Prédio da Alfândega desapareceu – A terrível explosão, ao lado do cais, que estremeceu o Centro de Desterro em 1866

Compartilhe:

Por Billy Culleton
Às sete horas da manhã de 24 de abril de 1866, parte dos 12 mil habitantes de Desterro acordou sobressaltada por uma apavorante explosão no Centro da cidade.
Em poucos segundos, o belo prédio da Alfândega ficou em ruínas e pedaços da construção foram espalhados num raio de 300 metros..
A edificação ficava na esquina do “Largo do Palácio com a Rua do Príncipe” (hoje, Arcipreste Paiva com Conselheiro Mafra), na frente da Praça Fernando Machado, ao lado da Praça XV.
No local, atualmente existe a “Agência Zininho” da Caixa Econômica Federal, onde antes estava o Hotel La Porta.

Jornal local fala em ‘desastre horrível’

No texto em que divulga a notícia, o jornal “O Despertador”, de 27 de abril de 1866, começa descrevendo a cena rotineira de uma manhã normal no Centro da cidade:
“Muitos indivíduos sahião de suas casas e se dirigião ao mercado. As canôas de diferentes lugares se aproximavão daquele ponto com os seus generos, como é de costume, e os colonos alemães desembarcarão dos seus botes os seus produtos agrícolas, e collocavão no largo entre a alfandega e casa do mercado, onde já havia compradores”.
Na sequência, detalha o desastre:
“Serião 7 horas, horrível explosão, originada, por certo, de matéria inflammável existente na mesma alfândega, fez abbater todo o edifício até os alicerces, levando pelos ares grande parte do tecto, indo cahir a grande distancia”.
E continua:
“A detonação foi tal que fez estremecer os edifícios mesmo os mais distantes da praça; muitas vidraças ficarão inutilisadas.
O incêndio manifestou-se immediatamente, e os sinos das igrejas davão signal delle!!”

Ilustração de Joseph Brüggemann, 1867, mostra Largo do Palácio (reprodução livro “Desterro: Ilha de Santa Catarina”, de Gilberto Gerlach)

Segundo o jornal, o povo ‘sobressaltado’ correu até o lugar do sinistro e em menos de cinco minutos havia mais de mil pessoas no local.
A explosão também danificou parcialmente o antigo Mercado Público, que ficava na frente, onde hoje está a Praça Fernando Machado.
Na época, a Alfândega possuía seu próprio atracadouro no cais, ao lado do trapiche, que depois foi o Miramar.

Mortos e feridos
O Despertador lista os nomes dos mortos e feridos.
“De tão terrível catastrophe resultou a morte de dez pessoas; tres gravemente feridas e doze levemente, cujos nomes abaixo mencionamos.”
Entre as vítimas, portugueses, alemães e brasileiros. Também há menção aos escravos, identificados apenas pelo primeiro nome.Barcos ajudam a apagar fogo
Uma só bomba e esta em máu estado sahio da capitanaia do porto e com ella se começou o trabalho para dominar o incêndio, o que não se conseguiria se não acudissem as bombas dos vapores Brazil e Gerente que se achavão no porto (…). A não ser isto graves prejuízos sofreria o commercio visto a proximidade de muitas casas de negócio”, descreve o jornal.

Mapa de Desterro em 1868 mostra o local da Alfândega (4), o trapiche (5) e o mercado público (9). Arquivo Litografia do Instituto Philomático (reprodução do livro “Florianópolis, memória urbana”, de Eliane da Veiga)

História do prédio
A criação da primeira Casa da Alfândega, também conhecida como Casa de Arrecadação da Marinha, em Desterro, teve lugar em 1778, segundo conta o historiador Carlos Humberto Corrêa, no livro “História de Florianópolis Ilustrada”.
O autor faz referência a um documento do Ouvidor Moniz Barreto, dirigido à Câmara Municipal, em 23 de junho daquele ano:
“Tenho tirado, em resulta das minhas observações, a minuta da inclusa representação para Sua Majestade sobre a criação de uma Alfândega no porto desta Ilha. As vantagens, que daqui resultam me parecem demonstradas.”
Somente em 1876, dez anos depois da explosão, foi inaugurado o novo prédio da alfândega, que existe até hoje, próximo ao Mercado Público Municipal.

Confira vídeo sobre o tema, produzido pela Fundação Catarinense de Cultura:

MATÉRIAS RELACIONADAS
Dez fotos desde 1890 – A evolução do prédio da Casa da Alfândega

(As fontes para esta reportagem foram os livros “Florianópolis, memória urbana”, de Eliane Veras da Veiga, e “História de Florianópolis Ilustrada”, de Carlos Humberto Corrêa. A imagem de abertura é uma pintura de Aldo Beck, publicada no livro de Eliane da Veiga)

Compartilhe:
0 respostas

Deixe uma resposta

Want to join the discussion?
Feel free to contribute!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *