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Obras do novo Pró-Cidadão no Centro seguem a todo vapor e devem ser concluídas em 60 dias


A renovada fachada na Rua João Pinto é um indicativo do avanço das obras do imóvel da futura sede do Pró-Cidadão, na região Leste do Centro da Capital.

O antigo prédio, que abrigou três cinemas entre 1932 e 1991, está passando por uma reforma geral que o transformará numa moderna edificação, onde também será instalado o Procon municipal.

A reforma está sendo custeada pelo proprietário do imóvel, que alugará para a prefeitura um edifício pronto para o atendimento do público, com todo o mobiliário, inclusive o ar condicionado.

Assim será a fachada da Rua João Pinto (Divulgação PMF)

O edifício tem dois andares e atravessa toda a quadra, desde a João Pinto até a Rua Antônio da Luz.
As obras serão concluídas em agosto e envolvem a derrubada de praticamente todo o interior do prédio, que se encontrava muito danificado, com precárias instalações elétricas e hidráulicas, além de avarias estruturais.


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Aluguel mensal de R$ 39 mil
Mas o investimento para transformar o prédio teve efeitos no preço do aluguel, que será de R$ 39 mil por mês.
Inicialmente, o valor mensal do prédio, sem a reforma, era de R$ 20 mil.

A prefeitura alega que fez um bom negócio, já que contará com um imóvel novo e moderno, com estrutura completa.
Atualmente, paga-se R$ 75 mil mensais pela locação de dois imóveis (Pró-Cidadão e Procon).
Nos cinco anos de contrato, o município deve economizar R$ 2,1 milhões, levando em consideração a diferença entre os R$ 75 mil pagos hoje e os R$ 39 mil do futuro aluguel, que começará a ser desembolsado quando o imóvel for entregue reformado e mobiliado. (9/6/2020)

 

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Agendas

Uma crônica para aqueles que estão com saudades do samba na Travessa Ratcliff

Por Frutuoso Oliveira

Onde foi parar meu samba?
Pensei em começar esse texto contando a vocês o meu nome.
Mas isso não interessa ou pouco interessa, até porque não temos o direito de escolha.
Conheço um tanso que se chama Frutuoso e acha seu nome o máximo.

Vou apenas dizer quem sou.
Um morador do Centro de Florianópolis, vizinho da Travessa Ratcliff, aquele pedaço de chão entre as ruas João Pinto e Tiradentes, na região Leste.
São pouco mais de 30 metros que já me causaram tanta dor de cabeça, para não dizer tanto ódio.

Os centros de operações da PM e da Guarda Municipal devem ter os registros de quantas vezes telefonei para reclamar do som alto.
Como aquilo me fazia mal.
Samba. Aff! Aquela música de preto. Aquela música de pobre.

Como amaldiçoei aquele dia que fechei o negócio desse apartamento, comprado no extinto BNH.
Como já odiei aquela gente na rua, cantando, dançando, bebendo e falando alto.
Quantas vezes pensei como seria legal a volta da ditadura para moralizar esse pequeno trecho de rua.
Foi um dos motivos que me faz cravar 17.

Cheguei ao ponto de ver, da minha janela, homem beijando homem e mulher beijando mulher.
Como um pedaço tão pequeno de rua pode comportar tantas espécimes que repugno.

Confesso. Até porque já me confessei na missa de domingo. Já tive vontade de passar por ali, um sábado, às quatro da tarde, quando está fervendo, jogar um balde de gasolina e atear fogo.

O pior: vi ali famílias com filhos pequenos e com cachorros. Cheguei a ligar para o conselho tutelar e para a Dibea, mas não fui atendido.

Mas teve um final de semana que não veio ninguém. O silêncio imperou no Centro.
Como isso me fez bem.
“Vocês gostam de festa, mas têm medo de um vírus”, pensei.
“Vocês têm medo de uma gripezinha”, como disse meu presidente.

Como fui feliz naquele sábado. Eu venci. O coronavírus me trouxe a vitória.
Vocês não fazem ideia como amei os chineses nesse dia.
Preciso fazer mais uma confissão e olha que essa eu não fiz para o padre: já desci várias vezes, disfarçado, e conversei com aquela turma.
Tive vontade de ficar, mas meus princípios conservadores não deixam.

Sabe como é, a gente precisa conhecer o inimigo para poder lutar.
Lição de Sun Tzu.

Só que os finais de semana de silêncio foram se repetindo.
Por incrível que pareça, isso começou a me fazer falta.
Não ouvi mais aquele som do cavaquinho.
As batidas do atabaque sumiram. Onde foi parar o batuque do pandeiro que ditava o ritmo.
Até aquela música que tanto odiava e que de tanto detestar, às vezes até cantarolava:
“Não deixe o samba morrer/ Não deixe o samba acabar/
O morro foi feito de samba/ De samba pra gente sambar./

Está me fazendo falta.
Hoje tudo me faz falta. Esse silêncio me tortura.
Onde foi parar a bela Jandira Souza com seus sambas?
Para onde foram aqueles homens lindos (juro que é uma saudade hétera) que cantavam e dançavam nas tardes de sábado.
Aquelas mulheres belas e independentes, para onde foram?

Não gosto de confessar, mas sinto falta até daquelas feministas pedindo #lulalivre.
Seu Lidinho? Que sempre via por ali e que um dia até cheguei a trocar uma conversa.
O que será dele sem o samba e o samba sem ele?
O que é feito do Má e seus passos descompassados, sempre rindo feliz.

