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Histórias do Centro

Culpa do ‘vento súli’ – O dia em que o Zeppelin passou por Florianópolis, mas ninguém viu

Às 7h da manhã do dia 28 de junho de 1934 o dirigível Graf Zeppelin passava pela costa oriental da Capital, com destino a Buenos Aires.
Havia semanas que a população florianopolitana aguardava ansiosamente para ver passar o enorme ‘balão’ de 237 metros de comprimento, que precedeu ao atual transporte aéreo.

Como parte da propaganda nazista, os responsáveis pelo bólido alemão faziam questão de se exibir, em voos demonstrativos a 40 metros de altura em cima das cidades, para espanto dos moradores que viam a gigantesca aeronave flutuar silenciosamente sobre as suas casas.
Foi assim nas grandes capitais como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.

Zeppelin no Recife, 1934 (reprodução do site Airway)

Florianópolis também estava na rota para mostrar a conquista do espaço aéreo pelos germânicos.
Há 86 anos, em 25 de junho de 1934, o jornal O Estado deixava claro a expectativa local com a passagem do dirigível:

‘O ‘Graf Zeppelin’ para nós que nunca vimos nenhum dirigível, é no momento o grande attractivo.
Se as condições atmosféricas e a organização técnica do dirigível o permitam, ele fará evoluções sobre as principais cidades do litoral sul do Brasil para satisfazer a curiosidade que domina a todos.
E Florianópolis, certamente, será contemplada com essa visita do gigante dos ares.
No Rio, nos dias da chegada do dirigível, há muita gente enthusiasta dele que desperta cedo para vê-lo passar.
É de crer que o povo de Florianópolis não mostre menos enthusiasmo pela grande aeronave que tantos louvores têm merecido da imprensa mundial’.

Tela ‘Zeppelin e o barraco do limão’, do pintor catarinense Rodrigo de Haro (Masc)

Mas quando chegou o grande dia, o nosso conhecido vento sul provocou frustração geral.
O Estado, em 29/6/1934, descreveu a decepção:

‘Baldada espera!
Alta madrugada, desencadeou-se forte vento sul, com ligeiros chuviscos. Não apareceu o “Zeppelin”.
A ‘Agência Condor’ comunicou-nos que a aeronave passou às 7 horas ao longe do costão oriental da nossa ilha.
– A ‘Agência Panair’ informou a um dos nossos redactores que seu hydro-avião, hoje chegado do sul, cruzou com o dirigível, que viaja para Buenos Aires e, naturalmente, está encontrando o forte vento que continua a soprar’.
E, assim, provavelmente enviesado pelo vento ‘súli’ (como diz o mané), o Zeppelin passou por cima da Ilha do Campeche e seguiu rumo a Buenos Aires, onde chegou no final do dia.

Na volta, sobrevoo pelo Vale do Itajaí
Em 1º de julho de 1934, no retorno da capital argentina e rumo ao Rio de Janeiro, o lendário dirigível passou por Blumenau.

Zeppelin em Blumenau, 1934 (foto de Adalberto Day)

O site Brusque Memória narra o acontecimento:
Blumenau acordou mais cedo naquele dia 1º de julho de 1934. Ainda de madrugada, milhares de pessoas, ansiosas, se posicionaram em pontos estratégicos da cidade. O motivo de tanto alvoroço surgiu imponente, no céu junto com os primeiros raios do sol. Exatamente às 6h45 min, segundo relatos da época, o ronco dos motores anunciou a chegada do LZ 127 Graf Zeppelin, uma das grandes maravilhas que a tecnologia humana havia conseguido criar até então.
Um dos símbolos mais utilizados pela Alemanha nazista para convencer o mundo de seu poderio, o lendário dirigível significava muito mais que isso para as pessoas comuns, que o admiravam, como um ícone da modernidade. A noticia de que ele passaria por Blumenau, vindo de Buenos Aires rumo ao rio de Janeiro, se espalhou rapidamente dias antes. A população preparou até bandeirinhas para recepcioná-lo e o Zeppelin não decepcionou tanto empenho. Tornaram aqueles poucos instantes inesquecíveis.”

Dirigível Graf Zeppelin sobrevoa Joinville, em 1934 (reprodução site Brusque Memória)

Dois anos mais tarde, no dia 1º dezembro de 1936, Joinville, Blumenau, Brusque, Indaial, Jaraguá do Sul e Corupá receberiam a rápida visita de outro dirigível, o Hindenburg.
Seis meses depois, a aeronave se incendiaria em pleno vôo sobre Nova Jersey, nos Estados Unidos. A tragédia iria antecipar a aposentadoria do Graf Zeppelin, que ainda passaria mais uma vez por Blumenau, em 1937, antes de fazer sua ultima viagem em 18 de novembro do mesmo ano”, conta o Brusque Memória.

Características do Zeppelin
– Comprimento: 237 metros.
– Velocidade máxima: 128 km/h.
– Autonomia de voo: 10.000 km.
– Voo inaugural: 18 de setembro de 1928.
– Duração voo Alemanha-Rio de Janeiro: três dias.

Catarinenses notáveis que voaram no Zeppelin:

Ruth Hoepcke, junto com seu marido Aderbal Ramos da Silva, retornou da lua de mel na Alemanha a bordo do Zeppelin (Acervo Instituto Carl Hoepcke)
Cônsul Carlos Renaux é servido no interior do dirigível, em 1932, voltando de uma viagem à Alemanha (reprodução site Brusque Memória)

Como era o interior do dirigível:

Trabalho manual para o pouso (reprodução do site Airway.com)
Interior do dirigível (reprodução do site Airway.com)
Cabine de comando (reprodução do site Airway.com)

Confira alguns vídeos do Zeppelin:

  • Passagem pelo Rio de Janeiro
  • Passagem por Recife
  • Acidente do Hindenburg nos Estados Unidos

    (A foto de abertura é da passagem por Joinville, em 1934, do site Brusque Memória)
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Reportagens Especiais

A história do comércio da Capital contada pelos bancos da Praça XV – Conheça detalhes de cada estabelecimento

Parte da história de Florianópolis nas décadas de 1950 e 1960 está ao alcance da população, no coração da cidade: na Praça XV de Novembro.
Os 35 bancos de granito do entorno da velha figueira trazem os nomes dos comércios mais tradicionais da cidade, naquela época.
A grande maioria desses estabelecimentos não resistiu à modernidade e fechou as portas há mais de 40 anos.

As letras foram se apagando lentamente com o passar dos anos.
Mas nos últimos tempos, estão desaparecendo com mais rapidez por causa da limpeza com hidrojato, feita periodicamente pela prefeitura municipal.

A variedade de estabelecimentos é grande: desde instituições financeiras e concessionárias de veículos até padarias e lojas de roupas.

Com a ajuda de tradicionais florianopolitanos como Nivaldo Machado, Esperidião Amin, Rodolfo Cerne e Manoel Timóteo de Oliveira, além de pesquisa na internet e livros, o Floripa Centro, conseguiu resgatar a história de cada um dos estabelecimentos, eternizados nos bancos existentes na mais famosa praça da Capital.

Confira cada um dos bancos:

Confeitaria Chiquinho: um dos mais tradicionais pontos de encontro de Florianópolis, funcionou entre 1904 e 1981. Era constituído por um bar e uma padaria. Estava localizada na esquina da Felipe Schmidt e Trajano, onde atualmente encontra-se a Livraria Catarinense.

Estabelecimentos A Modelar: foi a primeira loja da cidade a vender ‘roupa pronta’. E também a primeira a vender por meio de crediário. O proprietário era Jacques Schweidson. Até 1950, a loja ficava na Rua Trajano, entre Felipe Schmidt e Conselheiro Mafra. Depois foi construído um prédio próprio na mesma rua, porém, entre Felipe Schmidt e Tenente Silveira, frente aos jardins do Palácio Cruz e Sousa, onde ficou até o fechamento, no início da década de 1980.Beba Kola Marte: a gasosa era produzida pela fábrica de Bebidas Irmãos Mendes, em Biguaçu. Feita com essência de cola importada da Suíça, era a bebida preferida na região da Grande Florianópolis. Segundo o site Observatório Social, deixou de ser fabricada após a Coca-Cola, dos Estados Unidos, enviar uma carta aos irmãos proibindo o uso do nome Cola, em qualquer grafia.


Padaria Brasília:
a única com forno elétrico: tradicional padaria, na frente da Praça XV, onde atualmente encontram-se as Lojas Marisa. Fechou as portas no início dos anos 2000.

Pudim Medeiros: há dois bancos na Praça. Produzia pó para pudim. Era um clássico de Florianópolis. O proprietário Edi Medeiros, comercializava por atacado para as mercearias e vendas da região.

Pudim Medeiros: pó para pudim.

Indústrias Moritz: se dedicava à venda de balas e doces. Era famosa pela fabricação da bala rococo (coco moído com mel). Ficava no final da Rua Tiradentes, na região Leste da cidade.

Relojoaria Diamante Azul – Artigos para presentes: pertencia a Octavio Francisco da Silva, na Rua Trajano, perto da Felipe Schmidt. Além de relógios, também vendia câmeras de foto, filmes e, logicamente, artigos para presentes.

Electrolândia – Edifício Ipase: estava localizado no atual prédio da Previdência Social, frente ao Teatro Álvaro de Carvalho. Vendia e consertava aparelhos de televisão, rádios e geladeiras. O proprietário era José Carlos Daux.

Casa Três Irmãos: a loja pertencia aos irmãos Amin: Tuffi, Dahil e Esperidião (pai). Vendia fazenda (tecidos). Ficava na primeira quadra da Felipe Schmidt e funcionou a partir da década de 1930 até o início de 1980.

Há um Ford no seu futuro: a revenda Ford estava localizada nos altos da Felipe Schmidt, na esquina com a Rua Hoepcke, na frente da fábrica de rendas. Começou a funcionar em 1942 e pertencia a dois irmãos Amin: Dahil e Esperidião (pai). O terceiro irmão, Tuffi, já tinha falecido. Fechou na década de 1980.

Ford: carros, furgões, Taunus: Taunus era um dos carros mais vendidos na concessionária.

Ford: Prefect – Anglia – Irmãos Amin: referência aos modelos dos veículos.

Caminhões Ford – Irmãos Amin: veículos pesados vendidos na concessionária Ford.

Ford Mercury: referência ao modelo do veículo.

