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População negra no Centro – Estratégia higienista do século passado expulsa lavadeiras para os morros

Há 100 anos, uma parte da região central da cidade era habitada por famílias pobres, majoritariamente, de ascendência africana.

Elas ocupavam o Bairro da Figueira, no entorno do Cais Rita Maria, uma área retangular que se estendia paralela à orla do mar: desde o Mercado Público até quase a cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz, tendo como limite a Rua Felipe Schmidt.

A maioria dos homens exercia atividades relacionadas ao porto, enquanto as mulheres se dedicavam aos afazeres domésticos e se sustentavam lavando roupas nos córregos que cortavam o Centro, entre eles, o que nascia no Largo do Fagundes, ao lado das Lojas Americanas.

Bairro da Figueira, próximo à atual Rodoviária (Imagem de autoria desconhecida)

A partir da década de 1920, iniciou-se um projeto de modernização e urbanização da cidade que criou estratégias para ‘limpar’ e tornar o Centro mais ‘civilizado’, transformando-o num espaço para a administração pública, comércio formal e prestação de serviços.

Morro das Mulheres Negras
Uma parte dessas lavadeiras desalojadas da região central se estabeleceu no Morro Monte Serrat (acima da Avenida Mauro Ramos, na altura do IFSC), onde podiam continuar com a atividade, já que o local possuía vários córregos e fontes de água.

A afirmação é da antropóloga Cauane Maia que pesquisou profundamente a comunidade, no Maciço do Morro da Cruz, e transformou a sua dissertação de mestrado na UFSC no livro “Vozes negras em Florianópolis”.

A partir das vivências e experiências dos moradores, ela mostra o protagonismo da população negra, sobretudo das mulheres.
“Lá, identifiquei mulheres atuantes, lideranças femininas. É o Morro das Mulheres Negras e essa é a grande novidade do meu trabalho”.

Caminho que começava no Monte Serrat e cruzava o Morro da Cruz até a Trindade (Acervo: Instituto Histórico e Geográfico de SC)

Seja em seus ofícios de lavadeira ou trabalhadoras domésticas para a elite, seja nos mutirões de construção da comunidade, as mulheres criaram formas de subsistência para suas famílias e são as maiores responsáveis pela viabilidade dos estudos de grande parte da comunidade.

Reportagem relacionada: Morro do Centro com caixa d’água desde 1910 só teve água encanada 70 anos depois

Mulher à frente da escola de samba
Atualmente, a comunidade do Monte Serrat é uma referência na luta antirracista e na organização comunitária.

Cauane Maia na frente da antiga caixa d’água do Monte Serrat (Divulgação)

Segundo a pesquisadora, as vozes da comunidade são, em grande medida, as vozes das mulheres negras.

“As mulheres estão no contexto de construção da comunidade, mas também no contexto de construção da capital catarinense. Elas aparecem durante todo o processo de formação da comunidade em papéis cruciais”, conta Cauane, que morou um semestre no bairro para se aproximar ainda mais dos moradores.
O livro recupera histórias de antigas moradoras, como Dona Uda, que assumiu a presidência da Embaixada Copa Lord em 1984, após a morte do marido, gestor da escola de samba.

A trajetória de Dona Uda é uma das que se misturam à formação da própria comunidade, por conta de sua atuação não só na Copa Lord, mas também na escola, na associação de mulheres, no conselho comunitário e na igreja local.

Lançamento do livro
O lançamento oficial do livro será em 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura.

Entre as ações criadas por Cauane para marcar este momento está o lançamento de um vídeo, gravado na própria comunidade.


No dia 5 de maio, também haverá uma live em parceria com o Portal Catarinas.
Cauane baterá um papo com a jornalista Paula Guimarães a partir das 19h, no Instagram (@cauanemaia)

O livro fa Editora Appris já está disponível em versão impressa e e-book.
A capa tem ilustração assinada pelo artista de Florianópolis Bruno Barbi.

(A foto de abertura é apenas ilustrativa e foi retirada do grupo do Facebook “Fotos antigas e atuais de Governador Valadares MG – Década de 40”)

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Imagens antigas e atuais – O ritual da pesca da tainha na década de 1950, na visão de Franklin Cascaes

No Inverno de 1956, o mais famoso folclorista de Florianópolis, Franklin Cascaes, descreveu detalhadamente como era feita a pesca da tainha na Praia de Pântano do Sul.

São magistrais pormenores de uma tradição que continua igual até a atualidade e que foram narrados há 65 anos por quem dedicou a vida para registrar os costumes dos moradores da Capital.

Entre as mil e uma maravilhas que Deus criou nesta Ilha de Santa Catarina, a tradicional pesca da tainha ocupa, sem nenhum favor, o seu lugar de destaque”, diz Cascaes na crônica “A pesca da tainha no Pântano do Sul”, publicada em 13 de junho de 1956, no Jornal A Gazeta, da Capital.

Confira os principais trechos do texto de Cascaes (para ilustrar o relato foram escolhidas imagens contemporâneas do fotógrafo Sérgio Giron, feitas em 2020, na Praia do Campeche):
“Quando se aproxima o tempo da pesca da tainha, as redes são colocadas dentro das canoas com seus respectivos equipamentos e toda a “camaradagem” fica alerta, inclusive os moradores do lugar”.

“Em cada extremidade das redes são amarrados cabos de fibra com mais ou menos 200 metros de comprimento cada um, os quais servem para puxar as redes para a praia, depois de feito o cerco ao peixe.”

“A tripulação da canoa é composta de sete camaradas, que são: o patrão, o chumbeleiro, o corticeiro e quatro remeiros.”

“Além dos 20 homens que trabalham com as redes há os “camaradas vigias”. Estes são escolhidos e considerados entre a tripulação como verdadeiros técnicos na arte de enxergar o peixe nadando em direção dos lanços, isto é, lugares onde podem ser cercados com as redes.”

“O número de vigias em Pântano do Sul é de uns 20 homens, que se distribuem em volta da praia sobre cômoros e penhascos, permanecendo aí dias inteiros, vigiando com muita atenção o aparecimento dos peixes no lanço. Esses homens têm grande responsabilidade no êxito ou fracasso da pesca.”

“Quando um deles avista o peixe vindo em direção aos lanços, entra imediatamente “em conselho” com outros vigias para ver se convém ou não dar sinal à tripulação que está na praia aguardando ansiosamente a ordem de cercar.”

“Quando o cerco é feito por mais de uma rede, acontece o seguinte: a primeira fica mais próxima da praia; a segunda contorna a primeira; a terceira contorna a segunda; e assim sucessivamente, formando uma espécie de semicircunferência concêntrica.”

“A tainha sentindo-se cercada vai pulando por cima da rede, passando de um cerco para outro. Por essa razão é que a última rede consegue prender maior quantidade de peixe.”

“Terminando o cerco, encalham a canoa na praia e sua tripulação corre para auxiliar os camaradas encarregados de puxar a rede.”

“À medida que a rede vai se aproximando da praia, eles a vão contornando com os pés sobre a tralha inferior e com as mãos suspendendo a tralha superior acima da superfície do mar para evitar que grande quantidade do peixe cercado consiga passar por baixo ou saltar para cima da rede.”

“Ao chegarem com a rede na praia, jogam todo o peixe que conseguiram pescar, num monte, recolhem a rede na canoa e voltam para ajudar os camaradas da outra rede que está em segundo lugar e assim vão fazendo até terminar de recolher a última rede que está no cerco.”

