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Piso metálico deteriorado – Ponte Hercílio Luz sofre com as 6 mil travessias mensais de ônibus

A Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis, está tendo um desgaste inesperado, há pouco mais de 18 meses de sua reabertura.
O principal motivo?
As 6 mil travessias mensais realizadas pelos ônibus urbanos.

São 253 viagens diárias  entre o Continente e a Ilha, realizadas (nos dias úteis) por veículos que pesam, em média, 20 toneladas.

O desgaste pode ser conferido no piso metálico da ‘Velha Senhora’.
O gradil apresenta dezenas de pequenas rupturas.

A grande maioria dessas gretas está na pista que liga o Continente à Ilha: é nessa via que circulam 90% dos ônibus.
No retorno para a área continental os coletivos utilizam a Ponte Colombo Salles, por uma questão de facilidade de acesso desde o Terminal de Integração do Centro (Ticen).

A reportagem do Floripa Centro percorreu a Ponte num final de semana, quando é exclusiva para pedestres e ciclistas, e contou pelo menos 25 falhas nos gradis.
Apenas duas, na via em direção ao Continente.

A empresa Teixeira Duarte, responsável pela reforma, ainda mantém funcionários que fazem os reparos no piso.
Nos finais de semana, eles repõem e soldam os pequenos pedaços de metal que vão se soltando e caem no mar.

O remendo fica aparecendo, por ser feito com solda e pintado novamente, ficando levemente diferente à cor original do piso.

A Ponte foi reinaugurada em 30 de dezembro de 2019.
Os primeiros ônibus começaram a circular em 27 de janeiro de 2020 e, gradualmente, houve um aumento das linhas, até atingir, atualmente, 253 horários, conforme informações repassadas pela Prefeitura de Florianópolis.

Confira vídeo, com o resumo da notícia:

O que diz a Prefeitura
O Floripa Centro questionou a Prefeitura sobre eventual estudo que mostrasse a capacidade máxima de peso que suportam os gradis e/ou sobre o desgaste que eles podem sofrer.
A resposta, por meio da assessoria de imprensa, foi que essa avaliação seria competência da Secretaria Estadual de Infraestrutura, responsável pela Ponte.
A partir desses dados, segundo a administração municipal, poderia ser tomada uma decisão conjunta sobre a passagem dos ônibus.

Neste registro é possível ver os ‘ferrinhos’ desgastados, retorcidos, antes de se desprender do gradil

O que diz o Estado
O Floripa Centro enviou as seguintes perguntas para a Secretaria Estadual de Infraestrutura (SIE).
Confira as respostas enviadas por meio da assessoria de imprensa:

1 – Essas rupturas do gradil estavam previstas quando liberaram os ônibus que pesam 20 toneladas cada um?
Não há uma relação entre a liberação do transporte e as necessidades de manutenção. A manutenção será realizada, pontualmente, nos locais onde houver necessidade.

2 – O piso tem resistência para suportar a passagem de 6 mil ônibus por mês? Como é mensurada essa resistência dos gradis metálicos?
O material possui resistência. Para verificar essa situação foram realizados vários testes durante obra, como por exemplo, os testes de carga realizados no decorrer dos serviços. Os materiais utilizados na execução da Ponte Hercílio Luz passaram por uma validação e aprovação. Os aços das barras de olhal, por exemplo, foram desenvolvidos especialmente para a estrutura da ponte, com fiscalização e acompanhamento de técnicos e engenheiros.

3 – Atualmente, a manutenção é feita pela Teixeira Duarte, até quando a empresa fará a manutenção? Quem assumirá essa função depois?
Atualmente a manutenção é realizada pela empresa Teixeira Duarte. Enquanto a obra não for definitivamente entregue, a responsabilidade segue sendo da empresa. A necessidade de manutenção já foi constatada pela equipe de fiscalização da SIE, durante a inspeção que ocorre antes da entrega da obra.
O contrato será finalizado após a conclusão da manutenção e dos ajustes exigidos pela fiscalização da SIE.
A SIE deve lançar, em julho, o edital de licitação para a manutenção da estrutura.

4 – Existem peças de reposição, caso seja necessária a troca de alguma placa desse piso metálico?
Cada tabuleiro possui uma especificação técnica. A reposição de cada um deles também estará no contrato de manutenção da ponte.

Vantagens e desvantagens do gradil, segundo a UFSC
Uma pesquisa feita pelo Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2019, aponta que a adoção de gradis metálicos na Ponte Hercílio Luz foi feita, principalmente, por ser mais econômica.
Mas também aponta outras vantagens (confira abaixo).

Outra alternativa seria a colocação de placas metálicas, com adição de dermasfalt em cima, presentes na Ponte Pedro Ivo Campos, escreveu Victoria Prudêncio de Campos Lobo, no estudo “Execução da superfície de rolamento da Ponte Hercílio Luz com gradis metálicos”.

Confira as principais conclusões da pesquisa da UFSC:

Vantagens
— “Entre as vantagens dos gradis está a facilidade da manutenção em comparação ao asfalto.”

— “Como as peças têm instalação independente umas das outras, caso haja um problema em alguma delas ou na estrutura inferior da ponte, é possível realizar a troca ou retirada de apenas uma unidade, ao invés de mobilizar uma grande área para a manutenção.”

— “A adoção dos gradis em detrimento do pavimento tradicional asfáltico, pelo fato de a malha ser aberta, dispensa o projeto de drenagem, a qual acontece com a água escorrendo entre as aberturas do gradil.”

— “Além disso, a lavagem da ponte é necessária com menos frequência do que em uma ponte com pavimentação tradicional, visto que a chuva retira impurezas da superfície de forma natural.”

Características do gradil
— “Segundo Marangoni/Meiser, empresa fabricante das grades metálicas utilizadas como superfície de rolamento na Ponte Hercílio Luz, as placas de gradil foram fabricadas pelo processo de prensagem das barras secundárias nas barras principais para o vão central pênsil e para ambos os viadutos de acesso da ponte.”

