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Praça de Touros para 3 mil pessoas – No século passado, atual Florianópolis teve touradas no ‘estilo espanhol’

Por Billy Culleton
No domingo 1º de maio de 1927 foi inaugurada a Praça de Touros Santa Catharina, no Bairro Estreito.
Com a presença do governador do Estado, Adolfo Konder, cerca de duas mil pessoas prestigiaram o evento, que contou com toureiros espanhóis que lidariam com animais ‘bravíssimos’.

Era o primeiro passo de uma iniciativa que esperava repetir em Santa Catarina o sucesso ibérico desse tipo de espetáculo.
Para isso, foi montada uma estrutura de arquibancadas e camarotes com capacidade para 3 mil pessoas, na Rua Nova, atual Avenida Eurico Gaspar Dutra (informação enviada pelo leitor Leonan Quadros).
Na época, o Estreito pertencia ao município de São José, e só passou a fazer parte de Florianópolis em 1944.

Imprensa festeja iniciativa
Os jornais da época incentivavam a população a comparecer às touradas, prometendo uma exibição aos moldes da Espanha.

A ‘única diferença’ era que os touros não seriam feridos gravemente e, muito menos, mortos. “Assim, pretende-se afastar a supposição de deshumanidade das corridas de touros que se realizarão aqui”, explicava o Jornal O Estado, de 11 de abril de 1927.

Anúncio no Jornal O Estado

As touradas serão um simulacro perfeito das touradas espanholas, com lances a cavalo, sem, contudo, serem mortos os touros. Para isso, os toureiros serão convenientemente instruídos, a fim de simularem a morte dos touros“, completava.

Decepção no primeiro espetáculo
O tradicional espetáculo cruel e sangrento que atraia fans no mundo inteiro, não se repetiu na inauguração do local.
Entre os motivos, toros mansos e toureiros que mais pareciam acrobatas e que só podiam cravar superficialmente as bandarilhas nas costas do animal.

Todos os lances de capas, farpeios e pegas foram bastante desinteressantes, pois que os touros eram mansos e não se prestavam ás lides“, publicou O Estado, de 3 de maio de 1927.
E acrescentava: “Lembramos á Empresa Moura contractar touros bravios, afim de que as próximas corridas sejam mais interessantes“.

Toureiros montavam nos animais
Nos domingos seguintes, o evento se repetiu: os toureiros faziam os tradicionais lances com a capa e colocavam bandarilhas nos touros.
Também havia toureio a cavalo e montagem dos animais, além de ‘palhaçadas’ de alguns toureiros que sentavam numa cadeira para enfrentar os touros.

Na decadência, apresentações musicais
O baixo interesse da população, no entanto, fez com que os organizadores incrementassem o evento com “números variadíssimos e nunca vistos na Capital”.

O concertista V. De Leon executará excellentes números de música, como tangos, maxixes e arias populares. A srita. De Leon (Mexicanita) dansará, executando bailados clássicos. A sra. De Leon apresentará bellos números de transformação. E abrilhantará o espectáculo um espléndido jazz-band”, indicava O Estado de 16 de julho.

Final melancólico
Mas, nada disso adiantou e os empreendedores decidiram encerrar as atividades em 31 de julho, três meses depois da inauguração da Praça de Touros.

Ao apresentar a derradeira tourada, o jornal lamentava:
Terminam as corridas de touros em Florianópolis. Que pena! Já nos iamos familiarizando com a bella festa espanhola. Mas os empresários dizem (e isto é certo!) que as despesas são enormes e as entradas não compensam.”
E concluía: “Em Florianópolis tudo são rosas de um dia! É lastimável.”

No Brasil
As primeiras touradas do Brasil aconteceram no século XVII e sempre seguiam datas importantes para a coroa, como feriados ou quando um monarca casava ou nascia”, publicou o jornal Diário do Rio, na reportagem História das touradas no Rio de Janeiro.

Segundo o jornal, por serem populares na Espanha e em Portugal, se popularizaram aqui conforme os europeus foram se instalando no país.

Todavia, esses eventos começaram a ganhar força em terras tupiniquins no século seguinte, quando a capital foi para o Rio de Janeiro.
Mas as touradas acabaram definitivamente no Rio de Janeiro em 1907, quando o prefeito da cidade Sousa Aguiar fez um decreto que proibia essa prática na Cidade Maravilhosa.

(A foto de abertura é de Billy Culleton, feita em Bogotá, em 2008)

 

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Agendas

Único no Brasil, desde 1858 – Antigo carnaval de Desterro tinha desfile de carros de mutação puxados por cavalos

Por Billy Culleton

As alegorias que fascinavam a população nos desfiles dos antigos carnavais de Florianópolis eram muito diferentes das atuais.
Nos séculos XIX e XX, o auge da vibração do público acontecia quando de dentro das estruturas surgiam rainhas, dragões, bruxas ou aviões, que faziam parte da temática das sociedades carnavalescas que dominavam a festa momesca na cidade.

Registro da década de 1920 (Acervo Casa da Memória)

Antecessoras das atuais escolas de samba, entidades como Tenentes do Diabo e Granadeiros da Ilha tinham como principal atrativo os carros de mutação.
Dentro das alegorias, havia um conjunto de engrenagens e roldanas que possibilitavam o movimento das figuras em cima dos carretões, montados sobre o chassi de um caminhão e que eram puxados por cavalos, tratores, jipes ou caminhonetes.
“O sistema era formado por catracas manuais, com roldanas, e acionado por manivelas. Uma combinação de mãos leves de artistas (que preparavam as alegorias) com braços fortes de operários”, explica Fabiana Machado Didoné, mestre em Artes Visuais pela Udesc, no artigo “Um novo olhar sobre as alegorias carnavalescas – Os carros de mutação de Acary Margarida“.

A criatividade dos carnavalescos responsáveis pela criação das peças, conta ela, passeava entre castelos, dragões, aviões, navios, bruxas e animais lendários pertencentes ao folclore local.
Desde a década de 1850, contornavam a Praça XV para se apresentar ao público e também homenagear as autoridades na sacada do Palácio Cruz e Sousa.
O desfile dos carros de mutação, com engrenagens que permitiam que a alegoria se movimentasse e ganhasse vida, era único no país do Carnaval e durou até 1989, já com a utilização de novas tecnologias.
Os carros eram elaborados, durante meses, de acordo com o enredo e o tema individualmente escolhido pelas sociedades.

