Morro do Centro com caixa d’água desde 1910, e que só teve água encanada 70 anos depois, ganha primeira praça
Por Billy Culleton
Em maio de 1910 foi construído o primeiro reservatório de água de Florianópolis, no Morro de Monte Serrat, atrás do Instituto Federal de Educação, na Avenida Mauro Ramos.
Porém, os moradores que lá estavam instalados desde 1860, muitos descendentes de ex-escravos, não foram beneficiados pela obra, que privilegiou o abastecimento das casas do Centro, Saco dos Limões e Agronômica.
As residências do morro só tiveram acesso à água encanada mais de 70 anos depois, durante a década de 1980.
É nesse contexto que ganha ainda mais importância a inauguração da primeira praça na comunidade, nesta quarta-feira, 7.
Localizado no terreno da simbólica caixa d’água, o espaço, além de servir para a convivência dos moradores locais, pretende ser um ponto de encontro entre o Centro e a periferia, segundo o Padre Vilson Groh, um dos idealizadores da iniciativa e que mora no Monte Serrat desde 1983.
“Temos que criar pontes que unam as pessoas, fazendo com que a beleza rompa a bruteza”.
A praça ocupa uma área um pouco menor que um campo de futebol e conta com diversos equipamentos, como uma academia da melhor idade, um parquinho infantil, uma área de convívio e pista para caminhadas.
O espaço, na esquina das ruas General Nestor Passos e General Vieira da Rosa, também será utilizado para eventos de artesanato, gastronomia e artes.
A construção da praça é um projeto do Instituto Vilson Groh e faz parte do programa ‘Adote uma Praça’, que conta com o apoio da Associação FloripAmanhã e da WOA Empreendimentos.
Conheça a história do Monte Serrat:
– O Monte Serrat é uma das áreas mais antigas dos morros de Florianópolis e foi historicamente excluída das ações de implantação de infraestrutura e serviços urbanos da cidade.
– A ocupação, que começa em 1860, teve três fases.
– A primeira, foi por escravos fugidos ou libertos que viviam em pequenas choupanas e ranchos de madeira, ao redor dos quais plantavam pequenas roças.
– A segunda fase ocorreu a partir da década de 1920, decorrente das mudanças urbanas sanitaristas que expulsaram os pobres do Centro da cidade.
– A terceira, foi durante as décadas de 1950 e 1960, com a migração de população negra empobrecida de Biguaçu e Antônio Carlos que buscava trabalho na construção civil.
– O nome originou-se a partir de uma imagem de Nossa Senhora do Monte Serrat que chegou de navio a Florianópolis, em 1927, e foi levada em procissão até a capela do então morro da Caixa d’Água.
– As primeiras lajotas foram colocadas no morro em 1983.
– O padre Vilson Groh chegou para morar no Monte Serrat em 1983 e incentivou a organização de movimentos sociais. Assim, ele estreitou os laços com a comunidade, reivindicando melhores condições de vida para a população excluída das políticas públicas.
– O ônibus começou a atender a comunidade em 1993.
(Apontamentos com base na tese de doutorado em Geografia (UFSC) de André Luiz Santos chamada “Do Mar ao Morro: a geografia histórica da pobreza urbana em Florianópolis”. E também no livro “A Sociedade sem Exclusão do Padre Vilson Groh”, de Camilo Buss Araújo.)
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