“O peixe é dividido em duas partes, em quantidade e tamanho iguais. Uma parte pertence aos seis donos das redes que formam a sociedade. A outra pertence aos 120 camaradas e é dividida entre os mesmos em quantidade e tamanho iguais. Além do quinhão de camaradas, cada remeiro tem direito a uma tainha por mil e o vigia tem direito a 28 por mil, que corresponde ao quinhão de sete camaradas.”

Confira AQUI a íntegra da crônica de Franklin Cascaes.

Franklin Cascaes no Pântano do Sul rodeado de tainhas escaladas (Reprodução do acervo do Velho Bruxo)

(Muitas das informações desta reportagem foram encontradas na página do Facebook “Fotos Antigas Da Grande Florianópolis”, do Velho Bruxo.  A foto de abertura é do livro “Crônicas de Cascaes” (Editora UFSC) também extraído de “Fotos antigas…”. Obrigado, Velho Bruxo!)

 

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“Primeira Missa no Brasil” – Na sua famosa tela, Victor Meirelles reproduziu o Morro da Cruz, em Florianópolis


Por Billy Culleton

Neste 26 de abril se completam 521 anos da primeira celebração religiosa cristã realizada no Brasil.
A cena foi eternizada por um dos mais famosos filhos de Desterro, Victor Meirelles, na obra “Primeira Missa no Brasil”.

Elaborada em Paris, entre 1858 e 1860, a tela buscou reproduzir o acontecido, na Bahia, apenas quatro dias depois da ‘descoberta’ do nosso território por Pedro Álvares Cabral.

Meirelles se baseou no relato de Pero Vaz de Caminha, em carta encaminhada ao rei português Dom Manuel I.
Nela, o escrivão conta, detalhadamente, todos os pormenores do ato litúrgico, mostrados fielmente pelo pintor desterrense: portugueses venerando a cruz e os nativos acompanhando a celebração, numa mistura de surpresa e admiração.

O que chama a atenção é que o local da missa, Coroa Vermelha (a 17 quilômetros de Porto Seguro) é uma praia sem nenhuma montanha por perto.

Local exato da primeira missa em Coroa Vermelha (Google Street)

Na tela de Meirelles, no entanto, aparecem montes ao fundo.

E é aqui que entra a teoria que enche de orgulho os manezinhos: renomados especialistas de arte afirmam que as elevações são similares ao Morro do Antão, no Centro da Capital, atualmente mais conhecido como Morro da Cruz.

O respeitado diretor do Museu Nacional de Belas Artes, Alcides Mafra de Souza, sustentou essa hipótese ao falar da obra de Victor Meirelles, na década de 1980, enquanto estava à frente da entidade (1981-1990).
“Ao abordar o famoso quadro Primeira Missa no Brasil, ele mostrou, no slide, que um dos morros que aparecem ao fundo tem a mesma conformação morfológica do nosso Morro do Antão”, escreveu a professora da Udesc Sandra Makowiecky, no artigo “O tempo de Victor Meirelles e a cidade de Florianópolis”.
Grande estudioso da obra do pintor, Souza fala da profunda ligação de Meirelles com a cidade de Desterro, demonstrada em muitas de suas telas.
“Por imposição da carreira e da vida artística, muito teve que viver longe dela. No entanto, sempre a amou e, embora diretamente, muito pouco a houvesse registrado em sua obra, indiretamente mostrou-a na maioria de suas grandes composições”, escreveu o diretor do museu, no prefácio do livro ‘Victor Meirelles de Lima (1832-1903)’, de Angelo de Proença Rosa.

O entendimento de Souza sobre a ligação do pintor com a cidade, citado no artigo da professora da Udesc, continua:“Trouxe-a, sempre viva em sua memória – lembrança que aflora em quase toda a sua obra – recriada em cenários outros e que só mesmo os nascidos na ilha e familiarizados com seus belos aspectos percebem. São cantos de boniteza nunca vistos em outros lugares: nesgas de praia lambidas pelo mar ou pedaços de céu, onde esvoaçam passarinhos”.

Os morros aparecem em três dimensões diferentes (Acervo Museu Nacional de Belas Artes)

Parafraseando o célebre historiador de arte Ernst Gombrich, a professora Sandra Makowiecky conclui: “O artista não pinta o que vê, mas o que sabe”.

Diretora do Museu Nacional reafirma ligação com Desterro
Para a diretora do Museu Nacional de Belas Artes, Mônica Xexéo, a paisagem da antiga Nossa Senhora do Desterro sempre esteve presente na memória de Victor Meirelles.

Os especialistas não deixam claro qual ‘perfil’ do Morro teria servido como inspiração

“A representação da paisagem sempre permeou seu imaginário, desde suas obras iniciais até a sua derradeira produção. Passando pela elaboração de sua emblemática obra “Primeira Missa no Brasil”, ícone da pintura brasileira, finalizando na realização dos três excepcionais Panoramas”, afirma ela, no artigo “Paisagem Catarinense – Imaginário Urbano”.

E assim, depois de 160 anos, descobrimos que uma parte de Florianópolis sempre esteve representada na mais famosa pintura brasileira da história graças à sutileza de Meirelles.

Parte do Morro do Antão no início do século 20, com a Av. Hercílio Luz em primeiro plano (Acervo IHGSC)

Meirelles e Desterro
Apresentamos, a seguir, um breve resumo da relação de Meirelles com sua cidade natal.
As informações são do Trabalho de Conclusão de Curso em História, da UFSC, escrito por Tayna Dalsasso, denominado “Paisagens Urbanas: um Olhar para Desterro através de Victor Meirelles”.

– Victor Meirelles Lima nasceu em Nossa Senhora do Desterro em 1832 e viveu em sua cidade natal até os 14 anos, idade na qual ingressou na Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

Casa natal de Meirelles, no Centro, onde existe o Museu (Acervo Casa da Memória)

– Retornou poucas vezes a sua cidade, em algumas viagens de férias e visita aos familiares. Sabe-se que durante sua formação na academia ele esteve em Desterro nas férias escolares de 1849, 1850 e 1851.

– Costumava chegar na segunda semana de dezembro e voltava ao Rio de Janeiro nos primeiros dias de março do ano seguinte.

– Devido à datação e às técnicas aplicadas em suas obras, presume-se que tenha sido nessas viagens que o artista produziu a maior parte das ‘Vistas de Desterro’.

– Voltou também em janeiro de 1853 para se despedir da família antes da longa viagem de estudos na Itália e na França, onde pintou a Primeira Missa.

– Em 1861, foi o primeiro brasileiro a expor no Salão Oficial em Paris, onde apresentou a pintura “Primeira Missa no Brasil”, óleo sobre tela, que mede 270 x 357 cm e está exposto no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro.

– A sua última visita a Desterro, após seu retorno da Europa, foi noticiado pelo jornal O Argos, em 12 de outubro de 1862, de acordo com o historiador catarinense Osvaldo Rodrigues Cabral:
O nosso talentoso e estimável patrício, o Sr. Victor Meirelles de Lima passou alguns dias em uma chácara, além do Estreito, e nesses sítios aprazíveis, onde a Natureza se ostenta risonha e majestosa, o ilustre Fídias catarinense pintou diversos quadros, cada qual mais belo e interessante, que seus amigos têm tido o prazer de apreciar”.

