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Forte Santana, na Beira Mar Norte, completa 260 anos e ganha concha acústica, cafeteria e iluminação cênica

*Por Billy Culleton

Construído em 1761 pelos portugueses para proteger a Ilha, o Forte Santana, embaixo da Ponte Hercílio Luz, está passando por uma grande reforma.
A previsão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é concluir a obra até a metade do ano: o espaço está sendo revitalizado para atrair cada vez mais pessoas para esse lugar privilegiado.

Uma concha acústica permitirá apresentações musicais e teatrais, com o mar da Baía Norte como fundo.
Também haverá uma cafeteria-lanchonete-bar, bicicletário e uma iluminação cênica especialmente preparada para valorizar a fortaleza, tombada como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1938.

A restauração, que custará R$ 1,8 milhão, está avançada: o telhado já foi totalmente substituído e as paredes e o piso, revitalizados.
As danificadas estruturas de madeira que sustentam os canhões também serão substituídas.

Dom Pedro I
Dom Pedro I desembarcou no forte quando chegou em Desterro para uma visita de dois dias à cidade, em novembro de 1826.
Confira reportagem completa sobre a visita relâmpago do imperador:
Resgate histórico – O dia em que o imperador Dom Pedro I visitou Desterro, assistiu à missa, passeou e foi embora

Matéria relacionada:
Há exatos 175 anos – O passeio de Dom Pedro II e Teresa Cristina pelas ruas do Centro de Desterro

Tela de Cibele Souto Amade mostra desembarque de Dom Pedro I em Canasvieiras. Na sequência, num escaler, o imperador chegou ao Forte Santana.

A edificação foi utilizada por militares até ser desativada em 1907.
Depois, a fortaleza ficou abandonada por mais de seis décadas e a área, tomada por construções clandestinas.

Mas em 1969, começou a restauração, concluída em 1975, que lhe devolveu as formas originais.
Naquele ano, o forte foi aberto ao público para acesso irrestrito a todo o complexo, que inclui sete canhões originais.

A arquitetura
O forte é constituído por um único conjunto de edificações geminadas, tendo à sua frente uma bateria com sete plataformas de tijolos para posicionamento de seus canhões.

A história
Localizado junto ao estreito de união das baías Norte e Sul, sua função era proteger a Vila de Nossa Senhora do Desterro das embarcações que adentrassem pela Baía Norte, segundo o site fortalezas.org.

Posteriormente, esta proteção foi reforçada com o cruzamento de fogos com o Forte de São João, localizado no Continente.
Em 1786, tinha 10 canhões, sendo quatro deles de bronze: um de calibre 8 libras e três de calibre 6 libras; e seis canhões de ferro, todos de calibre 12 libras.

Além de suas funções originais, abrigou a Escola de Aprendizes Marinheiros (1857), a Companhia dos Inválidos (1876), o serviço de Polícia do Porto (1880) e, finalmente, uma estação meteorológica do Ministério da Agricultura.
Em 1938, foi tombado como Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, abrigando desde 1975 o Museu de Armas da Polícia Militar de Santa Catarinao, que no momento encontra-se fechado.

Revolução federalista
Um episódio marcante da história do forte ocorreu em 1893, por ocasião da Revolução Federalista, quando trocou tiros com a esquadra rebelde, de acordo com o site fortalezas.org.
Prevendo um ataque à cidade, que viria de fato a ocorrer, o comandante do Forte mandou reunir diversos canhões de ferro fundido, que encontravam-se então enterrados pela metade nas ruas da cidade, funcionando com simples enfeites.

Com este armamento obsoleto, a fortificação trocou tiros com o poderoso Cruzador Repúblico e com o Vapor Palas, os quais estavam fora do alcance daquela precária artilharia. Por isso, conseguiram bombardearam o forte, forçando seu comandante ao imediato cessar fogo e rendição.

(As fotos antigas são do site fortalezas.org. A imagem de abertura é do Iphan. As atuais, de Billy Culleton)

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Relógio inglês do Mercado Público completa 110 anos: para funcionar é preciso dar corda uma vez por semana

Por Billy Culleton
O relógio existente no Mercado Público foi fabricado em 1911 e veio para Florianópolis pelas mãos da empresa inglesa de telégrafos Western Telegraph, popularmente conhecida como Cabo Submarino.
O relógio ficava na janela da sede da empresa, na Rua João Pinto, a 150 metros da Praça XV.
A população florianopolitana costumava acertar as horas baseada no aparelho fabricado pela Gillett & Johnston, da Inglaterra.
Ele era muito confiável porque marcava as horas conforme o ‘Meridiano de Greenwich’.

Fachada atual da sede do Western Telegraph, com a marcação de onde estaria o relógio, segundo foto da década de 1950, da Associação dos Ex-funcionários da Western (Billy Culleton e Associação da Western)

Quando a firma saiu da Capital em 1975, substituída pela Embratel, todos os seus bens foram vendidos ou doados, segundo levantamento feito pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Florianópolis.
Sobrou apenas o velho relógio que foi reinstalado na entrada Norte do vão central do Mercado Público, porém, sem funcionar.

