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Histórias do Centro

Inaugurada no Natal de 1861 – Conheça a pequena igreja ‘invisível’ do Centro de Florianópolis

Por Billy Culleton
Encravada no meio de enormes prédios, num recuo da Rua Conselheiro Mafra, encontra-se a Igreja Nossa Senhora do Parto.
Localizada no centro histórico da Capital, é desconhecida pela maioria da população. Muitos já passaram na frente. Porém, poucos entraram.
É um dos templos com menos história registrada da cidade: há pouquíssimas imagens antigas e nenhum livro ou trabalho acadêmico que  resgate a sua memória.

O seu início remonta a 1837 quando foi autorizada a construção da pequena igreja que abrigaria a imagem de Nossa Senhora do Parto, trazida por imigrantes portugueses.
A obra começou em 1841, na antiga Rua do Príncipe, no então Bairro da Figueira, próximo à região portuária da cidade.
Após duas décadas, a edificação foi inaugurada, em 25 de dezembro de 1861.

Arquitetura
A igreja tem uma nave única, com sacristia lateral.
A sua ornamentação é simples, destacando-se no fundo do altar, a imagem da padroeira.

Imagem da Virgem, em registro de Norma Bruno

O piso é de ladrilho hidráulico, do século 19.
Segundo pesquisa de Luiza de Souza, sob a orientação da professora da Unisul Eliane Veras da Veiga, ao longo dos anos, o templo sofreu várias modificações, que comprometeram a sua arquitetura original.

Reforma no século passado
Em 1915, foi feita a sacristia e em 1959, uma reforma, ampliou a igreja para o lado esquerdo, sendo construída a torre dos sinos, de acordo com o levantamento “Igreja Nossa Senhora do Parto: memória e atualidade”, da Unisul.

Registro da década de 1960 (Acervo Velho Bruxo)

A partir de então, influenciadas pela corrente migratória alemã em Santa Catarina, adotou elementos decorativos de igrejas ecléticas.
Externamente, é visível a alteração do estilo clássico tradicional, pois já não apresenta as características típicas das igrejas oitocentistas.

Uma década fechada
A igreja foi tombada como patrimônio histórico municipal em 1986.
Mesmo assim, ficou fechada por uma década, a partir de 1990, sendo reaberta no ano 2000, após uma grande reforma, que revitalizou a edificação.

Registro do início do século 20 (autoria desconhecida)

Naquele ano, foi criada a Comunidade de Vida Divino Oleiro, que administra as atividades na igreja até hoje.

A tradição
O Dia da Nossa Senhora do Parto, padroeira das mulheres que acabaram de se tornar mães, é comemorado em 18 de dezembro (nesta sexta-feira!).
O culto a esta Virgem é uma das mais tradicionais devoções da França, Espanha e Portugal e se espalhou por muitas outras nações.

Imagem do início da década de 1970 (Acervo Velho Bruxo)

Foram os missionários espiritanos, da França, que divulgaram o culto à Nossa Senhora do Bom Parto no mundo.
No Brasil eles aportaram em dezembro de 1885, e encontram essa devoção já estabelecida no país, segundo levantamento da Arquidiocese de São Paulo.

Os registros indicam que os cristãos brasileiros começaram a invocar Nossa Senhora do Bom Parto, no Rio de Janeiro, em 1650.

Mapa de Desterro de 1868 mostra a localização da igreja N. S do Parto (do livro Florianópolis, Memória Urbana, de Eliane da Veiga)

Serviço:
Missas: de segunda-feira a sábado, às 12h15min. Terça-feira também às 15h.
Visitação: de segunda-feira a sexta-feira, das 9h às 17h. Sábado, das 9h às 13h.
Endereço: Rua Conselheiro Mafra, 674 (entre Padre Roma e Bento Gonçalves), Centro, Florianópolis.

Crônica sobre a Igreja da Nossa Senhora do Parto, por Norma Bruno*

Descobrindo tesouros escondidos
Apesar de muito andarilhar pela cidade, confesso que só conheci a Igreja de Nossa Senhora do Parto no final do ano passado.
Não por desinteresse, muito pelo contrário. Sempre tive curiosidade de conhecê-la e me ressentia, pois imaginava que tivesse sido demolida.

Fiquei surpresa ao saber que, ao contrário de tantas outras igrejinhas espalhadas pela cidade – quem lembra de uma que havia em frente à Praça dos Bombeiros “tombada” na década de 1970? – a igreja de Nossa Senhora do Parto ainda está em pé e não só continua aberta a visitação como mantém uma intensa rotina de atividades litúrgicas.

A imagem da Senhora é uma lindeza!
Fiquei admirada com a boa conservação interna, certamente fruto da dedicação de um bando de senhorinhas que, muito faceiras com a minha visita, interromperam a reunião que faziam e se puseram a responder perguntas que eu, aliás, não havia feito (mais ilhéu impossível rsrs).
Fui convidada para as missas, os terços e as novenas. Qualquer dia eu pinto lá pra rezar um terço e relembrar meus tempos de colégio “das frera”.

Na saída, a realidade aguardava: estacionamento no pátio, o sufocamento da igrejinha pelos prédios vizinhos e a já conhecida decadência do entorno.
Deprimente.
A verdade é que precisamos conhecer nossa cidade, ocupar os espaços, falar sobre o que acontece.
E assim como devemos denunciar as barbaridades, precisamos também divulgar as boas iniciativas, a história, contar os causos e valorizar as pessoas como aquelas senhorinhas que lutam para manter vivo o pouco que sobrou de um patrimônio tão rico como o nosso.

Apesar disso e ainda que a Rua Conselheiro Mafra continue ostentando barbaridades arquitetônicas, felizmente também encontramos casinhas revitalizadas, bem pintadas, ocupadas como moradia ou por tradicionais casas de comércio, pois nem só de equipamentos culturais se faz uma revitalização.

