Inaugurada em 1906, a Praça Getúlio Vargas é a segunda mais importante de Florianópolis, depois da Praça XV de Novembro.
‘Convivem’ neste espaço figuras tão relevantes, quanto diferentes, para a história local.
Ali, encontra-se o primeiro monumento em Santa Catarina para a heroína Anita Garibaldi, construído em 1919, 70 anos após a sua morte, ocorrida em 1849.
O presidente Getúlio Vargas também é homenageado, com a reprodução da carta-testamento (ilegível), documento manuscrito endereçado ao povo brasileiro horas antes de seu suicídio, em 24 de agosto de 1954.
Na praça que originalmente era chamada de “Largo Municipal”, também está o busto de Carl Hoepcke, um dos mais importantes empresários de Florianópolis, falecido em 1924.
Próximo, podemos ver a estátua de um ilustre desconhecido para a maioria da população florianopolitana, na atualidade: o médico e político Antônio Vicente Bulcão Vianna, morto em 1940, avó do ex-prefeito Antônio Henrique Bulcão Vianna, falecido em 2007.
O belo jardim, que conta com o único chafariz do Centro, na frente do prédio da Força Pública (atual sede do Comando da Polícia Militar), recebeu o nome do ex-governador Gustavo Richard, que administrou o Estado entre 1906 e 1910.
A sexta entre as heterogêneas personagens homenageadas: o parquinho infantil recebeu o nome ‘Dona Tilinha’, para lembrar de Atília Tolentino de Souza, mulher do ex-prefeito Paulo Vieira da Rosa (1964-1966).
Ainda tem uma homenagem aos bombeiros, em 2016, na frente de uma das sedes da corporação.
E para terminar, escondida, uma placa em latim registra as árvores doadas pelo governador Hercílio Pedro da Luz, em setembro de 1922.
E uma placa de reconhecimento ao ex-governador Gustavo Richard (1906-1910).
Imagem da Casa da Memória, mostra a praça em 1914:
(A foto de abertura é do acervo da Casa da Memória. As atuais, são de Billy Culleton)
Um mastro com uma bandeira no alto do maior morro do Centro da cidade servia para sinalizar a chegada de embarcações em Nossa Senhora do Desterro, nos séculos 18 e 19.
Era o ‘posto semafórico’ que, operado por uma única pessoa, informava sobre os navios que precisavam atracar no porto, localizado na Baía Sul da Capital.
Como conta o escritor ilhéu Virgílio Várzea, na obra “A Ilha – Santa Catarina” (1900):
“O Morro do Pau da Bandeira, mais conhecido outrora por Morro do Antão, teve esse nome em virtude do posto semafórico que foi colocado em seu ponto mais culminante por um antigo governador, que transmitia à cidade, por meio do código de sinais, a comunicação dos navios de todas as procedências que demandassem o porto”.
E completa:
“Este posto dá aviso das embarcações ainda no alto mar, pois corresponde-se por meio dos galhardetes convencionais das entradas de portos com os dois postos estabelecidos à boca daquelas barras – um na ilha e forte de Santa Cruz, outro na ilha e forte da barra do sul junto à Ponta dos Naufragados”.
Várzea descreve o local:
“Numa casinha de pedra e cal habita o guarda ou sinaleiro, dispondo essa habitação de um terreiro cercado de um grosso muro de pedra para a banda da cidade, onde se ergue o alto mastro inteiriço, cruzado de uma verga no alto, em que se fazem os sinais”.
A sinalização era vista a quilômetros de distância:
“Este mastro é avistado de todos os pontos do Desterro e dos arraiais e freguesias em roda, como o Saco dos Limões, Pantanal, Trás-do-Morro (atual Trindade), Itacorubi, Santo Antônio, e bem assim de todas as povoações litorais do continente, desde os Coqueiros às Caieiras”.
A sinalização deixou de ser utilizada no século 19.
Décadas depois, no mesmo local foi colocada uma cruz, que dá o nome atual ao morro.
Hoje, o espaço se encontra ‘tomado’ por outro tipo de tecnologia, mais moderna, mas que ainda cumpre com o papel de comunicar algo para alguém: as antenas de televisão, rádio e celulares.
