causas do desaparecimento, ao longo dos anos, da tradição de tomar chimarrão entre os florianopolitanos.

(A imagem de abertura, “Vista de Desterro” (1803) é de autor italiano desconhecido, segundo o historiador Carlos Humberto Corrêa)

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