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A história do único navio a afundar embaixo da Ponte Hercílio Luz e que, desde 1953, está no fundo do mar

Por Billy Culleton
O que seria um fato dramático para alguns, se transformou num evento animado e lucrativo para dezenas de famílias do entorno.
Na manhã do domingo 25 de outubro de 1953, começou a circular, na cidade, a notícia  de que um navio estava afundando no cais do porto, no Estreito, exatamente ao lado de um dos pilares da Ponte Hercílio Luz.

As pessoas foram até o local para testemunhar o adernamento inicial da embarcação ‘Unidos’, que vinha de Laguna com destino ao Rio de Janeiro.

Muitos observavam desde o vão central da Ponte (de onde foi feita a imagem de abertura desta reportagem).

O navio estava carregado com 5,6 mil sacos farinha de mandioca, 100 fardos de crina de cavalo e, o mais importante, 900 metros cúbicos de madeira (equivalente a 30 caminhões cheios de tábuas).

Pequenas embarcações recolhem a carga do ‘Unidos’ antes de afundar por completo (Imagem de autoria desconhecida, via Desterro Antesdonte)

Tripulantes omissos, moradores atentos
Os barcos dos pescadores artesanais da região começaram a chegar próximo ao barco, que afundava lentamente, deixando as tábuas flutuando na água.
“Os tripulantes estavam insatisfeitos e afundaram de propósito. O navio já vinha com problemas desde Laguna, água entrando, e quando chegaram aqui começaram a carregar com mais madeira, o que provocou o afundamento”, afirma o pescador Hermes Lisboa, que trabalha num rancho próximo, embaixo da Ponte Hercílio Luz, e que ouviu a história da própria mãe.
“Por isso, muita gente pegou as madeiras e levou para casa, onde fizeram reformas ou ampliação nas suas residências”.

Jornal da cidade aponta saques
O Jornal A Gazeta, de 26 de outubro de 1953, confirma a história:
Dezenas de pequenos barcos apanharam as mercadorias que boiavam (…) Pudemos observar nas águas da baía sul, canoas transportando madeira e farinha, sendo que nos chamou a atenção um fato bastante pitoresco: uma canoa, repleta de saco de farinha, rebocava alguns taboados e pranchas de madeira, à guisa da jangada, sendo que em cima da madeira um homem remando”.

Cais do porto, no Estreito, onde se comercializava principalmente madeira (imagem de autoria desconhecida)

O jornal ainda informa que o navio Unidos tinha como comandante o senhor Hermínio A. Barreto e era “da praça de São João da Barra, do Estado do Rio, e pertencente à firma Sociedade Comércio Industrial Navegação Ltda, daquela cidade, que, proveniente do porto de Laguna se destinava ao Rio”.

Navio foi deslocado 100 metros
Nos dias posteriores ao afundamento e para não atrapalhar as atividades no cais, o navio foi ‘arrastado’, com cordas, por outros barcos, para o fundo do canal, a 30 metros de profundidade, praticamente no meio da Ponte Hercílio Luz, onde se encontra atualmente.

Arte em cima de imagem do Google Maps

Desde seu rancho de pesca, Hermes Lisboa indica o local exato.
“Sabemos disso, porque se a gente erra alguns metros, as nossas redes de arrasto engancham na embarcação afundada”, garante.

Tradição oral
Enquanto esta reportagem buscava informações sobre o fato ocorrido há quase sete décadas, outros pescadores que trabalham nos ranchos quase embaixo da Ponte chegam com mais informações e fotos.

“Ah, muita gente tirou proveito da situação e fez até casa nova com as madeiras do Unidos”, diz um.
“Olha esta foto aqui (pendurada na parede do rancho): há alguns anos um mergulhador fez a imagem do navio no fundo do mar”, mostra outro.

“A minha mãe contava que nadou até o barco, mergulhou e pegou farinha e tábuas com outros jovens”, emenda o seguinte, explicando que, mesmo afundado, o ‘Unidos’ estava a poucos metros da superfície.

Atualmente, no local do incidente funciona o Estaleiro Schaefer

(A foto de abertura é de autoria desconhecida e chegou ao Floripa Centro pelo grupo Desterro Antesdonte, no Facebook. As imagens atuais são de Billy Culleton)

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Há nove décadas, Florianópolis perdia os charmosos cafés existentes na Praça XV

Até a década de 1930 ainda era possível apreciar um bom café no perímetro interno da Praça XV de Novembro, no Centro da Capital.
O Café Royal e o Café Comercial  surgiram em 1891, a partir da revitalização da área verde no coração da cidade.

Café Royal e Café Comercial, um em cada esquina da Praça (Imagens: IHGSC)

Na época, por ordem do presidente da Província de Santa Catarina, Gustavo Richard, o então jardim do Largo do Palácio, construído em 1887, foi cercado por grades, o que trouxe mais ‘segurança’ para o local.

Os cafés, demolidos na década de 1930, ficavam nas esquinas Sul da praça, defronte à atual Praça Fernando Machado, e eram pontos de reunião de comerciantes e políticos locais.

Neste registro panorâmico pode-se observar o Café Royal, na parte superior, à direita da Praça XV (Imagem: IHGSC)

Já do lado Norte, frente à Catedral, encontrava-se um grande quiosque envidraçado, cujos vidros coloridos foram importados da França.

O glamouroso quiosque, em dois registros de autor desconhecido

Na frente da Praça XV, também existia o Café Popular, na esquina com a Rua Felipe Schmidt, onde hoje se localiza uma farmácia.

Jardim do Café Popular no final do século 19 (imagem de autor desconhecido)

Confira aqui outra reportagens do Floripa Centro

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Foi bordel, armazém e bar – A história preservada de um dos prédios comerciais mais antigos do Centro

Por Billy Culleton
Construído no século 19, o imóvel da atual loja de tecidos ‘Casa do Povo’ chegou a ser um dos pontos mais movimentados da cidade.
Localizado na esquina das ruas Conselheiro Mafra e Trajano, no início, ficava próximo aos terminais marítimos de passageiros, na região central da Ilha, e servia como ponto de abastecimento de mercadorias para a população.
No “Armazém Brazileiro” era vendido todo tipo de produto alimentício.

Imagem do início do século passado: armazém no térreo e bordel no primeiro andar (Casa da Memória)

Décadas depois, ao lado havia um movimentado ponto de ônibus urbano.
Já o acesso ao primeiro andar era mais reservado.
No local, as ‘mulheres da vida’ esperavam os clientes para fazer programas em alguns dos dez quartos com vista para o mar.
Na metade do século 20, sediou o Bar São Pedro e, na sequência, transformou-se numa referência na venda de fazenda (tecidos) quando ali se estabeleceu a tradicional Casa Yolanda, que fechou na década de 1980.
O ponto foi negociado e se transformou na loja Santana para, em seguida, ser adquirido pela família Althoff, atual proprietária da ‘Casa do Povo’.
“Há quatro décadas continuamos com a tradição de venda de todos os tipos de tecido”, conta Ricardo Althoff, responsável pelo comércio e filho do precursor da loja, seu Bertolino, já falecido.
Atualmente, o estabelecimento funciona nos dois andares.
“Apesar do grande oferta de roupas prontas, e de baixo custo, ainda existem muitas costureiras que produzem roupas para festas ou modelos exclusivos para o dia-a-dia”.
Ele revela que muitas pessoas chegam na loja e relembram o passado do imóvel.
“Tem cliente que conta histórias de quando era um armazém, depois Casa Yolanda e também sobre o funcionamento do bordel”.

Manutenção constante
Ricardo sente orgulho do imóvel centenário e tenta mantê-lo sempre com boa aparência.
Recentemente, concluiu uma reforma que incluiu o reboco das históricas paredes e a pintura externa, que mantém o tom da cor original do início do século passado.

Cartão postal mostra a parada de ônibus, ao lado da histórica edificação (Acervo de Átila Ramos)

“A manutenção é constante: fizemos uma grande reforma há 25 anos e, outra, em 2015, sempre com a supervisão da prefeitura, já que é um imóvel tombado”, diz, enquanto mostra a foto pendurada na parede do seu escritório, onde aparece o armazém em 1910.

Leitores acrescentam informações (nos comentários do Facebook):

J.l. Cibils:
“Me lembro como se fosse hoje, passava pela Conselheiro Mafra, e as moças “instrutoras”, colocavam seus peitos para fora, na soleira das janelas, era uma forma de tentar atrair a atenção, principalmente de trabalhadores oriundos da construção civil, que naqueles tempos, recebiam todas as sextas-feiras, em dinheiro.
Na maioria das vezes, deixavam ali, a maioria do que tinham ganhado ($$$) na semana por seus trabalhos árduos.
Na década de 70, a economia local, fervia, de tantos prédios públicos e privados, sendo construídos, com isto, freguesia farta para as moças “instrutoras”.

Dolores Lima:
“Muita história! O avô do meu marido era frequentador do bar São Pedro. A adorava os pastéis, que ele comia escondido da família”.

Sylma Dias:
“Era a antiga Casa Yolanda, de família turca muito conhecida.
O ponto dos ônibus do Continente eram ao lado da loja.
Os ônibus ocupavam todo o Largo da Alfândega e subiam pela Felipe Schmidt rumo à Ponte Hercílio Luz, única existente à época”.

Antonio Lima Grams:
“Não esqueço a escadaria longa e com pouco ângulo.
As paredes internas de madeira pintadas com caiação (tinta com cal) azul.
Lâmpadas coloridas também pintadas. Salão amplo.
E as garotas do ‘Balé de Paris’, que moravam todas juntas numa casa alugada próximo ao Bar das Pedras, na Praia de Itaguaçú“.

Confira outras fotos:

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A história do comércio da Capital contada pelos bancos da Praça XV – Conheça detalhes de cada estabelecimento

Parte da história de Florianópolis nas décadas de 1950 e 1960 está ao alcance da população, no coração da cidade: na Praça XV de Novembro.
Os 35 bancos de granito do entorno da velha figueira trazem os nomes dos comércios mais tradicionais da cidade, naquela época.
A grande maioria desses estabelecimentos não resistiu à modernidade e fechou as portas há mais de 40 anos.

As letras foram se apagando lentamente com o passar dos anos.
Mas nos últimos tempos, estão desaparecendo com mais rapidez por causa da limpeza com hidrojato, feita periodicamente pela prefeitura municipal.

A variedade de estabelecimentos é grande: desde instituições financeiras e concessionárias de veículos até padarias e lojas de roupas.

Com a ajuda de tradicionais florianopolitanos como Nivaldo Machado, Esperidião Amin, Rodolfo Cerne e Manoel Timóteo de Oliveira, além de pesquisa na internet e livros, o Floripa Centro, conseguiu resgatar a história de cada um dos estabelecimentos, eternizados nos bancos existentes na mais famosa praça da Capital.

Confira cada um dos bancos:

Confeitaria Chiquinho: um dos mais tradicionais pontos de encontro de Florianópolis, funcionou entre 1904 e 1981. Era constituído por um bar e uma padaria. Estava localizada na esquina da Felipe Schmidt e Trajano, onde atualmente encontra-se a Livraria Catarinense.

Estabelecimentos A Modelar: foi a primeira loja da cidade a vender ‘roupa pronta’. E também a primeira a vender por meio de crediário. O proprietário era Jacques Schweidson. Até 1950, a loja ficava na Rua Trajano, entre Felipe Schmidt e Conselheiro Mafra. Depois foi construído um prédio próprio na mesma rua, porém, entre Felipe Schmidt e Tenente Silveira, frente aos jardins do Palácio Cruz e Sousa, onde ficou até o fechamento, no início da década de 1980.Beba Kola Marte: a gasosa era produzida pela fábrica de Bebidas Irmãos Mendes, em Biguaçu. Feita com essência de cola importada da Suíça, era a bebida preferida na região da Grande Florianópolis. Segundo o site Observatório Social, deixou de ser fabricada após a Coca-Cola, dos Estados Unidos, enviar uma carta aos irmãos proibindo o uso do nome Cola, em qualquer grafia.


Padaria Brasília:
a única com forno elétrico: tradicional padaria, na frente da Praça XV, onde atualmente encontram-se as Lojas Marisa. Fechou as portas no início dos anos 2000.

Pudim Medeiros: há dois bancos na Praça. Produzia pó para pudim. Era um clássico de Florianópolis. O proprietário Edi Medeiros, comercializava por atacado para as mercearias e vendas da região.

Pudim Medeiros: pó para pudim.

Indústrias Moritz: se dedicava à venda de balas e doces. Era famosa pela fabricação da bala rococo (coco moído com mel). Ficava no final da Rua Tiradentes, na região Leste da cidade.

Relojoaria Diamante Azul – Artigos para presentes: pertencia a Octavio Francisco da Silva, na Rua Trajano, perto da Felipe Schmidt. Além de relógios, também vendia câmeras de foto, filmes e, logicamente, artigos para presentes.

Electrolândia – Edifício Ipase: estava localizado no atual prédio da Previdência Social, frente ao Teatro Álvaro de Carvalho. Vendia e consertava aparelhos de televisão, rádios e geladeiras. O proprietário era José Carlos Daux.

Casa Três Irmãos: a loja pertencia aos irmãos Amin: Tuffi, Dahil e Esperidião (pai). Vendia fazenda (tecidos). Ficava na primeira quadra da Felipe Schmidt e funcionou a partir da década de 1930 até o início de 1980.

Há um Ford no seu futuro: a revenda Ford estava localizada nos altos da Felipe Schmidt, na esquina com a Rua Hoepcke, na frente da fábrica de rendas. Começou a funcionar em 1942 e pertencia a dois irmãos Amin: Dahil e Esperidião (pai). O terceiro irmão, Tuffi, já tinha falecido. Fechou na década de 1980.

Ford: carros, furgões, Taunus: Taunus era um dos carros mais vendidos na concessionária.

Ford: Prefect – Anglia – Irmãos Amin: referência aos modelos dos veículos.

Caminhões Ford – Irmãos Amin: veículos pesados vendidos na concessionária Ford.

Ford Mercury: referência ao modelo do veículo.

Ford: Capri, Lincoln, Cosmopolitan: referência aos modelos dos veículos.

Caminhões International: a revenda dos caminhões da norte-americana International Harvester, ficava no Estreito.

Chevrolet, o melhor do mundo: a revendedora de veículos inicialmente estava localizada na Rua Conselheiro Mafra, onde é a Galeria ARS. Depois, foi transferida para a Rua Hoepcke (com Conselheiro Mafra), ao lado da fábrica de rendas, e próxima à concessionária da Ford. Era da família Hoepcke.

A Exposição: loja de roupas finas, na Rua Felipe Schmidt.

INCO: o Banco Indústria e Comércio de SC (INCO) foi fundado em 1934 por um grupo de empresários do Vale do Itajaí. Funcionou até 1968, quando foi comprado pelo Bradesco, que até hoje está situado no endereço original, na frente da Praça XV.

Padaria e confeitaria Sonia: estabelecimento que funcionava na Rua Emílio Blum, perto da Avenida Hercílio Luz.

Meias Lupo: patrocínio da Casa das Meias, ainda existente no Calçadão da Felipe Schmidt.

Laminadora Catarinense: fábrica de compensados, localizada na Rua Pedro Ivo, quase esquina Francisco Tolentino.

Louças na Casas Savas: varejista de secos e molhados, no Mercado Público (nas lojas da Conselheiro Mafra) também vendia louças, faqueiros, cristais e utensílios domésticos. O comércio funcionou por 78 anos, entre 1913 e 1991.

Casa Yolanda: vendia fazenda (tecidos), na Rua Conselheiro Mafra e Trajano, perto do Largo da Alfândega. Pertencia à família Mussi. Com o sucesso, uma nova loja foi aberta na Rua Felipe Schmidt, entre a Trajano e Deodoro. Ambas fecharam na década de 1980.

Enarco: firma de engenharia, que chegou a ser a maior do Estado. Pertencia à tradicional família Ramos e foi responsável pela construção da nova ala da Maternidade Carlos Corrêa e de centenas de residências e prédios em toda Santa Catarina.

Galeria das Sedas: comércio de roupas femininas, na Rua Trajano Nº 9 pertencente ao casal Benta Cherem Barbato e Jorge Barbato, este último um dos mais tradicionais ‘senadores’ do Senadinho, confraria que se reunia na esquina das ruas Felipe Schmidt e Trajano.

Casas Pernambucanas: a tradicional loja de roupas e produtos para cama, mesa e banho estabeleceu-se na Capital em 1915. Estava localizada na Rua Trajano, entre Felipe Schmidt e Conselheiro Mafra, onde atualmente há um Mc Donalds.

Caixa Econômica: referência à Caixa Econômica Federal que estava localizada na Rua Conselheiro Mafra.

Deposite na Caixa Econômica: referência à Caixa Econômica Federal.

Caixa Econômica – Aguarda seu depósito: referência à Caixa Econômica Federal.

Empreza Florianópolis Ltda – Segurança – Conforto: companhia de ônibus urbano que ligava o Centro aos bairros Córrego Grande, Itacorubi, Saco Grande, Trindade e Agronômica. Foi a precursora da atual empresa de transportes Biguaçu.

Três bancos cujas inscrições estão ilegíveis:



Confira o vídeo com todos os bancos:

SAIBA MAIS SOBRE O PRIMEIRO ANO DO PORTAL FLORIPA CENTRO:

– Ao longo deste primeiro ano, foram publicadas 381 matérias jornalísticas relacionadas ao Centro de Florianópolis.

– A grande maioria delas, notícias exclusivas, apuradas a partir da observação direta dos fatos que acontecem no bairro.

– O Floripa Centro também busca resgatar a história da cidade: para isso, existe uma sessão especial chamada “Histórias do Centro”, onde são publicados fatos memoráveis de Florianópolis.

– O envolvimento e aceitação do público têm crescido exponencialmente nesse período.

– No último mês de abril foram 30 mil acessos ao Portal, de acordo com os dados do Google Analytics.

– Desde o início do ano houve 116 mil visualizações das notícias oferecidas pelo Floripa Centro.

Gostaria de ser o nosso parceiro/anunciante? Entre em contato pelo e-mail: portalfloripacentro@gmail.com ou pelo telefone/Whatsapp (48) 99968-3091.

– Confira as 15 reportagens mais vistas pelo nosso público:

 

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Piso da Praça XV tem 47 painéis de Hassis retratando o cotidiano da Ilha. Mas a enorme placa explicativa sumiu!

Em 1965, um dos artistas mais importantes da Ilha, Hiedy de Assis Corrêa, conhecido como Hassis, criou desenhos para a pavimentação do piso da Praça XV de Novembro, no Centro de Florianópolis.
Nascido em Curitiba em 1926, mas residente em Florianópolis desde os dois anos de idade, sua carreira nas artes plásticas sempre foi marcada por desenhos e pinturas ligados ao folclore ilhéu, descreve o portal Mosaicos do Brasil.
E foi este o tema que Hassis escolheu, quando foi convidado pela prefeitura para produzir os mosaicos na Praça XV, feitos em pedra portuguesa ou ‘petit pavê’.
O artista buscou inspiração nos temas da vida cotidiana de Florianópolis, continua o texto de Mosaicos, elaborando desenhos que retratam os brinquedos da garotada (empinar pipa, pular corda, soltar balões), os folguedos, as profissões tradicionais e o artesanato local.
Placa ajudava a identificar e entender as obras
Para alguns, pode se tornar complicado identificar os mosaicos no piso.
Por isso, há vários anos existia um grande painel explicativo, mostrando o significado e a localização de cada um dos 47 desenhos.
A placa de lona, de 2,5 metros x 4 metros, ficava na entrada da praça, ao final do Calçadão da Felipe Schmidt.

Mas agora desapareceu.
Segundo os taxistas do entorno, o painel foi retirado e ficou encostado numa banca de jornal na frente da Catedral e, por fim, sumiu.

Desenhos pensados ‘na hora’
Hassis criou os desenhos de improviso, ‘na hora’, segundo relatou ao Jornal Diário Catarinense, em entrevista no ano 2000, meses antes do seu falecimento.

Hassis em seu ateliê, no Bairro Itaguaçu, no final da década de 1990 (Acervo Fundação Hassis)

“Eu ia desenhando com uma varinha e uma equipe de 10 homens ia preenchendo pedras brancas ou pretas”.
Por isso, não há esboços, desenhados, sobre a obra que levou seis meses para ficar pronta.
Esta informação consta no Trabalho de Conclusão de Curso, de Anna Julia Borges Serafim, intitulado “Hassis na Praça XV e a Praça XV em Hassis: Estudo de caso sobre a pavimentação artística de Hassis em Florianópolis”, do Curso em Museologia, da Universidade Federal de Santa Catarina.
O trabalho acadêmico de 2017 também apresenta uma pesquisa de campo junto aos frequentadores da Praça XV, sobre os desenhos artísticos no local.
Confira:

Confira o vídeo explicativo:

Desenhos em outras praças do Centro

Os desenhos na Praça XV foram feitos em 1965.
A estudante Anna Serafim informa que nos anos seguintes também houve a implantação da obra em outras praças localizadas no Centro de Florianópolis: em 1966, Pereira Oliveira e Olívio Amorim, e em 1967, Benjamim Constant e Bulcão Viana.
Nessas praças, as referências à cultura da cidade também prevalecem.
O Largo Benjamin Constant é o único espaço em que o artista fez desenhos que fogem dos padrões de outras praças: um avião da Força Aérea Brasileira.
Esse desenho é uma homenagem a um piloto que faleceu em um acidente aéreo ocorrido nas imediações. Além disso, também nesse largo, Hassis fez representações de suas duas filhas, Leilah e Luciana.

Reforma em 2000 contou com a participação de Hassis
Com 74 anos, o artista participou da restauração do piso, com buracos e desníveis produzidos ao longo de 35 anos.
A revitalização começou em 1999 e foi concluída em 2000, ano em que Hassis faleceu.
Em 2014, o piso com os desenhos foi tombado como patrimônio histórico e artístico da cidade.

(Texto e maioria das fotos de Billy Culleton. A pauta foi sugerida pelo colega Zé Dassilva, admirador fanático de Hassis)

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A urbanização do Centro em quatro imagens (1866-2022)

1866 – “Vista do Desterro”, tela a óleo do pintor viajante alemão Joseph Bruggemann
1910 (data aproximada) – Pintura do artista desterrense Eduardo Dias
1920 (data aproximada) – Registro do fotógrafo José Ruhland, que tinha loja do ramo na rua Conselheiro Mafra, 124

 

2019 – A nossa Floripa hoje
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No meio do mato, encontramos as ruínas do Forte São João, feito em 1793 e demolido para fazer a Ponte

Quem passa pela Beira Mar Continental, embaixo da Ponte Hercílio Luz, não imagina que ali pertinho existia uma fortaleza, erguida há 228 anos.
Muito menos que ainda há vários vestígios da sua existência, como um túnel abobadado e diversos trechos de muralhas que pertenceram ao antigo Forte de São João do Estreito.

Vestígios do Forte em 1926 (Foto de Felipe Bündgens. na obra “Ponte Hercílio Luz: do sonho à realidade”)

No local (um barranco de 700 metros quadrados, na Rua 14 de julho, com grandes árvores e mata fechada) não há nenhuma placa ou indicação de que ali se erguia o único estabelecimento militar histórico, situado na parte continental de Florianópolis.

Registros de 2015 feitos pelo site Fortalezas.org

A fortaleza foi construída em 1793 a mando do governador da Capitania de Santa Catarina, João Alberto de Miranda Ribeiro.
Ele mandou edificar entrincheiramentos no local devido “à fermentação bélica na Europa”.

A informação, segundo o site fortalezas.org, consta nas obras de dois autores do século 19: “Memória Histórica da Província de Santa Catarina”, de Manoel D’Almeida Coelho (1856), e em “Notícia Geral da Província de Santa Catarina”, do Arcipreste Joaquim de Oliveira Paiva.

Na parte superior, o túnel hoje, 2021. Embaixo, registros de 2015 feitos pelo site Fortalezas.org

Defesa contra invasores estrangeiros
O objetivo era defender a Ilha de Santa Catarina.
Do outro lado do mar, na Ilha, encontra-se o Forte Santana, com o qual deveria cruzar fogo, em caso de ataques de invasores.

O forte no Estreito tinha como estrutura principal o Quartel da Tropa, a Casa da Pólvora, a Bateria e, no entorno, uma muralha de alvenaria.

Imagem de 1924 mostra,em primeiro plano, o túnel de acesso ao forte (Foto de José Ruhland, acervo Marcelo Collaço Paulo, reproduzido do livro “Ilha de Santa Catarina: Florianópolis”)

Possuía um portão abobadado, ‘exposto’ completamente aos fogos que poderiam partir do canal, descreve o historiador Augusto de Sousa, na obra “Fortificações no Brasil” (1981).

Sua artilharia, seis peças de bronze, provinha da Fortaleza de Anhatomirim, tendo seu número elevado a 11, em 1837, no contexto da Revolução Farroupilha.

Local exato onde ficava a fortificação, em imagem de março de 2021

Reforma
Na década de 1850, já em desuso e com as edificações inteiramente arruinadas, foi feito um orçamento para a reedificação do forte e das muralhas, informa o site Fortalezas.

Na época, avaliou-se que a fortificação deveria ser restaurada devido a sua posição estratégica, e todos os edifícios teriam que ser reparados, sendo que a parte mais conservada era a Casa da Pólvora.
Mas o projeto não foi adiante.

Mapa de Desterro de 1876 mostra o forte (Divulgação Fortalezas.org)

Em 1863, o governo imperial voltou à carga e projetou uma nova fortificação nesse local, iniciativa que também fracassou.

Assim, o forte ficou abandonado até que as estruturas remanescentes terminaram por ser demolidas ou soterradas no início da década de 1920, por causa das obras da construção da Ponte Hercílio Luz, que lhe exigiram o local estratégico.

Túnel abobadado no início da década de 1920 (Foto de Felipe Bündgens. na obra “Ponte Hercílio Luz: do sonho à realidade”)

Tombamento
Somente um século depois, em agosto de 2019, o Conselho Estadual de Cultura aprovou o tombamento das ruínas do Forte São João, sob o argumento de ser uma importante ação para a valorização do patrimônio cultural catarinense.

Mas, por enquanto, o local, que fica sob a responsabilidade do Deinfra, ainda é ‘Patrimônio com tombamento provisório’.

Parte da muralha em imagem de março de 2021

Situação hoje
Atualmente, aos pés da cabeceira continental da Ponte, semi-soterrados, restam apenas os vestígios do túnel, em alvenaria de pedra e cobertura em abóbada de tijolos, e pequenos trechos remanescentes de muralhas.

Às vezes, o local é limpo pela Comcap e as ruínas ficam mais à vista.

Imagem do Google Street mostra o local após ser roçado pela Comcap

Nesta semana, na visita da reportagem, o mato tomava conta do lugar, que é frequentado por usuários de drogas.

Anos atrás, alguns deles quebraram a parede de tijolos, na entrada do túnel, erguida pelo poder público para evitar a sua ocupação. Mas a estrutura foi reconstruída.

Túnel abobadado no início da década de 1920 (Foto de Felipe Bündgens. na obra “Ponte Hercílio Luz: do sonho à realidade”)

Confira a localização exata, neste link do Google Earth.

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As grades que cercavam a Praça XV há mais de um século estão pelo Centro. E você já passou por elas!

Por Billy Culleton
A Praça XV de Novembro, no Centro da Capital, esteve cercada com muros e grades de ferro por mais de duas décadas: entre 1891 e 1912.
O acesso do público era restrito, com horários controlados para visitação.

A instalação serviu como uma espécie de apartheid, buscando separar pessoas das distintas classes sociais da cidade.
“A cerca metálica protegia madames que ali conversavam e vigiavam as filhas, enquanto empregadas domésticas ouviam galanteios de operários, soldados e marinheiros junto às calçadas externas”, conta o jornalista Paulo Clóvis Schmitz, em reportagem publicada no Jornal Notícias do Dia, de 5/2/2017.
A cerca, com os gradis fundidos na Inglaterra, foi inaugurada pelo ‘presidente’ da província de Santa Catarina, Gustavo Richard, em 1891.
A retirada, em 1912, seguiu ordens do prefeito Henrique Rupp, que decidiu abrir a praça para toda a sociedade, segundo conta Adolfo Nicolich da Silva, no livro “Ruas de Florianópolis”.
História escondida, mas presente nas ruas
As grades foram reaproveitadas em três construções históricas do Centro de Florianópolis: a Maternidade Carlos Corrêa (na Avenida Hercílio Luz), o Asilo Irmão Joaquim (na Avenida Mauro Ramos) e a Igreja Nossa Senhora do Rosário (Rua Marechal Guilherme, na frente da escadaria do Rosário).

Maternidade Carlos Corrêa
Asilo Irmão Joaquim
Igreja do Rosário

Confira os detalhes:

 

Cadê os portões?
Dos quatro portões de acesso à Praça XV nunca mais se teve notícias: entre os florianopolitanos mais antigos existe a lenda de que um deles estaria na entrada do Cemitério São Francisco de Assis, no Itacorubi.
Mas a reportagem do Floripa Centro foi até o local, e o antigo portão difere daqueles que aparecem nas fotos originais da praça cercada, embora o desenho circular da parte inferior seja similar (poderia ter sido cortado na parte superior). Fica o mistério…
Os funcionários do cemitério, no entanto, negaram que a estrutura de ferro fosse da Praça XV e foram unânimes em afirmar que o atual portão principal do ‘campo-santo’, outrora, estava instalado no Mercado Público Municipal.

(As imagens antigas são do acervo da Casa da Memória. As atuais, de Billy Culleton – 12/6/2020)

 

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As seis décadas do único hotel de Florianópolis que recebeu os dois reis do Brasil

Por Billy Culleton
O país tem dois soberanos indiscutíveis: Pelé e Roberto Carlos.
E ambos se hospedaram, na década de 1970, no mais luxuoso e sofisticado hotel que existia na Capital: o Oscar.
O empreendimento, inaugurado em 6 de novembro de 1960, era a hospedagem favorita dos famosos que visitavam a cidade: artistas, músicos e políticos.
“Não tínhamos o costume de aceitar times de futebol, mas abrimos uma exceção para o Santos de Pelé”, lembra Odson Cardoso, filho do fundador Oscar Cardoso.
Ele se refere a agosto de 1972 quando o time paulista veio a Florianópolis para jogar um amistoso com o Avaí e se hospedou no Oscar.
O fato marcou para sempre a história do hotel da Avenida Hercílio Luz, o mais antigo em funcionamento na cidade.

