Em Florianópolis – Primeira rua calçada de Santa Catarina completa 175 anos

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Na manhã de 21 de outubro de 1845, uma multidão se congregou na beira do mar da atual Santo Antônio de Lisboa para receber o imperador Dom Pedro II, a imperatriz Teresa Cristina e toda a comitiva.
Os soberanos chegaram no navio Vapor Imperatriz e desembarcaram às 11h30min “entre Vivas enthusiastas da população”, como foi descrito no Jornal O Relator Catharinense, criado especialmente para noticiar a visita de Dom Pedro à Grande Florianópolis.

Caminhando em direção à igreja matriz, passaram por uma pequena via de 50 metros, coberta com pedras rústicas, mas alinhadas, construída especialmente para receber os soberanos.
Nesse momento, estava inaugurada a primeira rua calçada do Estado.

Local recebe uma feira de artesanato nos finais de semana (Google Street)

Enquanto se encaminhavam para o templo para assistir ao Te Deum (musicalização de salmos), a cortejo era saudado pelo “povo de todas as condições, tomado da mais viva alegria por ver entre elle os seus Soberanos”, contou O Relator.
O casal imperial ficou poucas horas no distrito “comquanto o tempo ameaçasse chuva, e o vento fosse desabrido”.
Por isso, saíram rapidamente em direção a São Miguel, em Biguaçu, para depois retornar ao Centro de Desterro.
Dom Pedro II ficou quase um mês conhecendo a atual Grande Florianópolis e visitou Desterro, São José, Santo Amaro da Imperatriz e Águas Mornas.

Casal imperial na época da visita a Desterro (Ilustração de 1843, de autor desconhecido)

Por que em Santo Antônio?
A construção da rua calçada era uma forma de demonstrar status.
Na época, a “Freguesia de Nossa Senhora das Necessidades da Praia Comprida” tinha grande importância política, econômica e estratégica e exercia influência em boa parte da porção Norte da Ilha.
A região se destacava por um comércio intenso, junto com a produção agrícola.

Casarão do Imperador, ao lado da via calçada (Google Street)

Segundo a pesquisadora Giselli Ventura de Jesus, toda essa influência e status que tinha a freguesia refletiam a vontade que a localidade tinha de se tornar mais importante que o distrito principal (o Centro de Desterro).
Ela é autora da dissertação de mestrado “Dinâmica socioespacial do Distrito de Santo Antônio de Lisboa: passado e presente”, do Curso de Geografia da UFSC.
“O ar de modernidade dado pela primeira rua calçada, como a construção do casarão do Imperador (um dos melhores prédios da época), reflete a preocupação que a freguesia tinha para se tornar o polo central de economia da Ilha”, escreveu.

Placas na praça, ao lado da via, contam a história da freguesia

“O fato de a freguesia exercer forte influência por apresentar um número considerado de pequenos produtores e comerciantes, os quais tinham seus armazéns com os mais diversificados produtos, tornou a área estratégica, pois servia para o abastecimento de navios e de escoamento dos produtos de outras localidades para a região, ou mesmo para o Centro, além da vantagem de ter um porto na Ponta do Sambaqui.”

(A imagem de abertura mostra a Freguesia de Santo Antonio em pintura atribuída ao francês Jean-Baptiste Debret, 1768-1848)

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