Por Billy Culleton
Eram 23h15min, da noite de 17 de maio de 1956, quando a população de Florianópolis foi surpreendida com a movimentação atípica dos Bombeiros, próximo à Praça XV.
Nesse horário o fogo tomou conta de um dos mais belos edifícios da cidade: o Palácio da Assembleia Legislativa, frente à Praça Pereira Oliveira.
Construído em 1910, em estilo neoclássico, o prédio de dois pavimentos se distinguia pela elegância e era coroado por uma encantadora cúpula, que sucumbiu pouco depois do início do sinistro.
“A 1h da madrugada ouve-se um grande estrondo, semelhante à explosão de uma bomba de grande poder: despegara-se a linda e artística cúpula do edifício, caindo por terra e a tudo abalando. As 2h30 o fogo tinha devorado tudo”, publicou o Jornal O Estado, em 19 de maio de 1956.
“Além de ser uma das mais belas e ricas obras de arte, continha em seu arquivo como um patrimônio de grande valor, a documentação de toda a vida legislativa do Estado, desde a primeira Constituinte, diversas obras de arte, rica biblioteca, custosos móveis e utensílios. Reunia, enfim, riqueza incalculável”, completou a reportagem.
A Assembleia contava com uma sala de sessões, com lugar para 39 deputados, galerias para o público, tribuna para o corpo diplomático ou consular, sala para comissões e demais dependências, conta a historiadora Eliane Veras da Veiga, em seu livro “Florianópolis – Memória Urbana”.
Confira o vídeo da UFSC, com imagens originais do documentarista Waldemar Anacleto, falecido em 2003:
A origem das chamas
O motivo do incêndio continua sendo um mistério, seis décadas depois de ocorrido.
“Há muitas suposições, insinuações e suspeitas”, escreveu o jornalista Carlos Damião, em reportagem pelos 60 anos do sinistro e que foi publicada no Jornal Notícias do Dia, em 2016.
“O contexto político daqueles tempos era complicado, mais ou menos como hoje em dia. A Assembleia era presidida pelo deputado Paulo Konder Bornhausen. Ele era da UDN, partido que tinha confrontos pesados com o PSD (controlado pela família Ramos). Os embates eram constantes, com trocas de acusações, ameaças e polêmicas intermináveis. Quem governava o Estado era Jorge Lacerda, eleito por um pequeno partido (PRP), que se coligou com a UDN na eleição de 1955”, continua Damião, acrescentando que o episódio nunca foi esclarecido pelas autoridades.
“Divertidamente, como era de seu estilo, o ex-governador Aderbal Ramos da Silva dizia que, por falta de explicação convincente, a edificação ‘sofreu o fenômeno da combustão espontânea’ ”.
(A pesquisa para esta reportagem foi feita nos arquivos dos jornais O Estado, Notícias do Dia e no livro “Florianópolis – Memória Urbana”. E também no documentário “O incêndio da Assembleia Legislativa em 1956”, do Canal Memória da UFSC, que contém imagens originais do documentarista Waldemar Anacleto, morto em 2003)