Diário da Quarentena – As duas quarentenas do Cachorrão

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Por João Carlos Mendonça*

A minha quarentena, na verdade, foram duas. Cheguei do Recife dia 16 de março depois de férias num baita resort.
Tudo pago com meu dinheiro.
Cheguei e o porteiro foi logo avisando. “Seu João, ‘temos’ na quarentena, pandemia, coronavírus”.
Num primeiro momento não dei bola e saltei.
“Isso é uma briga biológica entre Estados Unidos e China”.
Que nada!
Não era um resfriadinho, nem uma gripezinha.
O negócio era sério.

Naquele mesmo dia queria ir reencontrar a ‘cacaiada’ no Érico Bar, aqui na Hercílio Luz. Alertado pela filha e pela sobrinha, que é médica, recolhi os panos.
Fiquei em casa.

No dia seguinte, e ainda de férias no trabalho, é que a ficha começou a cair.
O que comer? Onde comer?
Mas, primeiro lavar tudo. Roupas, limpar a casa e passar o tal do álcool gel.
Não, não tenho álcool gel. Fui comprar.

No Imperatriz, nem pensar. Foi fechado pela vigilância. Funcionários infectados.
Nas farmácias. “Estamos em falta”.
Numa delas, da Avenida Mauro Ramos, tinha. Muito caro.
Subi a Crispim Mira e fui no Hipoo. Tinha álcool gel. E barato. Comprei logo dois.
Volta pra casa.

Ver filmes no Netflix? Bela opção.
A filha sugere “Mistério da Cela 7”.
É triste, diz ela. Mas, encarei.
Muito triste, mas uma bela história.
Dividi em duas partes. Uma naquela noite e o restante no dia seguinte. Baita filme. Produção da Turquia.
(Ova conseguiu salvar o Memo).
Chorei. Assistam.

E assim vai indo essa quarentena. Pede almoço, compra pão na padaria (não esquece aquele cigarrinho), leite também, e se tiver guloseimas traz umas.

Agora vamos torcer pra tudo isso acabar. Vai acabar.
E esperamos um mundo novo. Mas solidário, mais humano, com menos briga, menos orgulho, mais paciência, mais amor e menor rancor.

Ah, mas, por que as duas quarentenas sobre quais falei no início?
Uma biológica, e a outra porque no dia que cheguei de viagem decidimos terminar a nossa relação. Eu e ela.
Portanto, tô na pista galera!
Vida que segue…

* Jornalista, morador do Centro e conhecido como ‘Cachorrão’

O Floripa Centro criou este espaço para que moradores da região central de Florianópolis possam partilhar como estão passando a quarentena, enquanto o coronavírus não passa!

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