Independentemente do aspecto religioso, a Igreja de Nossa Senhora do Parto merece uma visita.
Seja pela sua arquitetura despojada, pela beleza de suas imagens ou simplesmente pela sua permanência na paisagem.
Coisa rara em Florianópolis.
* Publicada em 23 de fevereiro de 2014

(O desenho da imagem de abertura está numa placa na entrada da igreja, assinado como Haa)

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Histórias do Centro Reportagens Especiais

As grades que cercavam a Praça XV há mais de um século estão pelo Centro. E você já passou por elas!

Por Billy Culleton
A Praça XV de Novembro, no Centro da Capital, esteve cercada com muros e grades de ferro por mais de duas décadas: entre 1891 e 1912.
O acesso do público era restrito, com horários controlados para visitação.

A instalação serviu como uma espécie de apartheid, buscando separar pessoas das distintas classes sociais da cidade.
“A cerca metálica protegia madames que ali conversavam e vigiavam as filhas, enquanto empregadas domésticas ouviam galanteios de operários, soldados e marinheiros junto às calçadas externas”, conta o jornalista Paulo Clóvis Schmitz, em reportagem publicada no Jornal Notícias do Dia, de 5/2/2017.
A cerca, com os gradis fundidos na Inglaterra, foi inaugurada pelo ‘presidente’ da província de Santa Catarina, Gustavo Richard, em 1891.
A retirada, em 1912, seguiu ordens do prefeito Henrique Rupp, que decidiu abrir a praça para toda a sociedade, segundo conta Adolfo Nicolich da Silva, no livro “Ruas de Florianópolis”.
História escondida, mas presente nas ruas
As grades foram reaproveitadas em três construções históricas do Centro de Florianópolis: a Maternidade Carlos Corrêa (na Avenida Hercílio Luz), o Asilo Irmão Joaquim (na Avenida Mauro Ramos) e a Igreja Nossa Senhora do Rosário (Rua Marechal Guilherme, na frente da escadaria do Rosário).

Maternidade Carlos Corrêa
Asilo Irmão Joaquim
Igreja do Rosário

Confira os detalhes:

 

Cadê os portões?
Dos quatro portões de acesso à Praça XV nunca mais se teve notícias: entre os florianopolitanos mais antigos existe a lenda de que um deles estaria na entrada do Cemitério São Francisco de Assis, no Itacorubi.
Mas a reportagem do Floripa Centro foi até o local, e o antigo portão difere daqueles que aparecem nas fotos originais da praça cercada, embora o desenho circular da parte inferior seja similar (poderia ter sido cortado na parte superior). Fica o mistério…
Os funcionários do cemitério, no entanto, negaram que a estrutura de ferro fosse da Praça XV e foram unânimes em afirmar que o atual portão principal do ‘campo-santo’, outrora, estava instalado no Mercado Público Municipal.

(As imagens antigas são do acervo da Casa da Memória. As atuais, de Billy Culleton – 12/6/2020)

 

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Agendas

Os seis rios, córregos e riachos ‘invisíveis’ que correm pelo Centro de Florianópolis

Por Billy Culleton
Quem vê a paisagem de um Centro homogêneo, tomado pelo concreto das ruas e construções, não imagina que, originalmente, o bairro era cortado por inúmeros cursos de água.
Desde os primórdios da ocupação urbana de Nossa Senhora do Desterro, e até o final do século 19, esses riachos e córregos eram utilizados pela população como vias de escoamento dos dejetos domésticos: lixo e esgoto.
Os locais perto das nascentes, no entanto, serviam para lavar as roupas dos desterrenses.
Logicamente, todos desembocavam no mar, o que acontece até hoje com seis deles, agora, canalizados e cobertos.

Há 150 anos, insalubridade crônica
Até a década de 1870, a cidade apresentava péssimas condições de salubridade,
As ruas e os córregos serviam de depósito e escoadouro de esgoto.
A população era assolada por inúmeras doenças e o poder público não tomava nenhuma medida eficaz para solucionar o problema, conta o historiador Dalton Silva, na obra “Os esgotos sanitários em Florianópolis”.

Rio da Bulha em 1910 (Acervo Casa da Memória)

 

A impressão de uma cidade mais limpa e arejada se dava apenas em épocas de grandes enxurradas e fortes ventos, quando a situação aparentemente se amenizava.
Pelo menos, na visão do presidente da Província, João Tomé da Silva, em 1874, como conta Dalton Silva:
Continua satisfatório o estado sanitário da cidade, visto não ter havido epidemia, nem moléstias graves, como se tem dado em outros anos. Parece que as águas pluviais, abundantes em todo o ano passado, contribuíram favoravelmente sobre a saúde pública,
lavando as ruas, lugares públicos, córregos e valas, onde se depositam todo o gênero de imundícies, águas servidas e excrementos que infectam a atmosfera da cidade, em tempos quentes e secos da estiagem”.

Descarte no mar, um costume nas cidades litorâneas  (Arquivo municipal do RJ)

 

Escravos carregavam esgoto para o mar
Em 1877, foi realizada a primeira concessão de serviços para remoção de lixo e esgotos. Estes deveriam ser transportados à noite, em barris ou cubos, para serem lançados ao mar utilizando os trapiches construídos. Para isso, havia escravos especializados no serviço e que eram chamados de tigres.

Tigre: conjunto homem/barril que transportava resíduos em Desterro (Desenho de Átila Ramos)

Existiam ainda os carroceiros que cobravam pelo serviço: 100 réis por barril de esgotos ou por carrada de lixo.