Década de 1950, no entorno da Praça XV (Acervo: Casa da Memória)

Segundo Didoné, no século XX, os desfiles eram divididos em dois concursos oficiais, mutação e alegoria. O regulamento previa a apresentação de no mínimo quatro e no máximo seis carros por sociedade, com destaque para o abre-alas e o carro da rainha.
No período de 1858 a 1899, existiram 34 sociedades carnavalescas na Capital.
Embora o último desfile tenha sido em 1989, as atividades das grandes sociedades foram paralisadas em 1993.
Somente em 2006, a Granadeiros e a Tenentes do Diabo voltaram a desfilar no Carnaval da cidade, mas pararam suas atividades novamente em 2013.

As quatro principais sociedades carnavalescas:

– Tenentes do Diabo
Fundada em 5 de março de 1905 por militares do Exército transferidos do Rio de Janeiro para Florianópolis, abrigou-se inicialmente nos altos da rua Felipe Schmidt, próximo à Ponte Hercílio Luz. Entre 1970 e 1978 ganhou nove títulos seguidos.

– Granadeiros da Ilha
Fundada em 6 março de 1948 por João dos Passos Xavier, faz uma homenagem em seu nome aos combatentes que defenderam a antiga Desterro (granadeiros são soldados especializados em lançar granadas). No brasão, apresenta a Ilha de Santa Catarina e uma granada como símbolo.

– Trevo de Ouro
Antiga ‘Vai ou Racha’, foi fundada em fevereiro de 1969, sendo Acary Margarida um de seus fundadores, e, mais tarde, seu filho Lauro Margarida presidente.

– Limoeiro
Fundada no bairro do Saco dos Limões, em 1978, pôde beneficiar-se de novas tecnologias e passou a inovar nos efeitos especiais e na decoração de seus carros.

CONFIRA OUTRAS FOTOS:

(As imagens são do acervo da Casa da Memória)

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Reportagens Especiais

A história do único navio a afundar embaixo da Ponte Hercílio Luz e que, desde 1953, está no fundo do mar

Por Billy Culleton
O que seria um fato dramático para alguns, se transformou num evento animado e lucrativo para dezenas de famílias do entorno.
Na manhã do domingo 25 de outubro de 1953, começou a circular, na cidade, a notícia  de que um navio estava afundando no cais do porto, no Estreito, exatamente ao lado de um dos pilares da Ponte Hercílio Luz.

As pessoas foram até o local para testemunhar o adernamento inicial da embarcação ‘Unidos’, que vinha de Laguna com destino ao Rio de Janeiro.

Muitos observavam desde o vão central da Ponte (de onde foi feita a imagem de abertura desta reportagem).

O navio estava carregado com 5,6 mil sacos farinha de mandioca, 100 fardos de crina de cavalo e, o mais importante, 900 metros cúbicos de madeira (equivalente a 30 caminhões cheios de tábuas).

Pequenas embarcações recolhem a carga do ‘Unidos’ antes de afundar por completo (Imagem de autoria desconhecida, via Desterro Antesdonte)

Tripulantes omissos, moradores atentos
Os barcos dos pescadores artesanais da região começaram a chegar próximo ao barco, que afundava lentamente, deixando as tábuas flutuando na água.
“Os tripulantes estavam insatisfeitos e afundaram de propósito. O navio já vinha com problemas desde Laguna, água entrando, e quando chegaram aqui começaram a carregar com mais madeira, o que provocou o afundamento”, afirma o pescador Hermes Lisboa, que trabalha num rancho próximo, embaixo da Ponte Hercílio Luz, e que ouviu a história da própria mãe.
“Por isso, muita gente pegou as madeiras e levou para casa, onde fizeram reformas ou ampliação nas suas residências”.

Jornal da cidade aponta saques
O Jornal A Gazeta, de 26 de outubro de 1953, confirma a história:
Dezenas de pequenos barcos apanharam as mercadorias que boiavam (…) Pudemos observar nas águas da baía sul, canoas transportando madeira e farinha, sendo que nos chamou a atenção um fato bastante pitoresco: uma canoa, repleta de saco de farinha, rebocava alguns taboados e pranchas de madeira, à guisa da jangada, sendo que em cima da madeira um homem remando”.

Cais do porto, no Estreito, onde se comercializava principalmente madeira (imagem de autoria desconhecida)

O jornal ainda informa que o navio Unidos tinha como comandante o senhor Hermínio A. Barreto e era “da praça de São João da Barra, do Estado do Rio, e pertencente à firma Sociedade Comércio Industrial Navegação Ltda, daquela cidade, que, proveniente do porto de Laguna se destinava ao Rio”.

Navio foi deslocado 100 metros
Nos dias posteriores ao afundamento e para não atrapalhar as atividades no cais, o navio foi ‘arrastado’, com cordas, por outros barcos, para o fundo do canal, a 30 metros de profundidade, praticamente no meio da Ponte Hercílio Luz, onde se encontra atualmente.

Arte em cima de imagem do Google Maps

Desde seu rancho de pesca, Hermes Lisboa indica o local exato.
“Sabemos disso, porque se a gente erra alguns metros, as nossas redes de arrasto engancham na embarcação afundada”, garante.

Tradição oral
Enquanto esta reportagem buscava informações sobre o fato ocorrido há quase sete décadas, outros pescadores que trabalham nos ranchos quase embaixo da Ponte chegam com mais informações e fotos.

“Ah, muita gente tirou proveito da situação e fez até casa nova com as madeiras do Unidos”, diz um.
“Olha esta foto aqui (pendurada na parede do rancho): há alguns anos um mergulhador fez a imagem do navio no fundo do mar”, mostra outro.

“A minha mãe contava que nadou até o barco, mergulhou e pegou farinha e tábuas com outros jovens”, emenda o seguinte, explicando que, mesmo afundado, o ‘Unidos’ estava a poucos metros da superfície.