– Após servir ao Império e ser professor de desenho da Princesa Isabel, foi abandonado e discriminado pelos Republicanos e morreu pobre no Rio de Janeiro, em 1903.

(Esta reportagem foi feita a partir da pesquisa nas seguintes obras e artigos acadêmicos: “O tempo de Victor Meirelles e a cidade de Florianópolis”, “Paisagem Catarinense – Imaginário Urbano” e “Paisagens Urbanas: um Olhar para Desterro através de Victor Meirelles).

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Demolido em 1899 – Há 170 anos foi inaugurado o primeiro Mercado Público de Florianópolis, frente à Praça XV

Por Billy Culleton
Em 6 de janeiro de 1851, a Capital ganhou uma suntuosa edificação para os padrões da época.

A construção do Mercado Público, na atual Praça Fernando Machado, representou o fim de uma situação deplorável, em termos de higiene e saúde pública, existente no Centro da cidade fazia várias décadas.

Até então, os alimentos eram comercializados em feiras livres, principalmente, no entorno do Largo do Palácio, atual Praça XV.
Além das precárias condições sanitárias, o local congregava outras atividades e personagens indesejados.

“Prostitutas, tendas de bebidas, bêbados e o lixo jogado ao descaso, além das constantes brigas na rua, acontecem em frente ao Palácio do Governo e à Igreja Matriz (Catedral), demonstrando a necessidade de organizar a região central”, explica o historiador Ricardo Moreira de Mesquita, na obra ‘Mercado: do Mané ao Turista’ (2002).

Imagem da década de 1880 mostra o Mercado Velho (Acervo IHGSC)

O local escolhido foi um terreno frente à Praça, à beira mar, junto ao trapiche principal da cidade, alinhado com a Rua do Príncipe, atual Conselheiro Mafra.
O projeto compreendia, além do prédio, um aterro para nivelar a edificação com a Praça e uma rampa para facilitar a subida das canoas e pequenas embarcações que abasteceriam o Mercado.

Quatro entradas
O edifício possuía 34 metros de frente para a Praça e 21 metros na lateral.
Eram 714 metros quadrados de área construída.

População aglomerada na lateral do Mercado, na época à beira mar (Acervo IHGSC)

Quatro grandes portas, uma em cada face, facilitavam o acesso.
Havia 24 janelas em semicírculo com 55 centímetros de raio e grades no interior, que iluminavam a área interna.

Distribuição interna
Por dentro, a construção se dividia em casinhas, bancas para venda de carne e peixe, além dos lugares reservados para quitandeiras, nos vãos entre as 20 colunas de ferro que sustentavam o telhado.

O pátio central tinha um poço de água, dotado de bomba, que abastecia os comerciantes e matava a sede dos fregueses.

Fundos da edificação mostra a chegada dos produtos em pequenos barcos (Acervo IHGSC)

Iluminação diferenciada
No dia da inauguração, o presidente da Província, João José Coutinho, surpreendeu os presentes e anunciou que, para abrilhantar o prédio, tinha mandado instalar lampiões nas paredes externas, e que deveriam ser mantidos acesos durante a noite.

Ao contrário da iluminação pública, que tinha os lampiões apagados por volta das 22 horas.

Pintura de Aldo Beck mostra Mercado, em imagem sobre a explosão da antiga Alfândega em 1866 (Acervo Casa da Memória)

Reportagem relacionada:
Prédio da Alfândega desapareceu – A terrível explosão, ao lado do cais, que estremeceu o Centro de Desterro em 1866

Lei seca
O regulamento proibia a venda ou conservação, no interior do Mercado Público, de “bebidas espirituosas, qualquer que seja sua composição”.

O objetivo era evitar a presença de pessoas que pudessem tumultuar o já alvoroçado ambiente.
Mesmo assim, com o passar dos anos, o espaço foi se transformando.

Litografia atribuída a Joseph Brüggemann, em 1867, mostra a movimentação em torno do Mercado. À direita, o trapiche principal da cidade (Acervo IHGSC)

“O entorno do Mercado acabou se tornando, mesmo a contragosto das autoridades, um local de forte apelo popular, onde os afrodescendentes, lavradores, libertos e escravos lutavam pela sua sobrevivência, trabalhando como quitandeiras, ambulantes e pombeiros. Era ali que faziam suas vidas”, informa o texto do site SantaAfroCatarina, um projeto ligado à Universidade Federal de Santa Catarina.

Novo Mercado
No final do século 19, a estrutura do Mercado Público passou a ser considerada inadequada para o comércio, especialmente das carnes verdes e dos peixes frescos que tinham que ter novos cuidados sanitários.

Local onde viria a ser construído o novo e atual Mercado Público (Acervo Casa da Memória)

Ao mesmo tempo, a ocupação do espaço se transformou em disputa política, em nome do embelezamento e saneamento do Largo da Matriz.

Por esse motivo, houve um movimento para a transferência para um novo local, mais apropriado e com melhores condições de higiene.
O lugar escolhido ficava ao lado da Casa da Alfândega, onde em fevereiro de 1899 foi inaugurado o atual Mercado Público Municipal.

Meses depois, o Mercado Velho, como era chamado, foi demolido e em seu lugar ergueu-se a estátua do coronel Fernando Machado, oficial morto durante a Guerra do Paraguai, que ainda hoje pode ser vista ali.

Praça Fernando Machado na atualidade (Imagem do Google Street)

(Esta reportagem foi produzida a partir de pesquisas nas seguinte obras e sites: ‘Mercado: do Mané ao Turista’, “A busca de espaços para o comércio de gêneros alimentícios em Desterro”, SantaAfroCatarina e Onde está desterro?. A foto de abertura é do acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina – IHGSC)

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Confira o vídeo – Em abril de 1994, fogo consumiu 70% do Hospital de Caridade de Florianópolis e deixou nove mortos

Esta semana se completaram 27 anos daquela trágica noite de terça-feira, 5 de abril, em que os moradores do Centro foram surpreendidos por enormes labaredas que estavam destruindo uma das mais antigas construções de Florianópolis.
Os bombeiros agiram rápido para apagar as chamas e retirar uma centena de pacientes que se encontravam internados no Hospital de Caridade.
Mas o saldo do incêndio foi sinistro: dois terços da edificação de 1789 foram destruídos e  houve nove pacientes mortos, dois dos quais nunca foram encontrados.

A noite da tragédia (acervo Corpo de Bombeiros de SC)

Resumo da tragédia
Causa: nunca houve um laudo conclusivo que apontasse a origem do fogo. Uma hipótese é que teria sido por causa de uma vela acessa no quarto de um paciente.

Destruição: além dos nove falecimentos, foram queimados 8,4 mil metros quadrados do prédio, equivalente a 70% das instalações.

Faltou água: ao subir a rampa de acesso ao hospital, o primeiro caminhão dos Bombeiros foi derramando água sobre os paralelepípedos, o que dificultou a subida dos demais caminhões. O fato provocou falta de água no início do incêndio.

Hospital de Caridade na atualidade (Billy Culleton)

O milagre: a Igreja Menino Deus, que faz parte da edificação, não foi atingida. O fogo chegou até o lado ao altar do Nosso Senhor dos Passos, mas apagou sem justificativa.

Reconstrução: o Hospital foi reformado e reerguido em tempo recorde, quatro meses, graças às doações da população.