Relógio fica perto do Bob’s (Acervo blog ‘Uma turista nas nuvens’)

Ajuda de australianos
Em 1989, um casal de australianos, Lourdes e Lyall Fricker, visitou Florianópolis e descobriu o relógio no Mercado, ainda de acordo com a CDL.
Encantados com o bom estado do aparelho, eles se comprometeram a procurar na Europa alguém que pudesse informar como poderia ser colocado novamente em funcionamento.

Na lateral do relógio, a data da fabricação

No mesmo ano, mandaram uma carta à administração do Mercado com o manual do relógio, o que possibilitou a sua recuperação.
Desde então, os florianopolitanos recuperaram um dos seus símbolos mais antigos e até hoje podem confiar no centenário relógio, com “pontualidade inglesa”.

Funcionário dá corda semanalmente
O equipamento que garante o funcionamento do relógio está localizado atrás da parede onde está pendurado o aparelho, dentro de uma das torres do Mercado, onde está instalada a administração.

Ali, um armário concentra a máquina que funciona à corda e tem que ser ajustada uma vez por semana, serviço feito por um funcionário do Mercado, às segundas-feiras.
Também há um equipamento que liga e desliga a luz interna do relógio: acende às 18h e apaga às 6h.

À esq. equipamento base do relógio. À dir., o aparelho que liga e desliga a luz interna do relógio (Acervo Aldonei de Brito)

O equipamento conta com um pêndulo de ferro, de 50 centímetros, que se encontra no andar de baixo, da mesma torre, unido por um cabo, possibilitando o funcionamento do relógio.

Pêndulo é unido por um cabo de ferro, a tal de ‘corda’ (Acervo Aldonei de Brito)

Agora, você já sabe que por trás de esse ‘simples’ relógio de 60 centímetros de diâmetro, existe um complexo maquinário que garante a hora certa para a população da cidade desde 1911.

Iluminado toda a noite (Acervo Aldonei de Brito)

(A foto de abertura é de Billy Culleton e do acervo da Associação dos Ex-funcionários da Western)

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Dois séculos de história – Igreja São Francisco, no Centro, sedia a mais antiga congregação religiosa de Florianópolis

Por Billy Culleton

O aspecto tenebroso do seu interior ficou no passado.
Após a reforma, concluída em fevereiro de 2019, o interior da Igreja São Francisco, inaugurada em 1815, ganhou um aspecto mais sóbrio e agradável para visitação e oração, na esquina dos calçadões da Felipe Schmidt e Deodoro.

Até então, a falta de manutenção adequada deixava o ambiente ‘sombrio’ para os visitantes: iluminação tênue, paredes desbotadas e estátuas deterioradas dos santos com velhos cabelos verdadeiros.

A recuperação estrutural e estética fez com que o templo começasse a receber cada vez mais visitantes. São em torno de 500 por dia, garante o pároco Gunther Walzer.

Templo foi inaugurado em 1815 (Divulgação PMF)

A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco da Penitência é a mais antiga das confrarias religiosas criadas na Ilha, instalada em 1745.
Até o templo ficar pronto, sete décadas depois, os franciscanos ocuparam uma capela com sacristia privada anexa à Catedral Metropolitana.

Boatos de desabamento
Construída numa mescla de estilos barroco e neoclássico, os rumores de que as torres da igreja estariam ruindo provocou a sua interdição em 1851.
O boato fez com que as autoridades também determinassem o fechamento das duas portas laterais para reforçar a estrutura.

Até hoje é possível visualizar os desenhos das duas entradas, ao lado da entrada principal da igreja.

Em 1974, novamente, começou a circular uma versão de que a igreja poderia desabar. Desta vez, em razão da construção do Centro Comercial Aderbal Ramos da Silva (ARS), nos fundos do templo.

Jornal de Santa Catarina de 17 de novembro e 1974 (Acervo Letícia da Silva Gondim)

O local foi interditado e as paredes receberam reforço, porém, as previsões não se confirmaram.

Acervo
Entre as imagens sacras expostas, no segundo templo mais importante da Capital, se destaca São Francisco aos pés da cruz (uma das únicas duas imagens deste tipo existentes no país: a outra se encontra em Salvador).
Também Santo Antônio de Categeró (trazida por escravos que construíram a igreja no século 19), além de Nossa Senhora das Dores, Santo Antônio e Nossa Senhora Desatadora dos Nós.

Galos nas torres
No alto de cada uma das duas torres há cataventos em forma de galos.
Por isso, popularmente o templo também é chamado de ‘Igreja dos galos’.
O adorno era comum nas antigas construções europeias e indicava a direção do vento.

Atualmente, os galos estão fixos na direção Norte, fruto de dois séculos de vento Sul.

Museu a céu aberto
Na lateral da igreja, também conhecida como São Francisco das Chagas, há uma série de painéis que contam a história dos 276 anos da chegada dos franciscanos a Florianópolis.
São fotos antigas e textos organizados em ordem cronológica que podem ser apreciados de forma prazerosa, ao ar livre, no coração da cidade.