Ford: Capri, Lincoln, Cosmopolitan: referência aos modelos dos veículos.

Caminhões International: a revenda dos caminhões da norte-americana International Harvester, ficava no Estreito.

Chevrolet, o melhor do mundo: a revendedora de veículos inicialmente estava localizada na Rua Conselheiro Mafra, onde é a Galeria ARS. Depois, foi transferida para a Rua Hoepcke (com Conselheiro Mafra), ao lado da fábrica de rendas, e próxima à concessionária da Ford. Era da família Hoepcke.

A Exposição: loja de roupas finas, na Rua Felipe Schmidt.

INCO: o Banco Indústria e Comércio de SC (INCO) foi fundado em 1934 por um grupo de empresários do Vale do Itajaí. Funcionou até 1968, quando foi comprado pelo Bradesco, que até hoje está situado no endereço original, na frente da Praça XV.

Padaria e confeitaria Sonia: estabelecimento que funcionava na Rua Emílio Blum, perto da Avenida Hercílio Luz.

Meias Lupo: patrocínio da Casa das Meias, ainda existente no Calçadão da Felipe Schmidt.

Laminadora Catarinense: fábrica de compensados, localizada na Rua Pedro Ivo, quase esquina Francisco Tolentino.

Louças na Casas Savas: varejista de secos e molhados, no Mercado Público (nas lojas da Conselheiro Mafra) também vendia louças, faqueiros, cristais e utensílios domésticos. O comércio funcionou por 78 anos, entre 1913 e 1991.

Casa Yolanda: vendia fazenda (tecidos), na Rua Conselheiro Mafra e Trajano, perto do Largo da Alfândega. Pertencia à família Mussi. Com o sucesso, uma nova loja foi aberta na Rua Felipe Schmidt, entre a Trajano e Deodoro. Ambas fecharam na década de 1980.

Enarco: firma de engenharia, que chegou a ser a maior do Estado. Pertencia à tradicional família Ramos e foi responsável pela construção da nova ala da Maternidade Carlos Corrêa e de centenas de residências e prédios em toda Santa Catarina.

Galeria das Sedas: comércio de roupas femininas, na Rua Trajano Nº 9 pertencente ao casal Benta Cherem Barbato e Jorge Barbato, este último um dos mais tradicionais ‘senadores’ do Senadinho, confraria que se reunia na esquina das ruas Felipe Schmidt e Trajano.

Casas Pernambucanas: a tradicional loja de roupas e produtos para cama, mesa e banho estabeleceu-se na Capital em 1915. Estava localizada na Rua Trajano, entre Felipe Schmidt e Conselheiro Mafra, onde atualmente há um Mc Donalds.

Caixa Econômica: referência à Caixa Econômica Federal que estava localizada na Rua Conselheiro Mafra.

Deposite na Caixa Econômica: referência à Caixa Econômica Federal.

Caixa Econômica – Aguarda seu depósito: referência à Caixa Econômica Federal.

Empreza Florianópolis Ltda – Segurança – Conforto: companhia de ônibus urbano que ligava o Centro aos bairros Córrego Grande, Itacorubi, Saco Grande, Trindade e Agronômica. Foi a precursora da atual empresa de transportes Biguaçu.

Três bancos cujas inscrições estão ilegíveis:



Confira o vídeo com todos os bancos:

SAIBA MAIS SOBRE O PRIMEIRO ANO DO PORTAL FLORIPA CENTRO:

– Ao longo deste primeiro ano, foram publicadas 381 matérias jornalísticas relacionadas ao Centro de Florianópolis.

– A grande maioria delas, notícias exclusivas, apuradas a partir da observação direta dos fatos que acontecem no bairro.

– O Floripa Centro também busca resgatar a história da cidade: para isso, existe uma sessão especial chamada “Histórias do Centro”, onde são publicados fatos memoráveis de Florianópolis.

– O envolvimento e aceitação do público têm crescido exponencialmente nesse período.

– No último mês de abril foram 30 mil acessos ao Portal, de acordo com os dados do Google Analytics.

– Desde o início do ano houve 116 mil visualizações das notícias oferecidas pelo Floripa Centro.

Gostaria de ser o nosso parceiro/anunciante? Entre em contato pelo e-mail: portalfloripacentro@gmail.com ou pelo telefone/Whatsapp (48) 99968-3091.

– Confira as 15 reportagens mais vistas pelo nosso público:

 

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Atualidade

Ilustre moradora do Centro – Trajetória de Dona Uda, educadora e presidente de escola de samba, vira livro

A trajetória da educadora, mulher do samba e de projetos sociais Maria de Lourdes da Costa Gonzaga, a dona Uda, se transformou no livro “Uda Gonzaga – A primeira-dama do Morro da Caixa”.
Com 83 anos de idade, Uda nasceu e vive até hoje no Morro da Caixa, também conhecido como Morro do Monte Serrat, na região central de Florianópolis.
A obra, de autoria do jornalista Ricardo Medeiros e da acadêmica de Jornalismo Suyane de Lima, será lançada no dia 10 de fevereiro, às 17h, nos jardins do Palácio Cruz e Sousa, no Centro.