Obras
As primeiras obras de saneamento iniciaram em 1887 quando foram canalizados os córregos Fagundes e Trajano.
Já a canalização do Rio da Bulha, atual Avenida Hercílio Luz, só ocorreria em 1920.
Em um dos seus trechos, nas imediações do Instituto Estadual de Educação, recebia a denominação de “Beco Sujo”, local onde existia um conjunto de casas e cortiços habitados por população pobre, como consta no documento “O saneamento básico na Ilha”, dos servidores da Prefeitura da Capital Elsom Bertoldo dos Passos e Flávia Vieira Guimarães Orofino.

Canalização do Rio da Bulha em 1920 (Acervo Casa da Memória)

Assim, a partir da década de 1920, começam as grandes obras de macro-drenagem no Centro da cidade, com a canalização dos córregos que serpenteavam a área urbana.

Confira os canais que passam pelo Centro (com informações do Plano Municipal Integrado de Saneamento Básico da PMF)
1 – Canal da Assembleia Legislativa
Inicia-se no cruzamento da Rua Anita Garibaldi com a Avenida Mauro Ramos e drena a região do Morro do Tico-Tico e Morro da Mariquinha, entre outros. Segue até encontrar a Praça Tancredo Neves (Praça das Três Bandeiras) e continua em direção a Baia Sul passando por dentro do terreno da Assembleia.

2 – Canal da Avenida Hercílio Luz
Inicia recebendo contribuições do Morro do Monte Serrat e do Morro da Caixa, atrás da Avenida Mauro Ramos, segue ao longo da Avenida Hercílio Luz, pelo traçado do antigo Rio da Bulha, passa pelo aterro da Baía Sul até o mar.

3 – Canal do Mercado Público
Começa na Rua Jerônimo Coelho e congrega também os antigos cursos de água do Largo do Fagundes e Trajano. Passa por baixo do Mercado Público e do Terminal de Integração do Centro (Ticen) até desaguar na Baía Sul, ao lado da Estação de Tratamento de Esgoto da Casan.
4 – Canal da Rua Arno Hoeschel
O Canal da Rua Arno Hoeschl não segue pelo centro da via e sim por debaixo das edificações na sua margem esquerda no sentido Avenida Rio Branco-Beira Mar Norte, até chegar na Beira Mar Norte.

5 – Canal da Avenida Rio Branco
Este canal começa próximo da Praça do Banco Redondo seguindo até a Avenida Rio Branco, onde recebe contribuições do canal proveniente da Chácara de Espanha, seguindo por entre os prédios em paralelo a Av. Othon Gama d’Eça atravessando a mesma em frente ao Edifício Casa do Barão até desaguar na Beira Mar Norte.

6 – Canal da Avenida Mauro Ramos
Começa no Morro do Céu, passando pelo Condomínio Residencial Arquipélago, seguindo em direção à foz na Baía Norte pela Avenida Mauro Ramos.

(A imagem de abertura é uma arte feita pelo projeto “Caminhada Jane Jacobs Floripa”, em cima de uma foto atual da Avenida Hercílio Luz)

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Agendas

Os galos cósmicos do artista Meyer Filho invadem o Centro de Florianópolis

O artista catarinense Ernesto Meyer Filho ganhou uma bela homenagem no Centro de Florianópolis.

O mural “O Baile Místico de Meyer Filho“, foi produzido no calçadão da Rua Felipe Schmidt e entregue à população no início de dezembro.

Assinado por Rodrigo Rizo, com assistência de Tuane Ferreira e produção de Victor Heyde, o mural foi feito para homenagear Meyer Filho, falecido em 1991 e autor dos conhecidos galos cósmicos.
No século 20, produziu amplo acervo de obras e estava na vanguarda do movimento modernista no Brasil.
O projeto foi organizado e promovido pelo pelo Museu da Escola Catarinense (Mesc), da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), pelo Instituto Meyer Filho e pela Associação FloripAmanhã, com o objetivo de resgatar e valorizar a cultura do Desterro e disseminar o folclore e mitologia da Capital.

“O mural também é um presente para a Florianópolis”, declara Sandra Makowiecky, coordenadora do Mesc. O projeto foi viabilizado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Incentivo à Cultura, com apoio financeiro de parceiros.

(Com informações da Udesc)

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Atualidade

Imagens exclusivas – Confira a peça rachada que interditou a Ponte Hercílio Luz em 1982

Quando a Ponte Hercílio Luz tinha pouco mais de 50 anos, no início da década de 1980, engenheiros descobriram uma rachadura numa das barras de olhal que sustentavam a estrutura.
A deterioração da peça poderia causar o colapso da Velha Senhora.
Por isso, a única alternativa foi proibir totalmente a passagem de veículos e pedestres, o que aconteceu em 22 de janeiro de 1982.

Essa peça histórica, agora, poderá ser vista pela população na cabeceira insular da Ponte, num espaço que está sendo revitalizado pelo governo do Estado e será aberto ao público nos próximos dias.
O Floripa Centro visitou a área que está recebendo paver no piso e que abrigará um centro de atendimento ao turista e uma base da Polícia Militar.Na barra de olhal de 1,2 metro de largura e 80 centímetros de altura, que foi cortada para sua remoção, pode se observar claramente a rachadura de 60 centímetros que causou a interdição.
Ela ficava em cima de uma das torres de sustentação da Ponte.
Em 1975 foi inaugurada a Ponte Colombo Salles, o que minimizou os efeitos do fechamento da Hercílio Luz, que só foi reaberta completamente em dezembro de 2019.

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Reportagens Especiais

As seis décadas do único hotel de Florianópolis que recebeu os dois reis do Brasil

Por Billy Culleton
O país tem dois soberanos indiscutíveis: Pelé e Roberto Carlos.
E ambos se hospedaram, na década de 1970, no mais luxuoso e sofisticado hotel que existia na Capital: o Oscar.
O empreendimento, inaugurado em 6 de novembro de 1960, era a hospedagem favorita dos famosos que visitavam a cidade: artistas, músicos e políticos.
“Não tínhamos o costume de aceitar times de futebol, mas abrimos uma exceção para o Santos de Pelé”, lembra Odson Cardoso, filho do fundador Oscar Cardoso.
Ele se refere a agosto de 1972 quando o time paulista veio a Florianópolis para jogar um amistoso com o Avaí e se hospedou no Oscar.
O fato marcou para sempre a história do hotel da Avenida Hercílio Luz, o mais antigo em funcionamento na cidade.