Única foto conhecida de Pelé no hall do Oscar, com Fernando Bastos Filho (Arquivo pessoal F. Bastos)

A inauguração da moderna edificação, num domingo pela manhã, foi um grande acontecimento.
Entre os 400 convidados estava o governador Heriberto Hülse e dezenas de autoridades e jornalistas.
O evento teve tanta repercussão que a Rádio Diário da Manhã fez a transmissão completa ao vivo.

Anúncio no jornal O Estado divulga a inauguração

O coquetel aconteceu no restaurante panorâmico que existia no 6º, e último andar, do prédio e foi servido “champanhe e aperitivos à altura de seus convidados”, como noticiou o Jornal A Gazeta de 7 de novembro de 1960.

O sucesso do piano-bar
“O cantor Roberto Carlos também se hospedou na década de 1970, mas não lembro o ano exato”, afirma Odson Cardoso, de 82 anos, lamentando que as fotos históricas com os hóspedes famosos tenham se ‘perdido por aí’.
“Na época, poucos tinham máquinas fotográficas”.

Roberto Carlos na década de 1970 (Acervo do Arquivo Nacional)

Ele recorda que o rei frequentou o piano-bar que existia no térreo, com vista para a rua, e que durante muitos anos foi um requintado ponto de encontro dos florianopolitanos.
“Os cantores que se hospedavam aqui sempre davam uma palinha: foi assim com Lupicínio Rodrigues, Agostinho dos Santos e Caetano Veloso”.

Governador Heriberto Hülse; comandante do 5° Distrito Naval, almirante Augusto Grunewald; empresário e anfitrião, Oscar Cardoso; e desembargador Ivo de Mello (Foto de Lazaro Bartolomeu, publicada na coluna de Marcos Cardoso, do ND+)

“Gosto de lembrar também que o Comando do Quinto Distrito Naval, no dia alusivo a Batalha do Riachuelo, em 11 de junho, todos os anos fazia coquetéis para comemorar a data nos salões do Oscar Palace Hotel, tendo como anfitrião o comandante Augusto Hamann Rademaker Grünewald, que em 1969 viria a ser o vice-presidente da República”, conta Odson.

Curiosidades do hotel
– Inaugurado em 1960, o Oscar Palace Hotel começou a ser construído em 1949.

Hotel na atualidade (Divulgação Oscar)

– À época da inauguração, o hotel tinha 15 apartamentos e 45 quartos. Atualmente conta com 52 apartamentos.
– Em 1998, com a expansão do ramo hoteleiro na capital, o hotel perdeu o status de “Palace” e passou a ser denominado apenas de “Oscar Hotel”.
– Em seu hall de entrada, apresenta imagens de patrimônios históricos da cidade como a Ponte Hercílio Luz, o Mercado Público, o Palácio Cruz e Souza e a Catedral Metropolitana.

Empreendimento na década de 1980 (Acervo Hotel Oscar)

– Parte do térreo original do hotel, na esquina da Avenida Hercílio Luz com Anita Garibaldi, começou a ser locado comercialmente na década de 2000. Já foi agência de turismo e atualmente é uma instituição de crédito.
– Atualmente, em tempos de pandemia, adaptou parte da estrutura para alugar quartos que servem como ‘Room Office” com uma diária de R$ 89, entre 8h e 18h.

História do fundador
– Oscar Cardoso nasceu em 1898 em Florianópolis.
– Aos 16 anos começou a trajetória de alfaiate até se transformar num dos mais importantes da cidade, atendendo personalidades importantes da sociedade florianopolitana.
– Em 1927, fundou a loja “Capital”, na esquina das ruas Conselheiro Mafra e Trajano, que funcionou até 1979, quando foi transferida para a Avenida Hercílio Luz.
Nos anos seguintes, abriu várias filiais do comércio em Blumenau, Lages, Tubarão e também em São Paulo.
– Teve atuação importante na época por apoiar, em 1931, o movimento de reivindicações das classes comerciais, industriais e agrícolas, com a União dos Varejistas de Florianópolis, hoje Sindicato do Comércio.
– Em 1937, instalou a fábrica de roupas “Distincta”, na rua Fernando Machado.
– Em 1973, foi homenageado pela Universidade Federal de Santa Catarina por ter cedido, em 1960, o prédio para a instalação da Faculdade de Medicina.
– Faleceu em 1980, com 82 anos.
(Dados obtidos na dissertação de mestrado “Uma análise histórico-espacial do setor hoteleiro no núcleo urbano central de Florianópolis”, de Fabíola Martins dos Santos, do Curso de Turismo e Hotelaria da Univali, 2005)

 

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Quatro décadas depois – A Novembrada na visão de Jorge Bornhausen: “Figueiredo causou o lamentável episódio”

Por Billy Culleton

O ex-governador Jorge Bornhausen falou pela primeira vez à imprensa sobre a Novembrada, incidente no Centro de Florianópolis que acelerou o fim da ditadura militar no Brasil.

Em entrevista exclusiva ao Portal Floripa Centro, ele lamentou a postura do presidente João Figueiredo, a quem responsabilizou pelo confronto com os manifestantes.

‘Ele se sentiu ofendido na honra e causou todo esse lamentável episódio’, disse Bornhausen, acrescentando que considerou a reação de Figueiredo como ‘despropositada’.

(Foto: Divulgação Alesc)

Ao mesmo tempo, afirmou que o enquadramento na Lei de Segurança Nacional dos estudantes detidos na Novembrada foi uma ‘medida extrema’ com a qual sempre discordou.

O ex-governador, de 83 anos, sugeriu que o Floripa Centro buscasse maior detalhamento sobre o episódio de 30 de novembro de 1979 no livro “Jorge Bornhausen, uma biografia”, do jornalista Luiz Gutemberg.

Assim, juntando as recentes informações repassadas pelo ‘Dr. Jorge’, com os dados da biografia, foi possível chegar à versão completa da Novembrada de um dos principais personagens do episódio que sacudiu o país há quatro décadas.

