Entre 1880 e 1920 – Bondes puxados por burros eram o principal transporte público de Florianópolis
Há exatos 142 anos, a capital catarinense ganhou um moderno sistema de transporte de passageiros.
Foi no ano 1880, quando começaram a circular os bondes da Companhia de Carris Urbanos e Suburbanos.
Os vagões eram de madeira, totalmente abertos, com estribos laterais e bancos transversais, como descreve a urbanista Eliane Veras da Veiga, no livro “A casa de chácara da Rua Bocaiuva – Histórias da Praia de Fora“.
Puxados por três burros, eram pintados de verde com as iniciais CCU.
A autora salienta que, em 1909, os bondes eram considerados espaços de “demonstração de civilidade e de lugar-social”, onde se proibia o acesso de “pessoas maltrapilhas ou incorretamente trajadas” e se exigia que o passageiro estivesse devidamente “calçado e asseado”.
Trajeto até Agronômica
O trajeto ia da Praça XV de Novembro até o ponto final no Bairro da Agronômica, onde posteriormente foi construído o Abrigo de Menores e que atualmente sedia a Associação Catarinense de Imprensa.
Eram quatro quilômetros de linha de trilhos, com vagões para passageiros e também para cargas.
“Nas subidas, como na Avenida Trompowsky, as pessoas mais ágeis saltavam do bonde em movimento, pois ele era lento a ponto de se conseguir acompanhá-lo a pé. Caso contrário, o bonde não subiria a ladeira”, conta Eliane Veras da Veiga.
Segundo ela, em 1920, após a inauguração do serviço de ônibus, os bondes obsoletos e sucateados entraram em declínio.
Uma década depois, os vagões chegaram a ser puxados por tratores e caminhões, recebendo o apelido dos ilhéus de “treme-terra”.
Revolta popular contra os bondes
Mas o fim definitivo dos serviços de bondes se deu em 25 de setembro de 1934, quando houve um protesto liderado pelos alunos do Ginásio Catarinense e Faculdade de Direito, que eram contra o transporte antiquado, de acordo com a obra “A casa de Chácara…”.
A multidão desatrelou os animais, que correram em disparada pela Praça XV, e jogou o bonde nas águas da Baía Sul, ao lado do Miramar.
No dia seguinte, o Jornal O Estado publicou:
“Ontem, entre 20:20 e 20:30 horas, um grupo de pessoas, sem distinção de classe, formado um número superior a mil, vindo de diversos pontos e convergindo para a Praça XV de Novembro, parecendo que no local se projetava um comício político, porém com a descida aquela hora, do único bonde da CCU ora trafegando, o povo se lançou contra o mesmo, desatrelando os respectivos animais e levando o veículo para o Cais Liberdade, jogando-o ao mar e ateando-lhe fogo“.
Foi o final melancólico de mais de 50 anos de um transporte que ajudou no desenvolvimento de Florianópolis.
(A foto de abertura é da Casa da Memória de Florianópolis)
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