Personagens do Centro – Filho do “homem da cobra” está há três décadas vendendo chás nas ruas da cidade

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Por Billy Culleton

Por quase 20 anos o Centro de Florianópolis contou com uma figura que despertava a curiosidade de quem passava pela Praça Fernando Machado: o famoso “homem da cobra”.
Entre 1985 e 2002, as performances do paraibano Pedro de Souza, que demoravam duas horas, mantinham a atenção do público com a promessa de mostrar alguns dos bichos que ele guardava em caixas: duas cobras (uma jiboia e uma cascavel), um peixe-elétrico e um lagarto.

Registro do show com cobras, comum em muitas cidades em décadas passadas. Hoje, a atividade é proibida (Foto: autor desconhecido)

Enquanto contava histórias fantásticas e ameaçava apresentar os animais (o que efetivamente fazia no fim do ‘show’), o artista fazia propaganda de ervas e chás do Amazonas, que curariam todo tipo de doença.
E quem o acompanhava, e vendia os produtos, era o filho Sérgio.

Quando o “homem da cobra” morreu de infarto em 2002, aos 54 anos, Sérgio Mendonça Guedes decidiu seguir os passos do pai e continuou vendendo ervas e chás nas ruas do Centro, mas sem contar com a atração das cobras.
“Foi proibido pelos órgãos ambientais”, justifica ele, conhecido como Sérgio do Chá.

São mais de 200 tipos de ervas e chás oferecidos no posto ambulante, na Rua Conselheiro Mafra, a poucos metros da praça onde a tradição começou.

“O nosso conhecimento vem dos antepassados indígenas, os Caigangue. Meu pai conviveu com eles em Mato Grosso, onde apreendeu tudo sobre as ervas, além de desenvolver a habilidade para lidar com as cobras”, explica ele, que nasceu em Aracaju, capital do Sergipe, há meio século.

Sérgio chegou a Florianópolis em 1987, junto com seus pais e irmãos. Pedro, que desde jovem viajava por todo o país apresentando seu espetáculo nas ruas, decidiu fixar residência por aqui. “Foi a cidade que escolheu para a gente morar. Pena que faleceu tão jovem”, lembra.

Foto da década de 1990 mostra Sérgio junto à banca, na Praça Fernando Machado (Acervo pessoal)

O principal ensinamento recebido do pai foi que não é só vender: “tem que ter responsabilidade e muito conhecimento”.

Ele une os dois atributos ao repassar as orientações sobre o uso dos chás para os clientes. “Cada erva tem a dose adequada para dar o resultado esperado. Não pode ser usada de qualquer forma porque pode prejudicar a pessoa”, ressalta, lamentando que seu conhecimento se perderá, pois nenhum filho seguiu a tradição familiar.

A maioria das ervas são originárias do Amazonas. E Sérgio descreve os benefícios de algumas.
“Marapuana é afrodisíaca. Pau para tudo, combate azia e mau hálito. Já o Pau Tenente serve para baixar a glicose”.

O comerciante tem clientela cativa e vende em média 2 kg de ervas por dia. Cada pacote com cerca de 100 gramas custa R$ 10.

Ele revela um detalhe surpreendente: na hora do almoço ‘abandona’ o posto ambulante, com todas as ervas, e vai a algum restaurante das imediações para fazer a sua refeição, retornando logo depois. “Nunca levaram nada”, garante.

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