Atualmente, no local do incidente funciona o Estaleiro Schaefer

(A foto de abertura é de autoria desconhecida e chegou ao Floripa Centro pelo grupo Desterro Antesdonte, no Facebook. As imagens atuais são de Billy Culleton)

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Agendas

Bem antes que os gaúchos – Na antiga Florianópolis, ilhéus tinham o costume de tomar chimarrão

Por Billy Culleton

Quando vemos alguém tomando chimarrão nas praias de Florianópolis imediatamente a identificamos como rio-grandense, argentino ou uruguaio.
Mas o que poucos sabem é que o mate era muito usado na Ilha de Santa Catarina antes mesmo que fosse conhecido pelos gaúchos (ou ‘por los gauchos‘).

“Festa de negros na Ilha de Santa Catarina”, desenho de Wilhelm Tilesius mostra como era o Centro da cidade em 1803

O seu consumo teria sido introduzido por navegadores espanhóis que estiveram aqui antes de Francisco Dias Velho, que fundou a cidade em 1675.
Os colonizadores ibéricos tinham ‘descoberto’ a erva-mate com os índios guaranis e caingangues que habitavam a América.

As informações constam do relatório do médico alemão Georg Heinrich Von Langsdorsff, que permaneceu na Vila Nossa Senhora do Desterro por três meses, entre dezembro de 1802 e fevereiro de 1803.

Médico Georg Von Langsdorsff (Imagem do livro História de Florianópolis)

Ele fazia parte de uma expedição russa, patrocinada pelo Czar Alexandre I, que realizava uma pesquisa sobre o continente americano.

De acordo com Carlos Humberto Corrêa, na sua obra “História de Florianópolis”, Langsdorff narrou o costume de beber chimarrão tanto nas casas populares quanto nas famílias mais abastadas, substituindo o café ou o chá usados na Europa.

Cuia de coco e bomba, similares às que eram usados pelos desterrenses

“Usavam um pequeno canudo da espessura de um cabo de cachimbo e de meio pé de comprimento (15 cm), que se abre na parte inferior com um regador, com várias aberturas pequenas e que é tecido com fibras de madeira e possibilita que se sugue o líquido do chá”.

As cuias eram feitas de casca de coco ou de uma espécie de abóbora mais dura, para os mais pobres, ou mesmo de barro cozido, usado pelos mais ricos.
“Em casa de cidadãos mais abastados veem-se cascas de coco entalhadas, pintadas ou cuidadosamente laqueadas e também encontrei lugares onde usavam a bomba e a chávena (recipiente, taça) delicadamente trabalhadas em prata”, registrou Langsdorff, acrescentando que, na época, o uso do chimarrão na Vila ‘já era muito antigo’.
Segundo o historiador Carlos Corrêa, a descrição do médico alemão é das mais completas sobre a sociedade da Ilha, seus usos e costumes.
No livro, no entanto, não há nenhuma menção às causas do desaparecimento, ao longo dos anos, da tradição de tomar chimarrão entre os florianopolitanos.

(A imagem de abertura, “Vista de Desterro” (1803) é de autor italiano desconhecido, segundo o historiador Carlos Humberto Corrêa)

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Histórias do Centro

1919 – Multidão vai ao delírio, na Praça XV, ao ver um avião pela primeira vez sobrevoando Florianópolis

Um fato inédito mobilizou milhares de pessoas às 12h35min da terça-feira 16 de setembro de 1919, no Centro de Florianópolis.
Um interessante aparelho” passou sobre a Praça XV, fazendo “dificilíssimas manobras”, como publicou o jornal local República.
A reportagem acrescenta que o piloto “foi delirantemente aplaudido pelo povo, que vivou enthusiasticamente o grande aviador”.

A pequena aeronave militar de um único lugar era pilotada pelo italiano Antonio Locatelli, que tentava a façanha de voar de Buenos Aires até o Rio de Janeiro.

Locatelli partindo de Buenos Aires, em 1919 (Acervo e pesquisa Silvio Adriani Cardoso)

Tratava-se de um avião modelo Ansaldo S.V.A-5, utilizado para reconhecimento e bombardeio na Primeira Guerra Mundial.
Era famoso pela velocidade e pelos voos de longo alcance.

Durante o percurso fez escalas em Montevidéu e Porto Alegre, onde foi recebido como herói.

Após decolar da capital gaúcha na manhã de 16 de setembro, o piloto deveria chegar ao aeroporto de Santos, no final da tarde.

Jornal anuncia a passagem do primeiro avião (Acervo Biblioteca Pública do Estado)

Ao meio-dia, quando passou por Florianópolis, uma multidão se concentrava nas imediações da praça central, já que a notícia tinha sido amplamente divulgada pela imprensa.
Ao perceber a aglomeração, Locatelli iniciou a descida do aparelho e realizou algumas evoluções.

O povo, “levado às raias do delírio”, aplaudiu atônito e fixou nas retinas o fato de ter visto pela primeira vez aquele ‘aeróstato’ sobrevoando a cidade.

O aviador italiano a bordo da aeronave militar (Acervo e pesquisa Silvio Adriani Cardoso)

Acidente em Tijucas
O insólito raide, no entanto, quase terminou em tragédia.
Uma hora depois de passar pela capital catarinense, o motor do aparelho começou a apresentar problemas.

Locatelli decidiu retornar a Florianópolis, para a planície da Ressacada, que tinha assinalado em seu mapa como o mais próximo campo de pouso alternativo.

Aeronave capotada em Tijucas (Reprodução do site da Amab, acervo Carlos Eduardo Porto)

Ao passar por Tijucas, porém, o aeroplano estava perdendo a força e o italiano decidiu aterrissar num terreno sem vegetação.
Só percebeu que se tratava de um pântano quando as rodas do aeroplano estavam prestes a tocar o solo. Não houve tempo para mais nada.
O avião capotou e o piloto foi violentamente catapultado para fora da cabine.

Apesar da gravidade do acidente e do grande susto, Locatelli sofreu apenas escoriações leves. Mas era o fim do raide, o avião não poderia ser reparado rapidamente.

Jornal de 17 de setembro de 1919 (Acervo Biblioteca Pública do Estado)

Após pegar seus pertences na aeronave, o piloto foi conduzido a cavalo para o centro de Tijucas, onde foi recebido pelas autoridades locais.
Mas ele insistiu em ir até Florianópolis.