Ilustração de Eduardo Dias em 1914
Igreja na década de 1970 (Acervo Casa da Memória)

 

Interior do templo antes da reforma (Acervo Jaqueline Wittmann)

(Imagem de abertura é uma pintura de Jean Baptist Debret, em 1826)

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Os 130 anos da Liga Operária Beneficente – Clube do Centro tem a segunda biblioteca mais antiga da Capital

Neste 11 de janeiro um dos clubes mais tradicionais de Florianópolis completa 130 anos.
É a Liga Operária Beneficente, no centro histórico de Florianópolis, fundada em 1891 e que já viveu tempos de glória no século passado, quando chegou a ter 3 mil sócios, entre alfaiates, portuários, sapateiros e cocheiros.

Atualmente, congrega 200 sócios, a maioria jogadores de dominó que, antes da pandemia, se reuniam todas as tardes no 1º andar do prédio da esquina das ruas Tiradentes e Nunes Machado, a 100 metros da Praça XV.

Imagem de 2019 no primeiro andar da Liga

Nestes tempos de coronavírus, alguns poucos sócios ainda frequentam o local para se distrair ao som do tilintar das pedras de dominó.

Biblioteca tem 124 anos
O clube tinha como objetivo a promoção da assistência social, cultural e recreativa da população.
Por isso, seis anos depois da fundação, em 1897, foi criada uma biblioteca, a segunda mais antiga em atividade de Florianópolis (a primeira é a Biblioteca Pública do Estado, fundada em 1854).

O local chegou a contar com 1,5 mil volumes, que ficavam à disposição dos associados.

Registro de 1980, durante reunião da diretoria no salão principal, com a biblioteca ao fundo (Foto: acervo do clube)

De acordo com o bibliotecônomo Alzemi Machado, no artigo “Liga Operária Beneficente de Florianópolis: nascimento e morte de uma biblioteca popular”, o acervo era constituído pela aquisição de exemplares e também por doações.

Havia uma enorme variedade de gêneros, como “romances, poesias, didáticos, técnicos, teses, revistas, dicionários e enciclopédias em vários idiomas, encadernadas em capa dura e lombada em couro gravada”.

A biblioteca sempre foi muito procurada pelos seus associados, principalmente a partir de 1935, quando foi inaugurada a sede social na Rua Tiradentes Nº 22, numa edificação de dois pavimentos, ficando localizada no 1° piso, juntamente com o salão principal.

Governadores frequentavam o clube
“Era constante a presença de estudantes, professores, donas de casa, e até mesmo de figuras pertencentes à classe política, como os governadores Celso Ramos e Aderbal Ramos, e de pesquisadores como Hipólito do Vale Pereira, sendo que todos tinham cadeira cativa”.

Até 1993, a biblioteca chegou a ser procurada por alguns sócios, mas já entrava em decadência, até mesmo pela pouca renovação das obras literárias, explica Alzemi Machado.

Nessa época, o acervo descuidado e antigo, já acometido pelos “ataques de insetos como traças e cupins”, foi se perdendo até chegar a menos de uma centena nos dias de hoje.

Bibliotecário de 95 anos
Até o início de 2020, o responsável pelos poucos livros era Dionízio Luiz Colombi, de 95 anos.
Nas prateleiras, agora de tijolos, destacam-se mais os troféus dos campeonatos de dominó do que os livros remanescentes do século passado.

Dionízio Colombi em foto de 2019

“Pouca gente procura o acervo, mas temos a esperança de que com doações possamos revitalizar o espaço”, afirmou Colombi, à reportagem do Floripa Centro, em 2019.

Assim, de uma maneira melancólica, foram minguando as atividades da segunda mais antiga biblioteca de Florianópolis, “e que possibilitou, como espaço cultural, a tentativa de democratizar o acesso a conhecimentos e informações às camadas populares da sociedade”, escreveu, no ano 2000, Alzemi Machado, no seu artigo para o mestrado em Educação e Cultura da Udesc.

(Texto e imagens atuais de Billy Culleton)

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Um século depois de desativação do cemitério, ainda têm túmulos no Parque da Luz? Desvendamos o mistério

O Cemitério Municipal de Florianópolis, no Centro, foi desativado no início da década de 1920 e transferido para o Bairro Itacorubi.
O motivo: a construção da Ponte Hercílio Luz, inaugurada em 1926.

A maioria dos restos mortais foi exumada e levada para a nova necrópole.
Porém, nem todos.

Cemitério municipal antes da Ponte (Acervo Casa da Memória)

Como descreve a historiadora Elisiana Castro.
“Os termos de exumações apresentam aproximadamente 800 exumações e algumas retiradas de ossadas, não permitindo afirmar a transferência de todos os que ali estavam enterrados”, relata ela na pesquisa “Aqui jaz um cemitério: a transferência do cemitério público de Florianópolis (1923-26)”, da Universidade Federal de Santa Catarina.
Na época da transferência, o número de sepultados aproximava-se dos 30 mil.

Depois de desativado, durante décadas estudantes de Medicina da Capital coletavam, ali, ossadas para pesquisas.

