Imagens antigas e atuais – O ritual da pesca da tainha na década de 1950, na visão de Franklin Cascaes
No Inverno de 1956, o mais famoso folclorista de Florianópolis, Franklin Cascaes, descreveu detalhadamente como era feita a pesca da tainha na Praia de Pântano do Sul.
São magistrais pormenores de uma tradição que continua igual até a atualidade e que foram narrados há 65 anos por quem dedicou a vida para registrar os costumes dos moradores da Capital.
“Entre as mil e uma maravilhas que Deus criou nesta Ilha de Santa Catarina, a tradicional pesca da tainha ocupa, sem nenhum favor, o seu lugar de destaque”, diz Cascaes na crônica “A pesca da tainha no Pântano do Sul”, publicada em 13 de junho de 1956, no Jornal A Gazeta, da Capital.
Confira os principais trechos do texto de Cascaes (para ilustrar o relato foram escolhidas imagens contemporâneas do fotógrafo Sérgio Giron, feitas em 2020, na Praia do Campeche):
“Quando se aproxima o tempo da pesca da tainha, as redes são colocadas dentro das canoas com seus respectivos equipamentos e toda a “camaradagem” fica alerta, inclusive os moradores do lugar”.
“Em cada extremidade das redes são amarrados cabos de fibra com mais ou menos 200 metros de comprimento cada um, os quais servem para puxar as redes para a praia, depois de feito o cerco ao peixe.”
“A tripulação da canoa é composta de sete camaradas, que são: o patrão, o chumbeleiro, o corticeiro e quatro remeiros.”
“Além dos 20 homens que trabalham com as redes há os “camaradas vigias”. Estes são escolhidos e considerados entre a tripulação como verdadeiros técnicos na arte de enxergar o peixe nadando em direção dos lanços, isto é, lugares onde podem ser cercados com as redes.”
“O número de vigias em Pântano do Sul é de uns 20 homens, que se distribuem em volta da praia sobre cômoros e penhascos, permanecendo aí dias inteiros, vigiando com muita atenção o aparecimento dos peixes no lanço. Esses homens têm grande responsabilidade no êxito ou fracasso da pesca.”
“Quando um deles avista o peixe vindo em direção aos lanços, entra imediatamente “em conselho” com outros vigias para ver se convém ou não dar sinal à tripulação que está na praia aguardando ansiosamente a ordem de cercar.”
“Quando o cerco é feito por mais de uma rede, acontece o seguinte: a primeira fica mais próxima da praia; a segunda contorna a primeira; a terceira contorna a segunda; e assim sucessivamente, formando uma espécie de semicircunferência concêntrica.”
“A tainha sentindo-se cercada vai pulando por cima da rede, passando de um cerco para outro. Por essa razão é que a última rede consegue prender maior quantidade de peixe.”
“Terminando o cerco, encalham a canoa na praia e sua tripulação corre para auxiliar os camaradas encarregados de puxar a rede.”
“À medida que a rede vai se aproximando da praia, eles a vão contornando com os pés sobre a tralha inferior e com as mãos suspendendo a tralha superior acima da superfície do mar para evitar que grande quantidade do peixe cercado consiga passar por baixo ou saltar para cima da rede.”
“Ao chegarem com a rede na praia, jogam todo o peixe que conseguiram pescar, num monte, recolhem a rede na canoa e voltam para ajudar os camaradas da outra rede que está em segundo lugar e assim vão fazendo até terminar de recolher a última rede que está no cerco.”
“O peixe é dividido em duas partes, em quantidade e tamanho iguais. Uma parte pertence aos seis donos das redes que formam a sociedade. A outra pertence aos 120 camaradas e é dividida entre os mesmos em quantidade e tamanho iguais. Além do quinhão de camaradas, cada remeiro tem direito a uma tainha por mil e o vigia tem direito a 28 por mil, que corresponde ao quinhão de sete camaradas.”
Confira AQUI a íntegra da crônica de Franklin Cascaes.
(Muitas das informações desta reportagem foram encontradas na página do Facebook “Fotos Antigas Da Grande Florianópolis”, do Velho Bruxo. A foto de abertura é do livro “Crônicas de Cascaes” (Editora UFSC) também extraído de “Fotos antigas…”. Obrigado, Velho Bruxo!)
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