Onde anda aquele vereador gay? Não pára quieto, anda de uma mesa a outra conversando com todo mundo.
Soube que agora tem o sobrenome Mussi, mas sei que será sempre da Silva.

Onde está toda essa gente que tirava meu sossego e agora me faz tanta falta?
O silêncio da Travessa Ratcliff está me torturando.

O que eu faço para pedir que vocês voltem?
Telefono para o Gean? Peço ao coronel Araújo Gomes? Me digam, o que faço?
Neste sábado olhei para a travessa silenciosa.
Vi a bailarina pintada no grafite do artista que assina como “Ignoreporfavor” e me senti no mundo real.

Sim, o mundo e o samba me ignoraram.

Para onde foi meu samba, pensei. Sim, o samba é do povo. Nunca foi meu, mas hoje acho que ele também é meu.
Corri para o telefone e liguei para a PM, pedindo meu samba de volta e eles não entenderam.
Liguei para a Guarda Municipal e eles, educadamente, me disseram que é para ficar em casa.

Então, como não tinha o que fazer. Como não tinha a quem apelar, corri pela travessa gritando com toda força dos meus pulmões:
Eu queroooooo meeeuuuuu saaaambaaa caaaaraaalhoooooo!!!!!!

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Atualidade

Cinco curtas do final de semana – Pet sentimental, sabadão no Mercado Público, protesto antirracista e volta do dominó


À espera do companheiro

Este pequeno cachorro de rua, há seis anos frequentador dos altos da Felipe Schmidt, recentemente, ‘ganhou’ um dono. Um homem em situação de rua que dorme no Centro, mas todos os dias pela manhã vai para o Continente.
A cadela o acompanha até a entrada da Ponte Hercílio Luz e volta para o entorno do Parque da Luz. Ao anoitecer retorna para a cabeceira insular à espera de mais uma noite junto ao ‘dono’.

Filas Mercado Público

A tradição de frequentar o Mercado Público no sábado pela manhã permanece intacta.
Isso pôde ser comprovado neste final de semana: às 11h30min, filas de 40 pessoas nas duas entradas principais.
Para controlar o fluxo dos clientes e evitar aglomerações, não era permitido o ingresso pelas laterais.

Manifestação antirracista
O site Tudo sobre Floripa divulgou a manifestação antirracista ocorrida na tarde deste domingo, 7, no Centro.
As pessoas se concentraram no Largo da Catedral e seguiram em caminhada pelas ruas centrais. Além de faixas e cartazes em protestos contra o racismo, também houve manifestações antifascistas e contrárias ao presidente Jair Bolsonaro.
Durante o percurso, também foram mencionadas as mortes de jovens ocorridas há cerca de um mês, no Morro do Mocotó.
No canteiro da Avenida Mauro Ramos, foram colocadas cruzes de madeira, com nomes de algumas dessas vítimas.


A volta do dominó
A pandemia afastou temporariamente os tradicionais jogos de dominó do canteiro central da Avenida Hercílio Luz.
Mas, timidamente, os jogadores estão retomando o costume, com as precauções necessárias.

Uber na rodoviária
Os motoristas de aplicativos encontraram o local ideal para aguardar a chamada dos clientes do Centro.
É no Terminal Rita Maria, que se encontra temporariamente desativado por causa da proibição do transporte de passageiros em ônibus intermunicipais e interestaduais.
Assim, eles estacionam à espera das chamadas, sem atrapalhar o trânsito e evitando gastar combustível, rodando desnecessariamente.

(Textos e imagens Billy Culleton – Foto do protesto antirracista é reprodução do Facebook – 8/6/20)

 

 

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Histórias do Centro

Vexame nacional em 1937 – Calote de SC a escultor quase derruba estátua de Hercílio Luz

Por Billy Culleton

Pagamento antecipado, intermediários, calote e judicialização são os ingredientes de um ‘escândalo nacional’ que envolveu políticos e personalidades da alta sociedade florianopolitana há 83 anos.
Um ano após a inauguração da estátua de Hercílio Luz, na cabeceira insular da ponte, e sem ter recebido o pagamento pela obra, o escultor procurou a Justiça pedindo a derrubada da estátua.

A história será contada a partir da transcrição dos textos do jornal local A Gazeta, que apurou o caso durante dez dias.

Acompanhe a erudita narrativa, recheada de adjetivações e subjetivações (foi mantida a grafia original):

9 de setembro de 1937 – A estatua de Hercilio: diz-se que vai ser arrancada por falta de pagamento ao fundidor
Hoje, com surpreza maguante, chega às mãos um exemplar do Vespertino A Noite, do Rio de Janeiro, com o título:
‘Quer arrancar o monumento – Curiosa ação em torno da estátua’
(
Segue, na reportagem de A Gazeta, a transcrição do Jornal A Noite):
O caso é curioso. Cogitava-se de homenagear a figura de Hercílio Luz.
Nada melhor, portanto –considerou-se – que erigir-se uma estátua ao grande político e ex-governador de Santa Catarina.
Veiu o artista, apareceu a ‘maquete’ e pouco depois o modelo ia para fundição.
O monumento ficou pronto, perfeito.
O fundidor, porém, viu apenas parte do dinheiro.
Como resultado de muitos entendimentos, ficou resolvido que o pagamento restante se processaria parceladamente, sendo que oito contos de réis logo no ato do embarque do monumento para Santa Catarina, onde seria inaugurado.
O volume foi para o Cáis do Porto. O conhecimento de embarque foi apresentado, mas o pagamento combinado não foi feito.
Protelações constantes desafiaram a paciência do fundidor.
Cansado de cobrar sem resultado deixou que tudo corresse como Deus quisesse.
Emquanto não viessem os ‘cobres’, Hercílio Luz em bronze ficaria jogado nos armazéns do Cáis.