Figueiredo saúda desde a sacada
“Nunca vou esquecer aquela manhã de novembro de 1979.
O cerimonial pediu que os pronunciamentos fossem realizados desde a sacada do Palácio Cruz e Sousa. E assim foi feito.

(Foto: Jornal O Estado, 1º/12/1979)

Duas mil pessoas estavam diante do Palácio e receberam o presidente com aplausos e bandeirinhas. E Figueiredo foi à sacada acenar-lhes.

(Arquivo – Casa da Memória)

Foi quando se manifestou, pela primeira vez, o grupo de estudantes. Eram vinte, ou pouco mais que isso, barulhentos, organizados, repetindo palavras de ordem habituais.
Ensaiaram uma vaia em contraponto aos aplausos, que eram bem mais fortes.”

O gesto da discórdia
“Nesse momento, rindo, Figueiredo fez-lhes um gesto juntando os dedos polegar e indicador.
Tentava mostrar aos que o vaiavam como eram poucos, enquanto os que aplaudiam – e abrindo os braços mostrou a extensão da multidão – eram bem mais numerosos.

(Reprodução: RBS TV)

Posso atestar, porque estava ao seu lado, que enquanto fazia o gesto, o presidente dizia: ‘Vocês são tão poucos, enquanto a multidão que aplaude é tão grande’.
Mas o gesto foi entendido, de longe, pelos estudantes como obsceno. Imediatamente, começaram os insultos.”

(Reprodução: RBS TV)

A reação dos manifestantes
Um, dois, três/ quatro, cinco mil/ quero que Figueiredo/ vá a puta que o pariu’, repetiam ritmicamente os manifestantes estudantis.
Imediatamente, entramos novamente no Salão Nobre do Palácio para a solenidade oficial de boas-vindas.

Mas o coro provocativo da Praça XV era ouvido com uma nitidez impressionante. Já não se ouviam mais aplausos. Predominava o ‘quero que Figueiredo / vá a puta que o pariu’.

(Foto: Dario de Almeida Prado)

Era como se a multidão a favor, intimidada, houvesse silenciado para assistir à demonstração dos estudantes.”

Figueiredo sai do Palácio para brigar
‘Bornhausen, você é testemunha para a história! Xingaram minha mãe!’.
A exclamação do presidente não se adequava à circunstância.

(Arquivo – Casa da Memória)

Estarrecido, eu não queria acreditar. A solenidade de boas-vindas havia terminado, começava a ser servido o coquetel e o presidente, transtornado, tomando-me pelo braço, repetia agressivamente: ‘xingaram minha mãe, eu não admito’.

(Reprodução: RBS TV)

A última coisa que me ocorreria seria associar os gritos de ‘puta que pariu’, vindos da rua, à mãe de quem quer que fosse. Muito menos, quando se tratava de uma provocação política. Mas o presidente queria lavar a honra da sua mãe.

(Arquivo – Casa da Memória)

Antes que eu esboçasse um gesto, ou mesmo articulasse uma só palavra, ele se precipitou em direção às escadas que levavam à entrada do Palácio: ‘Vou lá embaixo resolver na porrada’.
Ele conseguiu se desvencilhar dos homens da segurança que foram alcançá-lo para contê-lo, a poucos metros dos manifestantes.

(Foto: Dario de Almeida Prado)

Obrigado a voltar ao Palácio, Figueiredo parecia frustrado por ter sido impedido de defrontar-se pessoalmente com os rapazes que o insultavam.”

Confronto no Ponto Chic
“O que aconteceu no Palácio não foi nada diante do que ocorreria minutos depois no Ponto Chic.

(Arquivo – Casa da Memória)

Após o incidente, sugeri que fossemos diretamente para o churrasco programado na Palhoça, mas o presidente disse que deveríamos cumprir o programado: caminhar até o Ponto Chic, no Calçadão da Felipe Schmidt.

(Arquivo – Casa da Memória)

Com a mobilização policial após o confronto, os manifestantes abandonaram a praça e contornaram o quarteirão do Palácio, chegando no Ponto Chic pelo outro lado, onde se deu novo confronto.
Um corpo-a-corpo, autêntico vale-tudo, felizmente restrito ao embate físico, com chutes e murros, sem disparos de arma de fogo.
A segurança de Figueiredo, com muita dificuldade conseguiu preservá-lo, porque ele era o mais empolgado com a possibilidade do engalfinhamento.

(Arquivo – Casa da Memória)

O estado geral da comitiva era deplorável. Então, finalmente, tal como aconteceu no Palácio, a PM foi autorizada a intervir pelo comando da segurança presidencial.
Só então terminou a refrega. O ministro das Minas e Energia, César Cals, havia levado um murro no rosto. O presidente da Caixa Econômica, Gil Maciera, tinha a mão ferida.

Finda a luta campal, voltamos a nos reunir e tomamos os automóveis que nos levaram ao churrasco na Palhoça.”

Conhecido por suas grandes orelhas, César Cals levou um soco na confusão no Ponto Chic (Charge, sem assinatura, do Jornal O Estado de 1º/12/1979)

Enquadramento dos detidos na Lei de Segurança Nacional
“Ao fim do dia, tínhamos um presidente irritado e boa parte da comitiva estropiada e esfarrapada depois da refrega no Ponto Chic.

(Foto: Jornal O Estado, 1º/12/1979)

No final da tarde, quando seguíamos para o aeroporto, Figueiredo me comunicou que iria mandar enquadrar os manifestantes na Lei de Segurança Nacional.
Foi uma medida extrema com a qual nunca concordei.”

Intermediação para liberar os estudantes
“O presidente foi embora, mas o clima de conflito ficou, e se ampliou. A identificação dos manifestantes, todos estudantes, e suas respectivas prisões, gerou manifestações.
Decidi procurar o ministro da Justiça, Petrônio Portela, para pedir a libertação dos estudantes. Ouvi um solene não.

Dias depois, angustiado, procurei o comandante do III Exército, com jurisdição sobre Santa Catarina, e que era o general Antônio Bandeira, considerado um dos expoentes da ‘linha dura’ do Exército.