Uda foi a primeira pessoa negra da comunidade, nos anos 1960, a se formar professora-normalista.
Aos 40 anos, concluiu o curso superior de Pedagogia. Entrou para história, quando foi o primeiro negro a ser membro titular do Conselho Estadual de Educação de Santa Catarina.

Formatura da educadora (arquivo pessoal Uda)

Pelo mesmo conselho ganhou o Prêmio Elpídio Barbosa, que reconhece as boas práticas em favor da qualidade da educação.
Foi uma das fundadoras do Conselho Comunitário do Monte Serrat e da Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros.
Pelo seu trabalho nessa última entidade, recebeu a Medalha Zumbi dos Palmares, concedida pela Câmara de Vereadores de Florianópolis.

Mundo da Educação
Nos anos 1940, Uda estudou no Grupo Escolar Arquidiocesano São José.
Os pais de Uda a incentivavam a estudar. “O que eles mais queriam era que a gente se concentrasse nos cadernos e nos livros. Os estudos eram a herança que eles gostariam de nos deixar”.
Nas décadas seguintes, foi aluna no Instituto Estadual de Educação (IEE), instituição pela qual conquistou o diploma de normalista em 1963.

No IEE, não havia professores negros, com exceção de Antonieta de Barros, que exercia o cargo de diretora do Instituto (1944-1951).
Uda, no ano de 1964, iniciou a carreira no magistério como professora substituta na Escola Isolada do Morro da Caixa. Ficou no estabelecimento por três meses.
Naquele mesmo ano, rumou para Blumenau, pois havia passado em concurso público para ministrar aulas no Estado. As condições de trabalho não eram favoráveis e ela desistiu da vaga.

Ainda em 1964, de volta a Florianópolis, efetivou-se na Escola Isolada do Morro da Caixa. Logo assumiu o cargo de diretora. Mais tarde, o estabelecimento passou a se chamar Grupo Escolar do Morro da Caixa.
Na sequência, recebeu as denominações de Grupo Escolar Lúcia do Livramento Mayvorne e Escola Básica Lúcia do Livramento Mayvorne.
Como única negra da turma, iniciou, em 1974, o Curso de Pedagogia na Universidade do Estado de Santa Catarina, Udesc.

No dia 29 de julho de 1978 foi diplomada com habilitação em administração escolar.

Em 2 de maio de 1986, Uda foi o primeiro negro a ser membro titular do Conselho Estadual de Educação (CEE), ficando no cargo até 2 de março de 1998.

No ano de 2008, voltou a ser protagonista. Era também o primeiro negro a receber o Prêmio Elpídio Barbosa, pelo CEE.
Dona Uda, aos 72 anos de idade, aposentou-se compulsoriamente do magistério no dia 9 de julho de 2010.

Mundo do samba
Tornou-se a única presidente mulher da Escola de Samba Embaixada Copa Lord, agremiação pela qual virou também tema de enredo.
Em 5 de junho de 1965 casou-se com Armandino Gonzaga, que na época já estava na presidência da Escola de Samba Embaixada Copa Lord. O marido faleceu em 1978, aos 40 anos, vítima de edema agudo de pulmão, causando comoção na comunidade.

Durante os anos de 1984 e 1985, Uda Gonzaga comandou a Embaixada Copa Lord. Foi convidada para a presidência por um grupo da diretoria. Como resposta, ela falou que não tinha a experiência do marido.
“Propus que fizessem uma eleição na comunidade. Meu nome foi aceito por todos”. Foi a única mulher da entidade a assumir tal cargo.
Pela agremiação, em 2014, foi reverenciada com o enredo: “Quem você pensa que é sem a força da mulher?”.

Mundo social
Maria de Lourdes da Costa Gonzaga , em 1978, foi uma das responsáveis pelo surgimento do Conselho Comunitário do Monte Serrat.
Em 1985 auxiliou na fundação do Grupo de Mulheres Negras, que anos depois se transformou na Associação de Mulheres Negras Antonieta de Barros (AMAB). Por essa entidade, recebeu a Medalha Zumbi dos Palmares, pela Câmara de Vereadores de Florianópolis.
Colocou em prática, em 2006, o projeto Livros e Batucadas, com os cursos de Administração de Empresas e de Música, ambos da Universidade do Estado de Santa Catarina, Udesc. O projeto criou a bateria mirim da Copa Lord.

A obra já está em pré-venda com o selo da Dois por Quatro Editora: https://www.doisporquatro.com/uda-gonzaga-a-primeira-dama-do-morro-da-caixa

Preço: R$ 35 até 9 de fevereiro e R$ 39,90, após essa data.

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Agendas

Três anos de obras e R$ 4,7 milhões – Inaugurada em 1876, no Centro, Casa da Alfândega reabre totalmente revitalizada

O prédio ficou encantador, resgatando a beleza original de 146 anos atrás.
Construída em estilo neoclássico, a Casa da Alfândega foi o posto de arrecadação de impostos das mercadorias que chegavam no Porto de Florianópolis entre 1876 e 1964, quando encerrou as atividades juntamente com o fim das atividades portuárias.

Agora, após três anos de reformas, o imóvel de dois andares será reaberto ao público no próximo 2 de fevereiro.