— “A malha é formada por furos de 50mmx35mm. Há variações de tamanhos das peças de gradil e, em decorrência disso, o peso é variável. O peso médio das placas é de 290kg.

— “As grades, segundo a Teixeira Duarte, têm o mesmo comprimento de 2245mm, com exceção daquelas nas regiões curvas, as quais têm o comprimento variável em sua extensão. A largura, porém, é variável de acordo com a disposição das grades no tabuleiro devido à geometria da estrutura metálica da ponte, que possui duas curvas, uma na entrada insular e outra na entrada continental,

— “As peças foram compradas prontas a partir de Meiser/Marangoni e foram fabricadas conforme os projetos da Teixeira Duarte e as normas internacionais RAL – GZ 638 Estruturas Gradeadas de RAL Deutsches Institut für Gütesicherung und Kennzeichnung e.V. (Instituto Alemão para a Garantia de Qualidade e Identificação) e ASTM 572”.

Carga suportada
— “A carga é determinada com base no tráfego que passa na BR-101, que deve ser o mesmo que a Ponte Hercílio Luz estará apta a receber.”

Substituição do gradil
— “Serão mantidas algumas placas extras para o caso da necessidade de substituição. Porém, devido à diferença de geometria dos gradis é necessário que a peça a ser substituída tenha a mesma geometria da nova e, portanto, a necessidade de um estoque de alguns tipos de peças.”

— “A manutenção dessa técnica é uma das grandes vantagens da utilização de gradis metálicos: caso haja problema em uma das placas de gradil ou em alguma parte da ponte inferior à pista de rolamento, a troca ou retirada da placa pode ser feita apenas com o uso de um guindaste e algumas ferramentas e, após finalizado o serviço, é recolocada outra placa de gradil no lugar – isso torna a manutenção mais rápida e simples.”

— “Dada a especificidade das placas, se ocorrer um problema em uma quantidade maior de gradis de um tipo específico do que aquela armazenada, a manutenção terá de esperar até a chegada de uma nova placa e, dependendo do dano, a ponte deverá ser interditada para o conserto.”

Vibração e barulho
— “A utilização de gradis metálicos em pontes torna a experiência de dirigir pouco confortável devido ao barulho e vibração, além de possíveis problemas de deslizamento em dias de chuva.”

— “As reentrâncias nas barras principais garantem suficiente resistência pneupavimento e dificultam a derrapagem, mas o barulho e a vibração são superiores a um pavimento clássico de concreto.”

(Texto e fotos de Billy Culleton)

 

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Protegido por 15 cadeados – O fim de um tradicional boteco raiz do Centro de Florianópolis

Por Pablo Salvador (Especial para o Floripa Centro)
A higiene nunca foi o forte do Bar do Petit, mas isso não era empecilho para seus poucos frequentadores.
O local, numa edificação histórica na Avenida Mauro Ramos, na subida para o Hospital de Caridade, só oferecia bebidas baratas, cigarros e poucas opções de alimentação, como ovo cozido em conserva e salgadinhos embalados, alguns de marcas duvidosas.

Seu Antônio atrás do balcão só vendia a dinheiro, nada de cartão (Pablo Salvador)

O setuagenário dono do boteco, Seu Antônio, manezinho do Estreito, tinha o perfil dos antigos bodegueiros: roupas desalinhadas, de poucas palavras e cara fechada.
Assim, conseguia lidar com a escassa clientela, muitas vezes também sisuda, que foi espantada definitivamente com a pandemia.

Nos últimos meses, tentou atrair fregueses colocando uns banquinhos desgastados na calçada ‘para evitar o contagio’.
Mas foi em vão.

Uma cadeira de plástico e um banco na calçada como último esforço para atrair a clientela

O espaço também servia como depósito para os vendedores ambulantes da região central de Florianópolis.
Ali passavam a noite diversos carrinhos: de pipoca, milho cozido ou picolé e que eram retirados pela manhã pelos abnegados trabalhadores, muitos dos quais já aproveitavam para tomar a primeira antes da labuta.

Depósito dos badulaques de vendedores ambulantes (Pablo Salvador)

Na semana passada, sem aviso prévio, as portas permaneceram fechadas durante o dia. Os vizinhos estranharam, mas logo veio a confirmação de que o local passará por reformas e vai abrigar um antiquário, mais em conformidade com a região de construções centenárias.

Cadeados e mais cadeados
Os 15 cadeados que Seu Antônio colocava todas as noites, ao fechar, permanecem nas portas e unem as correntes em torno das grades.

Os 15 cadeados que ainda permanecem numa das entradas (Billy Culleton)

A aparente exagerada medida se justifica pelos inúmeros arrombamentos ao longo dos 15 anos em que o Bar esteve nessa região, que conta com pouca vigilância e fica perto de locais frequentados por usuários de drogas.

Início na Travessa Ratcliff
Até o início dos anos 2000, Seu Antônio comandou por duas décadas um boteco com o mesmo nome na Travessa Ratcliff, onde agora é o Bar do Noel.
Era um botequim raiz, com cachaça Velho Barreiro, servida por algumas moedas.

Esquina da Tiradentes com a Ratcliff, onde já funcionou o Bar do Petit (Billy Culleton)

Isso, antes da pequena via de 50 metros, próxima ao Terminal Urbano Cidade de Florianópolis, se tornar uma área ‘gourmet’, atualmente ocupada por estabelecimentos cuja bebida principal é o chopp.

E, assim, a implacável modernidade avança sobre os tradicionais locais da nossa Florianópolis, sem termos muito a fazer a não ser registrar nestas breves linhas (e imagens), para conhecimento das futuras gerações.

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Personagens do Centro – Quando o violão e um pincel são as únicas companhias pelas ruas da Capital

Por Ricardo Medeiros (especial para o Floripa Centro)
Yuri Pyjaks mora ao ar livre nas redondezas da Praça Professor Amaro Seixas Neto, frente à Avenida Beira Mar Norte, em Florianópolis.
Nasceu no dia 23 de setembro de 1987, em Francisco Beltrão (PR) e faz 16 anos que se encontra em Florianópolis.

