Desde 1869 – Primeira escola alemã de Florianópolis, ao lado da Igreja Luterana, no Centro, foi confiscada na Guerra e transformada em prisão
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Por Billy Culleton
Quem passa na frente do pequeno e belo templo, na Rua Nereu Ramos, não imagina que é um símbolo da resistência dos descendentes alemães em Florianópolis.
Originalmente, a Igreja Luterana (próxima ao Ceisa Center) encontrava-se no mesmo terreno da Escola Alemã.
A área foi dividida para a construção da Rua Leoberto Leal, na década de 1940.
No ano 1869 os primeiros imigrantes alemães protestantes que chegaram a Florianópolis inauguraram a instituição educacional, no imóvel que hoje abriga o casarão da comunidade luterana.
A escola buscava atender as crianças das famílias alemãs da cidade, mas também aceitava alunos de outras etnias.
Modesta, como consta nos arquivos da comunidade, no início possuía apenas “duas cadeiras, uma mesa, seis mesas escolares para 24 crianças, duas lousas com cavalete e régua, um recipiente para água, uma caneca de lata, uma vassoura e uma pá”.
Igreja de 108 anos
Em maio de 1913, os luteranos inauguraram a Igreja Evangélica Alemã de Florianópolis.
Na época, a comunidade contava com 132 membros/famílias.
Criou-se, assim, um novo marco para os protestantes locais, que passaram a ter um local adequado para a celebração dos cultos.
A arquitetura neogótica do templo foi desenhada pelo jovem pastor Theodor Gründel.
Junto com a igreja foi construída uma casa pastoral, que foi posteriormente demolida.
Atualmente, o espaço abriga um estacionamento terceirizado, mas de propriedade dos luteranos.
No início do século passado, a região, apesar de próxima do Centro, era dominada por grandes chácaras e áreas verdes.
Hostilidade e suicídio
Tudo corria normalmente até o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, quando os imigrantes alemães no Brasil começaram a ser hostilizados por questões ideológicas.
Em Santa Catarina, o governador Felipe Schmidt proibiu cultos e demais atividades em língua alemã, alegando revolta do povo contra os germânicos.
A informação consta na dissertação de mestrado de João Klug, no Curso de História da UFSC (1991), intitulada “Consciência germânica e luteranismo na comunidade alemã de Florianópolis”.
Por causa das ofensas contra a comunidade, dois membros da diretoria abandonaram seus cargos, conta Klug.
No dia 31 de outubro de 1917, o empresário Carl Hoepcke renunciou à presidência da comunidade.
Uma semana antes, o secretário Conrad Goeldner havia se suicidado.
Pregação bilingüe
Segundo Klug, em março de 1918, após consulta ao secretário de Estado Fulvio Aducci, foi possível recomeçar os cultos, com a ressalva de que as pregações deveriam ser em português.
Diante da argumentação de que era justamente a pregação o centro do culto luterano, houve consentimento de se pregar em alemão, desde que também em português.
Dessa forma, foi decidido reiniciar os cultos no domingo 17 de março de 1918.
Confisco na Segunda Guerra
Com o fim do conflito bélico, as atividades da comunidade luterana voltaram à normalidade.
Duas décadas depois, no entanto, começou a Segunda Guerra Mundial e novamente as hostilidades contra os descendentes de alemães.
No início da década de 1940, as atividades na Escola Alemã foram suspensas.
O prédio foi confiscado durante o governo de Nereu Ramos e transformado em prisão.
Depois, sediou um pequeno hospital e um órgão da administração pública estadual.
Na década de 1970, o imóvel foi devolvido à comunidade luterana, que mantém o casarão impecável até a atualidade, abrigando a secretaria, uma biblioteca e salas multiuso.
(Esta reportagem foi feita com base na obra “Consciência germânica e luteranismo na comunidade alemã de Florianópolis” e nos arquivos da Igreja Luterana de Florianópolis. As imagens atuais são de Billy Culleton)
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