A Casa da Alfândega em imagem da década de 1890 (Acervo IHGSC)

Nesse dia, a Feira de Artesanato local voltará a funcionar no espaço, ocupando o lado mais próximo ao Mercado Público.
Os outros dois terços da edificação, inaugurada em 1876, será ocupada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Espaço para a feira de artesanato local mantém os paralelepípedos originais

Esta foi a mais importante reforma da história da Alfândega: o telhado foi totalmente refeito, a escadaria de madeira foi restaurada artesanalmente e foram instalados aparelhos de ar condicionado, além da construção de um elevador para melhorar a acessibilidade.

Artesãos já estão fazendo a mudança com vistas à inauguração

A renovação interna e externa da Casa também incluiu reboco, argamassa, fiação elétrica e a pintura de todas as paredes.
No piso térreo, foram mantidos os paralelepípedos originais.

Portas internas da futura sede do Iphan, vistas desde a rua Conselheiro Mafra (ao fundo, o Largo da Alfândega)

As obras custaram R$ 4,7 milhões, com recursos do Iphan, por meio do PAC Cidades Históricas.

REPORTAGEM RELACIONADAS:
Prédio da Alfândega desapareceu – A terrível explosão que estremeceu o Centro em 1866

O renascimento do antigo muro do Largo da Alfândega

História
Com 1,3 mil metros quadrados, a Casa da Alfândega foi inaugurada em 29 de julho de 1876, pelo então presidente da província de Santa Catarina, Visconde de Taunay.

O prédio foi construído pelo Governo Imperial para funcionar como posto de arrecadação de impostos e só começou a operar efetivamente em fevereiro de 1877, após inspeção técnica.
A edificação substitui a primeira alfândega, que se localizava ao redor da atual Praça XV, e que foi destruída por uma explosão em 1866.
As atividades alfandegárias no local duraram mais de 90 anos, encerrando-se em 1964 com a decadência e fechamento do Porto de Florianópolis, juntamente com o posto aduaneiro da Praia de Sambaqui.

(Texto e fotos de Billy Culleton)

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Agendas

Com poucos clientes, engraxates da Praça XV estão em via de extinção: duas bancas fecharam nos últimos anos

Por Billy Culletonce

Milton Amauri está prestes a completar meio século de vida, a maior parte dela frequentando a Praça XV de Novembro, no Centro de Florianópolis.
Desde os sete anos, na década de 1970, acompanhava o pai, que tinha uma banca para engraxar sapatos na calçada, frente ao Calçadão da Felipe Schmidt, e que ele ‘herdou’ após a morte do progenitor.

Milton Amauri (D) aguardando a clientela na frente do Calçadão da Felipe Schmidt

“Está difícil continuar aqui. A gente faz apenas quatro ou cinco clientes por dia. Antes era muito melhor: chegava a fazer 20…”.
Ele é um exemplo da decadência, mas também da resistência do ofício.

Até 2010 eram seis bancas para engraxates no entorno da praça: duas do lado Oeste (continuação da Rua Arcipreste Paiva, chamada Rua Praça XV), três no lado Leste (na rua da agência dos Correios) e uma na frente da Praça Fernando Machado, onde se encontra o monumento ao Miramar.

Nos últimos anos, por causa do declínio do serviço, duas bancas foram desativadas.

No lado Oeste, banca foi substituída por um banco
Frente à Praça Fernando Machado, lugar da antiga banca serve para ‘acomodar’ pessoas em situação de rua

Uma das bancas do lado Leste pertence a Célio de Souza há mais de 40 anos. Ele diz que está pensando em desistir da profissão, pela falta de clientes.

Célio de Souza está propenso a abandonar a engraxataria

“As pessoas perderam o costume de engraxar na rua. Agora, a maioria compra aqueles produtos prontos e passam no calçado, em casa”.

A poucos metros daí trabalha Luis Carlos Peixoto, de 52 anos, 30 deles na banca. “Ontem engraxei apenas um par de sapatos”, conta, desapontado.

Luiz Carlos Peixoto prefere aguardar os poucos clientes do que ficar em casa

Ele culpa a crise financeira do país pelo baixo movimento na sua banca. “E a cada dia está ficando pior”.
Porém, mesmo com pouco serviço, Peixoto, que é aposentado, não pretende sair do local. “Não adianta ficar em casa, algo tenho que fazer… aqui pelo menos vejo o movimento e converso com as pessoas”.

Os valores:
Os preços variam, dependendo da banca. Engraxar um par de sapatos custa entre R$ 10 e R$ 15 e botas entre R$ 15 e R$ 20.

 




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Reportagens Especiais

Piso da Praça XV tem 47 painéis de Hassis retratando o cotidiano da Ilha. Mas a enorme placa explicativa sumiu!

Em 1965, um dos artistas mais importantes da Ilha, Hiedy de Assis Corrêa, conhecido como Hassis, criou desenhos para a pavimentação do piso da Praça XV de Novembro, no Centro de Florianópolis.
Nascido em Curitiba em 1926, mas residente em Florianópolis desde os dois anos de idade, sua carreira nas artes plásticas sempre foi marcada por desenhos e pinturas ligados ao folclore ilhéu, descreve o portal Mosaicos do Brasil.
E foi este o tema que Hassis escolheu, quando foi convidado pela prefeitura para produzir os mosaicos na Praça XV, feitos em pedra portuguesa ou ‘petit pavê’.
O artista buscou inspiração nos temas da vida cotidiana de Florianópolis, continua o texto de Mosaicos, elaborando desenhos que retratam os brinquedos da garotada (empinar pipa, pular corda, soltar balões), os folguedos, as profissões tradicionais e o artesanato local.
Placa ajudava a identificar e entender as obras
Para alguns, pode se tornar complicado identificar os mosaicos no piso.
Por isso, há vários anos existia um grande painel explicativo, mostrando o significado e a localização de cada um dos 47 desenhos.
A placa de lona, de 2,5 metros x 4 metros, ficava na entrada da praça, ao final do Calçadão da Felipe Schmidt.