E de fato durante meses a artística obra ali ficou.
Passaram-se os tempos.
Um belo dia o fundidor abre as páginas de um jornal e lê, surpreso, esta notícia: “Com grande solenidade foi inaugurado nesta cidade (era telegrama de Santa Catarina), o monumento do sr. Hercílio Luz.
Era demais – pensou – que fizessem a festa, mas pagassem.
E assim pensando, o fundidor iniciou uma ação que presentemente está em marcha para a solução final e cujo objetivo é o seguinte: arrancar da praça pública o monumento que não foi pago.”

(Continua matéria de A Gazeta):
Gravíssima é a revelação que ai fica.
Cabe aos responsáveis explicar o que há a tal respeito (…) e que evitem que se faça passar o povo catarinense pelo vexame, pelo desaire e pela vergonha de ser apontado como caloteiro aos olhos de todo o Brasil e de ver arrancada de seu pedestal, por falta de pagamento ao fundidor, a estatua daquele que foi uma expressão aurifulgente do gênio, do valor e do heroísmo cívico da gente barriga-verde.

O que nos disse o dr. Wanderley Junior
Afim de obtermos esclarecimentos acerca do palpitante caso, procuramos o dr. Wanderley Junior, membro da comissão ‘pró estátua Hercílio Luz’, que nos disse o seguinte:
Trata-se de uma infâmia. O monumento, pelo que sei, foi pago, tendo servido de intermediário, no Rio de Janeiro, para a entrega do mesmo à comissão, o senador Artur Costa. Posso adiantar que o último pagamento ao escultor Antonino de Matos devia ter cabido ao sr. Ângelo La Porta (proprietário do icônico Hotel La Porta), que foi quem se responsabilizou pelo que faltasse inteirar.O que nos disse o senador Artur Costa:
Fui encarregado pela Comissão Pró-estatua Hercílio Luz, de solucionar, no Rio de Janeiro, a situação de impasse em que se encontrava a mesma comissão em face do escultor Antonino de Matos, que não cumprira o contrato e reclamava novas quantias para a conclusão da obra, paralizada desde há muito tempo.
Esgotados os meios suasórios, recorri á ação judicial. Intimado o sr. Antonino de Matos para responder em juízo, este formulou uma proposta, que transmitida á comissão e por esta aceita, foi pelo escultor cumprida. Em face disto, foi-me a estatua entregue pelo que encaminhei ao dr. Amadeu Luz. Sobre o assunto, é o que sei”
18 de setembro de 1937 – Novas declarações do dr. Wanderley Junior
O caso da estátua está repercutindo em todo o país (..) e está tomando foros de escândalo nacional.
Voltamos a procurar o advogado dr. Wanderley Junior, para que, como membro da comissão angariadora dos donativos, nos dissesse algo mais positivo:
A estatua foi integralmente paga ao escultor. Este, entretanto, deixou de entregal-a á comissão, pretextando gráves prejuízos, que o impossibilitavam de liquidar com o fundidor a parte que a este competia.
O escultor, intimado a responder em juízo, formulou então uma proposta, que, consistiu em darem-lhe mais dez contos de réis, com cuja quantia pagaria ao fundidor, retiraria a estatua e entregar-la-ia à comissão.
(…)
Foi nesta altura, que o sr. Angelo La Porta, fez á comissão o oferecimento da quantia
pedida pelo escultor, responsabilizando-se a fazer a entrega da mesma.
Continuando, o dr. Wanderley Junior, esclarece:
– Posso adiantar, que por um intermediário, o sr. Angelo La Porta, na ocasião da remessa da estatua para esta capital, féz a entrega de parte da quantia porque se responsabilizára.
18 de setembro de 1937 – Crêmos que a voz do governador Nerêu Ramos não tardará, pondo termo a celeuma suscitada em torno do lamentável caso
Em entrevista dada pelo dr. Wanderley Junior, ontem publicada por esta folha (…) há uma passagem obscura, que julgámos de bom aviso elucidar, para evitar interpretações intempestivas e maldosas.
Trata-se da declaração:
“Poder adiantar ter o sr. Angelo La Porta, na ocasião da remessa da estatua para esta capital, feito a entrega de parte da quantia porque se responsabilisára”.
O nosso empenho em esclarecer o assunto, de modo a colocar as coisas no seu verdadeiro pé…
(…)
Assim, podemos garantir, que a quantia entregue pelo sr. Angelo La Porta foi apenas 1:700$00 (seria 1,7 conto?), posta em mão do ilustre deputado dr. Abelardo Luz, para pagamento da armazenagem do monumento e outras despezas concernentes ao seu embarque.
(…)
Daqui resulta, portanto, não haver o escultor Antonino de Matos recebido até esta data a importância dos dez contos de réis.
(…)
O assunto não é apenas melindroso. Ele é gravíssimo.
O vexame, no caso de uma decisão judicial favorável ao fundidor, viría recair em cheio na face de todos os catarinenses.
Estamos certos, porém, de que antes de tal decisão judiciária se efetivar, o nobre governador de Santa Catarina, o grande catarinense que é o ilustre sr. dr. Nerêu Ramos (…) evitará a consumação de tamanho deslustre aos brios da gente barriga-verde.
Sua Excia, tomará, não tenhamos disso a menor dúvida, as providências necessárias para que a estatua de Hercílio Luz permaneça intangível no seu pedestal.
(…)
Descansem, pois, os catarinenses, que a voz do atual governador de Santa Catarina, não tardará.”