(A imagem de abertura é uma pintura de Eduardo Dias ‘Vista de Florianópolis’, reproduzida no livro “Florianópolis, Memória Urbana”, de Eliane Veras da Veiga)
O antigo cemitério municipal de Florianópolis foi fundado em 1840 nos altos da atual Rua Felipe Schmidt, onde hoje se localiza o Parque da Luz.
Na época, o terreno distante e descampado, que pertencia ao cidadão José Vieira da Rocha, foi desapropriado pelo poder público para evitar os sepultamentos no interior e ao redor dos templos da cidade, como era o costume há séculos.
“Destinou-se cada parte do terreno às irmandades e ordens religiosas existentes na cidade, reservando-se uma parte aos jazigos dos indigentes e aos que professavam os credos não católicos”, conta a urbanista Eliane Veras da Veiga, no livro ‘Florianópolis – Memória Urbana’.
Na medida em que o cemitério foi sendo ocupado, a população em geral, segundo a pesquisadora, quando queria alcançar mais rapidamente a Praia de Fora (atual Beira Mar Norte), aproveita a continuação da Rua do Senado (Felipe Schmidt), que atravessava o ‘campo santo’.
Para evitar transtornos, em 1881, o governador João Rodrigues Chaves (na época chamado de presidente) mandou construir uma cerca e um portão, impedindo o fluxo de pedestres.
E mandou publicar um edital com a nova proibição de entrar para o cemitério público pela rua do Senado.
“Só em caso de enterros que tem de vir pela parte da Praia de Fora, ou da vizinhança daquele lado, será aberto o portão que se acha colocado na entrada de dita rua”.
Assim, a partir de então, o portão acabou com o atalho usado pelos destemidos florianopolitanos que se dirigiam à Praia de Fora.
Banhos há 140 anos
Embora o costume de frequentar a praia como atividade de lazer tenha se consolidado décadas depois, naquela época há registros do início do hábito.
Em 1887, o presidente da província de Santa Catarina, Francisco José da Rocha, ao defender a transferência do cemitério nos altos da Felipe Schmidt argumenta que este ‘prejudica a parte da cidade mais procurada para banho, e onde há as mais modernas construções e aprazíveis chácaras’, como conta Eliane Veras da Veiga, no livro ‘Florianópolis – Memória Urbana’.
Transferência
Em 1925, um ano antes da inauguração da Ponte Hercílio Luz, o necrotério foi transferido para o Itacorubi, levando a maior parte dos 30 mil corpos ali sepultados.
Como só foram desenterrados os cadáveres que estavam identificados, nas décadas seguintes, estudantes de Medicina e Odontologia ainda frequentavam o local buscando ossos para seus estudos.
Às 19h28min do dia 17 de outubro de 1991, o agora São João Paulo II chegou em Florianópolis para beatificar a Madre Paulina.
Após descer do avião presidencial na Base Aérea, um helicóptero o levou até o Centro de Ensino da Polícia Militar, no Bairro Itacorubi.
Dali seguiu de papamóvel até a região central da cidade.
No trajeto, milhares de pessoas se aglomeravam na Avenida Beira Mar Norte para vê-lo passar.
Ele passou a noite no Colégio Catarinense, no quarto 14, que foi transformado num memorial aberto à visitação do público.
João Paulo, então com 71 anos, acordou às 6h, rezou por uma hora na capela da instituição educacional, tomou café e se dirigiu ao aterro da Baía Sul, próximo à Passarela do Samba.
No local, cerca de 60 mil pessoas o aguardavam, embaixo de chuva, para acompanhar a missa de beatificação de Madre Paulina, que começou às 9h.
Após a cerimonia, o Papa seguiu no papamóvel pelas Avenidas Mauro Ramos e Rio Branco até a Rua Esteves Júnior, no Palácio Episcopal, para o almoço festivo com bispos e a comitiva papal.
Depois, ele se dirigiu ao ginásio do Sesc, na Prainha, para um encontro com religiosos e representantes da sociedade civil.