Única foto conhecida de Pelé no hall do Oscar, com Fernando Bastos Filho (Arquivo pessoal F. Bastos)

A inauguração da moderna edificação, num domingo pela manhã, foi um grande acontecimento.
Entre os 400 convidados estava o governador Heriberto Hülse e dezenas de autoridades e jornalistas.
O evento teve tanta repercussão que a Rádio Diário da Manhã fez a transmissão completa ao vivo.

Anúncio no jornal O Estado divulga a inauguração

O coquetel aconteceu no restaurante panorâmico que existia no 6º, e último andar, do prédio e foi servido “champanhe e aperitivos à altura de seus convidados”, como noticiou o Jornal A Gazeta de 7 de novembro de 1960.

O sucesso do piano-bar
“O cantor Roberto Carlos também se hospedou na década de 1970, mas não lembro o ano exato”, afirma Odson Cardoso, de 82 anos, lamentando que as fotos históricas com os hóspedes famosos tenham se ‘perdido por aí’.
“Na época, poucos tinham máquinas fotográficas”.

Roberto Carlos na década de 1970 (Acervo do Arquivo Nacional)

Ele recorda que o rei frequentou o piano-bar que existia no térreo, com vista para a rua, e que durante muitos anos foi um requintado ponto de encontro dos florianopolitanos.
“Os cantores que se hospedavam aqui sempre davam uma palinha: foi assim com Lupicínio Rodrigues, Agostinho dos Santos e Caetano Veloso”.

Governador Heriberto Hülse; comandante do 5° Distrito Naval, almirante Augusto Grunewald; empresário e anfitrião, Oscar Cardoso; e desembargador Ivo de Mello (Foto de Lazaro Bartolomeu, publicada na coluna de Marcos Cardoso, do ND+)

“Gosto de lembrar também que o Comando do Quinto Distrito Naval, no dia alusivo a Batalha do Riachuelo, em 11 de junho, todos os anos fazia coquetéis para comemorar a data nos salões do Oscar Palace Hotel, tendo como anfitrião o comandante Augusto Hamann Rademaker Grünewald, que em 1969 viria a ser o vice-presidente da República”, conta Odson.

Curiosidades do hotel
– Inaugurado em 1960, o Oscar Palace Hotel começou a ser construído em 1949.

Hotel na atualidade (Divulgação Oscar)

– À época da inauguração, o hotel tinha 15 apartamentos e 45 quartos. Atualmente conta com 52 apartamentos.
– Em 1998, com a expansão do ramo hoteleiro na capital, o hotel perdeu o status de “Palace” e passou a ser denominado apenas de “Oscar Hotel”.
– Em seu hall de entrada, apresenta imagens de patrimônios históricos da cidade como a Ponte Hercílio Luz, o Mercado Público, o Palácio Cruz e Souza e a Catedral Metropolitana.

Empreendimento na década de 1980 (Acervo Hotel Oscar)

– Parte do térreo original do hotel, na esquina da Avenida Hercílio Luz com Anita Garibaldi, começou a ser locado comercialmente na década de 2000. Já foi agência de turismo e atualmente é uma instituição de crédito.
– Atualmente, em tempos de pandemia, adaptou parte da estrutura para alugar quartos que servem como ‘Room Office” com uma diária de R$ 89, entre 8h e 18h.

História do fundador
– Oscar Cardoso nasceu em 1898 em Florianópolis.
– Aos 16 anos começou a trajetória de alfaiate até se transformar num dos mais importantes da cidade, atendendo personalidades importantes da sociedade florianopolitana.
– Em 1927, fundou a loja “Capital”, na esquina das ruas Conselheiro Mafra e Trajano, que funcionou até 1979, quando foi transferida para a Avenida Hercílio Luz.
Nos anos seguintes, abriu várias filiais do comércio em Blumenau, Lages, Tubarão e também em São Paulo.
– Teve atuação importante na época por apoiar, em 1931, o movimento de reivindicações das classes comerciais, industriais e agrícolas, com a União dos Varejistas de Florianópolis, hoje Sindicato do Comércio.
– Em 1937, instalou a fábrica de roupas “Distincta”, na rua Fernando Machado.
– Em 1973, foi homenageado pela Universidade Federal de Santa Catarina por ter cedido, em 1960, o prédio para a instalação da Faculdade de Medicina.
– Faleceu em 1980, com 82 anos.
(Dados obtidos na dissertação de mestrado “Uma análise histórico-espacial do setor hoteleiro no núcleo urbano central de Florianópolis”, de Fabíola Martins dos Santos, do Curso de Turismo e Hotelaria da Univali, 2005)

 

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Histórias do Centro

Há exatos 60 anos – Avião da Esquadrilha da Fumaça que caiu no Centro da Capital atingiu casa de futuro prefeito

Apoio cultural: Box 32 e CDL de Florianópolis

Por Billy Culleton
Uma tragédia aérea comoveu Florianópolis na manhã de 28 de novembro de 1961.
Um avião da Esquadrilha da Fumaça que fazia uma apresentação para milhares de pessoas, no Centro, caiu no Largo Benjamin Constant, localizado na frente do atual Supermercado Hippo.

Piso da praça evoca tragédia com avião modelo T-6

Os quatro aviões faziam uma exibição em razão dos festejos pela entrega de espadins aos novos oficiais da Polícia Militar de Santa Catarina, no Quartel do Comando da PM, na frente da Praça dos Bombeiros.