E nunca mais se falou no assunto!
Tudo leva a crer que Nereu Ramos quitou a dívida (com recursos públicos ou próprios), já que, 83 anos depois, a estátua continua em pé, na cabeceira insular da Ponte.

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Agendas

Migrante deve ser tratado como nosso hóspede – Conheça a nova vida do venezuelano Miguel no Centro

Por Frutuoso Oliveira
Durante a pandemia, por causa do uso da máscara, é impossível ver o sorriso que o venezuelano Miguel Farias traz sempre estampado em seu rosto.
Ele é um dos tantos estrangeiros que encontraram, na bela Florianópolis, o lugar ideal para tocar a vida.

Miguel, de 27 anos, nasceu e cresceu em Bolívar, cidade que faz fronteira com o Brasil.
Do lado de cá é Pacaraima, em Roraima, por onde entra a maioria dos venezuelanos que vem ao Brasil.
Hoje, ele trabalha no café Bayer, recém-aberto na cabeceira insular da Ponte Hercílio Luz.

“O migrante, especialmente aquele em situação de refúgio, é o ser humano mais importante numa nação civilizada. Ele é o nosso hóspede.”
Alfredo Culleton, professor da Unisinos/RS, vinculado ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

Antes, Miguel trabalhava no quiosque de chope, da cervejaria Bayer, do mesmo dono do café, que já funciona desde a reinauguração da ponte, em dezembro.
Assim como ele, há muitos venezuelanos que vieram tentar a vida no Brasil.

Passou a fronteira e ficou três meses em Manaus.
“Lá era muito calor. Florianópolis é bem melhor”, fala, em seu “portunhol” que aos poucos vai se adaptando ao português.

A vida na Venezuela não estava fácil. “Eu tinha uma cafeteria em Bolívar. Ganhava um bom dinheiro. Com 23 anos já tinha comprado a minha casa, mas quando veio a crise não tinha nem mais para comer”, conta.
Lá, na sua cafeteria, conheceu Gabriela, sua esposa, hoje com 22 anos.
Vieram juntos para o Brasil tentar a vida.
No início da pandemia, enquanto todos se preocupavam com o que estava por acontecer, eles receberam um grande presente: nasceu Luciano, o primeiro filho do casal.

“Temos um filho manezinho. Já está com dois meses, cada vez mais gordito”, diz Miguel, explicando que o nome é uma homenagem a sua vó, que se chamava Lúcia.

Fazendo, e servindo, café para os clientes que já começaram a aparecer no local, apesar da pandemia, Miguel está feliz e realizado no Brasil.
“Só encontrei gente boa. Sou bem tratado por todos”, comemora.

Confira contribuição sobre os migrantes de Alfredo Culleton, professor da Unisinos/RS, vinculado ao Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados:
“O migrante, especialmente aquele em situação de refúgio, é o ser humano mais importante numa nação civilizada.
Ele é o nosso hóspede.
É a visita que deve ser tratada com preferência e que traz junto a diversidade: nova cultura, música, culinária, alegria e uma esperança enorme de dar certo.
Ele não faz cara feia para nenhum trabalho.
É aquele que não tem alternativas e, por isso, não reclama da escola, nem da saúde.
Ele só tem a oferecer o seu sonho e seu trabalho.
Deveria ser recebido com festa e não com desconfiança.
Deveríamos querer aprender as suas línguas, os seus sonhos, os seus livros e os seus amores.
Mas, ao contrário, muitas vezes ficamos com medo, mesquinhamente assustados.”

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Reportagens Especiais

Bares da boemia no Centro – Qualé Mané e Tralharia não resistem à pandemia, mas Alvim busca se reinventar

Dois points tradicionais do Centro da Capital foram obrigados a encerrar as suas atividades por causa da pandemia: os bares Qualé Mané, na Praça Olívio Amorim, e Tralharia, na Rua Nunes Machado.
Ambos tinham conseguido se tornar referência para os boêmios de Florianópolis, nos últimos anos.

O compositor florianopolitano Orlando Carlos da Silveira, conhecido como Neco, assumiu o Qualé Mané em 2014 e, o que antes era apenas um ‘boteco de bairro’, ganhou novos clientes pela identificação com o samba.

Imagem: reprodução Facebook

Todas as noites havia excelentes shows de música brasileira, mas também havia espaço para a poesia e a música autoral.
(Confira, no final da matéria, a carta de despedida de Neco).

O Tralharia, por sua vez, além de café e bar, era uma loja de antiguidades.
Abriu as portas em 2015 e conseguiu uma rápida empatia com uma clientela diversificada, formada por ‘intelectuais de todos os tipos’, músicos, professores e jornalistas.

Imagem: Sérgio Vignes, reprodução Facebook

“Sempre fomos uma soma de café, bar e loja de antiguidades. Mas virou um espaço cultural de inteiração entre pessoas com pensamentos similares”, afirmou o proprietário Guto Lima, ao site NSC Total, recentemente.
Ele disse que pensa em reabrir o espaço, mas vai esperar até que o momento seja seguro para que as pessoas possam voltar a interagir e ocupar o espaço do bar.
(Confira, no final da matéria, o anúncio do fechamento do Tralharia, no Facebook).