Na saída foi ovacionado por milhares de pessoas, que o viram caminhar até a Praça das Bandeiras, onde se despediu dos fiéis, na frente do Palácio Santa Catarina.
Minutos depois, às 17h, João Paulo II se despedia da capital catarinense, onde passou 22 horas, 20 delas no Centro, marcando a primeira e única visita de um Papa a Santa Catarina.
(A foto de abertura é acervo da Arquidiocese de Florianópolis)
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina completou 130 anos neste 1º de outubro.
A trajetória do Poder Judiciário passa pela região central de Florianópolis onde ocupou diversos prédios históricos até chegar à sede própria em 1975.
Veja as sedes do Judiciário catarinense desde 1891:
(As fotos são reproduções do livro “Em meio a leis e pessoas: 125 anos de história do Tribunal de Justiça de Santa Catarina”, sendo que a maioria das imagens são do acervo da Casa da Memória e Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina)
Por Billy Culleton
Inaugurado em 28 de setembro de 1928, no trapiche próximo à Praça XV, o Bar e Restaurante Miramar, era o local preferido de boêmios, artistas, músicos, políticos e espectadores das regatas de remo.
O local foi um dos principais pontos de encontro da sociedade florianopolitana e destacou-se por estar localizado em uma região de fácil acesso aos habitantes da cidade, afirma a historiadora Caroline Soares de Almeida, no artigo “Final da década de 1920 em Florianópolis: a construção do Miramar e a urbanização da cidade“, da Revista Santa Catarina em História (UFSC).
O acesso ao local também era favorecido porque, em frente, encontrava-se a parada final dos ônibus que vinham dos bairros.
O Miramar também servia como palco de eventos desportivos náuticos, sendo essa descrição pouco abrangente para dar conta da verdadeira importância sociocultural do edifício, prossegue Caroline.
O Miramar nasceu como reflexo da onda de modernização que tomou conta de Florianópolis na década de 1920.
Até então, ali existia o antigo trapiche municipal, ponto de embarque e desembarque de passageiros das embarcações que atravessavam a Baía Sul até o Estreito.
Deteriorado e decadente, foi demolido em 1927 para o início da construção do Miramar.
“A Superintendência fará construir ali, dentro em breve, um cáez condigno daquella praça, para embarque e desembarque, em prolongamento á mesma praça tendo a largura desta, na sua intercessão com o caes actual e o comprimento do trapiche”, publicou o jornal O Estado em 6 de maio de 1926.
Na sua decoração, predominavam as linhas ecléticas com elementos neoclássicos, que atraia a elite econômica e política da cidade.
Na época, um dos divertimentos dos frequentadores era jogar moedas no mar para que crianças mergulhassem e resgatá-las.
Mas no início da década de 1970, o Miramar também entrou em decadência, entre outros motivos, pelo início do aterro da Baía Sul.
O bar fechou, o espaço virou estacionamento e eventualmente era utilizado para apresentação de peças teatrais: ficou conhecido como o primeiro Teatro de Arena do Estado de Santa Catarina.
Apesar dos esforços de muitos pela sua manutenção, em 24 de outubro de 1974, a estrutura foi completamente demolida.
Crônica final
Confira a crônica do jornalista Adolfo Ziguelli, lida no Programa Vanguarda, da Rádio Guarujá, em 25 de outubro de 1974 (Arquivo Zininho, Casa da Memória):
“Ontem à tarde morreu o Miramar, ainda bem que lhe pouparam a agonia lenta das mortes dolorosas e lhe desfecharam um golpe só, rápido e certeiro. O progresso matou o Miramar. Foi em nome dessa palavra mística incorporada ao pensamento médio vigente que o Miramar tombou, sem um gemido e sem protesto, destroçado pela máquina. Sobre as areias conspurcadas do aterro espalharam-se os restos do seu corpo esquartejado sem que ao menos as antigas águas amigas lhe lambessem as feridas sangrentas. Flores rubras se abriram no seu velho peito cansado e por elas jorrou o sangue de muitas gerações. Nenhuma lápide, nenhuma inscrição, ontem morreu o último símbolo da ilha”.
