Demolido em 1899 – Há 170 anos foi inaugurado o primeiro Mercado Público de Florianópolis, frente à Praça XV
Por Billy Culleton
Em 6 de janeiro de 1851, a Capital ganhou uma suntuosa edificação para os padrões da época.
A construção do Mercado Público, na atual Praça Fernando Machado, representou o fim de uma situação deplorável, em termos de higiene e saúde pública, existente no Centro da cidade fazia várias décadas.
Até então, os alimentos eram comercializados em feiras livres, principalmente, no entorno do Largo do Palácio, atual Praça XV.
Além das precárias condições sanitárias, o local congregava outras atividades e personagens indesejados.
“Prostitutas, tendas de bebidas, bêbados e o lixo jogado ao descaso, além das constantes brigas na rua, acontecem em frente ao Palácio do Governo e à Igreja Matriz (Catedral), demonstrando a necessidade de organizar a região central”, explica o historiador Ricardo Moreira de Mesquita, na obra ‘Mercado: do Mané ao Turista’ (2002).
O local escolhido foi um terreno frente à Praça, à beira mar, junto ao trapiche principal da cidade, alinhado com a Rua do Príncipe, atual Conselheiro Mafra.
O projeto compreendia, além do prédio, um aterro para nivelar a edificação com a Praça e uma rampa para facilitar a subida das canoas e pequenas embarcações que abasteceriam o Mercado.
Quatro entradas
O edifício possuía 34 metros de frente para a Praça e 21 metros na lateral.
Eram 714 metros quadrados de área construída.
Quatro grandes portas, uma em cada face, facilitavam o acesso.
Havia 24 janelas em semicírculo com 55 centímetros de raio e grades no interior, que iluminavam a área interna.
Distribuição interna
Por dentro, a construção se dividia em casinhas, bancas para venda de carne e peixe, além dos lugares reservados para quitandeiras, nos vãos entre as 20 colunas de ferro que sustentavam o telhado.
O pátio central tinha um poço de água, dotado de bomba, que abastecia os comerciantes e matava a sede dos fregueses.
Iluminação diferenciada
No dia da inauguração, o presidente da Província, João José Coutinho, surpreendeu os presentes e anunciou que, para abrilhantar o prédio, tinha mandado instalar lampiões nas paredes externas, e que deveriam ser mantidos acesos durante a noite.
Ao contrário da iluminação pública, que tinha os lampiões apagados por volta das 22 horas.
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Lei seca
O regulamento proibia a venda ou conservação, no interior do Mercado Público, de “bebidas espirituosas, qualquer que seja sua composição”.
O objetivo era evitar a presença de pessoas que pudessem tumultuar o já alvoroçado ambiente.
Mesmo assim, com o passar dos anos, o espaço foi se transformando.
“O entorno do Mercado acabou se tornando, mesmo a contragosto das autoridades, um local de forte apelo popular, onde os afrodescendentes, lavradores, libertos e escravos lutavam pela sua sobrevivência, trabalhando como quitandeiras, ambulantes e pombeiros. Era ali que faziam suas vidas”, informa o texto do site SantaAfroCatarina, um projeto ligado à Universidade Federal de Santa Catarina.
Novo Mercado
No final do século 19, a estrutura do Mercado Público passou a ser considerada inadequada para o comércio, especialmente das carnes verdes e dos peixes frescos que tinham que ter novos cuidados sanitários.
Ao mesmo tempo, a ocupação do espaço se transformou em disputa política, em nome do embelezamento e saneamento do Largo da Matriz.
Por esse motivo, houve um movimento para a transferência para um novo local, mais apropriado e com melhores condições de higiene.
O lugar escolhido ficava ao lado da Casa da Alfândega, onde em fevereiro de 1899 foi inaugurado o atual Mercado Público Municipal.
Meses depois, o Mercado Velho, como era chamado, foi demolido e em seu lugar ergueu-se a estátua do coronel Fernando Machado, oficial morto durante a Guerra do Paraguai, que ainda hoje pode ser vista ali.
(Esta reportagem foi produzida a partir de pesquisas nas seguinte obras e sites: ‘Mercado: do Mané ao Turista’, “A busca de espaços para o comércio de gêneros alimentícios em Desterro”, SantaAfroCatarina e Onde está desterro?. A foto de abertura é do acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina – IHGSC)
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