A história do único soldado de Florianópolis que combateu e morreu na Itália, na Segunda Guerra Mundial

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Por Billy Culleton
Em 8 de maio de 1944, o florianopolitano Arnoldo Cândido Raulino se despedia definitivamente de sua terra.
Naquele dia, no Centro, houve um grande evento para dar adeus às centenas de expedicionários catarinenses que partiam à Itália para lutar junto aos Aliados na Segunda Grande Guerra.

Formação para a foto oficial na frente da Catedral (Acervo LBV)

Nessa segunda-feira, a concentração foi na frente da Catedral Metropolitana, onde aconteceu uma missa ao ar livre, com a presença dos 956 ‘pracinhas’ catarinenses que foram ao front, autoridades (como o governador Nereu Ramos) e milhares de pessoas, que foram liberadas dos seus trabalhos para prestigiar os catarinenses.

Foto feita desde o campanário da Catedral mostra os militares em formação na escadaria da igreja (Acervo LBV)

Após a celebração, o bispo Dom Joaquim Domingues abençoou os crucifixos que foram entregues aos militares, formados na escadaria da Catedral.

Dom Joaquim e o governador Nereu Ramos (Acervo LBV)

Segundo o “Relatório da Legião da Boa Vontade 1944”, logo depois, o contingente foi desfilando até a Praça Getúlio Vargas (Praça dos Bombeiros) para se encontrar com os alunos das escolas da cidade.
A cerimônia terminou com os discursos do representante dos expedicionários e de autoridades locais.

Homenagem na Praça Getúlio Vargas (Acervo LBV)

Catarinenses
Arnoldo Raulino, então, com 21 anos, foi um dos 47 catarinenses que morreu lutando na Itália, e o único nascido em Florianópolis.
Ao todo, faleceram 28 soldados do Exército e 19 membros da Marinha, conforme aparece numa placa que homenageia os expedicionários mortos de Santa Catarina, na Praça Nossa Senhora de Fátima, no Bairro Estreito, na Capital.

No local, também há um monumento, semelhante a um obelisco, sem nenhuma identificação a não ser os símbolos das três forças armadas.

Praça Nossa Senhora de Fátima: o monumento com os símbolos da forças armadas e a placa com os catarinenses mortos (Billy Culleton)

Vítima de uma mina
Raulino faleceu em 8 de janeiro de 1945.

Única foto de Raulino que se tem conhecimento (Acervo de Rafael José Nogueira, coleção Desterro Antesdonte)

O óbito teria ocorrido acidentalmente enquanto instalava minas terrestres em Torre de Nerone, perto de Monte Castelo, no Norte da Itália.
Seu corpo foi enterrado no Cemitério Militar Brasileiro de Pistóia.
Posteriormente, em 1960, todos os 462 brasileiros que morreram em combate foram repatriados e enterrados no Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial.

Segundo o Jornal O Estado, a mãe de Raulino recebeu uma carta do Exército comunicando o falecimento do filho.

Esta reportagem não conseguiu confirmar a data da publicação no O Estado

O secretário geral do Ministério da Guerra, general Canrobert Pereira, diz que ele morreu “em operações de guerra na Itália”.
É oportuno e confortador saber que o soldado Arnaldo Cândido Raulino, em terras estrangeiras, soube honrar as tradições gloriosas do soldado Brasileiro”, diz o trecho da carta.

Centro ou Coqueiros?
Há uma divergência sobre onde morava Raulino: no Boletim da Força Expedicionária Brasileira de 1948 aparece o endereço “Avenida Rio Branco Nº 199” (atualmente, o número fica próximo a Arno Hoeschl).

Boletim da Força Expedicionária Brasileira de 1948 (Acervo Desterro Antesdonte)

Já o Jornal O Estado, ao divulgar a carta recebida pela mãe do soldado florianopolitano, aponta para o Bairro de Coqueiros.

Ruas no Continente e em São Paulo
O soldado manezinho dá nome a duas pequenas ruas: na Capital, no Bairro Estreito, a via “Arnoldo Cândido Raulino” tem menos de 200 metros e é perpendicular à Avenida Araci Vaz Callado, próximo ao Estádio do Figueirense.

Cruzamento da Rua Arnoldo Raulino com Araci Vaz Callado (Google Street)

Em São Paulo, a rua “Soldado Arnoldo Cândido Raulino” mede cerca de 300 metros e fica na Vila Medeiros, na Zona Norte da cidade.

Monumento (Atualização de 17/5/2021, com base em informações do leitor Silvio Adriani Cardoso)
Arnoldo Raulino tem uma estátua em sua homenagem no Pátio Tenente Coronel Fernando Machado, no 63º Batalhão de Infantaria do Estreito.

Monumento no quartel (acervo particular de Silvio Adriani Cardoso)

Em meados de 1950 foi criado o Centro Excursionista Arnoldo Raulino (CEAR) em homenagem a este ex-expedicionário.

Arte feita no monumento representa o momento da explosão que vitimou Raulino (acervo Silvio Adriani Cardoso)

História
O grupo de catarinenses era só uma parte dos 25 mil integrantes da Força Expedicionária Brasileira (FEB), criada em agosto de 1943 para representar o país nas batalhas da 2ª Guerra Mundial ao lado dos Aliados, para enfrentar o exército alemão.
Até o final da guerra, em 1945, houve 457 combatentes brasileiros mortos na Itália.

(A imagem de abertura é do acervo da LBV. Esta reportagem foi feita a partir da pesquisa no site Taiadaweb, Relatório 1944 da LBV, jornal O Estado e a colaboração dos membros do grupo de Facebook ‘Desterro Antesdonte”)

 

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