“É uma ilha. Vim fazer tatuagem por aqui. Não deu certo. Roubaram todo o meu material”.

Mesmo assim, faz questão de emendar que a cidade é linda.

Pinta também telas, toca violão e compõe.

O que ele é então? Resposta: um artista.

Pele branca curtida pelo sol, manchas de cicatrizes em algumas partes do corpo e sujeiras nas mãos denunciam uma vida nas ruas.
Repousa sobre os dedos negros de fuligem um cigarro bolado.

Cabelo louros, embaraçados, revela também um longo período sem cuidados, assim como a barba comprida e desgrenhada.

Roupas surradas em preto, azul e verde, cobrem o corpo do artista.

Antes de tocar uma música para mim, indagou-me se eu tinha acesso à internet em meu celular.
“Vê aí um afinador online”.
Queria deixar o instrumento no ponto.

Cantou uma música em inglês, não a entendi.

“Você gosta de viver ao ar livre?”.
Ele foi direto: “Ninguém gosta!”.
E acrescentou:
“Não é o que você faz. Mas, como você faz. Não importa o lugar. O lugar não vai mudar nada”.

Confira a entrevista completa:

Eu continuo com as perguntas.
“Você queria ter uma casa?”.
Ele: “própria?”.
Afirmo que sim.

Yuri se manifesta.
“Uma vez me disseram uma frase. ‘Você pode ver o mundo como um copo pela metade. Você pode ver ele como meio cheio ou meio vazio’. O mundo é um copo meio cheio. A outra metade o governo já tomou”.
Momento em que solta um sorriso, quase riso.

“Se você ficou um mês desempregado, você está pego”
Gostou de falar.
“A pessoa nasce, ela já deve. Ela deve pagar por um lugar. Não existe metro quadrado que já não seja de alguém”.

“Então, se você não tem dinheiro para comprar um terreno e construir a tua casa com as próprias mãos. Você vai ficar na rua”.

‘Se você vive de aluguel e não tem emprego, você está sujeito a parar na rua. Todo o tempo. O tempo todo. Se você ficou um mês desempregado, você já está pego”.

“Aí vem aquele problema: a pessoa na rua para chegar nas drogas é muito rápido”.

Agradeci o papo, segui meu caminho de bicicleta.
Deixei o artista de 33 anos com sua nova criação: uma tela.

Nela repousa a paisagem de uma lagoa ao entardecer, com luzes refletindo na água e pedras do fundo.
Céu com muitas nuvens e cores.
Uma grande árvore, sem folhas, em destaque, com a silhueta de uma fada pairando sobre ela.

(As imagens são de Ricardo Medeiros)

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Todos os jornais de SC, desde 1831 – Acervo da Biblioteca Pública poderá ser tombado como patrimônio histórico

A maior coleção de jornais de Santa Catarina, e uma das mais importantes do Brasil, abriga 1,9 mil títulos de 100 cidades catarinenses.
O acervo se encontra na Biblioteca Pública do Estado, na Capital, mas sofre com a ameaça de deterioração pela falta de armazenamento adequado.

Para preservar esses importantes registros da memória do Estado foi protocolado junto à Fundação Catarinense de Cultura o pedido de tombamento da coleção, como patrimônio cultural e histórico de Santa Catarina.
A solicitação foi feita, em 10 de junho, por Alzemi Machado, que trabalha há 35 anos na Biblioteca Pública.
“Sabemos da importância que este precioso conjunto documental bibliográfico representa para a preservação das identidades e da história catarinense”, escreveu no pedido.

O acervo contempla todos os jornais já publicados no Estado: desde O Catharinense, fundado em Desterro por Jerônimo Coelho, em 28 de julho de 1831, até a atualidade.

Confira alguns jornais temáticos do acervo

— Abolicionistas:
A Ideia (1886), Tribuna Popular (1885-18920), Colombo (1881), Balão Correio (1884) e O Abolicionista (1884-1885).

— Bilíngües:
Kolonie Zeitung, Jaraguá, Joinvilensser Zeitung, Der Urwaldsbote, Vita Coloniale, La Nuova Urussanga, La Colonia e L’Alpino.

— Religiosos:
A Revelação, O Arauto e O Bota-Fogo.

— Classistas:
O Professor, O Typographo, O Caixeiro e O Operário.

— Femininos:
O Jasmim, Penna, Agulha e Colher.

— Satíricos:
Matraca, O Gato e Quebra-Nozes.

— Infantis:
A Carochinha e O Estadinho.

— Manuscritos:
Chimpalhaço, O Mequetrefe e A Hora.

— Escolares/estudantis:
A União, Estudante, Nosso Jornal e O Acadêmico.

— Clubes sociais:
O Blondinista e A Pena.

— Literários:
Moleque, O Palhaço, Aurora e Engenho.

— Esportivos:
O Desporto e O Sport.

— Partidos políticos:
O Relator Catharinense (1845), Novo Iris (1850-1851), O Argos (1856-1861), Constitucional (1870-1871), O Despertador (1863-1885), Correio Catharinense (1852-1854), O Mensageiro (1855-1856) e Regeneração (1868).

— Grandes jornais:
O Dia, República, A Verdade, O Estado, A Gazeta, A Notícia, Correio Lageano, Correio do Povo, Correio do Norte, Jornal de Santa Catarina, Diário Catarinense e Notícias do Dia.

O que diz a Fundação Catarinense de Cultura
O processo de tombamento dessa parte do acervo da Biblioteca Pública passará por instrução técnica na Diretoria de Patrimônio Cultural da FCC, depois análise do Conselho Estadual de Cultura e, se tiver aprovação nesses trâmites, vai para homologação do presidente da FCC. Não há prazo determinado para essa análise”, informou a assessoria de imprensa do órgão estadual.

Locais de armazenamento da coleção de jornais na Biblioteca (Alzemi Machado)

Os principais argumentos da solicitação
– Para o sociólogo Gilberto Freyre, os jornais são considerados fontes de grande importância na “interpretação de certos aspectos do Século XIX”, concluindo que “mais do que nos livros de história e nos romances, a história do Brasil no Século XIX está nos jornais”.

