Vídeo – A implosão, em 1990, do icônico Hotel La Porta, no Centro, que hospedou o comunista Luís Carlos Prestes

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Por Billy Culleton
Na ensolarada manhã do domingo 5 de agosto de 1990, exatamente às 9h09min e diante de milhares de florianopolitanos, Amaury Norberto Silva acionou o botão que fez desaparecer uma parte da história da cidade.
O prédio construído em 1932, uma referência da arquitetura na Capital, abrigou o charmoso Hotel La Porta durante três décadas.
O mesmo Amaury que detonou os explosivos para implodir a edificação, passou parte de sua infância brincando no hotel.
É que a sua avó, Lídia Souza Silva, foi gerente do estabelecimento por 20 anos e o levava para se juntar a Nelson, filho do proprietário Miguel La Porta.
“Aquela cena da implosão foi muito triste, porque além de ser um símbolo da cidade, eu tinha uma profunda relação sentimental com o local”, afirma o coronel aposentado da Polícia Militar, hoje com 87 anos, e que na época era o diretor de Defesa Civil do município.

Amaury Silva apertou o botão do detonador (Imagem: arquivo pessoal)

Primeiro elevador da cidade
Com três andares, além do térreo, o La Porta era o melhor hotel da cidade e contava com um famoso piano-bar.
Estava localizado na frente da Praça Fernando Machado, na esquina da Rua Conselheiro Mafra, onde atualmente existe uma agência da Caixa Econômica Federal.
O prédio foi o primeiro a ter elevadores na Capital.

Década de 1950 (Acervo: UFSC)

Comunista ‘na área’
O charmoso estabelecimento era frequentado por artistas, músicos e viajantes endinheirados.
Mas a presença do mais emblemático comunista da história do país era, até hoje, desconhecida da grande maioria dos florianopolitanos.
“Luís Carlos Prestes se hospedava no hotel clandestinamente para se reunir com os membros do Partido Comunista do Estado. Ele ficava, no máximo, um dia”, conta Amaury, sobre as reuniões que aconteciam secretamente num dos quartos do estabelecimento, na década de 1950.

Luís Carlos Prestes, frequentador secreto (Acervo PCB)

Decadência
Na década de 1960, o prédio foi comprado pela Caixa Econômica Federal, que instalou uma agência.
O banco construiu mais dois andares, em cima dos três originais, e descaracterizou completamente toda a fachada.
Após três décadas, com infiltrações e problemas estruturais insolúveis, a Caixa decidiu implodir o prédio.
Uma nova agência só foi inaugurada em 2013.

Primeira implosão na Capital
Como diretor da Defesa Civil, o coronel Amaury Norberto Silva, que é pai de Beto Barreiros (Box 32), acompanhou todo o processo anterior à implosão, executada por uma empresa de Curitiba.
No dia marcado, uma multidão chegou no Centro para ver a primeira implosão da história da cidade.
De manhã cedo, dinamite foi colocada em cada um dos pilares do prédio.
Para a detonação, um único cabo foi estendido por cerca de 100 metros, até o outro lado da Praça Fernando Machado, próximo ao atual Terminal Cidade de Florianópolis.
Desde ali, Amaury pressionou o botão para implodir o prédio.
“Quando contar três, aperta!”, foi a ordem recebida do engenheiro da empresa.
“O prefeito Antônio Bulcão Vianna queria apertar o dispositivo. Mas, o engenheiro responsável disse que deveria ser eu, por ser o diretor da Defesa Civil. E, também, por ter acompanhado todo o processo”.

5 de agosto de 1990, 9h09min (Imagem de Julio Cavalheiro)

Em dois segundos, tudo veio abaixo, conforme o planejamento.
“O único problema foi que a caixa d’água do prédio não foi bem amarrada e acabou atingindo a lateral de uma loja vizinha, na Conselheiro Mafra. Mas a Caixa pagou o estrago, depois”, lembra Amaury, que mora na Capital.

Implosão foi 124 anos depois da explosão
No mesmo lugar, estava localizada a edificação da primeira alfândega de Florianópolis, que explodiu misteriosamente em 1866, conforme divulgou o Floripa Centro, na semana passada.

Pintura de Aldo Beck

Anos depois, a mesma área foi ocupada pela firma André Wendhausen Importação e Exportação até que o carioca Miguel La Porta comprou o terreno para construir o icônico hotel no Centro da Capital, que teve um final melancólico.

Firma Wendhausen ocupou o terreno do Hotel La Porta (autor desconhecido)

Hotel similar em Porto Alegre
Já o outro hotel construído pela família La Porta, em Porto Alegre, na mesma época e com o mesmo nome, ainda continua ‘em pé’.
O prédio fica no Centro da cidade, na esquina da Rua dos Andradas e Rua Uruguai, e atualmente é a sede da Faculdade do Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Fadergs).

Hotel La Porta no Centro de Porto Alegre (Imagem de Jorge Silva)

Confira o vídeo da implosão, resumido, dois minutos:

Confira o vídeo da implosão, completo, oito minutos:

Veja outras imagens do Hotel La Porta:

Cartão postal da década de 1960 (autor desconhecido)

Anúncio no Jornal O Estado, década de 1940

Acervo IBGE

Imagem de autor desconhecido

Jornalista Manoel de Menezes (pai do Cacau) dirigindo seu Buick vermelho, com Garrincha sentado ao seu lado. Também aparece a placa da Varig, que tinha um agência no prédio do hotel.

Imagem do site Cerrado Ilha

Imagem do acervo do Velho Bruxo

(A foto de abertura é do acervo do Velho Bruxo. O vídeo é de autoria desconhecida)

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