É por isso, que tanto chamam a atenção duas estruturas rentes ao chão, numa das entradas do Parque da Luz, próximo à Ponte Hercílio Luz.

As ‘sepulturas’ encontram-se próximas a entrada insular da Ponte

Estão lado a lado, com dois metros de comprimento e 80 centímetros de largura, cada uma.
E ninguém sabe o que são: nem a Secretaria Municipal de Patrimônio Histórico, nem os funcionários da Floram que ali trabalham e nem a Associação do Parque da Luz.

Registro fotográfico desvenda o mistério
Em 1964 foi instalada no local uma fábrica de artefatos de cimento, fruto da criação do Plano de Desenvolvimento Municipal (Pladem), que originou a Comcap.

Ali se produziam, principalmente, lajotas que eram utilizadas para o calçamento das vias da Capital.
A Rua Adolpho Konder, na saída da Ponte Hercílio Luz, foi a primeira da Capital a receber calçamento de lajotas.

O galpão da fábrica de cimento (à esq.) e a sede do DER (Acervo Lúcio Dias Filho)

E as tais ‘sepulturas’ são as bases da estrutura dessa fábrica que funcionou até a metade da década de 1960.
A poucos metros também podem ser vistas sapatas que sustentavam os guinchos utilizados para produzir os artefatos de cimento.

Estrutura dos guinchos da fábrica de artefatos de cimento

Incêndio criminoso
Na foto do início da década de 1970 pode-se identificar, à esquerda, um galpão abandonado, que permaneceu no local, mesmo após a transferência da fábrica para o Itacorubi.

A imagem é do acervo de Lúcio Dias Filho, um dos idealizadores do Parque da Luz.
Segundo ele, no início da década de 1990, por iniciativa particular, a estrutura de madeira foi restaurada e transformada em local de acolhimento para pessoas em situação de rua.

Porém, devido ao interesse imobiliário da área, o galpão sofreu incêndio criminoso e foi completamente destruído.

Sede do órgão estadual
Já à direita, podemos observar uma edificação de madeira de dois andares, onde funcionou por muito tempo o Departamento de Estradas e Rodagem do Estado de Santa Catarina (atual Deinfra) e o escritório da Ponte Hercílio Luz.

A estrutura foi demolida na década de 1980, sendo ocupada posteriormente por uma lanchonete. Em 2010, o estabelecimento foi obrigado a sair do local por ordem judicial. Atualmente, existe um parquinho infantil.

Conheça a história do Parque da Luz:
—– A redescoberta do Parque da Luz – De cemitério municipal a uma área verde privilegiada no Centro da Capital

—– O Parque da Luz já foi morro – Entulho do antigo cemitério, com ossadas, foi usado para aterrar a Beira Mar Norte

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Histórias do Centro

Natal de 1995 – Maior enchente da história de Florianópolis completa 25 anos

A população do Centro da Capital nunca tinha vivenciado algo semelhante: as principais vias, como as avenidas Hercílio Luz, Mauro Ramos e Osmar Cunha se transformaram em rios.

Os desmoronamentos no Maciço do Morro da Cruz causaram mortes, derrubaram casas e encheram de lama as ruas próximas, destruindo parte do Instituto Federal de Santa Catarina.

As vias de acesso ao Norte e Sul da Ilha ficaram interditadas e a cidade parou.

Tudo foi conseqüência dos 165 milímetros de chuva que caíram entre as 9h da manhã do dia 24 de dezembro e as 10h do dia 25, há exatos 25 anos.
Somou-se, ainda, uma incomum maré alta que não permitiu o escoamento da água.

Em Florianópolis, as regiões mais atingidas foram o Centro, Trindade, Agronômica, Itacorubi, Saco dos Limões e Rio Tavares.

Mortes por toda Santa Catarina

“As consequências daquele episódio foram dramáticas. A enchente afetou 50 municípios catarinenses, com um total de 28 mil desabrigados e 40 mortos. Além da Grande Florianópolis, o Sul do Estado foi fortemente alcançado pelo fenômeno natural. Houve dois mortos em Palhoça e um em Florianópolis”, escreveu o jornalista Carlos Damião, no Jornal Notícias do Dia.

No total, cerca de 200 casas apresentaram risco de desabamento em regiões ambientalmente frágeis (encostas) e quase sete mil pessoas ficaram desabrigadas, descreveu Damião.

Instituto Federal, na Mauro Ramos, foi invadido pela lama (Acervo IFSC)

“Algumas estradas, como as SCs 401 e 404, foram interditadas. O asfalto do Morro da Lagoa foi inteiramente destruído pela força da enxurrada. O prefeito de Florianópolis, Sérgio Grando (1993-1997), buscou ajuda da União e do governo do Estado para recuperar o sistema viário e proteger os moradores das encostas”.

(As fotos são do acervo do IFSC)

Confira imagens, em vídeo do IFSC:

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Curiosidades do Centro – Veja as fotos atuais do antigo mictório público de Florianópolis, ativo até 1980

A área de 10 metros quadrados guarda parte da história da Capital.
O Castelinho, ao lado do Terminal Urbano Cidade de Florianópolis, foi construído há 110 anos para dar início ao saneamento básico da cidade.
Ali funcionou uma estação de elevação mecânica da rede de esgoto, movida a eletricidade, que bombeava os detritos para o mar.
Entre as décadas de 1950 e 1960, o empreendimento foi desativado e se transformou num mictório público, que funcionou até a década de 1980.