Mas agora desapareceu.
Segundo os taxistas do entorno, o painel foi retirado e ficou encostado numa banca de jornal na frente da Catedral e, por fim, sumiu.

Desenhos pensados ‘na hora’
Hassis criou os desenhos de improviso, ‘na hora’, segundo relatou ao Jornal Diário Catarinense, em entrevista no ano 2000, meses antes do seu falecimento.

Hassis em seu ateliê, no Bairro Itaguaçu, no final da década de 1990 (Acervo Fundação Hassis)

“Eu ia desenhando com uma varinha e uma equipe de 10 homens ia preenchendo pedras brancas ou pretas”.
Por isso, não há esboços, desenhados, sobre a obra que levou seis meses para ficar pronta.
Esta informação consta no Trabalho de Conclusão de Curso, de Anna Julia Borges Serafim, intitulado “Hassis na Praça XV e a Praça XV em Hassis: Estudo de caso sobre a pavimentação artística de Hassis em Florianópolis”, do Curso em Museologia, da Universidade Federal de Santa Catarina.
O trabalho acadêmico de 2017 também apresenta uma pesquisa de campo junto aos frequentadores da Praça XV, sobre os desenhos artísticos no local.
Confira:

Confira o vídeo explicativo:

Desenhos em outras praças do Centro

Os desenhos na Praça XV foram feitos em 1965.
A estudante Anna Serafim informa que nos anos seguintes também houve a implantação da obra em outras praças localizadas no Centro de Florianópolis: em 1966, Pereira Oliveira e Olívio Amorim, e em 1967, Benjamim Constant e Bulcão Viana.
Nessas praças, as referências à cultura da cidade também prevalecem.
O Largo Benjamin Constant é o único espaço em que o artista fez desenhos que fogem dos padrões de outras praças: um avião da Força Aérea Brasileira.
Esse desenho é uma homenagem a um piloto que faleceu em um acidente aéreo ocorrido nas imediações. Além disso, também nesse largo, Hassis fez representações de suas duas filhas, Leilah e Luciana.

Reforma em 2000 contou com a participação de Hassis
Com 74 anos, o artista participou da restauração do piso, com buracos e desníveis produzidos ao longo de 35 anos.
A revitalização começou em 1999 e foi concluída em 2000, ano em que Hassis faleceu.
Em 2014, o piso com os desenhos foi tombado como patrimônio histórico e artístico da cidade.

(Texto e maioria das fotos de Billy Culleton. A pauta foi sugerida pelo colega Zé Dassilva, admirador fanático de Hassis)

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Histórias do Centro

A descoberta do cisne negro, no Centro de Florianópolis – Crônica de Carlos Nogueira*

Nunca vi antes um cisne tão grande. Mesmo se ele tivesse tamanho comum, também não lembraria de ter visto, de tão perto, outro igual.
Ao contrário dos cisnes que eventualmente encontro, todos eles de cor branca, este na minha frente é negro.
Há mais uma discrepância: em vez de superfícies aquáticas, o cisne que agora observo habita em blocos de concreto.

Nos topamos sempre no mesmo lugar, durante a minha caminhada para o trabalho. Diante de sua magnitude, é difícil não o perceber.
Quem poderia ignorar um cisne negro de quase mil metros quadrados em pleno centro de Florianópolis?
Talvez alguém para quem as ruas sejam apenas obstáculos entre o local de partida e o de destino. Não é o meu caso.

Mas voltemos ao protagonista. Apesar dos encontros costumeiros, confesso que somente nesta tarde parei para observá-lo com calma.
Ele possui uma postura altiva, com as asas abertas, como se estivesse prestes a se descolar dos dois paredões em que nada.
Em um terceiro paredão, a ave está representada na forma humana, que corresponde à imagem do poeta catarinense Cruz e Sousa: o cisne negro da literatura.

Existe ainda, gravado em letras tão colossais quanto o restante, um de seus sonetos mais famosos: “Enlevo”.
Aqueles versos convidam os pedestres para uma pausa; para que também abram as asas, e voem um pouco além dos compromissos aos quais se dirigem.

A paisagem destes paredões me lembra da minha infância em Goiânia. Mais precisamente de um lago, o Lago das Rosas.
Nele, havia pedalinhos em formato de cisnes. Eram de várias cores: branco, amarelo, verde, azul, roxo. Mas nenhum deles era negro. Nenhum.

Tanto tempo depois, finalmente estou diante de um cisne negro. Me sinto um pouco como o explorador holandês que, no século dezessete, fez o primeiro registro de um exemplar.
Até então, a existência deles era desconhecida: isso foi o que li em algum lugar.
Mas eles existem sim. E, pelo que consigo perceber, são enormes.