Em 2001, uma réplica das colunas do Miramar foi erguida no lugar exato onde estava o antigo trapiche, sendo incorporada à Praça Fernando Machado, onde permanece até hoje.
(As fotos antigas são da Casa da Memória e as atuais, de Billy Culleton)
O escritor Virgílio Várzea é uma referência quando o assunto é a história da capital catarinense.
Dentre as diversas contribuições literárias deixadas por ele, encontra-se a obra Santa Catarina: A Ilha (1900), considerada um fonte inestimável para conhecer os costumes do povo ilhéu há mais de 120 anos.
Num dos trechos da sua obra, ele destaca a formosura das mulheres da cidade. “São verdadeiras belezas, quer na corpulência, quer na harmonia doce e seráfica dos traços fisionômicos.”
Confira a descrição, numa escrita elegante, poética e refinada de um dos mais importantes escritores desterrenses:
“(A beleza) se explica naturalmente, pela saúde e liberdade do campo, onde o clima é sempre doce, o ar sempre puro e desenervante, e onde a vida corre despreocupada e feliz, quase sem impressões desagradáveis ou opressões morais, que tanto afetam a existência nos meios populosos, em que há grande concorrência e é mais dolorosa a luta pela vida”.
“E explica-se ainda pela conservação integral do primitivo tipo açoriano que aí ficou vitorioso, tipo que, segundo viajantes e escritores, é dos mais belos da raça portuguesa, pois foi refinado pela plástica admirável de portugueses, holandeses e espanhóis, que colonizaram também essas ilhas.”
Para reforçar as afirmações, Várzea recorre ao livro “O Arquipélago dos Açores”, publicado em 1871, por Acúrcio Ramos.
“As mulheres geralmente são altas, elegantes e formosas. São variados os tipos, variadas as beldades, mas sempre tipos agradáveis, sempre beldades simpáticas”.
“Aparecem com mais frequência lindos olhos castanhos, ornando alvos rostos levemente rosados, com que singularmente contrastara os cabelos negros e finos; mas também não é rara a formosa mulher de cabelos louros, olhos azuis e colo de alabastro, junto da viva e sedutora morena, cujo olhar fascinador atrai e cativa”.
“Não abundam tanto, mas não escasseiam inteiramente, os rostos pálidos, dessa palidez viçosa e encantadora que as damas geralmente ambicionam, brilhando nelas, debaixo de negras sobrancelhas, uns olhos negros, úmidos, luminosos e inspiradores, e pendendo-lhes aos lados fartas e negras tranças, como aquelas de que um distinto poeta disse estavam prisioneiros os mais apetecidos amores.”
(A foto de abertura é a pintura ‘Interior de uma casa na Ilha de Santa Catarina’, do barão Georg von Langsdorff, de 1803, e está publicada no livro ‘História de Florianópolis’, de Carlos Humberto Corrêa)
Em 1871, o então Largo da Matriz recebeu a pequena árvore que se transformaria num dos principais símbolos de Florianópolis: a velha figueira, “onde em tarde fagueira vou ler meu jornal“, como eternizou o poeta Zininho, em 1965, na música Rancho de Amor à Ilha, que se tornaria o hino da cidade.
A muda veio do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, junto com as palmeiras reais, que ainda se encontram na área.
A figueira foi inicialmente colocada na frente da Catedral Metropolitana e, em fevereiro de 1891, replantada no local onde está até hoje, no coração da Praça XV de Novembro.
Para isso, foi aberta uma grande fossa de 20 metros, que recebeu a árvore, decepada pela poda, mas sem que lhe fossem sacrificadas as suas raízes.
O transporte foi feito em carretão, puxado por duas juntas de boi.
O relato consta no livro “Praça XV – Onde tudo acontece”, do pesquisador Cesar do Canto Machado, e foi reproduzido em reportagem do jornalista Clóvis Schmitz, publicada no ND, em 2017.
Com o passar das décadas, os galhos foram crescendo e se estendendo por boa parte da Praça, começando a atrapalhar a mobilidade dos freqüentadores do local.