Tão logo soube da queda do avião, o governador mandou seus representantes para prestar socorro.
À noite, o carro oficial com Locatelli chegou ao Estreito, desde onde uma embarcação o levou ao Trapiche Municipal, no Centro da Capital.

Lá, uma multidão formada por cidadãos de todas as classes sociais o acolheu entusiasticamente.

Homenagens no Palácio
Mais tarde, o piloto, usando uniforme do Exército italiano e com o peito ornado de medalhas, dirigiu-se ao Palácio do Governo, onde foi recebido no salão nobre pelo próprio governador, entre outras autoridades, além de representantes da imprensa.

Na ocasião, após uma breve palestra sobre a sua experiência, Locatelli explicou que precisava seguir imediatamente para a Itália, onde pretendia fazer parte do raide Roma-Tóquio.
Para isso, embarcaria em Florianópolis no paquete Max, da Empresa de Navegação Hoepcke, rumo a Santos.

No dia 17, pela manhã, Locatelli, após calorosas despedidas no Trapiche Rita Maria, recebeu de um grupo de senhoritas um ramalhete de flores naturais e embarcou para sua próxima aventura.

O avião avariado, após idas e vindas, foi cedido ao Aeroclube Brasileiro, em 1920.

(Esta matéria foi produzida com base numa ampla reportagem escrita pelo florianopolitano Silvio Adriani Cardoso e publicada no site da Associação da Memória Aeropostale Brasileira (Amab). O autor autorizou a publicação deste conteúdo).

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Papa Francisco beatifica bispo nascido em Santa Catarina e que foi batizado na Catedral de Florianópolis

O nosso Estado poderá ganhar o primeiro santo nascido em “águas catarinenses”.
É que o Vaticano beatificou, esta semana, o bispo Jacinto Vera.

Ele nasceu em 3 de julho de 1813 em um navio, em mares catarinenses, no Oceano Atlântico, durante a viagem de sua família para o Uruguai, proveniente das Ilhas Canárias (Espanha).

Menos de um mês depois, em 2 de agosto de 1813, Vera foi batizado na atual Catedral de Florianópolis, na época chamada de Paróquia de Nossa Senhora do Desterro.

Cátedra é utilizada somente pelo arcebispo, na Catedral de Florianópolis (Billy Culleton)

Dias depois a família seguiu viagem para o Uruguai, onde Dom Jacinto se transformou no primeiro Bispo de Montevidéu, em 1865.
O religioso sempre lembrou com carinho da Catedral de Florianópolis e, como prova da sua afeição, ao morrer, em 1881, deixou expresso o desejo de doar sua cadeira de bispo à igreja onde foi batizado.

Assim, a cátedra doada por Dom Jacinto há 141 anos é utilizada até hoje na Catedral Metropolitana, sendo usada exclusivamente pelo arcebispo local.

Dom Jacinto doou sua cátedra para Florianópolis (Foto: arquivo Arcebispado do Uruguai)

Nos registros da Catedral aparece que Dom Jacinto recebeu o sacramento do batismo na segunda-feira, 2 de agosto de 1813, acompanhado da data e local do seu nascimento: “nascido há 30 dias em águas catarinenses”.

Santa Paulina
Santa Catarina já conta com Santa Paulina que nasceu na Itália e veio ao Estado com 10 anos.
Em 1991, numa missa campal em Florianópolis, o Papa João Paulo II nomeou Madre Paulina uma beata, sendo canonizada em 2002.

Cátedra está há 141 anos no altar da principal igreja de SC (Billy Culleton)

Diferença entre beatificação e canonização
A beatificação é o último passo antes da canonização, ou seja, o momento em que a Igreja reconhece e declara que uma pessoa é santa.
Se para a beatificação é necessário que haja um milagre atribuído à intercessão do venerável, o que é necessário para a canonização é que um segundo milagre ocorra após o anúncio da beatificação.

(Com informações do Vaticano News e do site da Catedral Metropolitana)

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43 anos da Novembrada – Achamos o jovem que liderou a destruição da placa em homenagem a Floriano Peixoto

Por Billy Culleton

Dez dias após completar 18 anos, Alberto Amaral se sentiu apto a enfrentar quem fosse necessário para demonstrar a sua insatisfação com os rumos políticos e econômicos do Brasil no final da década de 1970.
Por isso, na manhã de 30 de novembro de 1979 foi até o Palácio de Governo (atual Cruz e Sousa) para protestar contra a ditadura militar.

Cerca de 2 mil pessoas estavam no local para festejar a visita do presidente João Figueiredo.
Mas, Amaral se juntou aos cerca de 20 jovens estudantes, que começaram a entoar palavras de ordem e, por fim, insultar o militar.
Logo depois, um Figueiredo transtornado desceu à rua para tirar satisfação, mas foi impedido de brigar pela sua segurança.

Amaral mostra o lugar exato onde estava o pedestal com a placa

Já com o presidente de volta ao Palácio, Amaral gritou: “Não vamos deixar esse filho da ditadura homenagear outro bandido!”.
Na hora, cinco estudantes correram com ele em direção à figueira da Praça XV. Embaixo da árvore símbolo da cidade, tinha sido construído um pedestal de concreto com a placa em homenagem a Floriano Peixoto, que seria inaugurada por Figueiredo.

Uma corda puxada por um estudante ajudou a derrubar o pedestal – Foto: James Tavares

Empolgados com o protagonismo dado pelo presidente, começaram a chutar a estrutura, enquanto colocavam fogo no entorno.
Diante de curiosos e manifestantes atônitos com a iniciativa, minutos depois, os estudantes conseguiram derrubar o pedestal e descolar a placa que caiu no chão.
Mas, por causa do fogo, estava muito quente, ao ponto de envergar.

Foto: James Tavares

Decidiram, então, tirar as próprias sandálias e chinelos para conseguir levantá-la como um troféu. “Foi um momento de euforia: aproveitando que estávamos com os chinelos nas mãos começamos a bater com o calçado na placa”, conta Amaral.