* Escritor angolano-brasileiro,residente na Grande Florianópolis. ‘A descoberta…” faz parte do seu mais novo livro de crônicas, Deslocamentos, da Editora Penalux.

Clique AQUI para saber mais sobre o livro.

(As fotos são de Billy Culleton)

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Reportagens Especiais

A urbanização do Centro em quatro imagens (1866-2022)

1866 – “Vista do Desterro”, tela a óleo do pintor viajante alemão Joseph Bruggemann
1910 (data aproximada) – Pintura do artista desterrense Eduardo Dias
1920 (data aproximada) – Registro do fotógrafo José Ruhland, que tinha loja do ramo na rua Conselheiro Mafra, 124

 

2019 – A nossa Floripa hoje
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Ponte Hercílio Luz – Aberto edital para exploração comercial do mirante na cabeceira insular

Estão abertas as inscrições para empresas que tenham interesse de explorar a área na cabeceira insular da ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, para a prestação de serviços como alimentação e outras atividades turísticas.
Restaurado pela Secretaria de Estado da Infraestrutura e Mobilidade, o local recebeu pavimentação, cercamento com peças originais da estrutura (dispensadas na reforma) e um monumento com uma das barras de olhal original.

Objetivo é transformar o lugar, que tem vista para o principal cartão postal de Santa Catarina, em um ponto de convivência.

“É mais um avanço após a devolução da Ponte Hercílio Luz ao convívio dos catarinenses. A Velha Senhora é um patrimônio dos catarinenses, o monumento mais fotografado do Estado e a reabertura mostrou que é muito mais do que um instrumento de mobilidade. Este mirante é um espaço nobre que queremos transformar em área de convivência”, destacou o secretário de Estado da Infraestrutura, Thiago Vieira.

Podem participar empresas sozinhas ou consorciadas (no máximo de três empresas integrantes). O que mais pesará na escolha entre as consideradas habilitadas será o valor de outorga mensal.
Ou seja, o montante repassado aos cofres públicos em troca da exploração do espaço. Empresas interessadas podem acessar o edital neste link.

As propostas serão aceitas até as 14h do dia 3 de fevereiro. Os proponentes deverão apresentar, ainda, um estudo preliminar de intervenção urbanística, com propostas de melhoria no espaço, elaborado por profissional habilitado.

(Com informações do governo de SC. A foto é de Alexandre Aguiar da Silva/SIE)

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Atualidade

Farmácias tomam conta do Centro – Preço Popular no lugar da Livraria Catarinense, no Calçadão

Existem 10 farmácias num raio de duas quadras, entre a Praça XV e o Mercado Público Municipal.

Recentemente, a área, delimitada pelas ruas Tenente Silveira e Conselheiro Mafra, ganhou mais um comércio de medicamentos, justamente onde estava um ícone da vida cultural do Centro de Florianópolis.

Os três andares da Livraria Catarinense, que fechou em agosto e permitia o crescimento intelectual e espiritual, já recebe fregueses à procura da cura física.

A reforma para instalação da farmácia

A Farmácia Preço Popular ocupa a tradicional esquina, no prédio que já abrigou a famosa Confeitaria do Chiquinho, na frente do Senadinho, que também está completamente descaracterizado, sendo ocupada por uma loja de celular.

Coincidentemente, a nova loja da Livraria Catarinense, na Deodoro, também tem uma farmácia ao lado

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Na antiga Confeitaria Chiquinho – O fechamento da Livraria Catarinense, na principal esquina do Centro de Florianópolis

A lendária Confeitaria Chiquinho – Com três andares, em 1926, era o edifício mais alto de SC

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Histórias do Centro

Marco para o turismo internacional – Há três décadas Florianópolis recebia o primeiro voo regular do exterior

No domingo 6 de janeiro de 1991 Florianópolis organizou uma grande festa no Aeroporto Hercílio Luz para recepcionar o primeiro voo internacional para Santa Catarina.

Naquele dia, a Varig inaugurou a linha regular entre Florianópolis e Buenos Aires, que operaria uma vez por semana, aos domingos.
Até então, a rota entre as duas cidades só era possível por meio de voos charters.

Autoridades e comunidade observam a chegada do Boeing 737 da Varig

Os turistas argentinos foram recepcionados pelo prefeito Antônio Bulcão Viana, junto com a banda da Polícia Militar e o coral infantil do Clube 6 de Janeiro.

Na sequência, foram convidados a apreciar um coquetel com diversos quitutes e bebidas, no restaurante do aeroporto.

Imagem do Diário Catarinense mostra o prefeito Bulcão Viana observando o coral do Clube 6 de Janeiro

A recepção foi organizada pela Associação Comercial e Industrial de Florianópolis (Acif), junto com outras entidades locais ligadas ao Turismo, que apresentaram o vídeo publicitário “Cidade de Florianópolis”, produzido pela Protur.

Hermanos e high society
O Boeing 737 decolou de Buenos Aires às 12h30min com destino ao Rio de Janeiro, com escala na capital catarinense.
A maioria dos 131 passageiros era composta por ‘hermanos’, mas também havia um grupo de senhoras da alta sociedade florianopolitana, sob a liderança de Kyrana Lacerda, viúva do ex-governador Jorge Lacerda.