Por isso, foi necessário sustentá-los com hastes de metal, que preservam a estrutura da velha árvore.
Em 2014, ela recebeu uma restauração geral, que retirou plantas e fungos que estavam prejudicando a figueira.
Figueirense?
Apesar de muitos ligarem a ‘velha figueira’ ao Figueirense, o nome do clube se refere ao antigo Bairro da Figueira, no Centro, perto da Rodoviária Rita Maria.
A fundação do clube se deu na atual Rua Padre Roma, em 1921, próximo a outra figueira, que já não existe e que estava localizada na parte de cima do posto de combustível Rita Maria.
O Teatro Álvaro de Carvalho (TAC) foi inaugurado em 7 de setembro de 1875, 18 anos depois do lançamento da pedra fundamental.
Na época, foi chamado de Theatro Santa Isabel, em homenagem à Princesa Isabel.
O evento contou com a presença do presidente da província, João Capistrano Bandeira de Melo Filho, e da elite da cidade.
Houve discursos, fanfarra musical e teatro, com a apresentação da peça “Amor e Infância”, pela Sociedade Dramática Particular Recreio Catarinense.
A iluminação do interior do estabelecimento só era possível graças a candeeiros e lampiões a querosene.
Assim, há exatos 145 anos, a capital catarinense finalmente contava com um edifício com condições apropriadas para abrigar a cultura cênica da cidade.
Decadência e abandono
Mas a falta de apoio público, as disputas políticas e os problemas financeiros fizeram com que o TAC ficasse abandonado.
Consequentemente, começou a ser utilizado para outros fins.
– Em 1894, após o episódio conhecido como “A revolta da Armada”, o prédio foi usado como quartel, onde eram mantidos detidos os opositores à Nova República.
– No mesmo ano, numa atitude de rompimento com a monarquia extinta, passou a se chamar Álvaro de Carvalho, em homenagem ao primeiro dramaturgo catarinense.
– O teatro também foi o lugar da primeira exibição de cinema em Florianópolis, em 1º de novembro de 1901, com o filme a “Guerra de Trasvaal”.
Anos depois, entre 1910 e 1954, sediou os cinemas Variedades, Royal e Odeon.
– Em 1956, após o incêndio da Assembleia Legislativa, localizada do outro lado da Praça Pereira Oliveira, a sede do Legislativo ocupou por alguns meses o prédio do TAC.
– O teatro também era utilizado para bailes de debutantes, reuniões políticas e festivais beneficentes.
– Mas, desde a década de 1970, o palco do teatro recebe exclusivamente espetáculos artísticos e culturais que mostram o melhor da produção catarinense.
(A imagem de abertura, da década de 1890 é de autoria desconhecida. As fontes pesquisadas para a produção desta reportagem foram a tese de mestrado “Um palco iluminado: o TAC em Florianópolis”, de Ivo Godois (Udesc, 2011) e os sites da Fundação Catarinense de Cultura, da Assembleia Legislativa de SC e da Prefeitura da Capital)
Em 11 de janeiro de 1904, Francisco Künzer, conhecido como Chiquinho, instalou num casarão colonial, a confeitaria que se tornaria referência de Florianópolis durante 63 anos.
A clientela da Confeitaria Chiquinho, na esquina das ruas Felipe Schmidt e Trajano, era formada por fregueses habituais e conhecidos, que faziam do estabelecimento o principal ponto de encontro da cidade, especialmente, para apreciar as saborosas empadinhas.
Em 1924, o novo proprietário, Theodoro Ferrari, demoliu o prédio original e dois anos depois concluiu o atual edifício, que se mantém idêntico até hoje.
Na época (1926) com três pisos, era o imóvel mais alto de Santa Catarina, segundo publicou o Jornal A Gazeta em 1954.
“A nova Confeitaria Chiquinho foi inaugurada com todas as pompas, um acontecimento que borbulhou os meios sociais da pacata cidade”, pontuou o site da Rádio Guarujá, segundo levantamento de Eduardo Petry, no site Santa Catarina Antiga.