Reportagem do Jornal O Estado de 29 de novembro

Nesse momento, durante as ‘evoluções’, houve o choque entre dois aviões.
Um deles caiu na, depois chamada popularmente, ‘Praça do Avião’, a 300 metros do Quartel, matando o piloto Durval Trindade, carioca de 27 anos.
A outra aeronave, mesmo com a asa direita danificada (perdeu 50 centímetros), conseguiu manter-se no ar e aterrissar na Base Aérea.

Registro do fotógrafo Paulo Dutra, do Jornal O Estado

O aparelho, após bater no solo, atingiu uma residência, de propriedade do General Vieira da Rosa, conhecido como General Rosinha, que se tornaria prefeito municipal entre os anos 1964 e 1966.

Aviões pararam em Florianópolis por pane em motor
No dia anterior à tragédia, a Esquadrilha da Fumaça retornava de Porto Alegre com destino ao Rio de Janeiro.
Por causa de uma pane no motor, justamente do avião que caiu depois, houve um pouso de emergência na Base Aérea de Florianópolis. Os demais aparelhos também desceram.

Aproveitando a rápida permanência dos famosos ases da aviação nesta capital, o comando da Polícia Militar do Estado convidou-os a fazer demonstrações, já que no dia de ontem vários festejos marcaram a entrega de espadins aos novos oficiais do Curso de Formação de Oficiais, mantido por aquela corporação”, publicou o Jornal O Estado, de 29 de novembro de 1961.

Imagem do Largo na década de 1970 (Acervo Casa da Memória)

E continua o relato:

“Às 9h33min, precisamente, quando executavam uma manobra denominada trevo, a fatalidade fez com que o avião do tenente Trindade se chocasse com o avião do tenente Otto, tendo o primeiro, em velocidade espantosa, caído ao solo, na parte norte do Largo Benjamin Constant”.

Foto de Paulo Dutra mostra os restos do avião

 “Atingido, o avião sinistrado, desgovernado, baixou vertiginosamente, rompendo fios de alta tensão e, batendo no solo, projetou-se contra a residência do General Vieira da Rosa derrubando uma das paredes fronteiras e indo cair nos terrenos de fundo. O aparelho ficou completamente destroçado, reduzido a um montão de ferro retorcido.”

Após a tragédia, o corpo do piloto foi levado para a Base Aérea e, antes de ser transladado para o Rio de Janeiro, recebeu homenagens do então governador Celso Ramos, que estava assistindo à apresentação da Esquadrilha da Fumaça e cuja residência familiar, coincidentemente, ficava a 100 metros do Largo Benjamin Constant, na Avenida Trompowsky.

Registro do evento no Comando da PM, antes do acidente (Jornal O Estado)

(A foto de abertura é do Arquivo Nacional)

Confira aqui outra reportagens do Floripa Centro

 

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Megatela digital – Moradores do Centro ganham uma ‘TV’ do outro lado da Baía Norte

Quem caminha pela Beira Mar Norte ou atravessa a Ponte Hercílio Luz tem se surpreendido com uma enorme tela colorida instalada recentemente no Estreito, a 50 metros de altura.
Posicionada no topo de um prédio de 14 andares, é o maior painel de LED em rooftop da América Latina, segundo os idealizadores do chamado Floripa Square.

São duas telas que, somadas, chegam a 350 m²: a maior, de 215 m², fica de frente para a Ilha de Santa Catarina, enquanto a menor, de 135 m², está de face ao Continente.

No painel, inaugurado junto à Beira Mar Continental, são exibidos peças de marketing, com o que existe de mais moderno em termos de tecnologia: algo similar às mais inovadoras telas de TVs 4K, com ótima resolução e efeitos de 3D.

De acordo com o site da empresa que instalou a novidade, as peças de marketing exibidas no espaço têm um impacto mensal de mais de 20 milhões de pessoas.
Logicamente, a tela pode ser melhor apreciada à distância durante o período noturno.

Confira o vídeo da tela:

Hans Donner
O designer gráfico Hans Donner escolheu o Floripa Square para lançar sua primeira arte em Non Fungible Token (NFT), um certificado que garante autenticidade das obras com a mesma tecnologia das criptomoedas.
A informação é do Portal Acontecendo Aqui.

Segundo o site catarinense, Donner e o empreendedor Ricardo Bellino lançaram neste fim de semana o movimento global “Time is Life” (‘Tempo é Vida’), a primeira criptoarte assinada pelo mago do design.

Para ganhar vida, o movimento traz o NFT assinado por Donner, que vai ser apresentado ao Brasil e ao mundo através do Floripa Square, a tela que vem repercutindo nacional e internacionalmente pela audaciosa proposta de explorar a jornada do marketing através da arte digital.

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Histórias do Centro

Tinha 10 andares – Em 1959, Florianópolis inaugurava o seu primeiro “arranha-céu”

Por Billy Culleton

“A Capital está de parabéns. O soberbo edifício da Praça XV vem dar-lhe novo aspecto. Mais um marco de progresso”.
Esta descrição é o início da reportagem do jornal O Estado de 19 de setembro de 1959, data da inauguração do edifício Meridional, no Centro da Capital.

O prédio de 10 andares sediaria a “majestosa sede da filial do Banco Nacional do Comércio”, segundo a mesma matéria jornalística.

O ‘espléndido arranha-céo que tanto veio embelezar nossa velha fisionomia urbana’, foi construído onde existia um prédio comercial de dois andares do século 19, na esquina das ruas João Pinto e 15 de novembro.

Registro do antigo prédio de dois andares, à direita, em 1940

Uma das novidades foi que apenas os dois primeiros andares eram comerciais, sendo os restantes, residenciais.

Após o Banco do Comércio, várias instituições bancárias ocuparam o local: Sulbrasileiro, Simonsen, Meridional (que dá o atual nome ao edifício) e, hoje, o Santander.