A pequena edificação, em estilo neoclássico, contava com quatro mictórios individuais, unidos num muro de um 1,2 metro de altura.
Inadmissível para os padrões de higiene atuais.
Pior ainda: por causa das portas no ‘estilo cowboy’, desde a calçada era possível
ver fugazmente o interior do local, com homens em pé, de costas, fazendo as suas necessidades.

Estado atual
O interior do castelinho encontra-se completamente abandonado, com paredes rachadas e sujeira no chão. O único que existe dentro são os mictórios.
Após ser mictório público, durante 15 anos sediou o Museu do Saneamento, que desde então está sob a responsabilidade de Casan.

Em julho de 2019, o Floripa Centro mostrou o abandono do local. Na semana seguinte, a Casan pintou o ‘Castelinho’ e prometeu fazer uma licitação para restaurar e abrir o espaço.
A revitalização incluiria a antiga bica d’água que tem ao lado, junto com o poste de iluminação (do início do século passado) que funcionava a querosene e a balaustra (onde chegava o mar) que está danificada.

O prazo era até o final do ano passado, mas até agora, nada foi feito.

Como foram feitos os registros
O local está clausurado com tapumes pregados nas portas de acesso.
Por isso, a reportagem conseguiu uma cadeira emprestada de uma lanchonete próxima, subiu nela e fez as imagens por uma pequena janela redonda que fica entreaberta.

Era possível apenas inserir o celular pela fresta, sem ter uma visão do que estava sendo fotografado.

Imagem do mictório em 1975 (Acervo Jornal O Estado)

Assim, as fotos não ficaram com a melhor qualidade, mas servem para ter uma ideia do interior desta edificação histórica que está abandonada no coração da cidade.

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Desde 1940 – Bar mais antigo de Florianópolis, em atividade, vai fechar as portas

Por Billy Culleton
A média de idade dos frequentadores é um pouco menor do que as oito décadas em que o Bar Glória está aberto, no Estreito.
A maioria dos clientes (todos homens!) tem mais de 60 anos, são nativos do bairro e consideram o local como um clube familiar, onde o principal é confraternizar (bebendo!) com os parceiros de balcão.

O estabelecimento é um dos últimos botecos à moda antiga: um único atendente pouco sociável, uma televisão antiga ligada na Globo e fregueses que se conhecem desde jovens e que fazem piadas ‘típicas manés’ uns com os outros, o tempo todo.

Se antes, ainda era servida a tradicional almôndega, agora é só bebida: cerveja, destilados, cuba livre e vinho de garrafão.
Tudo, a preços acessíveis para a maioria dos aposentados que ali vão diariamente, principalmente, antes do meio-dia e no final de tarde dos dias úteis (nos finais de semana, sempre tem um churrasquinho, para o almoço, feito na calçada).

História
Foi o manezinho Orivaldo Peixoto que abriu o bar em 1940, quando a Rua Coronel Pedro Demoro, uma das mais importantes do Continente, ainda era de paralelepípedos.
Na década de 1980, o estabelecimento foi assumido por Osmar, irmão do fundador, e seu filho Alexandre, hoje com 49 anos, que é o atual responsável, e atendente, do Glória.

Alexandre, há 40 anos atrás do balcão

Decoração diferenciada
Além dos quadros, com desenhos da Florianópolis antiga, a principal decoração é uma caixa registradora enferrujada (e empoeirada), de mais de 70 anos, em cima do desgastado balcão de fórmica (o dono ainda guarda, ali, as notas de valor baixo).

Também tem um antigo baleiro de vidro, com chicletes (similares aos ‘Ping Pong’), balas de hortelã, paçoca e bombons Amor Carioca.

O grande espelho horizontal na parede atrás do atendente permite cuidar do bar, mesmo de costas.

Em cima, a tradicional prateleira de bebidas expõe algumas garrafas vazias (que parecem cheias) de poucos tipos de destilados.
Apenas os consumidos no dia-a-dia do boteco.

Para fumar é só caminhar dois metros até a calçada, onde a tragada é autorizada.

Dominó
No fundo do estreito bar de três metros de largura, tem uma pequena sala escura onde os ‘véio’ jogam dominó.
Apostou cerveja, pague antes no balcão!”, diz o aviso escrito a mão, numa folha colada na parede, junto à entrada do único banheiro do estabelecimento.

Ao lado, o tradicional placar (também num papel improvisado) com a lista dos últimos ganhadores e perdedores, com direito ao nome dos que levaram uma ‘lisa’ ao longo do ano.

Tudo termina
O prédio (que tem um restaurante ‘panorâmico’ em cima) foi colocado à venda em 2018.
Sem interessados, neste final de ano, o dono desistiu de vender e decidiu reformar a edificação para alugar novamente.