A tradicional confeitaria era um point badalado e chique, onde as pessoas se encontravam para saborear as deliciosas e famosas empadinhas, diz o professor Anderson Abreu, pesquisador da Casa da Memória de Florianópolis.
Banquetes e música ao vivo
Além de confeitaria, era também um bar que agregava em sua arquitetura interna mesas em mármore, com pés de ferro trabalhados no estilo rococó, prossegue Abreu.
Completavam a bela decoração, armários em madeira maciça e um belíssimo palco que recebia músicos emblemáticos, nas noites de sábados e nas manhãs de domingos.
A confeitaria funcionava no andar térreo, em conjunto com um requintado restaurante, onde se ofereciam banquetes oficiais.
No segundo andar era o escritório da firma, que no início da década de 1940 foi ocupado pela sede da Rádio Guarujá.
A informação consta no artigo Memória Urbana da Arquitetura Comercial em Florianópolis.
O texto afirma que desde sua construção, as duas únicas modificações percebidas na fachada, foram a inclusão em alto relevo da inscrição “Confeitaria Chiquinho” nas duas fachadas do edifício (que podem ser vistas atualmente) e a instalação da marquise em todo o perímetro da edificação.
Cinema com orquestra
No segundo andar da confeitaria também funcionou o cinema Cine Ponto Chic, depois o Cine Lido, localizado num pequeno espaço, com plateia plana.
Os filmes mudos ainda eram acompanhados por uma orquestra ao vivo, sendo frequentado pelo melhor da sociedade da Capital, conta Eduardo Petry.
O estabelecimento fechou em 1967, há 54 anos.
Depois foi ocupado por diversas lojas.
A última foi a Livraria Catarinense que fechou as portas neste sábado 28 de agosto de 2021.
Por Billy Culleton
Quem passa na frente do pequeno e belo templo, na Rua Nereu Ramos, não imagina que é um símbolo da resistência dos descendentes alemães em Florianópolis.
Originalmente, a Igreja Luterana (próxima ao Ceisa Center) encontrava-se no mesmo terreno da Escola Alemã.
A área foi dividida para a construção da Rua Leoberto Leal, na década de 1940.
No ano 1869 os primeiros imigrantes alemães protestantes que chegaram a Florianópolis inauguraram a instituição educacional, no imóvel que hoje abriga o casarão da comunidade luterana.
A escola buscava atender as crianças das famílias alemãs da cidade, mas também aceitava alunos de outras etnias.
Modesta, como consta nos arquivos da comunidade, no início possuía apenas “duas cadeiras, uma mesa, seis mesas escolares para 24 crianças, duas lousas com cavalete e régua, um recipiente para água, uma caneca de lata, uma vassoura e uma pá”.
Igreja de 108 anos
Em maio de 1913, os luteranos inauguraram a Igreja Evangélica Alemã de Florianópolis.
Na época, a comunidade contava com 132 membros/famílias.
Criou-se, assim, um novo marco para os protestantes locais, que passaram a ter um local adequado para a celebração dos cultos.
A arquitetura neogótica do templo foi desenhada pelo jovem pastor Theodor Gründel.
Junto com a igreja foi construída uma casa pastoral, que foi posteriormente demolida.
Atualmente, o espaço abriga um estacionamento terceirizado, mas de propriedade dos luteranos.
No início do século passado, a região, apesar de próxima do Centro, era dominada por grandes chácaras e áreas verdes.
Hostilidade e suicídio
Tudo corria normalmente até o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, quando os imigrantes alemães no Brasil começaram a ser hostilizados por questões ideológicas.
Em Santa Catarina, o governador Felipe Schmidt proibiu cultos e demais atividades em língua alemã, alegando revolta do povo contra os germânicos.
A informação consta na dissertação de mestrado de João Klug, no Curso de História da UFSC (1991), intitulada “Consciência germânica e luteranismo na comunidade alemã de Florianópolis”.
Por causa das ofensas contra a comunidade, dois membros da diretoria abandonaram seus cargos, conta Klug.
No dia 31 de outubro de 1917, o empresário Carl Hoepcke renunciou à presidência da comunidade.
Uma semana antes, o secretário Conrad Goeldner havia se suicidado.