Um dos moradores do edifício, Rodolfo Cerne, de 89 anos, relembra da festa de inauguração. “A cidade parou para participar do grande evento. Fui contratado para fazer as fotos do evento. Tirei menos de 10 fotografias, que nunca mais encontrei”, conta, na porta de entrada para os apartamentos, na rua João Pinto, cujo saguão ainda possui as estilosas caixas de correio de bronze.

Rodolfo Cerne (D) conversa com o porteiro Djalma Pereira, na entrada do prédio

(As imagens antigas são do acervo da Casa da Memória, as atuais de Billy Culleton. Os registros do Jornal O Estado são do acervo da Biblioteca Pública do Estado)

Confira outras fotos do edifício:

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Quatro décadas depois – A Novembrada na visão de Jorge Bornhausen: “Figueiredo causou o lamentável episódio”

Por Billy Culleton

O ex-governador Jorge Bornhausen falou pela primeira vez à imprensa sobre a Novembrada, incidente no Centro de Florianópolis que acelerou o fim da ditadura militar no Brasil.

Em entrevista exclusiva ao Portal Floripa Centro, ele lamentou a postura do presidente João Figueiredo, a quem responsabilizou pelo confronto com os manifestantes.

‘Ele se sentiu ofendido na honra e causou todo esse lamentável episódio’, disse Bornhausen, acrescentando que considerou a reação de Figueiredo como ‘despropositada’.

(Foto: Divulgação Alesc)

Ao mesmo tempo, afirmou que o enquadramento na Lei de Segurança Nacional dos estudantes detidos na Novembrada foi uma ‘medida extrema’ com a qual sempre discordou.

O ex-governador, de 83 anos, sugeriu que o Floripa Centro buscasse maior detalhamento sobre o episódio de 30 de novembro de 1979 no livro “Jorge Bornhausen, uma biografia”, do jornalista Luiz Gutemberg.

Assim, juntando as recentes informações repassadas pelo ‘Dr. Jorge’, com os dados da biografia, foi possível chegar à versão completa da Novembrada de um dos principais personagens do episódio que sacudiu o país há quatro décadas.

Figueiredo saúda desde a sacada
“Nunca vou esquecer aquela manhã de novembro de 1979.
O cerimonial pediu que os pronunciamentos fossem realizados desde a sacada do Palácio Cruz e Sousa. E assim foi feito.

(Foto: Jornal O Estado, 1º/12/1979)

Duas mil pessoas estavam diante do Palácio e receberam o presidente com aplausos e bandeirinhas. E Figueiredo foi à sacada acenar-lhes.

(Arquivo – Casa da Memória)

Foi quando se manifestou, pela primeira vez, o grupo de estudantes. Eram vinte, ou pouco mais que isso, barulhentos, organizados, repetindo palavras de ordem habituais.
Ensaiaram uma vaia em contraponto aos aplausos, que eram bem mais fortes.”

O gesto da discórdia
“Nesse momento, rindo, Figueiredo fez-lhes um gesto juntando os dedos polegar e indicador.
Tentava mostrar aos que o vaiavam como eram poucos, enquanto os que aplaudiam – e abrindo os braços mostrou a extensão da multidão – eram bem mais numerosos.

(Reprodução: RBS TV)

Posso atestar, porque estava ao seu lado, que enquanto fazia o gesto, o presidente dizia: ‘Vocês são tão poucos, enquanto a multidão que aplaude é tão grande’.
Mas o gesto foi entendido, de longe, pelos estudantes como obsceno. Imediatamente, começaram os insultos.”

(Reprodução: RBS TV)

A reação dos manifestantes
Um, dois, três/ quatro, cinco mil/ quero que Figueiredo/ vá a puta que o pariu’, repetiam ritmicamente os manifestantes estudantis.
Imediatamente, entramos novamente no Salão Nobre do Palácio para a solenidade oficial de boas-vindas.

Mas o coro provocativo da Praça XV era ouvido com uma nitidez impressionante. Já não se ouviam mais aplausos. Predominava o ‘quero que Figueiredo / vá a puta que o pariu’.

(Foto: Dario de Almeida Prado)

Era como se a multidão a favor, intimidada, houvesse silenciado para assistir à demonstração dos estudantes.”

Figueiredo sai do Palácio para brigar
‘Bornhausen, você é testemunha para a história! Xingaram minha mãe!’.
A exclamação do presidente não se adequava à circunstância.

(Arquivo – Casa da Memória)

Estarrecido, eu não queria acreditar. A solenidade de boas-vindas havia terminado, começava a ser servido o coquetel e o presidente, transtornado, tomando-me pelo braço, repetia agressivamente: ‘xingaram minha mãe, eu não admito’.

(Reprodução: RBS TV)

A última coisa que me ocorreria seria associar os gritos de ‘puta que pariu’, vindos da rua, à mãe de quem quer que fosse. Muito menos, quando se tratava de uma provocação política. Mas o presidente queria lavar a honra da sua mãe.

(Arquivo – Casa da Memória)

Antes que eu esboçasse um gesto, ou mesmo articulasse uma só palavra, ele se precipitou em direção às escadas que levavam à entrada do Palácio: ‘Vou lá embaixo resolver na porrada’.
Ele conseguiu se desvencilhar dos homens da segurança que foram alcançá-lo para contê-lo, a poucos metros dos manifestantes.

(Foto: Dario de Almeida Prado)

Obrigado a voltar ao Palácio, Figueiredo parecia frustrado por ter sido impedido de defrontar-se pessoalmente com os rapazes que o insultavam.”

Confronto no Ponto Chic
“O que aconteceu no Palácio não foi nada diante do que ocorreria minutos depois no Ponto Chic.