A obra começou numa pequena sala ao lado e, no início de janeiro, é a vez do bar.
O proprietário do imóvel ofereceu a Alexandre, responsável pelo Glória, para continuar no local após a reforma.
“Ah, não sei se volto… é muito trabalho e preocupação para pouco retorno financeiro”, diz ele, que está atrás desse balcão há quatro décadas.
“Quem sabe coloco algum negócio na minha casa”.

Filosofia de boteco
O certo é que o célebre Bar Glória, jamais será o mesmo, mesmo numa improvável reabertura.

Aquele que durante 80 anos proporcionou grandes satisfações aos seus clientes, encurtou muitas trajetórias e proporcionou inúmeras dores de cabeça aos familiares dos frequentadores.
É a vida…!



(A foto de abertura  é acervo de Alexandre Peixoto, dono do bar. Algumas fotos estão fora de foco porque são flagrantes ‘ao vivo’, sem nenhuma preparação…)

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Uma canção é inspirada no mar do Centro – Três sucessos de Gilberto Gil têm relação direta com Florianópolis

Em janeiro de 1986, o cantor Gilberto Gil estava hospedado no Hotel Diplomata, no Centro da Capital, quando recebeu a ligação de Herbert Vianna, do Paralamas do Sucesso, pedindo para que o baiano escrevesse somente a letra de uma música, já que a melodia instrumental estava pronta.
Em seu site oficial, Gil descreve como se deu o processo de composição da letra de “A Novidade”, como conta o site Sereismo:

Fui pro hotel e botei a fita no gravador. Depois de umas quatro passadas, saí anotando. Eram mais ou menos duas da tarde. Às três horas eu estava ligando pro estúdio já para passar a letra. Foi uma coisa assim: bum!”, disse Gil, inspirado com as belezas do mar da Baía Sul, que conseguia admirar pela janela do quarto do atual Hotel Intercity, na frente do Terminal Rodoviário Rita Maria.
A música teve um enorme sucesso junto ao público, com uma abordagem social, que mostrava a desigualdade no país, na metáfora da sereia: “A novidade veio dar à praia/Na qualidade rara de sereia… /Ó, mundo tão desigual..”

Tese de doutorado garante que Gil falava nas desigualdades de Florianópolis
O Paradoxo Da Sereia – Um Estudo Longitudinal Sobreviver De Jovens Em Florianópolis”, é o título da tese de doutorado de Dóris Regina Marroni Furini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de 2009.

“O título dessa tese foi inspirado na música de Gilberto Gil, que, comovido com as belezas e mazelas da ilha de Santa Catarina, canta seu lado encantador e o outro, desigual”, afirma no resumo da pesquisa.
E continua: “Para o poeta, Florianópolis é uma sereia, estendida na areia – Metade o busto de uma deusa maia, metade um grande rabo de baleia. É o paradoxo da beleza e do horror: de um lado este carnaval, do outro a fome total. Vivem nesta ilha/sereia poetas e esfomeados”.

Confira o vídeo de “A novidade”:

Leia também:
Cinco vereadores mudam o voto e Câmara de Florianópolis rejeita concessão de cidadão honorário a Gilberto Gil

Sandra: homenagem às mulheres durante a prisão
Após ser preso em Florianópolis, em julho de 1976, ele foi internado no Instituto Psiquiátrico de São José.
Na clínica, ele compôs “Sandra”, uma homenagem às mulheres com quem conviveu naquele período.

Gil conta, no seu livro “Todas as Letras” quem era cada uma destas mulheres da canção
Todas as meninas mencionadas em Sandra foram personagens daqueles dias”, publicou o site Música em Prosa:

a) Maria Aparecida, Maria Sebastiana e Maria de Lourdes me atenderam no hospício durante o internamento imposto pela justiça enquanto eu aguardava o julgamento. A de Lourdes me falava a toda hora: ‘Você vai fazer uma música pra mim, não vai?’ ‘Vou’.

b) Carmensita: essa – foi interessantíssimo -, logo que eu cheguei, ela veio e me disse, baixinho: ‘Seja bem-vindo’.

c) Lair era uma menina de fora, uma fã que foi lá me visitar.

d) Salete era de lá: ‘Meu café é muito ralo’, me falou. ‘É exatamente como eu gosto, chafé’, respondi.

e) Cíntia: também de Curitiba, como Andréia. Quando passamos pela cidade, me levou ao sítio dela uma tarde; foi quem me deu uma boina rosa com a qual eu compareceria ao julgamento mais adiante, em Florianópolis, e com a qual eu apareço no filme Os Doces Bárbaros.

f) Ana: ficou minha amiga até hoje; de Florianópolis.

g) Dulcina, que era a mais calada, a mais recatada de todas na clínica, a mais mansa – era como uma freira -, foi a única que um dia veio e me deu um beijo na boca.
Sandra, citada no final da letra, era minha mulher.