General Antônio Bandeira (à direita)

Depois de me ouvir expor a gravidade e injustiça da situação, ali mesmo, imediatamente, determinou pelo telefone, a liberdade dos estudantes.
Só depois, Bandeira comunicou sua decisão ao ministro da Justiça.”

 Governador mais rejeitado do Brasil
“Respirei aliviado (pela libertação dos estudantes), mas assim como o episódio liquidou com o ‘João, presidente do povo’, a mim custaria um longo e penoso período de impopularidade.
Imagine que cheguei, nas sondagens do instituto de pesquisa Gallup sobre avaliação dos governadores, a ser o mais mal avaliado que o recordista em rejeição, Paulo Maluf.

Jorge Bornhausen e o seu sucessor, Esperidião Amin (Foto: acervo Grupo RBS)

Somente com muita aplicação conseguiria, três anos depois, fazer meu sucessor (Esperidião Amin) e, eu mesmo, eleger-me senador.”

Informações complementares do Floripa Centro:
– Entre 2 e 9 de dezembro de 1979 foram detidos sete estudantes: Rosângela Koerich Souza, Geraldo Barbosa, Hamilton Alexandre ‘Mosquito’, Nilton Vasconcelos Júnior, Marize Lippel. Adolfo Dias e Lígia Giovanella.

– Todos são liberados em 12 de dezembro de 1979.

Julgamento em Curitiba (Foto: acervo René Dotti)

– Os estudantes foram a julgamento em 17 de fevereiro de 1980, na Justiça Militar em Curitiba. O promotor pediu o enquadramento deles na Lei de Segurança Nacional, acusados de terem agredido verbalmente o presidente. Por três votos a dois, os sete foram absolvidos.

Confira o vídeo Novembrada, disponsível no Youtube e editado por Marcelo Gevaerd:

Confira aqui outra reportagens do Floripa Centro

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Em 1975, fila na Felipe Schmidt para andar na primeira escada rolante de Santa Catarina

Famílias vinham do interior do Estado para conhecer a novidade no Centro

Por Billy Culleton

Há pouco mais de quatro décadas Santa Catarina entrava para a ‘modernidade’ com a inauguração do que foi considerado o mais complexo shopping center do Sul do país e onde passou a funcionar a primeira escada rolante do Estado.

Famosa escada na época da construção do ‘mais complexo shopping center do Sul do país’

Foi em 21 de novembro de 1975 que Florianópolis parou para acompanhar a abertura do Centro Comercial Aderbal Ramos da Silva, entre as ruas Felipe Schmidt e Conselheiro Mafra, que se popularizou como ARS, as siglas do homenageado.

A nova galeria possuía uma grande novidade: era possível subir ao primeiro andar de lojas por meio de uma pequena escada rolante, com 20 degraus e que chegava a seis metros.

“Este detalhe pitoresco é mais um atrativo no conjunto da obra de vanguarda que eleva a capital catarinense ao nível das maiores cidades brasileiras”, ressaltava o anúncio do empreendimento de 12 andares publicado nos jornais da época.

Edifício ARS na atualidade, no calçadão da Felipe Schmidt

A inovação tecnológica logo se transformou em uma grande atração. As pessoas faziam fila para subir na escada e muitas famílias vinham do interior do Estado passear em Florianópolis com seus filhos para andar nela por 10 segundos até chegar ao destino.

Só que pela arquitetura do centro comercial, para voltar a subir na escada rolante era necessário caminhar cerca de 100 metros pelas galerias com lojas, percorrendo quase todo o empreendimento, como é até hoje.

Multidão prestigiou a inauguração da galeria, de olho na escada rolante

A inauguração do ARS, no meio da tarde, reuniu milhares de florianopolitanos que foram até a Felipe Schmidt para prestigiar o evento e, após um desfile de bandas pelo Calçadão, assistiram ao show da cantora Rosemary. Na época com 28 anos, a musa da Jovem Guarda encantou o público com sucessos como Paixão, Escuta e Carne e Osso.

Musa da Jovem Guarda, a cantora Rosemary, no auge de sua carreira, foi a principal atração do dia

Antes, houve discursos do governador do Estado, Antônio Carlos Konder Reis, e do prefeito da cidade, Esperidião Amin, além do “Dr. Aderbal”, que morreu dez anos depois.

Antônio Carlos Konder Reis (E) abraça Aderbal Ramos da Silva, sob o olhar de Esperidião Amin

A hoje acanhada escada rolante ainda funciona perfeitamente no empreendimento, um dos mais movimentados do Centro, e que conta com 57 lojas no térreo e nos primeiros dois andares, além de 120 salas para escritórios.

(As fotos da época são do Jornal O Estado e não têm a identificação dos fotógrafos)

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Acidente com bicicletas na Ponte Hercílio Luz expõe problema recorrente da alta velocidade de alguns ciclistas

Dois ciclistas bateram suas bicicletas numa das passarelas da Ponte Hercílio Luz.
Ambos caíram, tiveram escoriações leves e foram atendidos pelo Samu, nesta quinta-feira, 9.

O acidente expõe um problema recorrente: a alta velocidade de alguns poucos ciclistas que utilizam a via como se fosse uma pista de corrida, colocando em perigo os pedestres que por ali transitam.
A maioria dos transeuntes é formada por famílias de turistas ou moradores da Capital que ficam admirando a paisagem, se deslocando lentamente, com crianças e idosos.

Confira o vídeo da Guarda Municipal:

Alguns ciclistas, no entanto, não respeitam uma característica única da passarela da Ponte: a separação entre pedestres e bicicletas é demarcada apenas por uma faixa pintada no chão.

“O caso merece a reflexão por parte dos ciclistas, pois alguns deles andam com uma velocidade não compatível com o local”, ressaltou Ricardo Souza, da Guarda Municipal de Florianópolis.

Diante desse problema, no ano passado, houve a sugestão de separar os ciclistas e pedestres: cada um utilizaria uma passarela, nas laterais da Ponte.
A proposta não avançou em razão que impediria os visitantes de apreciar a paisagem de ambos os lados da Velha Senhora.

Quem sabe, uma placa ou faixa na entrada das passarelas para sensibilizar os ciclistas a circularem devagar nesse trajeto de 800 metros…

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