(Arquivo – Casa da Memória)

Após o incidente, sugeri que fossemos diretamente para o churrasco programado na Palhoça, mas o presidente disse que deveríamos cumprir o programado: caminhar até o Ponto Chic, no Calçadão da Felipe Schmidt.

(Arquivo – Casa da Memória)

Com a mobilização policial após o confronto, os manifestantes abandonaram a praça e contornaram o quarteirão do Palácio, chegando no Ponto Chic pelo outro lado, onde se deu novo confronto.
Um corpo-a-corpo, autêntico vale-tudo, felizmente restrito ao embate físico, com chutes e murros, sem disparos de arma de fogo.
A segurança de Figueiredo, com muita dificuldade conseguiu preservá-lo, porque ele era o mais empolgado com a possibilidade do engalfinhamento.

(Arquivo – Casa da Memória)

O estado geral da comitiva era deplorável. Então, finalmente, tal como aconteceu no Palácio, a PM foi autorizada a intervir pelo comando da segurança presidencial.
Só então terminou a refrega. O ministro das Minas e Energia, César Cals, havia levado um murro no rosto. O presidente da Caixa Econômica, Gil Maciera, tinha a mão ferida.

Finda a luta campal, voltamos a nos reunir e tomamos os automóveis que nos levaram ao churrasco na Palhoça.”

Conhecido por suas grandes orelhas, César Cals levou um soco na confusão no Ponto Chic (Charge, sem assinatura, do Jornal O Estado de 1º/12/1979)

Enquadramento dos detidos na Lei de Segurança Nacional
“Ao fim do dia, tínhamos um presidente irritado e boa parte da comitiva estropiada e esfarrapada depois da refrega no Ponto Chic.

(Foto: Jornal O Estado, 1º/12/1979)

No final da tarde, quando seguíamos para o aeroporto, Figueiredo me comunicou que iria mandar enquadrar os manifestantes na Lei de Segurança Nacional.
Foi uma medida extrema com a qual nunca concordei.”

Intermediação para liberar os estudantes
“O presidente foi embora, mas o clima de conflito ficou, e se ampliou. A identificação dos manifestantes, todos estudantes, e suas respectivas prisões, gerou manifestações.
Decidi procurar o ministro da Justiça, Petrônio Portela, para pedir a libertação dos estudantes. Ouvi um solene não.

Dias depois, angustiado, procurei o comandante do III Exército, com jurisdição sobre Santa Catarina, e que era o general Antônio Bandeira, considerado um dos expoentes da ‘linha dura’ do Exército.

General Antônio Bandeira (à direita)

Depois de me ouvir expor a gravidade e injustiça da situação, ali mesmo, imediatamente, determinou pelo telefone, a liberdade dos estudantes.
Só depois, Bandeira comunicou sua decisão ao ministro da Justiça.”

 Governador mais rejeitado do Brasil
“Respirei aliviado (pela libertação dos estudantes), mas assim como o episódio liquidou com o ‘João, presidente do povo’, a mim custaria um longo e penoso período de impopularidade.
Imagine que cheguei, nas sondagens do instituto de pesquisa Gallup sobre avaliação dos governadores, a ser o mais mal avaliado que o recordista em rejeição, Paulo Maluf.

Jorge Bornhausen e o seu sucessor, Esperidião Amin (Foto: acervo Grupo RBS)

Somente com muita aplicação conseguiria, três anos depois, fazer meu sucessor (Esperidião Amin) e, eu mesmo, eleger-me senador.”

Informações complementares do Floripa Centro:
– Entre 2 e 9 de dezembro de 1979 foram detidos sete estudantes: Rosângela Koerich Souza, Geraldo Barbosa, Hamilton Alexandre ‘Mosquito’, Nilton Vasconcelos Júnior, Marize Lippel. Adolfo Dias e Lígia Giovanella.

– Todos são liberados em 12 de dezembro de 1979.

Julgamento em Curitiba (Foto: acervo René Dotti)

– Os estudantes foram a julgamento em 17 de fevereiro de 1980, na Justiça Militar em Curitiba. O promotor pediu o enquadramento deles na Lei de Segurança Nacional, acusados de terem agredido verbalmente o presidente. Por três votos a dois, os sete foram absolvidos.

Confira o vídeo Novembrada, disponsível no Youtube e editado por Marcelo Gevaerd:

Confira aqui outra reportagens do Floripa Centro

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Atualidade

Fecha, no Centro da Capital, o primeiro estacionamento robotizado do país

Inaugurado em novembro de 2015, na frente da Catedral Metropolitana, o mais moderno edifício-garagem do Brasil não resistiu ao baixo movimento.

O prédio de oito andares, na Rua Arcipreste Paiva, no Centro de Florianópolis, foi construído especialmente para abrigar o estacionamento, com capacidade para 256 vagas.
O sistema era operado por 19 robôs, com quatro elevadores que recebiam, acomodavam e entregavam os veículos automaticamente.

O terreno pertence ao governo do Estado que, agora, disponibilizou policias militares aposentados para cuidar do local.

Com entrada pelo calçadão da Trajano, a edificação incluía uma galeria comercial, que também foi fechada.

Consultada sobre os motivos do fechamento, a Estapar se limitou a informar, por meio da assessoria de Comunicação, que “o serviço do edifício-garagem robotizado, localizado no Centro de Florianópolis, foi descontinuado e o contrato com a empresa I-Park foi encerrado”.

Como funcionava
Na entrada do estacionamento, o motorista encostava o carro numa das três cabines disponíveis, desligava o motor, fechava e levava as chaves.

Ao sair do automóvel, o motorista dirigia-se a uma máquina que emitia seu bilhete de estacionamento.

No retorno, o usuário pagava a tarifa, inseria o bilhete na máquina e tinha seu carro entregue em quatro minutos.