Foto: James Tavares

Na sequência, os estudantes foram até a frente do Palácio e atiraram a placa contra a porta.
Foi o ápice da Novembrada!

Embora, na hora, alguns imaginaram que era apenas uma traquinagem de poucos estudantes, a destruição da placa que homenagearia o homem que, em 1894, mandou fuzilar 185 catarinenses na Fortaleza de Anhatomirim, na Grande Florianópolis, se tornou o símbolo de rejeição à ditadura militar, iniciada pouco antes pelas manifestações contra Figueiredo.

Entrevista/Alberto Amaral – “Como manezinho não podia ficar quieto!”

Manezinho de 58 anos, o cinegrafista Alberto Amaral falou esta semana pela primeira vez à imprensa sobre o fato que marcou a visita presidencial há 40 anos e que o teve como principal protagonista.

Você participava do movimento estudantil?
Não, eu era estudante secundarista numa escola do Centro e ouvi falar que haveria uma manifestação contra Figueiredo. Como as aulas foram suspensas, naquela manhã, aproveitei para ir na Praça XV. Eu estava muito indignado com a situação econômica e política do país. Os preços subiam todos os dias e a população estava passando muitas necessidades.

Como começaram os protestos?
Me juntei aos cerca de 20 estudantes que estavam nas escadarias da Catedral e começamos a gritar palavras de ordem. Quando Figueiredo e Bornhausen saíram na sacada do Palácio foram aplaudidos pela maioria, mas nós continuamos gritando: “Mentiroso! Filho da puta!”, além de cantar contra o presidente e o regime militar.
Aí, quando Figueiredo fez aquele gesto de ‘mandar tomar no cu’, foi uma loucura. O protesto cresceu muito, ao ponto de silenciar os que estavam festejando a visita presidencial.

E quem lembrou da placa?
Eufórico com a proporção que tomaram os protestos gritei para não deixarmos homenagear um assassino. Em seguida, saímos correndo até a figueira. Éramos cinco ou seis estudantes. Em alguns minutos, tínhamos conseguido colocar fogo na placa e depois a atiramos contra o Palácio.
Abandonamos a lâmina e saímos correndo até o Ponto Chic para continuar os protestos.

Sete estudantes foram presos nos dias seguintes à manifestação. O que aconteceu com você?
Além de estudar, eu trabalhava como frentista num posto de gasolina na Avenida Osmar Cunha. Ao perceber a repercussão do caso, fiquei com muito medo e decidi me esconder no posto: não sai durante três dias. Comia e dormia no local, contando com o apoio do proprietário. Mas, depois disso, nunca fui incomodado, graças a Deus.

Quatro décadas depois, qual a sua avaliação dos fatos?
Eu sinto muito orgulho de ter participado ativamente da Novembrada. A situação do país era calamitosa, com muita inflação e preços altos. A população estava cansada da ditadura militar.
E ainda queriam homenagear o maior assassino da história de Santa Catarina. Como manezinho nascido na Maternidade Carlos Corrêa, não podia ficar quieto. Já não chegava que trocaram o nome de Desterro para Florianópolis.

Reportagem relacionada: A Novembrada na visão de Jorge Bornhausen: “Figueiredo causou o lamentável episódio”

O reencontro com a placa, 40 anos depois

O Floripa Centro marcou a entrevista com Alberto Amaral na Praça XV. Ele mostrou o local exato onde ficaria a placa de homenagem a Floriano Peixoto e reviveu os principais fatos daquele 30 de novembro de 1979.
Mas o que Amaral não sabia era que iria se reencontrar com a famosa placa no Museu Histórico de SC, no mesmo Palácio que recebeu Figueiredo. A lâmina está no local desde 2017, após décadas desaparecida.

Após pagar o ingresso, subimos no primeiro andar do Museu, sem alarde. Ao mostrar-lhe a placa, Amaral foi tomado por uma silenciosa emoção. Por alguns instantes ficou paralisado olhando para aquele objeto que marcou a sua vida (e também a história do Brasil).


Apesar do aviso de ‘Não tocar’, ele não resistiu e tomou a placa para observá-la mais de perto e reviver a cena de quatro décadas atrás. “Não acredito, não acredito…”, repetia em voz baixa.

Foto: James Tavares


“Olha aí, sou eu nessa foto”, disse Amaral, apontando para a imagem ao lado da placa onde ele aparece cabeludo, segurando a lâmina.

Relíquia esteve desaparecida por 16 anos

O coronel da Polícia Militar Nilo Marques de Medeiros Filho era responsável pela segurança do Palácio Cruz e Sousa naquele dia.
Após os manifestantes atirarem a placa na porta do Palácio, ele a recolheu.

“Foi Nilo quem pegou a placa na frente do Palácio e a guardou na Casa Militar. Lá ficou até 1983, quando então, por precaução e temendo pelo destino daquela relíquia histórica o militar pediu para guardá-la em casa”, escreveu o jornalista Marcos Espíndola, em reportagem do Diário Catarinense, de 30 de novembro de 2009.

Coronel Nilo Marques em registro do repórter fotográfico Júlio Cavalheiro de 2009

A reportagem de Espíndola lembrava que durante 16 anos ninguém conhecia o paradeiro da lâmina: muitos a davam como desaparecida ou destruída.
Até que em 1995 sua localização foi revelada: Nilo a apresentou durante um julgamento histórico sobre Floriano Peixoto promovido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

A partir de então, Nilo tentou devolver a relíquia, mas esbarrava na falta de interesse do poder público. Até que, por ocasião da comemoração dos 30 anos da Novembrada, em 2009, foi possível a doação à Casa da Memória.
Mas há cerca de cinco anos, o Museu Histórico de SC iniciou as negociações pedindo a placa para exibição no Palácio, em regime de comodato.

Assim, desde 2017 a peça mais famosa da Novembrada está à mostra no primeiro andar do Museu e, coincidência ou não, a menos de dois metros do retrato em metal de Floriano Peixoto.