Trabalho de rescaldo, no dia seguinte (acervo Corpo de Bombeiros de SC)

Documentário busca esclarecimentos
Memórias Marcadas” é o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do então estudante, e atual jornalista, Felipe Filipini.
Produzido em 2014, no Centro Universitário Estácio de Santa Catarina, sob a orientação dos professores Regina Zandomênico e Billy Culleton, o documentário reuniu depoimentos de pacientes, profissionais da saúde e bombeiros.

É uma grande reportagem que resgata os momentos mais tensos do incêndio, revividos por personagens que vivenciaram a tragédia no primeiro hospital de Santa Catarina, que completou 232 anos.

Confira o vídeo:

(A imagem de abertura foi retirada do documentário Memórias Marcadas)

 

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Uma antiga história de amor no Piano Bar do Hotel Royal, no Centro – Um conto de Norma Bruno

Hotel Royal*

Por Norma Bruno
Alfredo amanhecera com uma emoção sombria, talvez pelo acúmulo das três noites mal dormidas.
Por mais que tentasse, não conseguira explicação para a angústia que o acompanhava nos últimos dias, até que abriu o jornal O Estado naquela manhã.
Abandonando um café pela metade, dirigiu-se ao seu quarto de viúvo. Passou o dia deitado, olhando o teto. No fim da tarde tomou um banho demorado e vestiu-se a caráter, porque a situação o exigia. Na saída rasgou a página do jornal e guardou-a, cuidadosamente dobrada, no bolso do paletó.

Ganhou a rua. Mal deu os primeiros passos e avistou-a a de pleno. Ela caminhou em sua direção, mas não o viu, passando ao largo. Tinha no rosto um meio-sorriso, como se pensasse uma saliência. Ele se voltou e ficou a observá-la, até que ela sumiu, dobrando a rua. Teria vinte anos, um pouco mais, talvez. Nunca mais a encontrou, até que, para sua surpresa, ela veio morar na vizinhança.

O encontro diário era inevitável, a casa da moça colada à sua. Bastava ir ao quintal ou fazer alguma volta na rua para vê-la entrando e saindo de casa ou avistá-la em movimento pela sala, a visão favorecida pela janela sem cortina e o muro baixo.
A possibilidade do encontro no portão o transformou em pontualíssimo, uma qualidade insuspeitada por quem o conhecia.

Foto do livro ‘Florianópolis: uma viagem no tempo (2004)’, de Beto Abreu

Com o tempo soube que trabalhava no Hotel Royal e que era noiva de um piloto da Cruzeiro do Sul, que a visitava quando permitia a escala do voo, já que residia no Rio de Janeiro. Desse dia em diante passou a frequentar o Piano Bar do hotel apenas para vê-la.
Na entrada, a menos que ela estivesse ocupada, comentava alguma amenidade ou cumprimentava-a de longe, seguindo para o salão.

Ocupava sempre a mesma mesa, próxima à janela de modo a observá-la discretamente, enquanto ela atendia os hóspedes no balcão. No início do mês dava-se ao luxo de pedir um ‘filé com fritas’; da outra metade em diante um drinque – Hi-fi -, atento ao som do piano, magistralmente tocado por Mirandinha, o pianista-mor da cidade, que abrilhantava o fim de tarde dos hóspedes do Hotel Royal.

Saguão do Hotel Royal (Acervo Mário Regueira)

Iniciava com uma seleção consagrada do blues e do jazz, depois abria espaço para os pedidos que incluía os clássicos americanos – New York, New York; Smoked get in your yes; Only you -, e também muita Bossa Nova, o ritmo que vinha revolucionando a música brasileira.

De quando em quando Alfredo arriscava um pedido, sempre a mesma música, um recado sutil para Carmélia, mais ia embora antes dela para não denunciar o interesse. Cumprimentava-a de longe e ia para casa remoem orando sua imagem, o cigarro apagado entre os dedos e o som seco do Zippo abrino e fechando, marcando seus passos. Sua lembrança o assaltava diversas vezes durante o dia.

Certa noite, ao sair, percebeu a ausência de Carmélia, por isso ficou surpreso quando a encontrou parada, a silhueta iluminada pelo imenso lustre de cristal, no saguão do hotel. Mais surpreso ficou quando ela disse que estava à sua espera e, com uma graça toda feminina, confessou que mentira ao gerente, pedindo para sair mais cedo, alegando dor de cabeça.

Postal da década de 1960, publicada por Carlos Damião, no ND, em 2015

Ele insistiu que tomassem um carro de praça até em casa, mas ela disse que preferia ir caminhando, se ele não se importasse. Lado a lado, passos contidos para esticar o tempo, subiram a Praça XV passando em frente ao prédio do Banco INCO. Do andar superior ainda sobrevinha, como uma alucinação, uma voz que imitava o inigualável Cauby Peixoto no extinto e popularíssimo programa de auditório da Rádio Diário da Manhã.

Subindo a Rua dos Ilhéus, passaram pelo Teatro Álvaro de Carvalho, cortando a Praça Pereira Oliveira em direção à Chácara da Espanha. Antes, demoraram-se diante do cartaz que anunciava para breve um espetáculo com a Companhia de Teatro Procópio Ferreira. Caminhavam vagarosamente, conversando sobre um tema qualquer, o assunto um mero pretexto para os entreolhares sorridentes, um tocando de leve o braço do outro com a desculpa de enfatizar o que ia ser dito. (Ela não mencionou o nome do noivo, nem ele o da noiva, apesar das alianças).

Por fim chegaram ao seu destino. Ainda tinham assunto, por isso quedaram-se um pouco mais no portão, sob a luz de um poste da ELFFA, a Empresa de Luz e Força da Cidade. Mas a conversa ficou para outro dia, pois a mãe, zelosa da reputação da filha, gritara lá de dentro para que ela entrasse. Três vezes.

Os encontros noturnos tornaram-se frequentes, só que agora era ele quem esperava. Conversavam e riam à toa pelas ruas, entretidos, absortos, apartados do mundo. Quando chovia, tomavam um carro-de-cavalo. Falavam sobre os filmes em cartaz no Cine São José, no Cine Roxy, no Cine Ritz, recomendavam-se músicas, compartilhavam passagens da infância¸ falavam do trabalho e dos sonhos, descobrindo e construindo afinidades.

Alfredo fantasiava uma liberdade inexistente, a ponto de convidá-la para a tradicional Soirée de Inverno do Lira Tênis Clube, logo ele que nem sabia dançar. A mãe disse que não ficava bem.

Numa manhã de sábado a realidade bateu palmas no portão da casa, ele ouviu. Era Carmélia, com um envelope não mão.
– É dele, ela disse. – Está vindo me buscar…

Alfredo nada disse, apenas baixou o olhar, o silêncio erguendo um mundo entre os dois. Dias depois ele percebeu o pequeno envelope introduzido por baixio da porta da sala de visitas.
Reconheceu a letra feminina que dizia: – Parto amanhã. O avião sai às 16 hs.

Dava para ouvir o alvoroço da mãe e do irmão mais velho na despedida de Carmélia. Contrariando os antigos planos, casaria por lá. Alfredo ficou atrás da porta, à escuta, a mão sobre a maçaneta, mas o gesto não se cumpriu.

Muitos anos se passaram desde aquele dia. Ela nunca retornou à cidade. A operação na vesícula, suas pequenas conquistas, as notícias chegavam através do irmão mais velho, que agora cuidava da mãe, a saúde cada dia mais frágil.