Com história de 65 anos, Bar do Alvim continua
Já os proprietários do Bar do Alvim não se entregam.
Há pouco mais de dois meses trocaram de local e se instalaram na Rua João Pinto, 185, quase esquina com a Travessa Ratcliff.

Imagem: Billy Culleton

O Bar do Alvim tem 65 anos de história, 59 deles, no Mercado Público Municipal.
Foi aberto em 1955 por Alvim Espinoza e no início era apenas açougue e fiambreria.
Nos anos 1990, atendendo aos pedidos dos clientes que gostavam de provar os produtos, começou a servir bebidas, para se transformar, definitivamente, num bar de excelência, na entrada/saída do Mercado, na frente do Camelódromo e do Ticen.

No Mercado Público, em 2012 (Imagem: Billy Culleton)

Mas em maio de 2014, teve que fechar as portas como consequência da reforma do Mercado Público e da realização de uma nova licitação para a ocupação dos boxes.
A alternativa foi abrir em Palhoça, na Grande Florianópolis, ao lado da praça principal da cidade.
Mas Alvim não resistiu e pouco tempo depois estava de volta ao Centro da Capital. Desta vez, no início da Rua João Pinto, pertinho da Praça XV.
O pequeno local servia para os boêmios matarem a saudades da época do Mercado Público.
O tradicional bar sofreu um baque com a morte repentina de Alvim, em fevereiro de 2019, vítima de um infarto.

O novo local (Imagem: Billy Culleton)

Foi a vez do genro Janir Francisco e do neto Nelson Fernandes, que já trabalhavam com Alvim, assumirem a responsabilidade de continuar as atividades.
Sem conseguir renovar o contrato no local, decidiram se mudar para o novo endereço, na mesma Rua João Pinto, porém, 150 metros para o lado leste.
As instalações ainda são precárias e não há sequer placa de identificação do lado de fora.
Estão tentando sobreviver vendendo refeições e bebidas, embora a clientela esteja sumida.
A esperança dos sócios é o rápido fim da pandemia e a abertura do novo Pró-Cidadão, que fica na frente do bar, e que trará maior movimentação de pessoas para a região.

Despedida do Neco (reprodução da página do Facebook)
Olá queridos amigos do Bar Qualé Mané!
No dia 8 de julho próximo completariamos 6 anos de trabalho pela nossa boa música brasileira. Mas infelizmente hoje venho lhes informar que estamos encerrando as atividades, devido a pandemia e suas tristes consequências.
Quando muitos não acreditavam ser possível um bar com música de excelência ao vivo na Avenida Hercílio Luz, levamos em frente a ideia de, com esta casa de música, resignificar a região do centro da cidade. Então, devagarinho fomos nos estabelecendo e ajustando nosso trabalho, buscando ouvir e considerar a todos, chegando a um bom termo com nossos vizinhos e a cidade.

Neco, de chapéu branco, e parte da ‘turma’ do samba (Reprodução Facebook)

Nesta caminhada fizemos muitos amigos, e fomos agraciados por uma clientela diferenciada e carinhosa.
Agora só temos a agradecer a cada um de vocês, meus queridos, a equipe de apoio: Guilherme (que finalmente foi chamado em concurso público) queridas Sussu, Adriana, Graça, Carol e Sara Brum).
Muito especialmente a cada um dos meus queridos amigos músicos e cantoras excepcionais (não vou nominá-los no momento,
são muitos e vocês conhecem todos) que nos brindaram com a nossa maravilhosa música brasileira e tudo o mais de bom que estes músicos executaram, com esmero e dedicação para o nosso deleite.
Encerramos com sentimento de dever cumprido, pedindo a compreensão de vocês e desculpas a quem possamos ter desagradado.
Será uma parada para descanso e recomposição física, emocional e financeira.
Mas, convém lembrar, que passada esta crise, poderemos retornar, não e mesmo?
Gratidão a todos pelo imenso carinho recebido.

Beijos e Abraços. Neco.

Despedida do Tralharia (reprodução da página do Facebook)
Hoje entramos no casulo.
Em breve nos veremos borboleta.
Hoje foi o dia da mudança mais pesada do Tralharia.
Hoje o imóvel na Nunes Machado, 104, deixou de ser a Tralharia como tantas pessoas conheceram.
O toldo ainda está lá com o nome.
Os dizeres “antique/café/bar” ainda estão colados no vidro da entrada.
As madeiras que aqueciam nossos corpos e corações ainda estão nas paredes.

Imagem: Sérgio Vignes, reprodução Facebook

Mas não é mais a casa do Tralharia.
Por hora voltamos para o Casulo, que nesse momento também fica no Centro de Florianópolis.
Um lindo imóvel antigo é o lugar que nosso acervo ficará guardado.
Nosso Casulo ser um casarão centenário, que resistiu a tanta especulação imobiliária, não é por acaso.
É parte da nossa história: Resistência.
Não poderia ser diferente e nem ter sinal maior de que voltaremos ainda mais fortes e melhores.
Continuaremos com nosso Bazar, Sebo, voucher, rifa e outras ações para conseguimos pagar as dívidas.
Com a ajuda de todas e todos passaremos por essa triste fase.
Obrigado a todas e todos que nos apoiaram de alguma forma até agora.
Em frente sempre!

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Agendas

Os donos do ponto – Taxistas reclamam que população usa seus abrigos para embarcar em carros de aplicativos

Cansados de assistir pessoas embarcando em Uber bem na frente deles, motoristas de táxis do Mercado Público de Florianópolis decidiram escancarar: colaram adesivos nas laterais do abrigo, explicitando que o local é de uso exclusivo dos taxistas.