(O repórter fotográfico James Tavares autorizou a publicação das imagens de 1979)

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Agendas

Vídeo: a história do mais importante estaleiro de SC – Último vestígio do Arataca está em ruínas na Beira Mar

Por Billy Culleton

Durante 57 anos, entre 1907 e 1964, Florianópolis contou com um estaleiro que foi referência no Sul do Brasil: o Arataca.
Localizado embaixo da Ponte Hercílio Luz, foi inaugurado 19 anos antes da ‘Velha Senhora’, por iniciativa do então megaempreendedor Carl Hoepcke.

A empresa era especializada em conserto, manutenção e reforma de embarcações, além de fabricar veleiros para regatas oceânicas.

Imagem: acervo Velho Bruxo

O estaleiro tinha várias edificações, que somavam 15 mil metros quadrados (1,5 campo de futebol), e empregava uma média de 120 trabalhadores.

Imagem captada no site Sail Brasil

Em 1964, após a extinção do porto de Florianópolis, que ficava ao lado, o Arataca foi desativado.
Logo depois, o aterro para a construção da Beira Mar Norte soterrou grande parte do imóvel, restando apenas o casarão que funcionava como escritório principal da empresa.

Confira o vídeo da história:

Imbróglio judicial já leva 12 anos
Até 2008, a centenária edificação, que é tombada, foi utilizada comercialmente abrigando um restaurante, salão de festas e, finalmente, um salão de beleza, chamado Fios & Formas.Naquele ano, o governo do Estado tomou a iniciativa de desapropriar a área, pela qual pagaria R$ 3 milhões de indenização à família Hoepcke.

Mas o valor não foi depositado, o que gerou uma ação judicial contra o poder público em 2011.

Imagem do Google Street de 2008

Segundo a Procuradoria Geral do Estado, com a caducidade do decreto de desapropriação de 2008, o Deinfra editou outro, mais específico, declarando parte do imóvel como de utilidade pública para efeitos de desapropriação.
A família Hoepcke, no entanto, contestou na Justiça a iniciativa do Estado e teve êxito parcial na sua demanda durante recente julgamento da ação no Tribunal de Justiça de Santa Catarina, em 2 de agosto.
E o processo continua.

Procurado, o Instituto Carl Hoepcke preferiu não se manifestar sobre a ação judicial.
Em 2014 parte do imóvel foi demolido pela prefeitura porque estaria com a estrutura danificada.Assim, enquanto o imbróglio jurídico não se resolve, o imóvel não pode receber manutenção, ou ser reformado, nem pela família Hoepcke, nem pelo Estado.

Enquanto isso, a cidade convive, na mais importante valorizada região do Centro, com a deprimente cena de um imóvel histórico  abandonado, pichado e que acaba sendo usado por consumidores de drogas e pessoas em situação de rua.
E, exatamente, embaixo da recém-inaugurada Ponte Hercílio Luz, o cartão postal de Santa Catarina.

Reportagem relacionada: 
Descoberto caminho histórico, com o calçamento original, embaixo da Ponte Hercílio Luz

Confira outras imagens antigas:

Praia do Arataca, antes da construção do estaleiro



Confira outras imagens atuais:

(As imagens atuais são de Billy Culleton. A foto de abertura é do acervo do Instituto Hoepcke. As imagens antigas que não têm créditos são de autoria desconhecida: se algum leitor souber a origem, favor, mandar o nome para o e-mail portalfloripacentro@gmail.com)

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Asilo construído pela elite para acabar com moradores de rua do Centro, em 1910, virou exemplo de amor ao próximo

A creação desse asylo, alem de ser uma medida humanitária, é o meio de afugentar a muitos, que pedem esmolas por ociosidade e preguiça, em logar de procurarem ganhar a vida pelo trabalho. É de indeclinável necessidade estabelecer-se um asylo para elles, afim de evitar-se que continuem a esmolar pelas ruas e praças publicas, incommodando aos transeuntes”.
Foi com esses argumentos que o presidente da Província de Santa Catarina, João Rodrigues, sugeriu, em 1881, a criação do atual Asilo Irmão Joaquim, que foi construído em 1910 e está completando 112 anos.

No final do século 19 e início do século 20, parte da população de Florianópolis era composta por mendigos, ex-escravos e pobres que formavam um contingente de indigentes.
Por isso, a elite local decidiu promover a construção do “Asylo de Mendicidade Irmão Joaquim”, na atual Avenida Mauro Ramos.
As informações constam na tese de doutorado em Geografia “Do Mar ao Morro: a geografia histórica da pobreza urbana em Florianópolis”, de autoria de André Luiz Santos (UFSC, 2009).

Imagem do Centro na década de 1920 já mostra o asilo (Acervo IHGSC)

O viés higienista da época também é mencionado no próprio site do asilo Irmão Joaquim, “uma instituição centenária constituída para cuidar dos pedintes que circulavam em Florianópolis”.
E continua: “A construção fez parte de um processo de modernização e higienização que a cidade viveu nas duas primeiras décadas do século 20, época em que a água potável foi encanada e foram construídas as redes de esgoto e de energia elétrica”.

Jornal A Fé divulgava ações de solidariedade da Associação Irmão Joaquim

Jornais registram maltrapilhos e famintos
A pobreza extrema era observada principalmente em mulatos, mas existiam também brancos em situação de miséria, que a imprensa da época chamava de “maltrapilhos, famintos, ulcerados e aleijões”, que habitavam o submundo da cidade.

Imagem de jornal A Fé, de 1925

O jornal “O Estado”, por exemplo, narrava episódios dantescos de gente jogada em porões e sob pontes, conta o professor Nereu do Valle Pereira, no livro “Associação Irmão Joaquim – 100 anos de amor ao próximo”.

Grandes comerciantes viabilizam obra
A primeira etapa do asilo tinha capacidade para 20 internos, e abrigava somente homens. A conclusão da ala esquerda do prédio, em 1911, abrigava 20 mulheres.
A construção só foi possível graças às doações da elite local.
As contribuições mais importantes foram feitas pelas famílias Hoepcke e Wendhausen, maiores comerciantes da cidade no início do século XX, como mostra o jornal A Fé, de 31 de outubro de 1909.
Mas logo, a empreitada foi assumida por outros conterrâneos, como registrado no Jornal Republica, de 21 de fevereiro de 1920.
“Em 1919, o “Asylo Irmão Joaquim” era mantido por 255 associados. Abrigava, no início daquele ano: 38 “exilados” homens e mulheres, dos quais 32 brancos e 6 negros, 17 tinham mais de setenta anos, 31 eram brasileiros e 7 estrangeiros, alguns descritos como: “cegos, aleijados e imbecis”.