– Sob esta ótica, entende-se que coleções de jornais podem ser conceituadas como “monumentos históricos”, pois, enquanto “monumentos”, trazem à superfície o passado e recuperam a identidade cultural dos grupos sociais envolvidos, e enquanto “históricos”, testemunham os fatos e acontecimentos relacionados ao período do passado que se deseja preservar.

– Os monumentos carregam as marcas do tempo e a nossa consciência de passado e presente, tornando-se referências à preservação da memória, que é o conjunto de experiências vividas no passado, e que servem de paradigmas às condutas atuais.

Bibliotecário Alzemi Machado ao protocolar o pedido

– Assim, os jornais sempre tiveram notável importância e relevância por acompanhar o desenrolar dos fatos cotidianos, sejam eles políticos, econômicos, educacionais, culturais e sociais presentes numa sociedade.

– O registro impresso nas páginas dos jornais torna-se documento, constituindo-se em referências no processo de salvaguardar a memória histórica de indivíduos, grupos e da coletividade.

– O ato de tombamento como patrimônio histórico e cultural, abrirá perspectiva para se adotar políticas contundentes e permanentes voltadas a salvaguardar a coleção, exigindo do Poder Público a aplicação de dotações orçamentárias e financeiras específicas, alicerçadas em ações estruturantes voltadas à sua preservação e conservação, minimizando assim, às conseqüências de torná-lo um patrimônio cultural em risco.

– Preservar o conjunto da sua coleção, que se constituem registros ou testemunhas da história e ajudam a manter viva a memória de um povo é, portanto, um compromisso necessário com quem ajudou a escrever esta história, mas também com seu futuro, frente a tantas transformações.

Confira AQUI a íntegra do pedido

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Detido em SC – Morre repressor argentino que participou do assassinato de Tenorinho, pianista de Vinícius

Por Billy Culleton
“Que Deus me perdoe e me leve logo”.
A frase era repetida com frequência por Cláudio Vallejos no hospital onde tratava um câncer que causou a sua morte, esta semana, em Misiones, na fronteira argentina com Santa Catarina, informou o jornal El Território, nesta segunda-feira, 14.

Atuando ativamente nas forças armadas do vizinho país desde 1976, ele reconheceu ter matado ao menos 30 pessoas, além de participar de dezenas de sequestros e sessões de tortura contra opositores do regime militar (1976-1983).

Com o retorno à democracia, fugiu para Santa Catarina e sobrevivia cometendo pequenos delitos nas cidades de São Miguel do Oeste, Xaxim, Abelardo Luz, Faxinal dos Guedes, Dionísio Cerqueira, Aguas Frias, Bom Jesus e Ouro Verde, segundo publicou o jornal Página 12.

Tenorinho confundido com subversivo
Entre os crimes de maior repercussão encontra-se o sequestro e desaparecimento do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior, Tenorinho, em 18 de março de 1976.

Em entrevista exclusiva a este repórter, em 28 de março de 2013, Vallejos confessou ter participado do sequestro do artista, que acompanhava Vinícius de Moraes e Toquinho numa turnê em Buenos Aires.
“Sim, eu participei da detenção de Tenorinho”, afirmou, no Aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis, momentos antes de embarcar para Argentina.
Ele estava sendo extraditado após um pedido das autoridades do vizinho país, para ser julgado por seus crimes.

Vallejos no Aeroporto de Florianópolis, em 2013, falou com Billy Culleton sobre seus crimes (Foto de Carlos Kilian)

Algemado junto a dois policiais federais que o custodiavam, Vallejos acrescentou que o sequestro do pianista foi feito junto com o capitão da Marinha Alfredo Astiz, o mais conhecido torturador argentino.

Aparentando tranquilidade, ele detalhou que o pianista foi capturado como suspeito.
Seu longo cabelo e aparência desleixada colaboraram para confundi-lo com um “subversivo”.
Ele saiu à noite, do hotel no Centro da capital argentina, para comprar cigarro e nunca mais foi visto.

“Tenório foi levado pelo grupo e depois não sei o que fizeram com ele”, disse, gabando-se que, na época, tinha 18 anos e já participava dessas operações com militares de alto escalão.
Ele considerava ter sido “o mais jovem espião do mundo”.

Na pista do Hercílio Luz instantes antes de embarcar para Buenos Aires (Carlos Kilian)

Na fachada do Hotel Normandie, onde estava hospedado o pianista, foi colocada uma placa em sua homenagem, que diz:
“FRANCISCO TENORIO CERQUEIRA JÚNIOR, TENORINHO
Aqui se hospedó en su última visita a Buenos Aires este brillante músico brasileño de Toquinho y Vinícius.
Luego víctima de la dictadura militar.
(1941-1976).
Homenaje de la Legislatura de la Ciudad de Buenos Aires”

Detalhe da placa instalada pela Câmara de Vereadores de Buenos Aires (Google Street)

O corpo de Tenorinho, que completaria 80 anos em 4 de julho de 2021, jamais foi encontrado.

Crime dos Palotinos
Em 4 de julho de 1976, mais um massacre que sacudiu a Argentina teve a participação de Cláudio Vallejos.
Três sacerdotes e dois seminaristas da congregação palotina foram assassinados de madrugada dentro da residência, ao lado da Igreja São Patrício, no Centro de Buenos Aires.

Anos depois, durante o julgamento de militares, ele foi apontado como sendo o motorista dos agentes das forças armadas que executaram o crime.

Os cinco religiosos assassinados com a participação de Vallejos (Twitter Palotino)

Mas, na entrevista em Florianópolis, em 2013, ele negou.
“Isso é mentira. Na época, eu estava nos Estados Unidos fazendo um curso na CIA”.

Prisão em Santa Catarina
Na década de 1980, Vallejos deu diversas entrevistas para revistas e jornais no Brasil, reconhecendo participação em vários crimes, realizados durante a ditadura na Argentina.

