Culpa do ‘vento súli’ – O dia em que o Zeppelin passou por Florianópolis, mas ninguém viu

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Às 7h da manhã do dia 28 de junho de 1934 o dirigível Graf Zeppelin passava pela costa oriental da Capital, com destino a Buenos Aires.
Havia semanas que a população florianopolitana aguardava ansiosamente para ver passar o enorme ‘balão’ de 237 metros de comprimento, que precedeu ao atual transporte aéreo.

Como parte da propaganda nazista, os responsáveis pelo bólido alemão faziam questão de se exibir, em voos demonstrativos a 40 metros de altura em cima das cidades, para espanto dos moradores que viam a gigantesca aeronave flutuar silenciosamente sobre as suas casas.
Foi assim nas grandes capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

Zeppelin no Recife, 1934 (reprodução do site Airway)

Florianópolis também estava na rota para mostrar a conquista do espaço aéreo pelos germânicos.
Há 86 anos, em 25 de junho de 1934, o jornal O Estado deixava claro a expectativa local com a passagem do dirigível:

‘O ‘Graf Zeppelin’ para nós que nunca vimos nenhum dirigível, é no momento o grande attractivo.
Se as condições atmosféricas e a organização técnica do dirigível o permitam, ele fará evoluções sobre as principais cidades do litoral sul do Brasil para satisfazer a curiosidade que domina a todos.
E Florianópolis, certamente, será contemplada com essa visita do gigante dos ares.
No Rio, nos dias da chegada do dirigível, há muita gente enthusiasta dele que desperta cedo para vê-lo passar.
É de crer que o povo de Florianópolis não mostre menos enthusiasmo pela grande aeronave que tantos louvores têm merecido da imprensa mundial’.

Tela ‘Zeppelin e o barraco do limão’, do pintor catarinense Rodrigo de Haro (Masc)

Mas quando chegou o grande dia, o nosso conhecido vento sul provocou frustração geral.
O Estado, em 29/6/1934, descreveu a decepção:

‘Baldada espera!
Alta madrugada, desencadeou-se forte vento sul, com ligeiros chuviscos. Não apareceu o “Zeppelin”.
A ‘Agência Condor’ comunicou-nos que a aeronave passou às 7 horas ao longe do costão oriental da nossa ilha.
– A ‘Agência Panair’ informou a um dos nossos redactores que seu hydro-avião, hoje chegado do sul, cruzou com o dirigível, que viaja para Buenos Aires e, naturalmente, está encontrando o forte vento que continua a soprar’.
E, assim, provavelmente enviesado pelo vento ‘súli’ (como diz o mané), o Zeppelin passou por cima da Ilha do Campeche e seguiu rumo a Buenos Aires, onde chegou no final do dia.

Na volta, sobrevoo pelo Vale do Itajaí
Em 1º de julho de 1934, no retorno da capital argentina e rumo ao Rio de Janeiro, o lendário dirigível passou por Blumenau.

Zeppelin em Blumenau, 1934 (foto de Adalberto Day)

O site Brusque Memória narra o acontecimento:
Blumenau acordou mais cedo naquele dia 1º de julho de 1934. Ainda de madrugada, milhares de pessoas, ansiosas, se posicionaram em pontos estratégicos da cidade. O motivo de tanto alvoroço surgiu imponente, no céu junto com os primeiros raios do sol. Exatamente às 6h45 min, segundo relatos da época, o ronco dos motores anunciou a chegada do LZ 127 Graf Zeppelin, uma das grandes maravilhas que a tecnologia humana havia conseguido criar até então.
Um dos símbolos mais utilizados pela Alemanha nazista para convencer o mundo de seu poderio, o lendário dirigível significava muito mais que isso para as pessoas comuns, que o admiravam, como um ícone da modernidade. A noticia de que ele passaria por Blumenau, vindo de Buenos Aires rumo ao rio de Janeiro, se espalhou rapidamente dias antes. A população preparou até bandeirinhas para recepcioná-lo e o Zeppelin não decepcionou tanto empenho. Tornaram aqueles poucos instantes inesquecíveis.”

Dirigível Graf Zeppelin sobrevoa Joinville, em 1934 (reprodução site Brusque Memória)

Dois anos mais tarde, no dia 1º dezembro de 1936, Joinville, Blumenau, Brusque, Indaial, Jaraguá do Sul e Corupá receberiam a rápida visita de outro dirigível, o Hindenburg.
Seis meses depois, a aeronave se incendiaria em pleno vôo sobre Nova Jersey, nos Estados Unidos. A tragédia iria antecipar a aposentadoria do Graf Zeppelin, que ainda passaria mais uma vez por Blumenau, em 1937, antes de fazer sua ultima viagem em 18 de novembro do mesmo ano”, conta o Brusque Memória.

Características do Zeppelin
– Comprimento: 237 metros.
– Velocidade máxima: 128 km/h.
– Autonomia de voo: 10.000 km.
– Voo inaugural: 18 de setembro de 1928.
– Duração voo Alemanha-Rio de Janeiro: três dias.

Catarinenses notáveis que voaram no Zeppelin:

Ruth Hoepcke, junto com seu marido Aderbal Ramos da Silva, retornou da lua de mel na Alemanha a bordo do Zeppelin (Acervo Instituto Carl Hoepcke)

Cônsul Carlos Renaux é servido no interior do dirigível, em 1932, voltando de uma viagem à Alemanha (reprodução site Brusque Memória)

Como era o interior do dirigível:

Trabalho manual para o pouso (reprodução do site Airway.com)

Interior do dirigível (reprodução do site Airway.com)

Cabine de comando (reprodução do site Airway.com)

Confira alguns vídeos do Zeppelin:

  • Passagem pelo Rio de Janeiro
  • Passagem por Recife
  • Acidente do Hindenburg nos Estados Unidos

    (A foto de abertura é da passagem por Joinville, em 1934, do site Brusque Memória)
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