(A imagem de abertura é do Google Street, as fotos atuais são de Billy Culleton e os registros do funcionamento do estacionamento são divulgação da Estapar)

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Histórias do Centro

A oito décadas da façanha – Rovere, o taxista manezinho da Praça XV que venceu o primeiro grande rally do Brasil

Por Billy Culleton
Na década de 1930, um jovem chauffeur da Praça XV se destacava entre os colegas pelas reconhecidas habilidades na condução dos ‘carros de aluguel’.
Popular e carismático, o manezinho Clemente Rovere era o mais requisitado para fazer as corridas pelas ruas de Florianópolis.
Embora sem experiência em competições de automobilismo, em 1937, foi convencido a participar do Raid Montevidéu-Rio de Janeiro, uma corrida automobilística de 3,2 mil quilômetros.
Para viabilizar a participação, o governador Nereu Ramos cedeu-lhe um automóvel Hudson Six, fabricado em 1923 e que pertencia ao Estado.

Rovere junto ao Hudson 1923

A competição, entre 4 e 11 de abril, reuniu os 45 melhores pilotos da América, oriundos do Brasil, Argentina, Uruguai e Chile.
Após uma semana, Rovere, junto com o co-piloto Raphael Linhares, surpreenderam a todos e conseguiram um heróico 5º lugar, conquistando a admiração da imprensa nacional.
O locutor oficial da corrida, Carlos Alberto Fraga, disse:

Diante do que esses dois homens estão fazendo com o carro Hudson, devemos confessar que não conhecemos automobilismo. São dois heróis!”, publicou o Jornal O Estado, de 14/4/1937.

Raid Rio de Janeiro-Porto Alegre
Apesar da fama conquistada, Rovere voltou a trabalhar como chauffeur na Praça XV e, eventualmente, participava de corridas regionais.
Em 1940, no entanto, recebeu apoio para representar Santa Catarina no primeiro rally de longa distância realizado no Brasil: o “Raid Rio de Janeiro-Porto Alegre”.
Foram 2.076 quilômetros de precários caminhos, a maioria de terra. A competição aconteceu entre 11 e 17 de novembro e contou com a participação de dezenas de pilotos brasileiros e de países vizinhos.

O manezinho correu com um Ford V8, que ele mesmo preparou, já que era aficionado por mecânica e fazia a manutenção dos próprios carros.
Elite brasileira prestigiou largada
Em 14 de novembro de 1940 foi dada a largada no Rio de Janeiro, com a presença das mais altas autoridades do mundo político, esportivo e empresarial.
A corrida teve três paradas antes de chegar a Porto Alegre: São Paulo, Curitiba e Florianópolis.
Ao final de cada etapa os corredores tinham tempo de recuperar suas máquinas e eles próprios, pois eram muito exigidos física e mentalmente.
Na manhã de 17 de novembro, os pilotos saíram de Florianópolis, acompanhados por uma multidão.
Como o campeão uruguaio Hector Sedes havia vencido a etapa Curitiba/Florianópolis, ele saiu na frente de Rovere, que ficou em segundo.
Mas o motor do carro de Sedes fundiu a poucos quilômetros de Porto Alegre, quando estava nove minutos à frente do catarinense.
Assim, Rovere fez a ultrapassagem e conseguiu vencer uma das mais famosas e importantes corridas de carro em estrada já realizada no país.
Foram poucos os carros que conseguiram suportar a dura prova até a bandeirada final
E, ao chegar à capital gaúcha, o “Ás das curvas”, como era chamado, foi carregado pelo povo, ‘vestindo’ os louros da vitória.
Apesar das chuvas e do estado de conservação das estradas, a velocidade média de Rovere, ao longo dos mais de 2 mil quilômetros, foi de 74 km/hora.

Ele ganhou também o prêmio “Estado de Santa Catarina”, destinado ao piloto que atravessasse o território catarinense no menor tempo.
Depois desta competição, não há registros de Clemente Rovere ter participado de outras competições.


Dados e curiosidades:
– Clemente Rovere, filho de imigrantes italianos, nasceu em Florianópolis em 14/11/1905, fruto da união de Antônio Rovere e de Rosa Lana Rovere.
– Casou-se em 1927 com Alzida Maria de Abreu Rovere com quem teve sete filhos.

– Ele faleceu prematuramente em 1944, aos 39 anos.
– Durante muitos anos existiu, no ponto de táxi da Praça XV, uma pequena placa indicativa, com os dizeres: “Ponto Clemente Rovere”.
– A única homenagem existente na cidade ao mais importante piloto da história de Santa Catarina é a rua que leva seu nome, na Capital, perpendicular à Avenida Mauro Ramos, próximo ao Instituto Estadual de Educação.
– Na época, os jornais faziam uma ampla cobertura diária das corridas.
Exemplo disso foi o Jornal A Gazeta, de 10/4/1937, que publicou na sua capa:
Impressionantemente
Os nossos volantes continuam empolgando, pela impressionante demonstração de arrojo e de técnica que vêm demonstrando.

Eles assinalam a pujança da raça, glorificando as tradições da terra de Anita Garibaldi.

As estações radiofônicas estrangeiras, especialmente do Uruguai e da Argentina destacam o estoicismo deles, reputando como um dos mais competentes volantes da América do Sul.

A rádio Farroupilha disse: ‘Ditosa terra que tais filhos tem‘.”


– A população da cidade acompanhava as façanhas de Rovere pelo rádio.
O povo de Florianópolis poude sentar-se ao pé de aparelhos de rádio e ouvir as notícias que de longe eram gritadas para todos os céus da América. (…) Em torno do acontecimento formou-se em Florianópolis uma electrizante torcida”, disse o Jornal O Estado, de 14/4/1937.

(As fotos históricas são do acervo pessoal de Maurício Rovere, neto de Clemente Rovere.
Já as informações desta reportagem foram pesquisadas nos sites “Clemente Rovere – Um aceno para a história”, “Histórias que vivemos”, e “Curva do S”)

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