Em março de 2012, o Centro de Estudos Legais e Sociais do país vizinho (Cels), junto com a “Comissão de Direitos Humanos e Justiça, do Brasil”, solicitou a extradição do Vallejos, que estava preso no Oeste de Santa Catarina.
O pedido foi concedido, em maio de 2012, pelo Supremo Tribunal Federal.
Na época, o caso teve ampla repercussão no Brasil por envolver a morte de Tenorinho.

Condena e nova fuga
Na Argentina, mais de três décadas depois dos crimes, foi a julgamento e acabou condenado por sua participação no sequestro, tortura e assassinato de dezenas de ‘subversivos’.

Esteve no cárcere durante cinco anos até receber o benefício de prisão domiciliar, que não cumpria.
Há três anos se mudou para Bernardo de Irigoyen, divisa com Dionísio Cerqueira (SC), onde morreu como indigente, sozinho e abandonado por todos, neste domingo, 13, como atesta o jornal El Territorio.
Aos 63 anos, após uma vida de crimes ‘quase imperdoáveis’, ele só pedia e almejava a misericórdia divina.

(A foto de abertura é de Carlos Kilian)

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Maioria dos pombos do Centro tem os pés mutilados – O motivo é surpreendente

Quem circula pelas principais vias centrais da Capital, principalmente, no Largo da Alfândega e Praça XV, se surpreende com a quantidade de pombos sem os dedos ou com o pé amputado.

O fenômeno não é uma exclusividade de Florianópolis.
Ele pode ser conferido nas regiões centrais de cidades em todo o mundo (mas não acontece nos parques e praças mais afastados dos centros urbanos).

Durante décadas se desconhecia o motivo dessas ocorrências.
Mas, agora, uma recente pesquisa do Museu de História Natural de Paris descobriu a causa da mutilação dos pés dos pombos: o cabelo humano!

Ave só com um ‘toco’: perdeu os dedos e o outro pé

A conclusão é de Frédéric Jiguet, professor de biologia da conservação do Museu, que publicou um artigo na revista Biological Conservation, segundo reportagem divulgada pela BBC News Mundo.

De acordo com a publicação, a pesquisa estabelece uma correlação entre pombos e fios de cabelo.
O número de pombos com pernas mutiladas é maior nos distritos urbanos, onde há mais salões de cabeleireiros.

Apesar de o estudo ter sido realizado em Paris, o cientista diz que a lógica vale para muitos outros centros urbanos.

Inicialmente, o estudo surgiu porque eu sou um observador das aves e vi que as mutilações nas pernas dos pombos tinham uma causa principal e mecânica: seus dedos se enredam com fios ou cabelos humanos“, disse Jiguet à BBC News Mundo.

Pombas no Largo da Alfândega: quase a totalidade tem mutilações

Segundo o pesquisador, ao procurar comida no chão, as aves ficam presas aos fios ou cabelos e quanto mais andam, mais se enrolam.
Isso provoca o corte na circulação nos pés, passando a necrosar o órgão até a sua queda.

“As mutilações são mais comuns em pombos, simplesmente porque esses pássaros andam mais na calçada do que outras aves. E, normalmente, na calçada há pelos em abundância”, diz a publicação, que coloca a culpa no descarte de restos de cabelo por parte dos salões, cujos sacos de lixo são deixados nas calçadas e acabam se rompendo, espalhando os cabelos.

(Texto e fotos de Billy Culleton)

 

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Histórias do Centro Reportagens Especiais

Construído em 1857 – Antigo leprosário do Centro abrigará o primeiro museu hospitalar de SC

Quase sete décadas após a inauguração do Hospital de Caridade (1789), o elevado número de casos de lepra em Florianópolis obrigou as autoridades a construir o “Asilo para Lázaros”, em 1857.
O casarão foi edificado ao lado do hospital, numa época em que a hanseníase tornara-se frequente e a nova concepção higienista de saúde obrigava a uma remodelação dos espaços públicos.

Como deve ficar o Museu em dois anos (Divulgação Fundação Senhor dos Passos)

Posteriormente, o local foi usado para realizar procedimentos cirúrgicos e também como enfermaria, lavanderia, dormitório das enfermeiras e creche para atender às famílias que trabalhavam no hospital.

Resgate da história sanitária de SC
No espaço, agora, será instalado o Museu Fármaco Hospitalar de Santa Catarina que busca resgatar a memória histórica da Medicina e das práticas sanitárias no Estado.

Funcionárias do hospital no Casarão, no século passado (Divulgação Fundação Senhor dos Passos)

Entre os mais de 1,8 mil objetos que serão expostos há maquinários do século passado, como misturador para pomadas, utensílios cirúrgicos, diversos potes em cerâmica e vidro onde eram guardadas as ervas e compostos químicos para a fabricação de remédios.

Parte do acervo que será exposto (Divulgação Fundação Senhor dos Passos)

O acervo do museu também contará com uma banheira de mármore feita especialmente para a imperatriz Teresa Cristina, quando visitou Desterro em 1845, e que era utilizada por pacientes do chamado ‘casarão’.

A banheiro em bloco único de mármore de Carrara de Tereza Cristina (Divulgação Fund. Senhor dos Passos)

O local contará com um auditório, espaço expositivo e para encontros e palestras, que poderá ser utilizado pelos profissionais da saúde e comunidade em geral.

Captação de verba pelo Imposto de Renda
O Imperial Hospital de Caridade foi a primeira Santa Casa de Misericórdia da Capitania de Santa Catarina e o primeiro hospital civil da Vila do Desterro.

O projeto encontra-se em fase de captação de recursos e está previsto para ser aberto ao público em até dois anos.
Saiba como doar AQUI

Estágio atual da obra (Divulgação Fundação Senhor dos Passos)

(A imagem de abertura é acervo da Casa da Memória de Florianópolis)

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Personagem do Centro – Torcedor símbolo do Avaí, seu Osni se aposenta, mas deseja voltar à Ressacada

Magrinho, baixo, cabelos brancos já um pouco ralos, ágil nos gestos e movimentos, mas sempre calmo e educado no modo de falar, Osni de Mello, 75 anos, é aquele tipo de pessoa que a gente simpatiza de primeira, sem saber direito a razão.