Caminhada de solidariedade
Com o passar dos anos, o Asilo Irmão Joaquim se transformou numa entidade exclusivamente focada no amparo à velhice, que ainda se mantém com doações.

Imagem de Billy Culleton

Atualmente, abriga 22 homens e 14 mulheres, com idades entre 60 e 98 anos.
Além da hospedagem, são fornecidas seis refeições diárias, atendimento médico, fisioterapia e atividades de lazer.

Manutenção
As despesas do asilo, que conta com 30 funcionários fixos e três profissionais voluntários, são financiadas basicamente por renda própria da Associação Irmão Joaquim, doações, convênios e uma pequena participação dos abrigados com condições de pagamento.
O alto volume de recursos necessários para manutenção dos serviços exige uma constante busca por fontes alternativas de financiamento.

Veja os vídeos sobre o maravilhoso trabalho desenvolvido atualmente no asilo:


Como ajudar?
Neste momento de pandemia, a instituição precisa ainda mais da ajuda da comunidade.
Por isso, aceita qualquer tipo de doação, seja de mantimentos, roupas ou dinheiro.
E disponibiliza colaborações por meio da conta da Celesc ou através do cartão de crédito: mais informações pelo WhatsApp (48) 99800-5367.

Grades do asilo cercavam a Praça XV
Confira a reportagem: As grades que cercavam a Praça XV há mais de um século estão pelo Centro. E você já passou por elas!

Quem foi Irmão Joaquim?
Joaquim Francisco da Costa, mais conhecido como Irmão Joaquim, nasceu em Desterro, em 20 de março de 1761.
Filho de açorianos, assumiu a vida religiosa e, em devoção à Nossa Senhora do Livramento, trocou seu nome para Joaquim Francisco do Livramento.

Irmão Joaquim (Acervo do Senado Federal)

Dedicou a vida aos doentes e necessitados. Com o dinheiro de esmolas e doações, construiu, em 1789, o primeiro hospital de Santa Catarina voltado à caridade: o Imperial Hospital de Caridade.
Mais tarde, fundou hospitais em outras cidades brasileiras, como Porto Alegre e Salvador.
Fundou ainda escolas, asilos e seminários em São Paulo e no Rio de Janeiro e empreendeu viagens à Europa em busca de recursos para financiar suas obras.
Morreu em Marselha, na França, em 1829, aos 68 anos, em sua viagem de retorno ao Brasil.

Em 2018 foi incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que contem o nome de 43 personagens considerados fundamentais para a construção da história brasileira, como Anita Garibaldi, o líder Zumbi dos Palmares, Heitor Villa-Lobos e Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.

(Esta reportagem foi feita a partir da pesquisa da tese de doutorado em Geografia “Do Mar ao Morro: a geografia histórica da pobreza urbana em Florianópolis”, de autoria de André Luiz Santos, UFSC, 2009, do site do Asilo Irmão Joaquim, da Agência Senado, e de jornais antigos como A Fé e O Estado).

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Atualidade

Há meio século o aterro da Baía Sul engolia o último vestígio da Ilha do Carvão, que ficava a 500 metros da costa

Por Billy Culleton

Em 1974 a população de Florianópolis se despedia para sempre de outro “pedacinho de terra, perdido no mar”.
Há pouco menos de 50 anos, um ano antes da inauguração da Ponte Colombo Salles (1975), foi demolido o único prédio que ocupava a Ilha do Carvão, uma área um pouco menor que um campo de futebol e que já tinha sido ‘incorporada’ à Ilha de Santa Catarina pela construção do aterro da Baía Sul, em 1972.

A Ilha do Carvão ficava a 500 metros da antiga costa da cidade. Na época, o mar chegava até onde atualmente se encontra a Boate Fields, no entorno do Rita Maria.
Até meados da década de 1940, o local funcionava como depósito de carvão e servia para abastecer os navios a vapor que usavam o Porto de Florianópolis, desativado na metade da década de 1960.

Com o aterro, o espaço antes ocupado pela ilha recebeu uma das colunas de sustentação da Ponte Colombo Salles.

Os registros fotográficos mostram duas construções diferentes: a mais antiga, de estilo residencial, com dois andares, aparece em fotos da década de 1920, durante a construção da Ponte Hercílio Luz.

Em imagens posteriores aparece o prédio em forma de castelinho. O Floripa Centro não encontrou qualquer referência bibliográfica sobre a substituição de uma edificação por outra.

Imagem – Foto postal Colombo

O único vestígio da existência da Ilha do Carvão é a base do antigo farol, que foi preservado e encontra-se no início do trapiche usado pelos clubes de remo.
Porém, sem nenhuma placa que faça referência ao fato.

Ao centro, a base do farol, e à direita, o espaço onde ficava a ilha

Após o complexo ser desativado, uma mulher conhecida como Dona Bela passou a morar no local.
Quem conta é o manezinho Luiz Carlos Dutra de Mello, de 72 anos: “Essa senhora morou sozinha na ilha durante muitos anos. Tinha uma batera e com ela ia todos os dias ao Mercado Público para fazer as suas compras”.

Luiz Carlos Dutra de Mello mostra o local exato onde estava a Ilha do Carvão

Diretor do Clube de Remo Aldo Luz, Mello nasceu numa residência embaixo da Ponte Hercílio Luz e acompanhou o processo de desaparecimento da Ilha do Carvão. “É uma pena que acabaram com essa parte da história da cidade”, lamenta.

(Atualizada em outubro de 2020 e publicada originalmente em 10/9/2019)

Veja outras fotos:

Em 2016, foi lançado o curta “Ilha do Carvão”, de Fábio Brüggemann e Dennis Radünz. Confira:

(As fotos da época que não têm identificação são do acervo da Casa da Memória e do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina)

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Reportagens Especiais

Há nove décadas, Florianópolis perdia os charmosos cafés existentes na Praça XV

Até a década de 1930 ainda era possível apreciar um bom café no perímetro interno da Praça XV de Novembro, no Centro da Capital.
O Café Royal e o Café Comercial  surgiram em 1891, a partir da revitalização da área verde no coração da cidade.