Alfredo vibrou ao saber que Carmélia, afinal, abriu o tão sonhado ateliê de costura e que, ao contrário dele, tivera muitos filhos, naturais e adotivos; sabia seus nomes e datas de nascimento. Que enviuvou ainda jovem. Anos depois ele também enviuvou; então decidiu procurá-la. Por ele, aquela história recomeçaria do ponto exato em que parou.

Decidido enviou-lhe uma carta, propondo um encontro para breve. A carta dizia: se ela não o tivesse esquecido, que o encontrasse dia tal, a tal hora, em tal lugar.
Alfredo chegou cedo e saiu muito depois da hora marcada, mas ela não apareceu. Antes de retornar à Florianópolis, deu o endereço ao taxista, pedindo que parasse um instante na porta do prédio em que ela morava.

Por algum tempo ficou a observar as cortinas brancas voejando pela grande janela entreaberta. Relembrou o pedido de um gesto que ela fizera ao partir – saber que aquela seria a última vez que a via teria mudado alguma coisa? Nesse instante alguém cerrou as janelas, devolvendo-o à realidade. Voltou à Ilha e à sua previsível vida de viúvo e aposentado.

Da viagem ao Rio até a manhã daquele dia, passaram exatos sete anos sem uma única notícia de Carmélia. Já não havia tempo para recomeços, advertia a nota do jornal. Daí o olhar perdido, o café abandonado pela metade, o banho demorado, a melhor roupa e o andar lento pelas ruas assaltado pela lembrança do momento em que a viu pela primeira vez, há mais de quarenta anos. Quando se deu conta, estava diante do Hotel Royal. Decidiu entrar, dirigindo-se ao Piano Bar (isso ainda existe?).

No salão totalmente remodelado, um grupo de executivos comemorava alguma coisa num happy-hour barulhento. Alfredo aguardou que vagasse a mesa próxima à janela e então sentou, como o fazia, de modo a observá-la atendendo os hóspedes.

Chamou o garçom e pediu um Hi-fi, distraído do seu anacronismo.
O rapaz, bem treinado, esclareceu que a bebida não constava no cardápio, mas que o bar tinha uma excelente carta de vinhos nacionais e importados, além de cervejas artesanais, uísque, espumantes, vodcas, tequilas… Ele fez que não, algo irritado, voltando-se para a janela onde as luzes começavam a destacar a Ponte Hercílio Luz contra o céu escuro.

Observando que já não se via o facho de luz azul do aeroporto percorrendo o céu da cidade, foi despertado pela música. O som não vinha do piano, como outrora, mas de um desses modernos equipamentos eletrônicos que desempregam uma orquestra inteira.

O cantor era competente, ainda que o repertório não fosse do seu agrado. Com certa dificuldade, Alfredo levantou e, dirigindo-se ao músico, pediu: – Play it again, Sam?

Hamilton já estava acostumado. Depois do terceiro copo todo pianista vira Sam aos olhos de um freguês apaixonado.
Esquecendo o velho e remetendo às suas próprias lembranças, no fundo ele ansiava por esse momento, Sam dedilhou com maestria: Eu sei que vou te amar…

Da rua o que se ouvia era uma linda canção de amor, entrecortada pelo tilintar dos pratos e talheres sendo recolhidos da mesa do Piano Bar.

* Este conto faz parte do livro “Cenas urbanas e outras nem tanto” (Norma Bruno, Bernúncia Editora, 2012)

— Conheça a trajetória de Norma Bruno

Novas narrativas – No aniversário da Capital, quatro ‘grandes’ da cidade se juntam ao time do Floripa Centro

Neste 23 de março de 2021, aniversário da cidade, o Floripa Centro está lançando uma nova sessão, chamada ‘Narrativas do Centro’.
Nela, serão publicados textos de diversos gêneros, sempre com foco na região central da cidade.

Haverá crônicas de Sérgio da Costa Ramos, contos e cenas urbanas com Norma Bruno, poesias de Chiko Kuneski e fotos de Tasso Scherer.

Assim, todos os finais de semana o leitor do Floripa Centro poderá apreciar as fantásticas produções destes consagrados comunicadores.

Cada um deles terá seu trabalho publicado uma vez por mês.
No ‘lançamento’ do espaço, neste aniversário de Florianópolis, haverá uma obra de cada um dos quatro autores.

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Histórias do Centro

Procissão do Nosso Senhor dos Passos completa 255 anos – Veja 10 fotos antigas e um vídeo de 1939!

Pelo segundo ano consecutivo, os florianopolitanos não poderão participar da mais importante manifestação religiosa da cidade, que, historicamente, reúne entre 30 mil e 40 mil pessoas.
A procissão do Senhor Jesus dos Passos deveria acontecer neste domingo, 21, mas foi suspensa pela pandemia, assim como em 2020.

Foi na Quaresma de 1766 que ocorreu a primeira caminhada dos fiéis, pelas ruas de Desterro, junto às imagens de Cristo e Maria.

Um vídeo feito em 1939 foi descoberto e editado por Paulo José da Costa, que mantém um canal no Youtube com vídeos históricos.

O material, encaminhado ao portal pelo jornalista Manoel Timóteo, mostra vários momentos da procissão, pelo Centro da Capital:

O Floripa Centro também reuniu 10 fotos históricas que mostram a fé e devoção da população da Grande Florianópolis.
Confira:

Saída da imagem no Largo da Catedral, 1949 (Acervo da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos)

 

Imagem do Senhor dos Passos, 1961 (Acervo da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos)

 

Crianças aguardam a passagem das imagens,1951 (Acervo da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos)

 

Encontro do Senhor dos Passos com Nossa Senhora das Dores, 1965 (Acervo da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos)

 

O encontro das imagens, 1961 (Acervo da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos)

 

Subida para a Capela do Menino Deus, no Hospital de Caridade (Acervo da Casa da Memória)

 

Chegando à Capela, 1953 ( (Acervo da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos)

 

Fiéis dentro da Catedral, 1972 (Acervo da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos)

 

Procissão passa pelo Largo da Alfândega, década de 1970 (Acervo Casa da Memória)

Confira a programação de 2021, tudo pelo Youtube:

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Histórias do Centro

A mirabolante tentativa dos alemães em transformar a Ilha de SC num país independente, com o apoio da Argentina

Por Billy Culleton
Em 1827, a parte insular de Florianópolis foi objeto da ambição de um grupo de soldados alemães que prometiam criar a “República Germânica da Ilha de Santa Catarina”.

Com 424 km², seria um dos menores países do mundo, embora existam pelo menos outras 10 nações com território inferior ao da Ilha: entre elas, Malta, San Marino e Mônaco.

O plano obteve o apoio da Argentina, na época em conflito com o Brasil, na chamada Guerra Cisplatina.

O acordo para levar adiante a iniciativa foi assinado, em 3 de novembro de 1827, pelo governador de Buenos Aires Manuel Dorrego e dois mercenários alemães que atuavam no Brasil: Karl Anton Martin Hein e Friedrich Bawer.

Manuel Dorrego (E) governador de Buenos Aires na época da guerra pela posse do Uruguai (Acervo www.elhistoriador.com.ar)

Os germânicos diziam representar parte dos 4 mil soldados da Alemanha que prestavam serviço temporário ao império brasileiro.

Essa ‘multidão’ de mercenários alemães tinha sido arregimentada na Europa, entre 1823 e 1825, com a promessa de altos salários e tratamento diferenciado.