Pregação bilingüe
Segundo Klug, em março de 1918, após consulta ao secretário de Estado Fulvio Aducci, foi possível recomeçar os cultos, com a ressalva de que as pregações deveriam ser em português.
Diante da argumentação de que era justamente a pregação o centro do culto luterano, houve consentimento de se pregar em alemão, desde que também em português.
Dessa forma, foi decidido reiniciar os cultos no domingo 17 de março de 1918.
Confisco na Segunda Guerra
Com o fim do conflito bélico, as atividades da comunidade luterana voltaram à normalidade.
Duas décadas depois, no entanto, começou a Segunda Guerra Mundial e novamente as hostilidades contra os descendentes de alemães.
No início da década de 1940, as atividades na Escola Alemã foram suspensas.
O prédio foi confiscado durante o governo de Nereu Ramos e transformado em prisão.
Depois, sediou um pequeno hospital e um órgão da administração pública estadual.
Na década de 1970, o imóvel foi devolvido à comunidade luterana, que mantém o casarão impecável até a atualidade, abrigando a secretaria, uma biblioteca e salas multiuso.
(Esta reportagem foi feita com base na obra “Consciência germânica e luteranismo na comunidade alemã de Florianópolis” e nos arquivos da Igreja Luterana de Florianópolis. As imagens atuais são de Billy Culleton)
Por Billy Culleton
Em 16 de janeiro de 1935, ocorreu o primeiro voo regular de passageiros entre Florianópolis e São Paulo, feito pela empresa Aerolloyd Iguassú.
A façanha se deu no ‘Campo do Centro de Aviação Naval’, atual Base Aérea, no Bairro Carianos.
Até então a capital catarinense só recebia hidroaviões, que pousavam na Baía Sul, com desembarque nos trapiches próximos ao Mercado Público Municipal.
A linha entre as duas capitais começou com pequenos aviões, de três e quatro lugares, e fazia escalas em Itajaí, Joinville e Curitiba.
A frequência era bissemanal, partindo de Florianópolis às quartas e sextas-feiras, às 10h.
Os aviões desenvolviam uma velocidade de 170 quilômetros por hora ‘de modo a poder ir daqui (Florianópolis) em duas horas e meia ou três horas de voo’, como publicou o Jornal O Estado, de 17 de maio de 1933, ao apresentar a novidade que chegaria à cidade.
Origem em 1933
A Aerolloyd Iguassú começou a operar em 30 de junho de 1933, na rota entre Curitiba e São Paulo, e contava com aviões monomotores Klemm K1 31A e Stinson Reliant. Mas a iniciativa de unir as cidades do Sul e Sudeste do país fracassou, principalmente, pela falta de mão de obra especializada e também pelo tipo de aeronave utilizada, que não eram ideiais para operar em rotas predominantemente montanhosas.
Por isso, em 28 de março de 1939, a empresa foi vendida para a Vasp.
A Aerolloyd Iguassu, que foi a primeira companhia de aviação brasileira a voar sem o auxílio técnico de empresa estrangeira, tinha escritório no Hotel La Porta, ao lado da Praça XV.
História do Aeroporto de Florianópolis
Em 10 de maio de 1923, instalou-se o Centro de Aviação Naval, num terreno que pertencia à antiga fazenda Ressacada.
Quatro anos depois, em 21 de junho de 1927, aterrissou o primeiro aeroplano, da Companhia Latécoerè, pilotado por Paul Vachet.
As informações constam na dissertação de mestrado em Geografia da UFSC, de Diogo Quintilhano, entitulada ‘Transporte aéreo de cargas em Santa Catarina’, de 2014.
Era o início das atividades comerciais regulares, na área onde hoje se localiza o atual Aeroporto de Florianópolis.
Até 1955, o aeroporto possuía uma torre de controle, construída em madeira, uma pista de concreto de 1,5 mil metros x 45 metros e um pátio gramado de estacionamento de aeronaves.
No local estabeleceu-se a Base Aérea de Florianópolis para responder às necessidades da aviação militar e comercial.
No período de 1952 a 1954, foi construído o terminal de passageiros.