Depois, com o tempo, ele revela outras qualidades, além do carisma.
É um homem correto, de palavra, que gosta do trabalho e o leva a sério, trata as pessoas com respeito e, por isso, é respeitado por elas.

De fato, sua história profissional em 48 anos como servidor do Tribunal de Justiça de Santa Catarina é marcada pela palavra gratidão – e não importa se fala de um estagiário, dos desembargadores ou de algum dos 29 presidentes com os quais conviveu.

Os causos que ele narra terminam em sua maioria do mesmo jeito: “sou muito grato a ele, sou muito grato a ela”.

Osni vestido a rigor no Estádio da Ressacada (Acervo pessoal)

Aposentadoria
Osni se aposentou recentemente ao completar 75 anos, muito a contragosto.
Ele considera a aposentadoria compulsória injusta e se emociona ao relembrar alguns momentos marcantes que viveu no Tribunal e, principalmente, dos amigos que fez e das pessoas que o ajudaram.

Seu Osni gosta de papear e é de um tempo em que o tempo não parecia tão escasso, por isso, fala com calma e ouve com atenção.

No último dia no TJ, Osni recebeu uma homenagem que contou com a participação do presidente do Avaí, Francisco Battistotti (Divulgação TJ)

Avaí
Morador do Centro da Capital, Osni é personagem folclórico da torcida do Avaí.
Era presença marcante em todos os jogos do Leão, na Ressacada, sempre vestido de azul e branco: camisa, bermuda e tênis, além do extravagante chapéu de penas de ganso e o singular óculos em formato de coração.

“Eu mesmo produzia”, diz, no passado, pois desde o início da pandemia não há mais jogos com a presença de público.
“Não vejo a hora disso tudo terminar para poder voltar ao estádio, me divertir e divertir o público”, afirma, lembrando que foi campeão juvenil pelo Avaí e que frequenta os jogos do time desde criança.

Aproveitando a aposentadoria, Osni anda pelo Centro: neste registro, após comprar uma tainha no Mercado Público (Billy Culleton)

Espetinho
Já no início da sua trajetória no Judiciário, ganhou o apelido que o persegue até hoje: Espetinho.
“Como sempre fui de andar pra lá e pra cá, bem rapidinho, um colega falou que eu parecia um ‘espeto corrido’ e o apelido grudou”.

Música
Seu Osni não nutre nostalgia pelas épocas passadas, considera que mundo melhorou em muitos aspectos, mas uma coisa da qual não abre mão é da “radiola”, o toca-discos de vinil no qual escuta seus cantores e compositores preferidos.
Tem quatro radiolas em casa – duas Telefunken, duas Philips. “O som estéreo delas é incomparável”, garante.

Quando fala de música, seus olhos brilham e brilham ainda mais ao falar do Roberto Carlos. “Tenho duas fotos com o rei”, diz, orgulhoso e emocionado.
Tem todos os discos do Roberto, menos o primeiro, “Louco por Você”, de 1961, que virou relíquia entre os fãs e é vendido na internet por R$ 7.900. “Conheces alguém que tenha?”, pergunta.

Mas não é só do Rei que gosta e dos demais integrantes da Jovem Guarda, “o maior movimento musical da história do país”, segundo ele.
Ouve também Nelson Gonçalves, Carlos Nobre, Vicente Celestino e, claro, os bons sambas. Gosta ainda de Frank Sinatra, Tony Bennett, Ray Conniff. Tudo em vinil. “É um ritual, é uma paixão”, diz.

Amor eterno
Ele faz questão de explicar a diferença entre paixão e amor. “Paixão”, afirma, é sentimento forte, intenso, mas passageiro.
“Já o amor é eterno e eu tenho três na vida: minha família, o Avaí e o rei Roberto Carlos”.
Faz uma pausa e completa: “e os amigos também, claro”.

Família
Sobre a família de origem, ele se emociona ao falar do pai que morreu jovem, de tuberculose: “não tenho nenhuma lembrança dele, e isso me dói até hoje”.

A mãe, grande amiga, faleceu antes do seu Osni entrar no Judiciário: “sinto que ela ficaria muito orgulhosa de mim”, diz.
Ele sempre morou no Centro de Florianópolis e é o caçula de cinco filhos, três dos quais já falecidos.

Casamento
É casado com Maria de Fátima Dias há 49 anos, de quem fala com voz embargada: “foi sempre muito companheira, muito guerreira, dedicada e me deu dois filhos lindos, que me amam e respeitam”.

Avô de um menino e uma menina, seu Osni é meio pai, meio avô da Pretinha, uma vira-lata que sofria maus-tratos e que ele e a esposa resgataram.

Ao ser perguntado sobre qual é o segredo para manter um casamento por tanto tempo, responde:
“Respeito e amor. É o amor que define tudo, abraça tudo, move tudo e é pra sempre.”

(Matéria adaptada a partir do texto do jornalista Fernando Evangelista, publicado no site do Tribunal de Justiça. Confira aqui a matéria original)

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Patrimônio cultural – Loja de celulares abrirá no local do Ponto Chic, mas cafezinho no balcão continua

O abre-e-fecha do Café Ponto Chic, na esquina mais popular de Florianópolis, tem um novo capítulo.

Após fechar no final de março, o local foi alugado para ser uma loja de acessórios de celulares, que deve abrir em junho.
Mas o tradicional café permanecerá, ocupando um espaço de 5 metros quadrados.

Isso porque o locador é obrigado a destinar parte do ambiente para um dos patrimônios culturais imateriais da cidade: o também chamado Senadinho.

A loja de celulares deve seguir a mesma distribuição do Banco IBI (Google Street 2016)

Essa experiência já aconteceu com o Banco IBI, que ocupou o lugar entre 2005 e 2018.
O cafezinho era servido num balcão de frente ao Calçadão, bem na ‘esquininha’ da loja, e os frequentadores podiam apreciar a bebida nas mesinhas instaladas na calçada.