Imagem mostra os alemães vestidos como granadeiros ao serviço do Império Brasileiro (Acervo www.uol.com.br)

A realidade no país tropical, no entanto, mostrou-se diferente.

Os soldados alemães estavam insatisfeitos, amargurando uma vida dura, com pagamentos inferiores ao combinado.
Ao mesmo tempo, eram discriminados e tratados com rudeza pelos oficiais portugueses e brasileiros, como conta o escritor Nelson Adams Filho, no livro a “Maluca Viagem de Dom Pedro I pelo Sul do Brasil”.

Sabendo dessa indignação, os dois aventureiros alemães, radicados no Rio de Janeiro, vislumbraram a possibilidade de conseguir recursos junto ao governo de Buenos Aires, acenando com uma revolta dos batalhões de mercenários.

Navio trazendo milhares de imigrantes alemães ao Rio, muitos deles mercenários (Acervo blog Goguidia)

Governo argentino rejeita proposta
Apresentando-se como representantes dos militares alemães, em fins de 1826, conseguiram uma audiência com o presidente Bernardino Rivadavia para detalhar a proposta.

“O episódio seria pitoresco, se não fosse estarrecedor: apresentaram o plano mirabolante de conquistar a Ilha de Santa Catarina e nela proclamar uma república independente, com o apoio internacional da Argentina”, contou a escritora florianopolitana Leatrice Moellmann Pagani, no artigo “As migrações dos séculos XIX e XX – Parte I – Os alemães”, publicado na Revista dos Amigos do Arquivo Público do Estado de Santa Catarina.

O presidente argentino repeliu a proposta.

Novo responsável pela guerra aceita acordo
Mas pouco tempo depois a direção da guerra passou para o governador da Província de Buenos Aires, coronel Manuel Dorrego.

“Hein e Bawer renovaram a proposta e Dorrego, na ânsia de acabar a guerra, acreditou nos alemães, vislumbrando uma forma de enfraquecer moral e militarmente o Imperador Dom Pedro I e forçá-lo a aceitar negociações de paz”, afirmou o coronel Juvêncio Lemos, no livro de sua autoria “A Saga no Prata”.

“Batalha de Ituzaingó”, de José Wasth Rodrigues, mostra combate entre os militares dos dois países, em 1827 (Wikipedia)

Em fins de 1827, Dorrego convocou os dois mercenários, informando-os que navios argentinos estavam sendo preparados para recolher os alemães, que iriam se sublevar no Rio de Janeiro, e levá-los para Santa Catarina.

Mercenários preparam o ataque
Com essa informação, os alemães decidiram se separar: Hein permaneceria em Buenos Aires, encarregado de receber os recursos financeiros combinados, devendo seguir para o Rio de Janeiro junto com a esquadra vizinha que iria buscar as tropas rebeladas.

Bawer seguiria para a capital brasileira, com o objetivo de coordenar as providências locais.

Acampamento dos soldados do império durante a Guerra Cisplatina (Acervo site Fatos da História Mundial)

No Rio de Janeiro, ele fez alguns contatos com oficiais mercenários e ficou na expectativa de receber os recursos.
Esse dinheiro, porém, nunca chegou.

Frustrou-se, assim, o sonho dos alemães em criar a “República Germânica da Ilha de Santa Catarina”, que transformaria em germânicos os 18 mil açorianos que habitavam a Ilha naquela época.

Revolta dos mercenários no Rio
Mas de fato, a esperada revolta dos soldados-mercenários aconteceu no Rio de Janeiro, em 9 de junho de 1828.

Mas não teve nenhuma ligação com o plano de criar um novo país.

Os alemães do 2º Batalhão de Granadeiros se rebelaram contra o império, na chamada “Revolta dos Mercenários”.
O estopim foi o injusto, desumano e fatal castigo corporal aplicado em um soldado granadeiro alemão.

A seguir rebelou-se outra unidade de mercenários, o 3º Batalhão de Granadeiros.
O movimento foi sufocado pelo governo imperial, sendo que Bawer fugiu para Buenos Aires, pondo fim ao plano mirabolante.

Porto da cidade cobiçado por Inglaterra, em 1808 *
O historiador Laurentino Gomes, no seu livro 1808, conta que Dom João VI negociou a entrega do Porto de Santa Catarina à Inglaterra.

Segundo o historiador Melo Moraes, na véspera da partida (da comitiva imperial, rumo ao Brasil), em Lisboa, o representante britânico Lord Strangford teve uma reunião com o ministro Antônio de Araújo, na qual avisou que o almirante Sidney Smith só levantaria o bloqueio naval e permitiria a saída da esquadra portuguesa mediante as seguintes condições:
“A abertura dos portos do Brasil, a concorrência livre e reservada para a Inglaterra, marcando-lhe, desde logo, uma tarifa de direitos insignificante; e até que um dos portos do Brasil (o de Santa Catarina) fosse entregue à Inglaterra”.
Araújo teria reagido com irritação, mas o fato é que, com exceção do porto exclusivo em Santa Catarina, todas as exigências seriam atendidas depois da chegada ao Brasil.”

* Informação acrescentada em 15/3/21 por sugestão do leitor Esperidião Amin.

(Esta reportagem foi feita a partir de pesquisas nas seguintes obras: “As migrações dos séculos XIX e XX – Parte I – Os alemães”, “A Saga no Prata” e “A Maluca Viagem de Dom Pedro I pelo Sul do Brasil”. A imagem de abertura é a aquarela “Vista da Vila de Desterro” (1827), de Jean-Baptiste Debret, na obra ‘Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil’)

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Histórias do Centro

Pombeiros versus comerciantes – Tensão por causa dos ambulantes no Centro da Capital remete à década de 1850

Por Billy Culleton
Em 1851 foi inaugurado o prédio do primeiro Mercado Público de Desterro, que ocupava o espaço da atual Praça Fernando Machado, ao lado da Praça XV de Novembro.
Objetivo era normatizar a venda de produtos alimentícios, distribuindo boxes para pequenos comerciantes.

Muitas pessoas de baixa renda, no entanto, não conseguiram espaço fixo e foram obrigadas a continuar vendendo seus produtos, improvisadamente, pelas ruas e calçadas do entorno da praça.

Antigo Mercado (E), frente à Praça XV (Acervo IHGSC)

Eram os chamados pombeiros, que comercializavam todo tipo de alimentos, especialmente peixes, galinhas e verduras (e, mais antigamente, pombos).

Eles vendiam seus produtos acondicionados em um ou mais cestos.

Muitos, também comercializavam os alimentos de porta em porta, carregando os balaios numa vara transversal sobre as costas.

Vendedores de leite, no Centro de Florianópolis (Acervo Casa da Memória)

Mas eles eram proibidos de se aproximar do antigo Mercado Público.
Era a ‘eterna’ disputa entre comerciantes estabelecidos e ambulantes.

Há dois séculos, a grande maioria destes ambulantes já era composta por homens e mulheres de baixa renda, principalmente ex-escravos.

Pressão sobre os vereadores
Anos depois, em 1890, inconformados com a discriminação, os pombeiros elaboram um abaixo-assinado solicitando à Câmara de Vereadores autorização para vender seus produtos em volta do Mercado, como informa Ricardo Moreira de Mesquita, na sua obra “Mercado, do mané ao turista” (2002).

Vendedor de peixe nas escadarias da Praia do Vai-quem-quer, na Rua Francisco Tolentino (Acervo Casa da Memória)

Os comerciantes estabelecidos no imóvel entram na briga e também apresentam à Câmara um abaixo-assinado pedindo providências contra os ambulantes na Praça.