Recepção com coquetel e vídeo para os passageiros

Assim, há exatamente três décadas, Florianópolis entrava definitivamente na rota dos voos internacionais.

(As imagens são do acervo pessoal do jornalista Manoel Timóteo de Oliveira, que também repassou todas as informações para a produção desta reportagem)

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Reportagens Especiais

No meio do mato, encontramos as ruínas do Forte São João, feito em 1793 e demolido para fazer a Ponte

Quem passa pela Beira Mar Continental, embaixo da Ponte Hercílio Luz, não imagina que ali pertinho existia uma fortaleza, erguida há 228 anos.
Muito menos que ainda há vários vestígios da sua existência, como um túnel abobadado e diversos trechos de muralhas que pertenceram ao antigo Forte de São João do Estreito.

Vestígios do Forte em 1926 (Foto de Felipe Bündgens. na obra “Ponte Hercílio Luz: do sonho à realidade”)

No local (um barranco de 700 metros quadrados, na Rua 14 de julho, com grandes árvores e mata fechada) não há nenhuma placa ou indicação de que ali se erguia o único estabelecimento militar histórico, situado na parte continental de Florianópolis.

Registros de 2015 feitos pelo site Fortalezas.org

A fortaleza foi construída em 1793 a mando do governador da Capitania de Santa Catarina, João Alberto de Miranda Ribeiro.
Ele mandou edificar entrincheiramentos no local devido “à fermentação bélica na Europa”.

A informação, segundo o site fortalezas.org, consta nas obras de dois autores do século 19: “Memória Histórica da Província de Santa Catarina”, de Manoel D’Almeida Coelho (1856), e em “Notícia Geral da Província de Santa Catarina”, do Arcipreste Joaquim de Oliveira Paiva.

Na parte superior, o túnel hoje, 2021. Embaixo, registros de 2015 feitos pelo site Fortalezas.org

Defesa contra invasores estrangeiros
O objetivo era defender a Ilha de Santa Catarina.
Do outro lado do mar, na Ilha, encontra-se o Forte Santana, com o qual deveria cruzar fogo, em caso de ataques de invasores.

O forte no Estreito tinha como estrutura principal o Quartel da Tropa, a Casa da Pólvora, a Bateria e, no entorno, uma muralha de alvenaria.

Imagem de 1924 mostra,em primeiro plano, o túnel de acesso ao forte (Foto de José Ruhland, acervo Marcelo Collaço Paulo, reproduzido do livro “Ilha de Santa Catarina: Florianópolis”)

Possuía um portão abobadado, ‘exposto’ completamente aos fogos que poderiam partir do canal, descreve o historiador Augusto de Sousa, na obra “Fortificações no Brasil” (1981).

Sua artilharia, seis peças de bronze, provinha da Fortaleza de Anhatomirim, tendo seu número elevado a 11, em 1837, no contexto da Revolução Farroupilha.

Local exato onde ficava a fortificação, em imagem de março de 2021

Reforma
Na década de 1850, já em desuso e com as edificações inteiramente arruinadas, foi feito um orçamento para a reedificação do forte e das muralhas, informa o site Fortalezas.

Na época, avaliou-se que a fortificação deveria ser restaurada devido a sua posição estratégica, e todos os edifícios teriam que ser reparados, sendo que a parte mais conservada era a Casa da Pólvora.
Mas o projeto não foi adiante.

Mapa de Desterro de 1876 mostra o forte (Divulgação Fortalezas.org)

Em 1863, o governo imperial voltou à carga e projetou uma nova fortificação nesse local, iniciativa que também fracassou.

Assim, o forte ficou abandonado até que as estruturas remanescentes terminaram por ser demolidas ou soterradas no início da década de 1920, por causa das obras da construção da Ponte Hercílio Luz, que lhe exigiram o local estratégico.

Túnel abobadado no início da década de 1920 (Foto de Felipe Bündgens. na obra “Ponte Hercílio Luz: do sonho à realidade”)

Tombamento
Somente um século depois, em agosto de 2019, o Conselho Estadual de Cultura aprovou o tombamento das ruínas do Forte São João, sob o argumento de ser uma importante ação para a valorização do patrimônio cultural catarinense.

Mas, por enquanto, o local, que fica sob a responsabilidade do Deinfra, ainda é ‘Patrimônio com tombamento provisório’.

Parte da muralha em imagem de março de 2021

Situação hoje
Atualmente, aos pés da cabeceira continental da Ponte, semi-soterrados, restam apenas os vestígios do túnel, em alvenaria de pedra e cobertura em abóbada de tijolos, e pequenos trechos remanescentes de muralhas.

Às vezes, o local é limpo pela Comcap e as ruínas ficam mais à vista.

Imagem do Google Street mostra o local após ser roçado pela Comcap

Nesta semana, na visita da reportagem, o mato tomava conta do lugar, que é frequentado por usuários de drogas.

Anos atrás, alguns deles quebraram a parede de tijolos, na entrada do túnel, erguida pelo poder público para evitar a sua ocupação. Mas a estrutura foi reconstruída.

Túnel abobadado no início da década de 1920 (Foto de Felipe Bündgens. na obra “Ponte Hercílio Luz: do sonho à realidade”)

Confira a localização exata, neste link do Google Earth.

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