Confira o vídeo de “Sandra”:


A gaivota: símbolo da liberdade

Na clínica psiquiátrica, Gil também compôs a canção “A gaivota”, que fez sucesso na voz de Ney Matogrosso.
A música surgiu após o cantor visitar a Barra da Lagoa e passar pela inspiradora Lagoa da Conceição.
“Gaivota menina/De asas paradas/Voando no sonho/Daguas da lagoa”
“Gaivota na ilha/Sem noção da milha/Ficou longe a terra/Gaivota menina”

Confira o vídeo de “A Gaivota”:

(Fotos de abertura e sequência obtidas do Jornal da Paraíba)

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Foi o primeiro quartel da Polícia – Prédio histórico de 1830 reabre para a Galeria de Artesanato

O imóvel que sediou o primeiro quartel da Polícia Militar de Santa Catarina, na esquina da Praça 15 com a rua Victor Meirelles, reabriu esta semana.
No local funciona, desde 2019, a exposição de artesanato catarinense, denominada Galeria de Artesanato.

A feira, tradicionalmente, está instalada na Casa da Alfândega, ao lado do Mercado Público Municipal.
Porém, o prédio está sendo reformado pelo Iphan.

O atendimento, que estava suspenso desde o início da pandemia, será somente à tarde, entre 13h e 18h.
No sábado abre pela manhã.

Programa duplo
O histórico prédio está em bom estado de conservação após passar por restauração.
Assim, além de apreciar o melhor do artesanato local, é possível admirar a arquitetura de 190 anos atrás.

História
A edificação foi construída por iniciativa particular nos anos 1830 e adquirida posteriormente pela Companhia de Polícia, tendo sido utilizada como quartel no térreo e Assembleia no andar superior.

1909 – Sede da Prefeitura de Polícia (o prédio é o primeiro à esquerda)

Em 1875, passou por obras que alteraram as fachadas, sendo significativa a inserção de platibandas com frontões na fachada frontal e posterior.

Imagem da década de 1960, após uma grande reforma

Em 1905 recebeu melhorias para sediar a Prefeitura de Polícia, atual Polícia Civil.
Já em 1956 passou a abrigar o Tribunal de Contas do Estado, depois a Procuradoria Geral do Estado e finalmente a Federação Catarinense de Municípios (Fecam) até 2012.

O imóvel é de propriedade do Estado e está sob a tutela da Fundação Catarinense de Cultura.

(As imagens antigas são do acervo da Casa da Memória. As atuais, de Billy Culleton)

 

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Há 35 anos – Primeiro assalto a banco em Florianópolis foi do Comando Vermelho e rendeu 1 bilhão de cruzeiros

Por Billy Culleton
Era final do mês e os servidores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estavam ansiosos para receber os salários.
Naquela manhã de 25 de setembro de 1985, um carro forte da Prosegur estacionou ao lado da agência do Besc, no Centro de Convivência da UFSC, e no momento em que os guardas desciam com os malotes foram surpreendidos por quatro homens, que estavam vestidos com uniformes da Comcap.
Sob a mira de revolveres e metralhadoras, a vigilância foi obrigada a entregar o dinheiro.

Tiroteio e feridos
Os assaltantes escondiam as armas nos carrinhos similares aos utilizados pelos garis, que depois também serviram para carregar os malotes até os veículos usados na fuga.
Imediatamente, os guardas reagiram e houve troca de disparos.
Um assaltante foi atingido no braço e dois seguranças ficaram gravemente feridos.

Imagem do Jornal Zero mostra seguranças da Prosegur, na UFSC, em 1985

Os criminosos fugiram levando 1 bilhão de cruzeiros, o equivalente à grande parte da folha salarial dos servidores da Universidade.
A ação cinematográfica se transformou no primeiro grande assalto a banco da história da cidade.

Comando Vermelho
Os assaltantes eram liderados por Paulo Cesar Chaves, o PC, um dos fundadores do Comando Vermelho, facção criminosa criada no início da década de 1980, no Rio de Janeiro.

Após sair da prisão, PC Chaves virou camelô nas ruas do Rio (Imagem da entrevista concedida a Wagner Montes)

Depois do assalto, o bando foi se esconder num apartamento no Itacorubi, próximo à UFSC.
O imóvel pertencia a uma jornalista que trabalhava no Jornal O Estado e que era namorada de PC.
A profissional gaúcha tinha dado guarida ao fugitivo carioca e, antes do assalto, o ajudou a dar uma aparência de legalidade a um comércio de aluguel de jet ski na Lagoa da Conceição, o primeiro do setor em Florianópolis.

Prisão e retorno ao Rio
Em menos de duas semanas, o bando foi preso pela polícia local, mas apenas parte do dinheiro foi recuperada.
Os quatro cumpriram o início da condena em Florianópolis e, mais tarde, foram transferidos para o Rio de Janeiro.

Os atores que participaram do filme “400 contra 1” que conta a história do Comando Vermelho. PC seria o último à direita, em pé (Divulgação)

Nunca se conseguiu provar a cumplicidade da jornalista com os assaltantes.
Ela não foi presa, abandonou o Jornalismo e, atualmente, trabalha numa agência de Turismo no Rio Grande do Sul.

Livro e filme
A história de PC é contada no livro ‘O Bandido da Chacrete’, de Júlio Ludemir.
O título faz referência ao affair do criminoso com a chacrete Martinha, que foi presa com ele na década de 1970.