Café Royal e Café Comercial, um em cada esquina da Praça (Imagens: IHGSC)

Na época, por ordem do presidente da Província de Santa Catarina, Gustavo Richard, o então jardim do Largo do Palácio, construído em 1887, foi cercado por grades, o que trouxe mais ‘segurança’ para o local.

Os cafés, demolidos na década de 1930, ficavam nas esquinas Sul da praça, defronte à atual Praça Fernando Machado, e eram pontos de reunião de comerciantes e políticos locais.

Neste registro panorâmico pode-se observar o Café Royal, na parte superior, à direita da Praça XV (Imagem: IHGSC)

Já do lado Norte, frente à Catedral, encontrava-se um grande quiosque envidraçado, cujos vidros coloridos foram importados da França.

O glamouroso quiosque, em dois registros de autor desconhecido

Na frente da Praça XV, também existia o Café Popular, na esquina com a Rua Felipe Schmidt, onde hoje se localiza uma farmácia.

Jardim do Café Popular no final do século 19 (imagem de autor desconhecido)

Confira aqui outra reportagens do Floripa Centro

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Atualidade

Chega de lampiões! Em 1910, população de Florianópolis, finalmente, recebia luz elétrica

Por Billy Culleton

“Adeus, lampiões a óleo de peixe, gás ou querosene que apagam com o vento súli!”
“Finalmente, as luzes!”

Estas alvissareiras frases ecoavam em todas as esquinas do Centro, na noite de 27 de setembro de 1910, quando a eletricidade chegou a Florianópolis e foi inaugurada uma nova e moderna iluminação pública.

Acendedores de lampiões em duas épocas: escravo e servidor público (Acervo Milton Teixeira)

Até então, os moradores da cidade dependiam dos acendedores de lampiões para poder sair às ruas ‘com segurança’ durante a noite.

Usina em São José
A modernização da iluminação pública na Capital, há 112 anos, só foi possível graças à construção da usina elétrica de Maroim, em São José.
A edificação, que ainda existe na SC-281, foi feita entre 1907 e 1910, em estilo inglês pela empresa Simmonds & Saldanha, da Inglaterra, que também trouxe todo o equipamento daquele país.

Usina de Maroim no início do século passado (Divulgação Celesc)

A eletricidade chegou à Ilha por um cabo submarino que atravessava a Baía Norte, na altura da futura Ponte Hercílio Luz (construída 16 anos depois, em 1926).

Primeira lâmpada residencial
Quatro dias depois da inauguração da iluminação elétrica nas ruas, foi acesa a primeira lâmpada residencial da Capital, em 1º de outubro de 1910.

Exemplar da primeira lâmpada acessa na Capital encontra-se exposta no Museu de SC (Divulgação FCC)

A ‘façanha’ aconteceu na casa do governador Gustavo Richard, no atual Palácio Cruz e Sousa, e representou o início da expansão da eletricidade nas moradias dos florianopolitanos.

Os primórdios da iluminação em Desterro
As vias da cidade de Nossa Senhora do Desterro viveram às escuras até 1837, quando foram inaugurados os primeiros 50 candeeiros.
Eles eram abastecidos com óleo de baleia e acesos manualmente, com pavios, por encarregados para esta função: os acendedores de lampiões.
O fato é contado em detalhes pelos pesquisadores da UFSC Sílvio Coelho dos Santos e Maria José Reis, na obra “Memória do setor elétrico na região Sul”.

Região central da Capital em 1910, já com os postes de eletricidade (Acervo Casa da Memória)

Este primeiro sistema de iluminação pública foi disposto em locais estratégicos, como as esquinas das ruas centrais, para que a população (que não chegava a 5 mil habitantes) pudesse sair à noite pelas ruas com mais segurança – mesmo com o inconveniente do vento Sul, que apagava os lampiões.

Lampiões a gás e querosene
No final da década de 1860, os lampiões começaram a utilizar gás e, em 1874, querosene, por ser mais econômico, como indica o artigo “Introdução à história da iluminação pública em Florianópolis”, do pesquisador da UFSC Sérgio Schmitz.
O abastecimento de eletricidade a partir de 1910 pela usina de Maroim durou até o final da década de 1950, quando no governo Aderbal Ramos da Silva, a energia passa a ser captada da Usina de Capivari de Baixo, no Sul do Estado.

Usina ao lado da estrada que liga São José a São Pedro de Alcântara (Divulgação Celesc)

A estrutura, em São José, continuou funcionando até 1972, quando foi desativada.

De dia falta água, de noite falta luz!
Nos anos seguintes e com o aumento da população, o abastecimento de eletricidade na Capital foi ficando precário e ineficiente, gerando inúmeras reclamações.

Praça XV (à esq.) e Palácio do Governo já com a nova iluminação pública (Acervo Casa da Memória)

O descontentamento era geral, segundo o pesquisador Sérgio Schmitz, e vinham de vários setores, inclusive através da música.
Parodiando conhecida canção carioca, era comum ouvir-se nas ruas da provinciana Florianópolis: “Cidade maravilhosa. Terra de Hercílio Luz. De dia falta água. De noite falta luz.

As críticas continuaram até a década de 1960 quando a Celesc assumiu a distribuição, estabilizando o abastecimento de eletricidade na cidade.

Curiosidades
– No Brasil, a primeira demonstração de iluminação elétrica ocorreu no Rio de Janeiro, em 1879, na inauguração da estação central da Estrada de Ferro D. Pedro II.
– A seguir, em 1883, o imperador inaugurou em Campos (RJ) a primeira rede de iluminação pública, alimentada por uma máquina a vapor.
– Em Florianópolis, em 27 de setembro de 1910, no momento em que se acenderam as primeiras lâmpadas elétricas na Praça XV e no Palácio do Governo, a tradicional banda musical da cidade chamada “Corpo de Segurança” percorreu as ruas centrais tocando para uma multidão que acompanhava o momento histórico.

(A foto de abertura é do entorno da Praça XV na década de 1910, acervo da Casa da Memória de Florianópolis)

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