POR FAVOR! Respeite esse espaço, pois é exclusivo para o sistema de táxi.
Usuários de Apps e de outros transportes solicite em outro local.
Grato pela compreensão.

O abrigo coberto e com quatro assentos é o lugar ideal para esperar um carro de aplicativo, na Avenida Gustavo Richard, nas imediações do Largo da Alfândega, ao lado do Mercado Público.
Não há outro similar nos arredores.
Por isso, muitos usuários do Uber que deixam o Centro chamam o serviço e esperam ali, para desespero dos taxistas.
São constantes os atritos envolvendo o abrigo, que foi colocado recentemente, após a reforma do Largo da Alfândega.

O taxista Antônio Amaral, há 15 anos na praça, tem o discurso na ponta da língua. “Esse lugar é nosso, nós pagamos impostos e temos direito!”, diz, enfaticamente.
“Não vamos permitir que motoristas improvisados, que não pagam nada para a Prefeitura, usem o que conseguimos ao longo de anos”, afirma, acrescentando que ‘chamam a atenção’ de qualquer Uber que ‘encostar’ na área.

O abrigo fica bem na frente da faixa de pedestres, por isso, os táxis ficam parados dois metros antes.

A população, que está alheia à disputa entre taxistas e motoristas de aplicativos, aguarda por uma alternativa.
“Deveriam colocar um abrigo em outro lugar próximo para esperar o Uber e acabariam os problemas”, sugere a aposentada Maria Helena Constantino, que estava surpresa com a exclusividade do confortável abrigo apenas para os passageiros de táxi.
“Até porque sempre tem táxi parado no ponto e ninguém fica esperando sentada por um táxi”.
(3/6/2020)

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Atualidade

Que horas você vai começar a trabalhar a partir de 17 de junho? Confira a tabela com atividades e horários

A Prefeitura de Florianópolis definiu a data para o retorno do transporte coletivo na cidade.
A consequência da medida, anunciada nesta terça-feira, 2, afeta diretamente o horário de trabalho de milhares de pessoas na Capital.

Para evitar aglomerações nos ônibus em horários de pico, a partir de 17 de junho, muitas atividades laborais terão mudança na abertura e fechamento.
Em conjunto com entidades do setor produtivo, a prefeitura dividiu as atividades em oito grupos.

Nesta primeira fase, os ônibus vão circular apenas de segunda a sexta-feira e não poderão exceder a ocupação de 40% por veículo.

Veja a tabela com as atividades e horários (em destaque, as principais ocupações):


(Com informações e imagens da PMF)

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Histórias do Centro

Memória recuperada – Confirmado o local onde estão enterrados os restos mortais do ex-governador Hercílio Luz

O culto aos mortos foi um costume muito arraigado à nossa cultura até poucas décadas atrás.
A modernidade, com a pretensa rejeição ao sofrimento e à dor, lentamente buscou excluir o hábito de lembrar daqueles que nos deixaram o seu legado.

Atualmente, são raras as homenagens a figuras públicas que ajudaram a desenvolver uma cidade, estado ou país.
Mas não foi sempre assim. Era praxe em Florianópolis, até a década de 1960, reconhecer a memória de políticos como, por exemplo, o ex-governador Hercílio Luz.
E graças a essas homenagens, registradas nos jornais da época, que é possível confirmar o local onde está enterrado o idealizador da ligação entre a Ilha e o Continente.
É sob a estátua dele, na cabeceira insular da ponte!

Reportagem publicada pelo Floripa Centro nesta sexta-feira, 29, mostrou que ‘oficialmente’ ninguém sabia o destino do corpo de Hercílio Luz: nem o Estado (representado pela Fundação Catarinense de Cultura, que administra o Museu sobre o ex-governador, em Rancho Queimado); nem a família (a neta afirmou que a tradição oral indicava que seria no monumento, mas que não havia certeza sobre isso) e nem os ex-governadores Esperidião Amin e Jorge Bornhausen.
Foi o irrequieto colega jornalista Upiara Boschi que, após ler a matéria, buscou os arquivos dos jornais e constatou a menção ao túmulo de Hercílio Luz.
O primeiro registro foi a homenagem pelos 25 anos da sua morte, em 19 de outubro de 1949.
O Jornal O Estado publica um convite para as diferentes solenidades, entre as que se destaca a ‘romaria à estatua de Hercílio Luz, onde se acham depositados os ossos do ilustre morto’.
Onze anos depois, por ocasião do centenário do nascimento de Hercílio Luz, em 29 de maio de 1960, houve uma semana de homenagens na Capital.
Os jornais da época, como O Estado, mencionam uma solenidade no ‘túmulo-monumento’, que começou com a romaria ao local e culminou com o discurso do governador Heriberto Hulse.
A placa dessa homenagem ainda encontra-se numa das laterais do monumento.

Primeiro, no Cemitério do Hospital de Caridade
Quando morreu, em 1924, Hercílio foi enterrado no Cemitério da Irmandade Senhor dos Passos, ao lado do Hospital de Caridade.
Este fato é unanimidade entre os historiadores.
Em 17 de novembro de 1930, o jornal O Estado faz menção a isso, em artigo sobre outro político: “Que esse túmulo, e elle, como o de Hercílio Luz, lá está no cemitério dos Passos…”
Porém, não foram encontrados registros de quando foram transferidos os restos para a cabeceira insular da ponte, agora confirmado como o local oficial onde descansa o ‘inolvidável e saudoso estadista catarinense’, como era chamado em tempos longínquos.