Também é exigido do locador que mantenha as placas de identificação com os nomes Café Ponto Chic e Senadinho.

Local fechou em março, após 10 meses aberto (Billy Culleton)

História
O Ponto Chic foi inaugurado em 1948 e se transformou num dos mais tradicionais espaços da cidade.

Em 1979, o local também passou a ser chamado de Senadinho, após ser criada a confraria “Senatus Populusque Florianopolitanus” (“Senado Popular Florianopolitano”), e fazia referência a uma célebre figura da cidade, Alcides Hermógenes Ferreira.

Assíduo frequentador do Ponto Chic e sempre elegantemente vestido, ele era chamado de senador.

Figueiredo e Jorge Bonnhausen apreciam um cafezinho, instantes antes do tumulto com os estudantes (Casa da Memória)

O comércio foi palco do famoso incidente entre o presidente João Figueiredo e manifestantes, que entraram em confronto, em 30 de novembro de 1979, num dos episódios da Novembrada.

(A imagem de abertura, da década de 1960, é acervo do proprietário Gentil Cordioli Filho, publicada no artigo “Café Ponto Chic e as transformações urbanas em Florianópolis”, de Isabella Cristina de Souza)

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Sinos da Catedral, um deles presentes de Dom Pedro II, apresentam sinfonia diária há mais de um século

APOIO CULTURAL LOJAS FLORIANÓPOLIS

Duas vezes por dia, às 12h e às 18h, moradores, trabalhadores e visitantes da região central de Florianópolis são presenteados com a sutil melodia que vem do alto.
A bela sinfonia é produzida por cinco dos sete sinos instalados nas torres da Catedral Metropolitana, entre 1872 e 1922.
Na época, formavam o maior carrilhão da América Latina.

Os primeiros dois sinos foram presenteados à igreja: um, pelo imperador Dom Pedro II, em 1872, e que foi chamado São Joaquim.
O outro, o pequeno sino do relógio, foi doado pela Câmara Municipal em 1896.
(Atualização de 12/5/2021 – Errata: a matéria original fazia referência a dois sinos doados por Dom Pedro II).

Cinco vieram da Alemanha
Em 1914, o bispo Dom Joaquim idealizou um carrilhão buscando oferecer à cidade a imponência dos sons das campanas.
Para isso, mandou trazer cinco sinos da Alemanha.

Os sinos São José (E) e São Miguel

Os maiores ganharam nomes: São Joaquim (2.055 kg, 1,3 metro), Santa Catarina (1.457 kg, 1,05 metro), Nossa Senhora do Desterro (931 kg, 80 cm), São José (527 kg, 80 cm de altura) e São Miguel (368 kg, 63 cm).

São Joaquim (sino central), Nossa Senhora do Desterro e Santa Catarina

Eles se somaram aos dois sinos já existentes desde o final do século 19, doados por Dom Pedro e pela Câmara.

Ao todo, o conjunto pesa cerca de seis toneladas.

Os únicos dois ao ar livre: o sino doado por Dom Pedro II e o pequeno sino do relógio (à dir.), acionado por martelo

As badaladas acontecem graças a pequenos motores elétricos, programados para funcionar duas vezes por dia.

Confira as badaladas:

Subida ao campanário
A reportagem do Floripa Centro teve acesso ao campanário da Catedral para verificar a distribuição dos instrumentos de bronze: em cada torre há dois sinos, os mais pesados no andar mais baixo e os mais leves, em cima.

A centenária escada que leva aos sinos

No meio das torres, acima do relógio, os dois mais antigos.
Já o maior e mais importante sino é o único visível desde a rua e pode ser observado balançando durante o badalar.

Veja o vídeo da subida ao campanário:

Confira o passeio pela Praça XV:

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Contos de Norma Bruno Reportagens Especiais

Os loucos da nossa aldeia, uma sensível crônica de Norma Bruno

Os loucos da minha aldeia**

Por Norma Bruno
Tenho atração por gente aluada. Tenho respeito, reverência e afinidade também.
A gente se entende. Acredito que os loucos guardam segredos, que sabem coisas que nós não sabemos. Cada lugar tem seus próprios seres encantados, suas figuras bizarras, ímpares, originais.
Eles são parte fundamental daquilo a que chamamos “alma da cidade”.

Nessa aldeia viveram muitas figuras encantadas. Algumas eu conheci, outras não.
Lembro de ouvir falar da Pandorga, que tinha fama de agressiva.
Chegava nas casas e, ao invés de pedir “um pedaço de pão velho”, como faziam os pobres de antigamente, exigia o adjutório.

Quando insatisfeita, saía xingando, rogando praga.
Foi o que ela fez, certo dia, lá em casa. Insatisfeita com a esmola, ela me rogou uma praga. Eu tinha apenas seis meses de idade, tadinha de mim!
A praga só não pegou porque me levaram imediatamente pra benzer de quebranto.

Diz a Guta Orofino, minha querida amiga, que a Pandorga, cujo verdadeiro nome era Doraci, também batia lá na casa dela pedindo um pau-de-sabão e que, invariavelmente, pedia também um cobertor, mas que a dona Dilma não dava moleza.
Certa vez perguntou: “Ô Doraci, o que é que tu fizeste com o cobertor que eu te dei no ano passado?”.
Ao que ela respondeu, peremptória: “Sim, se chega hóspede, o que é que eu ofereço?”.

Outra vez chegou, toda chorosa, reclamava que tinha sido assaltada.
A dona Dilma disse: “Ô criatura, e o que é que tu tinhas pra ser roubado?”.
Ela respondeu, desacorçoada: “O saco da esmola…”.

Tinha o Marrequinha, que em sua loucura encarnava um guarda de trânsito e ficava no meio da rua, no Centro, com os braços abertos, organizando um interminável fluxo de automóveis imaginários, segundo as suas próprias referências caóticas.