Galpão em 1891, Camelódromo 100 anos depois
Pressionados, os vereadores, em 21 de janeiro de 1890, aprovam a construção de um galpão que poderia ser utilizado por pombeiros e quitandeiros.

Edificado ao lado da Praça Fernando Machado, entre as ruas João Pinto e Antônio Luz, com área de 640m2, o Galpão do Peixe abre suas portas em 30 de janeiro de 1891, segundo Mesquita.

Pintura de Joseph Bruggemann mostra as imediações do antigo Mercado Público (Acervo IHGSC)

Era uma construção de madeira, coberta com telhas de barro, parcialmente aberta.
Em seu interior, dez bancas e vários tabuleiros para exposição e venda dos produtos.

Algo similar ocorreu na década de 1990, quando foi construído o Camelódromo, ao lado do atual Mercado Público, que abrigou os ambulantes que vendiam os produtos do Paraguai.

Impostos
Como não conseguiam acabar com a ‘ilegalidade’, as autoridades decidiram, então, cobrar impostos destes ‘atravessadores’ que compravam os produtos para revender.

É qualificado pombeiro, e sujeito ao imposto de 6.400 reis, todo indivíduo que comprar ou atravessar, dentro dos limites do município, gêneros alimentícios para tornar a vender pelas ruas, praças, marinhas ou outros lugares públicos”, dizia a resolução de 3 de maio de 1851, da administração municipal, publicada no jornal O Despertador, de 12 de julho de 1864.
O contraventor pagará uma multa equivalente ao dobro do imposto”, completava.

Vendedor ambulante sem identificação da cidade (Via Floripa Antiga)

Jornais tomam partido
Mesmo assim, novos pombeiros continuaram a tomar as ruas do Centro.

Ecoando o pensamento da elite branca da cidade, décadas depois, os jornais denunciavam a atuação desses ambulantes na região central da cidade.
É preciso acabar com isso… chamamos a atenção do senhor delegado de polícia a fim de pôr termo a esse inqualificável abuso”, dizia um dos trechos do artigo publicado pelo jornal O Estado, em 9 de junho de 1915, segundo descreve Fabiane Popinigis, no artigo “Mulheres africanas e o pequeno comércio em Desterro”.

Vendedores ambulantes sem identificação da cidade (Via Floripa Antiga)

“Mofas com a pomba na balaia”
Em uma negociação de venda de mercadorias teria surgido a folclórica frase de Florianópolis: “mofas com a pomba na balaia”.
Segundo o Wikipedia, seria a resposta de uma mulher a um pombeiro que vendia pombas expostas num balaio, ao discordar do preço da mercadoria.

O viúva boa! (?)
O site Florianópolis Antiga conta uma anedota sobre os pombeiros:
Pombeiros, eram os vendedores ambulantes de antigamente, com sua (normalmente) voz possante, bradavam aos quatro ventos as qualidades de sua mercadoria.

Vendedor ambulante sem identificação da cidade (Via Floripa Antiga)

Exemplo: “OVIUVABOAAAA!”
Não pense que ele estava elogiando os dotes corporais de uma bonita viúva, ele “cantava” que tinha para vender respectivamente, ovo e uva de boa qualidade!

(Esta reportagem foi feita com base em pesquisas nas seguintes obras e sites: “Mercado, do mané ao turista”, de Ricardo Moreira de Mesquita, 2002; “Mulheres africanas e o pequeno comércio em Desterro, século XIX”, de Fabiane Popinigis, da UFRJ; http://florianopolisantiga.blogspot.com e Wikipedia. A imagem de abertura é de um vendedor ambulante sem identificação da cidade – Via Floripa Antiga).

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Só sobraram três canhões – A história do Forte São Francisco Xavier, demolido há 180 anos, no Centro

Por Billy Culleton
O brasão do Rei George II é a prova da origem inglesa dos três canhões remanescentes do Forte São Francisco Xavier da Praia de Fora.

Encontrados por acaso em 1998 durante escavações para obras pluviais, são as únicas testemunhas da existência da fortaleza desaparecida em 31 de agosto de 1841.

Localizado na atual Praça Esteves Júnior, entre a Beira Mar Norte e Rua Bocaiúva, o forte foi construído pelo Império Português, em 1761, como parte do sistema defensivo da Ilha de Santa Catarina.

Em tempos de guerra, resguardava o acesso à Vila de Nossa Senhora do Desterro, e em tempo de paz, evitava a atracação de embarcações tripuladas por contrabandistas.

Leilão
O forte foi vendido em leilão há 180 anos.
O comprador deveria demolir a edificação para, posteriormente, vender os materiais da construção.

Mapa de 1778 mostra a localização da fortaleza (Acervo Archivo General Militar de Madrid)

O preço final de duzentos e dois mil réis foi considerado baixo pela imprensa, na época.
“Preço menor do que valia a cantaria de seus portões”, descreveu Oswaldo Rodrigues Cabral, no livro As defesas da Ilha de Santa Catarina no Brasil-Colônia (1972).

Estrutura
Em 1786, a fortaleza chegou a possuir 19 canhões, segundo levantamento do alferes José Correia Rangel, como publicado no site fortalezas.org.
A edificação possuía uma planta em forma de polígono, com uma muralha semicircular voltada para o mar.

Planta do forte (Acervo da Biblioteca Mário de Andrade/SP)

No seu interior existia o quartel dos oficiais, quartel dos soldados, paiol da pólvora e cozinha.

Contornando este pátio central, numa plataforma elevada acessada por um único lance de escadas, encontravam-se as baterias de canhões.

Terreno da Marinha
De acordo com o site Fortalezas, o terreno de Marinha passou à Câmara Municipal, que, atendendo a uma reivindicação da comunidade local, por volta de 1862, mandou erguer uma praça pública, denominada Jardim Lauro Müller, atual Praça Esteves Júnior.

Canhões foram desenterrados pela Prefeitura (Acervo Fortalezas.org)

Apesar de nada mais restar da estrutura atualmente, durante a execução de obras públicas de drenagem ao redor da Praça Esteves Júnior, em 1998, operários da Prefeitura Municipal encontraram dois canhões de ferro fundido, e na sequência um outro, que pertenceram ao antigo forte.

Sobre eles ainda pode ser visto o brasão inglês do Rei George II, determinando a fabricação inglesa destes armamentos.
A partir de 2001, as primeiras duas peças passaram a incorporar o novo aspecto da praça e a terceira foi transferida para o Forte de Santa Bárbara, também no Centro de Florianópolis.

(A imagem de abertura é parte da planta do forte, no acervo da Biblioteca Mário de Andrade/SP. As fotos atuais são de Billy Culleton)

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Envenenamento ou gripe? A misteriosa morte, em Florianópolis, do mais famoso flautista brasileiro, em 1907

(Esta matéria foi feita com trechos textuais do artigo “Patápio Silva: trajetória do flautista interrompida em Florianópolis”, escrito pelo jornalista e historiador Maurício Oliveira, e que foi publicado, em 2013, no livro “História Diversa, africanos e afrodescendentes na Ilha de Santa Catarina”, da Editora UFSC)

O enterro do flautista Patápio Silva parou Florianópolis na tarde de quinta-feira, 24 de abril de 1907.
Gente de todas as classes acompanhou o cortejo a partir do saguão do Hotel do Comércio (na atual Rua Conselheiro Mafra), no qual o músico se hospedara seis dias antes e morrera durante a madrugada, vitimado por uma doença misteriosa.