Chacrete Martinha (em destaque) foi uma das namoradas de PC (Acervo Profile Chacretiano)

Na obra está detalhada a passagem de PC pela capital catarinense.
O filme “400 contra 1” também tem o criminoso como personagem, na trama que conta a história do Comando Vermelho.

Jornal da UFSC entrevista guarda ferido
Um mês após o assalto, o Jornal Zero, do Curso de Jornalismo da UFSC, fez uma reportagem que serviu de referência para esta matéria do Floripa Centro.
O então estudante Angelo Medeiros entrevistou Manoel Liano Severo Brasil, um dos guardas feridos durante o assalto.
“Os assaltantes chegaram e nos renderam, quando eu vi eles saindo com o dinheiro, pensei em reagir, pois é o que tem que se fazer, aí levei um tiro e não pude fazer mais nada”, contou o guarda da Prosegur, que foi levado para o hospital e ficou um tempo em estado delicado.
“Não se pode ter medo ou receio neste emprego, tem de estar preparado para tudo”.

Nas semanas seguintes, a Prosegur deu um prêmio de 5 milhões de cruzeiros para cada membro da equipe assaltada, pela valentia que demonstraram.

Confira entrevista com PC Chaves, anos depois, já com a saúde debilitada:

(Esta reportagem contou com a colaboração dos jornalistas João Carlos Mendonça e Angelo Medeiros, que cobriram o assalto em 1985. A foto de abertura é do Jornal Zero)

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Em 1878, população da Capital foi à Praça XV testemunhar uma das primeiras ligações telefônicas do país

A capital catarinense foi uma das primeiras cidades do Brasil a experimentar a comunicação telefônica, antes mesmo que São Paulo.
A façanha ocorreu em 26 de julho de 1878, oito meses depois da primeira ligação no Brasil, feita por Dom Pedro II, no Rio de Janeiro.

Naquela noite, a população de Florianópolis se reuniu na sede da estação telegráfica, no entorno da Praça XV, para assistir a uma demonstração da nova tecnologia, inventada dois anos antes por Graham Bell, nos Estados Unidos.
A ligação telefônica entre a Ilha e o Estreito, onde existia outra estação telegráfica, foi feita pelo chefe da estação, conhecido apenas como Sr. Cavalcanti.

Naquele histórico dia, há 142 anos, várias florianopolitanos puderam falar ao aparelho.
E todos conseguiam ouvir as perguntas e as respostas transmitidas de forma clara, “como se estivessem conversando numa distância de 20 a 30 metros”, como informou o Jornal O Despertador, de 30 de julho de 1878.

A proeza só foi possível porque já existiam fios entre as duas sedes, separadas por cerca de 2 mil metros.
“Este ensaio usou cabos da rede telegráfica que ligavam a estação da Ilha (no Largo do Palácio) com a estação do Estreito”, descreveu o jornalista Rogério Mosimann, na sua dissertação de mestrado na UFSC, chamada “Implicações da internet nos jornais e a presença da RBS na web”.

Primeira linha foi de Dom Pedro II
A primeira ligação telefônica no Brasil foi feita por Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, em 1877.
Já a primeira linha telefônica no país foi instalada, na então capital do país, em 29 de novembro de 1879, e unia o palácio residencial de Dom Pedro II com as casas ministeriais.

Bell faz a primeira demonstração do uso do telefone, nos EUA, em 1876 (Wikipedia)

Em São Paulo, as primeiras demonstrações do telefone são feitas em agosto de 1878.

Florianópolis na vanguarda
A pesquisa de Mosimann mostra alguns fatos curiosos do início do telefone na Capital.
Confira:

– A principio, os telefones foram instalados apenas para comunicação entre repartições do governo, órgãos militares e corpo de bombeiros.

– Logo depois, os comerciantes também adotaram o uso do telefone.

– Em janeiro de 1909, Florianópolis já tinha 122 telefones instalados, número que pouco se alterou nos anos seguintes.

Imagem do uso do telefone em 1882 (Acervo Artwork)

– Na época, o telefone era usado por menos de 1% da população.

– Em 1915, apareceu a primeira lista telefônica do município, talvez a primeira do Estado, aumentando para 257 assinaturas, quando Florianópolis contava com, aproximadamente 40 mil habitantes.

– Dos usuários da rede telefônica cadastrados em 1915, 121 eram linhas residenciais, 43 do serviço público, 26 empresas comerciais, 14 fábricas, 14 empresas de serviço, 17 empresas não identificadas.

Evolução dos telefones (Acervo Rankbrasil)

– Em 1927, com a instalação da Companhia Telefônica Catarinense, se pôs fim à deficiência de comunicação nos municípios catarinenses.

– Pelo menos até 1960, Florianópolis ainda concentrava a maior parcela dos usuários de telefonia do Estado. Com 3,7% da população de Santa Catarina, a Capital possuía 29% das linhas telefônicas.

(A imagem de abertura é do site News18. Esta reportagem também contou com informações do blog da família Ganzo)

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