Também tinha o Papo Amarelo, que usava um lenço dessa cor amarrado no pescoço e xingava de nome feio quando alguém o chamava pelo apelido.
Dizem que era lá da Lagoa ou da Barra, não se sabe ao certo.
Sabe-se que era devoto do Senhor dos Passos e que não perdia uma procissão.
Certa vez, acompanhando o Filho de Deus na descida do Hospital de Caridade, ele cantava contrito aquele hino que diz: “Bendiiitoo, louvado seejaa…”, quando alguém gritou: “Papo Amareloooo!”.
Ele não contou tempo. Sem perder o ritmo e acompanhando a melodia, emendou: “Papo Amarelo é a puta que pariiiuuu…”.

Outra figura encantada da aldeia era a Nega Tita e dela eu lembro, pois já era mocinha quando a conheci.
Ela era parda, entanguida, de pernas tortas.
Era toda agitadinha e tornava-se muito desbocada quando os rapazes faziam escarne dela.
Tinha uma escadinha de filhos e já faz parte do folclore o que ela disse, certo dia, quando abordada por uma daquelas senhoras piedosas que sobem o morro atrás de criança pra criar.
“Cês qué minino? Então vão dá como o di!”

O Beto do Box me contou que a Tita, coitada, morreu atropelada em frente ao Instituto de Educação, abraçada a duas tainhas ovadas que ele acabara de dar pra ela.
Era Quinta-feira Santa. Não se pode precisar a sua idade, data de nascimento, essas coisas, até porque vida de pobre não deixa rastro, mas o Beto calcula que ela devia ter uns setenta e poucos anos quando morreu, em 2001.

De louco tinha também o Bento, um homem dócil e gentil que morava lá pras bandas da Ferrugem – a Pedreira – na Costeira do Pirajubaé.
O Bento usava uma barba longa até o peito, andava em trapos e carregava nos ombros um cajado com um fardo amarrado na ponta.
Caminhava sem parar. Saía da Costeira bem cedinho, passava na frente da casa do meu avô, no Saco dos Limões, e ia andando toda vida, toda vida, até o Centro.
Voltava no fim da manhã e já no começo da tarde reiniciava a caminhada.
Depois voltava. O povo perguntava: “Ô Bento! Quantas veiz hoje?”.
Ele sorria e recomeçava a sua sina.
Trazia os dedos cheios de anéis – argolas, arruelas, molas e porcas de parafuso que ele ia encontrando pelo caminho e metamorfoseando em lindas joias.

Também viveu por aqui a Martha Rocha que, segundo a minha mãe, tinha esse codinome porque, como a eterna Miss Brasil, ela também andava muito pintada.

Lembro o Bispo, nascido Osmarino, não se sabe onde, um homem atarracado, de cabelos brancos que, desde que incorporou um alto signatário de Igreja, transformava retalhos de pano em paramentos litúrgicos, amarrando-os na cintura, como túnica.
Vestia-se, invariavelmente, de roxo ou verde; no peito usava uma corrente com um medalhão e um crucifixo.
Na cabeça, um solidéu, como deve ser.
Tudo concebido e confeccionado por ele mesmo. Esse eu também conheci.

Faltou dizer
Infelizmente, com a decadência das áreas centrais das cidades e aprisionados que estamos em condomínios fechados e shoppings centers, raramente se vê um louco andarilhando pelas ruas, hoje em dia.
Um sinal contundente de que as cidades empobreceram.

* A “louca” mais famosa da Aldeia atendia pelo codinome Traça, minha personagem mais querida, será tema da minha próxima crônica.

** Excerto da crônica Metamorfose, do livro A Minha Aldeia, 2004.

(A foto de abertura é do Pixabay)

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Prédio de antigo hotel de luxo do Centro é totalmente reformado para receber órgão da prefeitura

A Secretaria Municipal da Fazenda deverá mudar de endereço a partir de junho, quando ocupará o edifício do antigo Hotel Royal, na região leste do Centro da Capital.

O prédio de sete andares fica na Rua Osmar Rigueira, entre as ruas João Pinto e Antônio Luz, ao lado do novo Pró-Cidadão.
Uma das laterais é frente ao Terminal Urbano Cidade de Florianópolis.

Hoje, o órgão municipal está localizado na Rua Arcipreste Paiva, próximo à Catedral Metropolitana.
Segundo a prefeitura, o novo contrato de aluguel é de cinco anos, com pagamento mensal de R$ 40 mil, menos da metade dos R$ 89 mil cobrados pelo atual locador.
Ou seja, até 2026, haveria uma economia de R$ 3 milhões.

A reforma, custeada pelo proprietário do edifício, já está na sua fase final, com previsão de conclusão ainda em maio.
Melhor hotel da cidade
Com localização privilegiada frente ao mar da Baía Sul, o Hotel Royal era o preferido de autoridades e artistas que visitavam a cidade.

Inaugurado em 1º de janeiro de 1960, o estabelecimento contava com 100 quartos, sendo 20 deles com banheiro privativo, um diferencial, na época.

Imagem feita desde o antigo Miramar mostra o mar encostado no Royal (autoria desconhecida)

Hospedou o presidente Médici
Em 1971, o hotel foi totalmente reservado para atender o presidente Emílio Médici, e toda a sua comitiva, que visitou a Capital durante dois dias.

Artistas de renome nacional, como Fernanda Montenegro e Fernando Torres, também se hospedavam ali e adoravam curtir o famoso piano-bar, no estilo Art Déco.

Foto extraída do livro ‘Florianópolis: uma viagem no tempo (2004)’, de Beto Abreu

Na época era o mais luxuoso hotel da cidade, geralmente com 100% da ocupação, chegando a hospedar 36 mil pessoas por ano.

Decadência com aterro
Em meados da década de 1970 começam a aparecer outros hotéis na cidade e a vista é ofuscada pela construção do aterro da Baía Sul, que afastou o mar do hotel.

O proprietário encerrou as atividades do hotel em 2005 para transformá-lo num prédio com salas comerciais, mas desde 2015 o edifício está sem uso.

O edifício no início da reforma, em agosto de 2020 (Billy Culleton)

Reportagem relacionada:
Uma antiga história de amor no Piano Bar do Hotel Royal

 

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