À passagem do féretro viam-se todas as habitações repletas de famílias, que derramavam copiosas lágrimas lamentando a perda de tão glorioso brasileiro”, registrou o jornal Reforma.
Aos 26 anos, já famoso em todo o Brasil, Patápio fazia uma turnê pelo Sul do Brasil.

Encantava com a música erudita (Acervo Funarte)

Mulato, de origem humilde, era nascido em Itaocara (RJ) e criado em Cataguases (MG).

Chegara à capital catarinense aparentando saúde plena, mas no dia marcado para a apresentação, foi acometido por uma febre que o deixou progressivamente delirante.

Nem mesmo o melhor médico da cidade, Antônio Bulcão Viana, conseguiu reverter o quadro. Em dúvida sobre a causa da morte, ele anotou na certidão de óbito um diagnóstico genérico: gripe adinâmica.

A bela e o envenenamento
A inesperada morte de um rapaz em pleno vigor da juventude causava estranheza – e os boatos tomaram conta de Florianópolis já durante o enterro.
Dizia-se que ele havia sido envenenado no bocal da própria flauta por um figurão da política local interessado na bela mulher que o acompanhava na turnê pelo Sul.

O choro de carioca inspirou gerações (Acervo documentário Patápio)

E quem seria a bela mulher que acompanhava Patápio?
A pesquisa nos jornais de Florianópolis dos dias seguintes ao da morte do flautista revelou o nome da atriz e cantora Laly Mafaldi – italiana.

É fácil imaginar a estranheza despertada pelo relacionamento entre um mestiço e uma beldade branca numa pequena cidade como Florianópolis, que contava à época com não mais que 15 mil habitantes.
Passadas apenas duas décadas da abolição da escravatura, o público que aguardava pela apresentação de Patápio no Clube 12 de Agosto era composto pela elite branca da capital catarinense.

Confira a música de Patápio:

O enterro
A notícia (da morte) correu assim que o dia amanheceu, comovendo a cidade.
O jornal O Dia distribuiu um boletim extraordinário, convocando os moradores para o enterro: “Tendo falecido hoje às 2 horas da madrugada o festejado flautista brasileiro Patápio Silva, convidamos a todos para conduzi-lo ao Cemitério Público, devendo o enterro sair do Hotel do Comércio às 4 ½ da tarde.”

Fachada atual do antigo Hotel do Comércio, onde faleceu Patápio (Billy Culleton)

Era um desfecho triste para dias que foram tomados por dois tipos de expectativa: inicialmente pela chegada do famoso músico e depois, pela sua recuperação.
A presença de um artista de fama nacional era algo raro para a capital catarinense, que aguardava com ansiedade o concerto do flautista.

Desde jovem integrava bandas de música (Acervo documentário Patápio)

Surto de gripe e lestada
Todo o litoral catarinense estava sendo fortemente atingido pela gripe naquele momento.
A análise da estatística demógrafo-sanitária de Florianópolis em 1907 deixa claro que a Capital enfrentava um surto de gripe em abril, quando Patápio chegou à cidade.
Foram 12 casos fatais naquele mês, metade dos 25 óbitos causados pela doença ao longo de todo o ano.

Já com Patápio na cidade, Florianópolis registrou uma forte lestada, acompanhada de chuvas torrenciais.

Busto de Patápio em Itaocara (Acervo documentário Patápio)

Entretanto, o problema de saúde enfrentado pelo flautista podia ser de outra natureza, não diretamente relacionada ao clima – uma infecção intestinal, por exemplo.
Ou, como diziam os boatos da época, um envenenamento.

Exumação e remoção para RJ
No início de novembro de 1907, o pai de Patápio, o barbeiro Bruno da Silva, chegou a Florianópolis para receber o espólio do filho, incluindo a famosa flauta.
Depois de uma semana na cidade, Bruno regressou ao Rio de Janeiro, acompanhado por Laly Mafaldi, que parece ter permanecido em Florianópolis ao longo dos seis meses que se seguiram à morte de Patápio.

Antigo cemitério municipal que funcionou até 1925 (Acervo Casa da Memória)

Os restos mortais do flautista foram exumados no início de agosto de 1915 para serem remetidos à família, que os pedira.
Tais informações constam nos registros do arquivo do (antigo) cemitério de Florianópolis (no atual Parque da Luz).

Patápio estaria, desde então, sepultado no Cemitério São Francisco Xavier, no Rio de Janeiro.
De qualquer forma, a transferência dos restos mortais pôs fim ao inesperado vínculo de oito anos entre o flautista e a pequena cidade que não o viu tocar.
Mas a memória da impressionante trajetória e do imenso talento musical continua a encantar todos que têm a oportunidade de conhecer a obra e a vida de Patápio.

Confira o documentário Patápio:

(As imagens de abertura são da Wikipedia)

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Só cabiam dois carros – Há meio século fechava o posto de combustível mais central da Capital


Um dos primeiros postos de combustível do Centro da Capital fechou no início da década de 1970.
Estava localizado na Rua 7 de Setembro, entre a Conselheiro Mafra e Francisco Tolentino (há uma quadra das Americanas).
O pequeno espaço, de 40 metros quadrados comportava, no máximo, dois veículos ao mesmo tempo.

“O proprietário chamava-se Valter Maia e a bandeira do posto era Atlantic”, informa Joaquim Sant’anna, pai de Vicente Sant’Anna, atual presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis Minerais da Grande Florianópolis (Sindopolis).

Local estratégico
Enquanto funcionou, o mar chegava a poucos metros do estabelecimento, onde atualmente existe um grande estacionamento.

Pela proximidade com o porto da cidade, o posto ficava num local estratégico e inclusive vendia gasolina em lata, possibilitando que os clientes pudessem levar o combustível para outros lugares.

No início da década de 1970, quando foi concluído o aterro da Baía Sul, o posto encerrou as suas atividades.
(Não foi possível precisar o ano da sua inauguração. Porém, há consenso de que o posto já funcionava na década de 1960, época da única foto conhecida do local e que está sendo reproduzida aqui, de autoria desconhecida).

Outras versões
O Floripa Centro pediu a ajuda dos internautas para conseguir mais informações sobre o posto, num grupo no Facebook chamado “Desterro Antesdonte”.
Houve diversas manifestações, que são reproduzidas abaixo.
A reportagem decidiu omitir os nomes dos autores, pois há dados contraditórios, mas que podem ajudar a contar melhor a história do posto histórico, no Centro da cidade.

— “Este posto era de bandeira Esso, mudou de dono diversas vezes e, em determinado período, pertenceu ao senhor Dorival da Silva Lino”.

— “Era do Lino, pai do Murilo Lino. Meu tio tinha um Fusca 1200/1966 e lavava o carrinho aí”

— “Tenho quase certeza quê pertencia à família do Aparício Cordeiro, proprietário da empresa de ônibus Ribeironense”

— “Era um posto Texaco que pertencia a Francelino Cordeiro, proprietário da antiga empresa Ribeironense”

— “Acho que o posto era da Texaco ou Esso. Quem administrava o posto era a família Cristóvão”

(Caso algum leitor tenha novas informações, podem ser colocadas nos comentários do Facebook do Floripa Centro ou mandadas para o e-mail portalfloripacentro@gmail.com)

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