Cinco vereadores mudam o voto e Câmara de Florianópolis rejeita concessão de cidadão honorário a Gilberto Gil

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Em julho de 1976, o cantor Gilberto Gil veio a Florianópolis, para uma apresentação dos “Doces Bárbaros”, banda composta também por Caetano Veloso, Maria Bethania e Gal Costa.

Mas eles não ‘contavam com a astúcia’ do então delegado Elói Gonçalves que invadiu os quartos do Hotel Ivorã, no Centro, buscando drogas.
Além de Valium com Caetano e ‘pó de pemba’ com as cantoras, encontrou um cigarro de maconha com Gil.

Os ‘Doces Bárbaros’, em imagem da Revista Manchete

Foi o suficiente para prender o cantor, que passou alguns dias no Instituto de Psiquiatria de São José e, ainda, internado no Hospital São Sebastião, na região central da Capital.

Imagem do Youtube

Após um julgamento mediático no Fórum da Capital, ele foi solto, depois de concordar em participar de um tratamento de desintoxicação, no Rio de Janeiro.

As votações
Na semana passada, 44 anos depois, a Câmara de Vereadores de Florianópolis aprovou, em primeira votação, projeto para conceder o título de cidadão honorário ao cantor.
Seria um gesto de reparação, um pedido de desculpas tardio, mas ainda oportuno e necessário, segundo Afrânio Boppré, que propôs a honraria, aprovada pelos vereadores, na terça-feira, 1º, com 13 votos a favor, três contra e três abstenções.

Porém, após uma semana de polêmica, nesta segunda-feira, 7, o projeto não alcançou, na segunda votação, a maioria absoluta de 12 votos: nove vereadores foram a favor; oito, contra, e houve duas abstenções.

Cinco vereadores que tinham votado a favor na semana passada, não repetiram o voto nesta segunda-feira: Dalmo Menezes (DEM) e Gabrielzinho (Podemos), agora, votaram contra a homenagem.
Já Gui Pereira (PSC), Pedrão (PL) e Marquito (Psol) estiveram ausentes.
O vereador Edinho Lemos (PSDB) votou a favor, mas na semana passada esteve ausente.
(Confira todos os votos no final desta matéria)

Jornal O Dia, do Rio de Janeiro, anunciou a prisão também de Caetano Veloso, o que não aconteceu.

Como foi a prisão
A seguir, selecionamos trechos de uma reportagem da Revista Manchete, do acervo do jornalista Carlos Damião.
O texto foi digitado pelo próprio Damião e publicado originalmente no site Caros Ouvintes.

  • O delegado Elói Gonçalves de Azevedo reuniu a equipe e rumou para o Hotel Ivoram, onde não só os Doces Bárbaros estavam hospedados, como os seus técnicos, músicos, empresários e acompanhantes. (…) O primeiro apartamento vistoriado foi o 306, de Gilberto Gil.
  • “Nós batemos à porta. Quando o cantor respondeu, falamos que era da gerência”, conta o delegado Elói. “Gil veio atender, perguntou qual era o assunto. Me identifiquei e revelei as razões que me levavam a fazer uma revista no apartamento. Sem se perturbar, o cantor abriu a porta, mandando que entrássemos. Procedemos ao exame dos armários e roupas. Quando encontramos na carteira o cigarro de maconha, perguntamos se ele era o dono da carteira e do cigarro. Sem perder a calma, Gil respondeu afirmativamente. Disse ainda que sabia ser ilegal o porte e a venda, mas a maconha era para o seu uso. Dei-lhe voz de prisão”, contou o delegado.
  • “Fomos revistar outros quartos. O seguinte foi o de Gal Costa. Ela não estava. A moça que ali encontramos disse que ela havia dormido no apartamento de Maria Betânia. Seguimos para o quarto de Caetano Veloso. Percebendo que éramos da polícia, Caetano começou a gritar por socorro. Quando se acalmou, pediu desculpas, dizendo que ainda estava sonhando. Examinamos o seu quarto e encontramos um vidro de Valium. Ele disse que o mesmo tinha sido comprado com uma receita médica, o que mais tarde foi comprovado.”

    Antigo Hotel Ivoram, na Avenida Hercílio Luz, atualmente Hotel 2S (Billy Culleton)

  • No apartamento 406 encontraram Maria Betânia e Gal, que também estavam dormindo e receberam os policiais vestindo trajes bastante sumários. Maria Betânia ficou tranquila, enquanto Gal reclamava da maneira como haviam invadido o apartamento.
  • Ali encontraram Pó de Pemba e outros materiais usados por Betânia no culto da sua religião. Na dúvida, recolheram tudo para exame de laboratório. No apartamento 308 encontraram não só alguns cigarros (baseados), como uma boa quantidade de maconha prensada, que “daria para mais uns 30 ou mais cigarros bem feitos”.
    Os suspeitos e flagrados foram colocados no apartamento de Caetano Veloso. No final, só Gilberto Gil, Chiquinho e Djalma foram conduzidos até a delegacia para serem autuados.
  • “Se fizermos uma pesquisa, vamos chegar à conclusão de que 80 por cento dos habitantes da cidade não receberam muito bem a prisão do cantor. Outros 20 por cento não tomaram conhecimento ou não vão querer dar sua opinião”, disse o prefeito de Florianópolis, Esperidião Amin.

    Gil no dia do julgamento no Fórum da Capital (Imagem do Youtube)

  • Perante o juiz, Gil declarou que havia começado a fumar maconha há oito anos, numa fase de ansiedade aguda. Disse desconhecer que o ato de fumar maconha representava um crime, embora sabendo que o tráfico e o porte eram passíveis de punição. Justificou também o vício como “uma maneira de melhor atingir uma introspecção mística necessária para se concentrar.

O juiz Ernani Palma Ribeiro determinou o internamento no Instituto de Psiquiatria de São José

  • “Não tenho imunidades para portar e fumar maconha, pelo simples fato de ser cantor conhecido e representar alguma coisa em termos culturais para o Brasil. Estou naquela de dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Sou responsável por tudo o que está me acontecendo e terei contas a prestar unicamente a meu filho. Não tenho problemas de culpa. Eu uso a maconha e sabia que portá-la era um crime. Desconhecia que fumar também era um crime, disse Gil.”

Após passar mais alguns dias no Hospital São Sebastião, no Centro de Florianópolis, Gil foi solto. Antes, teve que concordar em participar de um tratamento de desintoxicação, no Rio de Janeiro.

Veja os vídeos do caso:

  • O julgamento
  • Entrevista com o delegado Elói Gonçalves:

Confira como foi a votação nesta segunda-feira, 7:
Votaram a favor
: Afrânio Boppré, Dinho, Edinho Lemos, Fabio Braga, Miltinho Barcelos, Lino Peres, Renato da Farmácia, Roberto Katumi e Lela.
Votaram contra: Claudinei, Dalmo, Erádio Gonçalves, Fabricio Correia, Gabrielzinho, João Luiz, Maikon Costa e Rafael Daux.
Abstenção: Marcelo da Intendência e Maria da Graça.
Ausentes: Celso Sandrini, Gui Pereira, Pedrão e Marquito

(A imagem de abertura é do site www.gilbertogil.com.br)

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