Quer ler um artigo interessante sobre a falta da preservação da memória dos mortos no Brasil?
Recomendo este aqui, escrito pelo doutor em Filosofia Alfredo Culleton (sim, meu irmão!).
É longo, mas vale a pena!.

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Personagens do Centro – A persistência baiana do seu Manoel à frente do Café no Bule

Por Frutuoso Oliveira

O Centro de Florianópolis tem inúmeros personagens pitorescos.
Uma dessas figuras diferenciadas pode ser encontrada na esquina das ruas Felipe Schmidt com a Padre Roma.
Manoel Jerusalém da Silva Soares é seu nome. Café no Bule é o nome da sua lanchonete.
Aos 70 anos, o baiano de Feira de Santana, está há 27, no mesmo ponto.
Orgulha-se de todos os dias, de domingo a domingo, ter café fresco e quente às seis horas da manhã.Ele tem um estilo direto de atender ao freguês.
Alguns o acham grosseiro, mas no fundo é uma alma doce e simpática.

Mas não é de hoje que seu Manoel está atrás de um balcão.
Com 17 anos chegou em São Paulo, com apenas duas mudas de roupa, para tentar a vida. Foi trabalhar na padaria de um português.
Lá, ficou até conseguir uma vaga no ramo de bancas de jornais. Chegou a ter dez bancas na região central da capital paulista.

Depois passou a abrir lanchonetes e passar o ponto à frente.
“Eu gostava de montar o estabelecimento, fazer a freguesia e repassar para outro”, lembra.
Um dia cansou de São Paulo.
“Não passava uma semana sem que fosse assaltado. Era muita violência”.

Escolheu Florianópolis para fixar residência e trabalhar.
No Café no Bule, a clientela é eclética.
Entre os habitués estão Cláudio Lovato, um bancário aposentado, apaixonado pelo Grêmio e pela aviação, e o catarinense Katinha Branco, veloz ponta direita do Vasco que já deu caneta no Júnior Capacete, do Flamengo, com o Maracanã lotado, no início dos anos 1980.
Nem mesmo os moradores em situação de rua ficam sem um café e um lanche.
“Se tenho para mim, também tenho para os outros”, argumenta.

Só não gosta dos arruaceiros. Para eles, tem dois parceiros: um porrete, apelidado de Chico Doce, e um facão, que chama de delegado.
Na política é contra o governo, a quem chama de Bolsonário, mas prefere não discutir com estranhos.
“Sabe como é. O povo hoje está agitado. É melhor não tocar no assunto”.

A pandemia espantou os clientes dos bares do centro. O Café no Bule é uma das vítimas.
Um que outro para tomar uma cerveja ou fazer um lanche.
Mas, seu Manoel se mantém firme com as portas do Café no Bule sempre abertas, a espera de dias melhores.

(As fotos também são de Frutuoso de Oliveira)

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Histórias do Centro

Onde está enterrado o ex-governador Hercílio Luz? Apesar da falta de registros oficiais, achamos algumas evidências

Neste 29 de maio completam-se 160 anos do nascimento da mais lembrada e homenageada figura pública de Santa Catarina.
Hercílio Luz, o primeiro governador eleito pelo voto direto, nasceu em Desterro e foi duas vezes governador do Estado.
O que se sabe, e ainda gera controvérsias, é que ele está enterrado sob a sua estátua, na cabeceira insular da ponte que leva seu nome.

Imagem: reprodução do livro “História de Florianópolis’, de Carlos Corrêa

Bisneta confirma tradição oral
Quando morreu, em 20 de outubro de 1924, o político foi enterrado no Cemitério do Hospital de Caridade, no jazigo da família Luz.
Doze anos depois, com a inauguração do monumento em sua homenagem, 12 de outubro de 1936, o corpo teria sido transferido para a cabeceira da ponte.

Inauguração do monumento, em 1936 (Imagem: autor desconhecido)

A informação foi dada ao Floripa Centro por Elise da Luz Schmitt Souza, bisneta do ex-governador, que trabalha como cartorária na Capital.
Elise consultou a sua mãe, Heloisa da Luz Costa Schmidt, também moradora de Florianópolis.
“A tradição oral da família sempre apontou que, primeiro, ele foi enterrado no Caridade e depois, sob o monumento. Mas, não existe nenhum registro oficial sobre isso”.
Heloisa, 76, é filha de Alda Luz Costa, que tinha sete anos quando Hercílio morreu. Alda, por sua vez, era filha de Coralia, segunda esposa do político.

Oficialmente, ninguém sabe onde está enterrado
Em Rancho Queimado, a 100 quilômetros da Capital, existe o Museu Casa de Campo do Governador Hercílio Luz, mantido pela Fundação Catarinense de Cultura.
A administradora do espaço, Adriana Sagaz, diz que não é possível afirmar o local onde o ex-governador está enterrado.
“Isso é uma incógnita e objeto de estudos de vários historiadores ao longo dos últimos anos. Pode estar no cemitério do Hospital de Caridade ou na cabeceira da ponte. Mas, até agora, ninguém conseguiu confirmar…”

Casa de campo, em Rancho Queimado (Arquivo: FCC)

Nem mesmo nos arquivos do Centro de Memória do Hospital de Caridade há referências sobre o destino do corpo.
Oficialmente, consta que foi enterrado no cemitério local, da Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, e depois seu corpo teria sido ‘transferido’.

