Em 1875 – Desterro foi a primeira cidade do Sul do país a se comunicar com o exterior por telegrama
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Por Billy Culleton
Desde um prédio na frente da Praça XV de Novembro, no Centro da então Desterro, partiu a primeira comunicação internacional em tempo real feita no Sul do Brasil.
A façanha, há 146 anos, só foi possível graças à instalação de um cabo submarino que ligava Rio de Janeiro com Buenos Aires.
No caminho, um navio inglês foi interligando as cidades de Santos, Desterro (SC), Rio Grande (RS) e Montevidéu.
Tudo ocorreu em 1875, com diferença de algumas semanas entre uma cidade e outra, até chegar na capital argentina.
“Na medida em que o cabo ia sendo instalado, o telégrafo já ficava disponível imediatamente, possibilitando o envio de telegramas para o exterior”, explica o engenheiro Carlos Eduardo Porto, que chefiou a Embratel em Santa Catarina no início da década de 1970.
Nascido em Florianópolis há 84 anos, ele também foi diretor da Telesc por 13 anos, até 1983.
O cabo submarino para o Sul do país foi uma extensão de outro que unia o Brasil à Europa desde 1874 e que foi inaugurado por Dom Pedro II.
O serviço de telégrafo no Brasil foi concedido à Western Telegraph Company por um prazo de cem anos.
Na capital catarinense, a empresa inglesa se instalou em 1874, na Praça XV, e em 1923 mudou-se para um prédio na esquina das ruas João Pinto com Nunes Machado, onde ficou até 1974, quando encerrou as atividades.
O prédio centenário permanece muito bem conservado e é utilizado até hoje como comércio.
Contrato por um século
A concessão do serviço de telégrafo para a Companhia Western no Brasil foi autorizada pelo imperador Dom Pedro II, por um período de cem anos.
Assim, até 1974, a companhia era responsável pela operação e manutenção dos cabos submarinos, que transmitiam e recebiam telegramas de diversos pontos do país e do exterior.
Em Florianópolis, os telegramas eram transmitidos por Código Morse através de cabos subterrâneos e submarinos até uma subestação na Praia do Campeche, passando pela Costeira do Pirajubaé.
Dali, as mensagens seguiam para Santos ou Rio Grande, desde onde continuavam para a América do Norte, Europa e África.
“Em Florianópolis, era comum as pessoas ficarem esperando na frente do “Cabo Submarino” – como era chamada a agência de telégrafos na Ilha – por respostas para os telegramas que haviam acabado de mandar”, nos diz o jornalista Rogério Mosimann, na dissertação de mestrado ‘Implicações da internet nos jornais e a presença da RBS na web’ pela UFSC, em 2007.
Durante mais de 70 anos, até a década de 1950, o telégrafo era o meio de comunicação mais usado pela população.
Primórdios no Brasil e SC
Em 1852 foi feita a primeira ligação telegráfica no país, entre a Quinta Imperial e o Quartel do Campo, no Rio de Janeiro.
Segundo Mosimann, a primeira linha a sair do Rio de Janeiro foi motivada pela Guerra do Paraguai (1865/1870), a fim de conectar a capital do império com Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre.
Em Santa Catarina a conexão com a rede telegráfica começou em janeiro de 1867, através da ligação de Desterro com Laguna.
Mensagem de Dom Pedro
No Brasil, o cabo de telégrafo submarino chegou ao Rio de Janeiro no final de 1873.
O imperador e sua comitiva aguardavam na Praia de Copacabana desde onde foram transmitidos os primeiros sinais para a Bahia.
A primeira transmissão para a Europa foi feita em junho de 1874, com uma mensagem de Dom Pedro II para a Rainha Vitória e ao rei Dom Luís, de Portugal.
Conserto
“Quando sofriam avarias, os cabos submarinos eram recuperados por navios especiais e tecnicamente montados com dispositivo no casco que permitia captar sinais de telegrafia”, descreve o pesquisador Alexandre da Rocha, em ‘A era do Cabo Submarino‘.
Ao detectar o local da ruptura, os navios suspendiam o cabo com guinchos e reativavam a linha.
Funcionários
Segundo Rocha, até 1959, todas as chefias eram inglesas.
O catarinense Ernani Carioni, nos anos 1960, foi o primeiro profissional a exercer a função de engenheiro da agência em Florianópolis sem ser inglês.
Relógio centenário
Um dos mais importantes símbolos da Western Telegraph era o relógio que ficava na janela da sede.
A população florianopolitana costumava acertar as horas baseada no aparelho fabricado em 1911 pela Gillett & Johnston, da Inglaterra.
Ele era muito confiável porque marcava as horas conforme o ‘Meridiano de Greenwich’.
Quando a firma saiu da Capital em 1975, substituída pela Embratel, todos os seus bens foram vendidos ou doados.
Sobrou apenas o velho relógio que foi reinstalado na entrada Norte do vão central do Mercado Público e que funciona até hoje.
Reportagem relacionada:
Relógio inglês do Mercado Público completa 110 anos: para funcionar é preciso dar corda uma vez por semana
(Esta reportagem foi feita baseada no artigo ‘A telegrafia elétrica no Brasil Império’, de Mauro Costa da Silva; ‘Implicações da internet nos jornais e a presença da RBS na web’, de Rogério Mosimann; ‘A era do Cabo Submarino’, de Alexandre da Rocha; A história do telégrafo em Florianópolis, de Walter Pacheco Jr. A imagem de abertura é um mapa de 1860, do acervo do Arquivo Nacional)
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