“Nunca tive essa informação. Há algumas possibilidades: no Hospital de Caridade, no Museu em Rancho Queimado ou no Cemitério do Itacorubi, no jazigo da família Luz Silveira”, afirma o professor Nereu do Vale Pereira, de 91 anos, um dos mais antigos historiadores de Florianópolis. “Na cabeceira da Ponte? Nunca ouvi falar sobre isso…”.

Ex-governadores desconhecem destino dos restos mortais
O Floripa Centro ainda consultou dois ex-governadores com ‘raízes’ florianopolitanas.
O senador Esperidião Amin supõe que esteja enterrado no Cemitério Municipal São Francisco de Assis, no Itacorubi. “Ou, quem sabe, no Cemitério da Irmandade Senhor dos Passos, no Hospital de Caridade…”
Já o ex-governador Jorge Bornhausen disse desconhecer onde está enterrado o homem que dá nome à ponte.

Ou seja, 96 anos após a sua morte, de autoridades a historiadores, passando pela própria família, ninguém sabe ao certo onde está enterrado um dos personagens mais conhecidos da história de Santa Catarina e que empresta o nome ao Aeroporto Internacional da Capital, à Ponte e ao time de futebol da cidade de Tubarão, além de inúmeras praças, escolas, avenidas e ruas do Estado.

Em meio às incertezas, o Floripa Centro aposta na tradição oral da família para afirmar que Hercílio Luz estaria enterrado na cabeceira insular da Velha Senhora. E aguarda a confirmação dos especialistas…

Características do monumento
A estátua em tamanho natural mostra o desterrense olhando para o horizonte, em direção ao Norte da Ilha de Santa Catarina, segurando um chapéu e uma bengala.
Na base, a escultura de uma mulher seminua, representando a liberdade, que estende o braço em direção ao ex-governador, com uma flor na mão (atualmente, por causa do vandalismo, sobrou apenas o talo de metal).


Embaixo está escrito: “A Hercílio Luz, o povo de Santa Catarina – 29-5-1860 – 20-10-1924”.
Em outra lateral, uma placa (reposta recentemente) com a seguinte inscrição: “A Hercílio Luz, no centenário do seu nascimento, homenagem do povo de Santa Catarina e do governador Heriberto Hülse – 1860 – 29 de maio – 1960”.

(Texto e imagens atuais: Billy Culleton, 29/5/2020)

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Reportagens Especiais

A volta do Senadinho – Ponto Chic reabre com fotos históricas e homenagem ao ‘senador’ Alcides Ferreira

Eternizado na parede, o senador Alcides Ferreira agora pode acompanhar o movimento e as conversas no local que ajudou a afamar.
Ainda atônito com a novidade ‘desses panos’ que cobrem a boca dos clientes, chegou a pensar que era para evitar a leitura labial das fofocas que tradicionalmente flutuavam pelo café.

Foi nesse contexto de incerteza geral, do senador à atendente, que dois jovens e destemidos empresários reabriram o Ponto Chic, nesta segunda-feira, 25.
Também conhecido como Senadinho, o tradicional café do Centro de Florianópolis voltou a receber seus primeiros frequentadores, num ambiente que remete ao seu passado glorioso de 72 anos.
A decoração conta com fotos históricas, como a passagem do presidente João Figueiredo, em 1979, no âmbito da Novembrada.

Na parede oposta, um mural com ilustrações do artista Laercio Lopo (do Estúdio Caju Criativo), com os principais símbolos do Centro, como a velha figueira, o Miramar e a Ponte Hercílio Luz.
Tudo sob o olhar atento do Senador Alcides.

Reabertura
Dois empresários do ramo de chocolate se associaram para reabrir o nobre local, na esquina da Felipe Schmidt e Trajano, que estava fechado desde fevereiro de 2019.
O manezinho João Petry, proprietário da franquia Cacau Show no Kobrasol, e Edson Figueiredo, dono da franquia Brasil Cacau, instalada no Calçadão, a poucos metros do Senadinho.
Em novembro começaram as obras de reforma e pretendiam inaugurar o café em 23 de março, no aniversário de Florianópolis.

A pandemia adiou a iniciativa, mas, com tudo pronto, não havia como continuar fechado. “Estamos cientes de que o movimento será tímido num primeiro momento, porém, mesmo assim, decidimos abrir”, afirma Edson, enquanto atende os fregueses, junto com o sócio e uma funcionária.
Além do café e do chopp, é oferecida uma grande variedade de bolos, tortas, doces e salgados. “Queremos recuperar o perfil tradicional do Ponto Chic”.

História
O Ponto Chic foi inaugurado em 1948.

(Autor desconhecido)

Em 1979, o local também passou a ser chamado de Senadinho, após ser criada a confraria “Senatus Populusque Florianopolitanus” (“Senado Popular Florianopolitano”), e fazia referência a uma célebre figura da cidade, Alcides Hermógenes Ferreira.
Assíduo frequentador do Ponto Chic e sempre elegantemente vestido, ele era chamado de senador.

(Imagem: Casa da Memória de Florianópolis)

Uma de suas extravagâncias era tomar o café no píres.

(Imagem: Casa da Memória de Florianópolis)

O comércio foi palco do famoso incidente entre o presidente João Figueiredo e manifestantes, que acabou em confronto, no dia 30 de novembro de 1979, num dos episódios da Novembrada.

Confira o vídeo do local:

(Textos e imagens sem crédito são de Billy Culleton)

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